Mostrando postagens classificadas por data para a consulta 21 anos ditadura. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta 21 anos ditadura. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

DE VOLTA AO AEROJANJA



Durante seu primeiro mandato, Lula aposentou o Boeing 707 usado por todos os presidentes desde 1986 e mandou comprar um Airbus A319CJ, que custou aos cofres públicos US$ 56,7 milhões mais US$ 13,5 milhões para a inclusão de uma suíte presidencial. 

No início da atual gestão, o petista manifestou o desejo de adquirir uma aeronave com maior autonomia de voo. A FAB aventou duas opções para o Aerojanja: equipar um dos Airbus A330-200 comprados durante o governo Bolsonaro com uma suíte com chuveiro, escritório, sala de reuniões e 100 poltronas para acomodar a comitiva presidencial e jornalistas ou adquirir um novo avião, já com as configurações prontas. 

A ideia foi engavetada para não comprometer o equilíbrio das contas públicas, mas voltou à baila no inicio deste mês, devido a pane no Aerolula quando sua majestade e seu séquito retornavam da Cidade do México para Brasília. 

MAIS DO MESMO

Restavam quatro debates até o segundo turno: o do UOL/RedeTV, nesta manhã, o da TV Record, às 21h do sábado 19, o do UOL/Folha, às 10h da segunda-feira 21, e o da TV Globo, às 22h da sexta-feira 25. 
Com 22 pontos de desvantagem e 58% de rejeição no penúltimo Datafolha, Boulos precisava de um resultado épico no debate da Band, mas obteve um placar magro. Nunes perdeu o debate para o apagão, mas conseguiu evitar uma goleada com jeito de virada a menos de duas semanas da eleição.
Boulos exagerou ao trazer para o segundo tempo esqueletos já bem sacudidos no primeiro e grudar no oponente as pechas de fraco e corrupto. O prefeito, que havia colado sua imagem em Bolsonaro para deter Pablo Marçal, busca agora se decolar do capitão para fugir de sua alta rejeição, mas mete os pés pelas mãos ao pensar com as pernas.
Nunes marcou uma reunião extraordinária para o exato instante do debate desta manhã. "Urgências da prefeitura surgidas desde a tempestade de sexta-feira passada", justificou. E outros eventos serão cancelados "por conta das mudanças climáticas previstas para sexta-feira", anotou no comunicado, evidenciando que não só foge do temporal da semana passada, mas também vive a síndrome das tempestades que estão por vir. 
Candidatos confessam de bom grado suas virtudes, mas nunca as covardias. O prefeito pode fugir do adversário, da ansiedade, do imponderável, de São Pedro e do raio que o parta, mas não pode escapar de si mesmo. Um candidato que descrê do próprio favoritismo corre o risco de perder a eleição não para o oponente, mas para o espelho.

No último dia 6, em entrevista à rádio O Povo/CBNLula informou que comprará não um, mas dois novos aviões para uso dele, de seus ministros e de outros integrantes do primeiro escalão do governo. Com a tranquilidade de quem fala em comprar um novo par de sapatos, disse que encarregou o ministro da Defesa, José Múcio, de avaliar propostas de aviões. Declarou que um presidente da República não pode "correr riscos". Que "é uma vergonha o Brasil não se respeitar". Antecipando-se às críticas, afirmou que "a ignorância não pode prevalecer", pois a nova aeronave "não é para o Lula, Bolsonaro ou Fernando Henrique, é para a instituição, quem quer que seja eleito". Em suas palavras, "não se governa" um país como o Brasil "com ministro coçando em Brasília". 

Lula acertou na mosca ao dizer que "a ignorância não pode prevalecer". Alguém que decide renovar a frota sem oferecer explicações razoáveis ao contribuinte corre o risco de ignorar sua própria ignorância. Em nações desenvolvidas, onde os responsáveis pelo cofre não precisam ralar para obter o equilíbrio de caixa, ministros carregam a própria bagagem e entram na fila do check-in ao lado dos cidadãos que pagam a conta.

ObservaçãoConta-se que general Golbery do Couto e Silva (que era conhecido como "O Bruxo" nos tempos da ditadura militar) teria dito a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de comunista, que não passava de um bon vivant, que deixou de ser operário quando fundou o PT e que trocou a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de US$ 100 no momento em que encontrou quem pagasse a conta (mais detalhes na sequência O desempregado que deu certo).


O desempenho do Aerolula é semelhante ao das aeronaves usadas pelos líderes do G20. Sua autonomia de 11.000 km está dentro da média (11.641 km) e supera em muito a do Airbus A318-112 usado pelo presidente da Turquia, que é de 5.741 km. Com vida útil é estimada em 30 anos, a aeronave poderia continuar operando até 2035, mas Lula quer porque quer novos aviões para a Presidência. 
 
O modelo da FAB cogitado anteriormente era o Airbus A330-200, que é usado pelo primeiro-ministro do Canadá e pelo presidente da França, cuja autonomia é de 15.094 km. A aquisição precisa do aval do Congresso, mas acreditar na lisura de parlamentares que aprovaram um fundo eleitoral de quase R$ 5 bilhões (dinheiro dos contribuintes) é o mesmo que acreditar em Papai Noel ou no coelhinho da Páscoa.

O avião presidencial mais famoso é o Air Force One — conhecido como "Casa Branca flutuante" em razão da estrutura para despachos e reuniões presidenciais —, que foi comprado em 1990 e será substituída em 2027 por um Boeing 747-8i, igual ao usado pelo presidente sul-coreano e o maior dentre os aviões de chefes de Estado das 20 maiores economias do mundo (noves fora o México, que não tem um avião presidencial; a pretexto de uma política de austeridade fiscal, as autoridades usam somente voos comerciais).
 
Triste Brasil.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A CAIXA DE PANDORA — O MITO E A REALIDADE

NÃO ESPEREIS O JUÍZO FINAL; ELE SE REALIZA TODOS OS DIAS.

 

"Abrir a Caixa de Pandora" é uma metáfora para ações que desencadeiam consequências maléficas e irreversíveis. 

Segundo a mitologia grega, Pandora ("aquela que tem todos os dons") foi criada por Hefesto e Palas Atena a mando de Zeus, que queria castigar Prometeu ("aquele que pensa antes") por roubar o fogo dos deuses e dá-lo aos homens. 

Depois de ganhar um dom de cada divindade de Olimpo, Pandora recebeu de Zeus uma caixa que jamais deveria ser aberta e a missão de seduzir Epimeteu ("aquele que pensa depois"). Encantado com a beleza da moça e ignorando as advertências do irmão, Prometeu, sobre aceitar presentes do deus dos deuses, Epimeteu tomou a moça como esposa (e eu que achava que "presente de grego" tinha a ver com a lenda do Cavalo de Troia). 
 
Quando criou a mulher, Deus também criou a curiosidade. A curiosidade levou Pandora a abrir a caixa e libertar todos os males que recaíram sobre a humanidade. Mas a esperança, que é "a última que morre", ficou presa no fundo da caixa, talvez para nos dar forças para lutar contra as adversidades, mesmo que o mal muitas vezes vença o bem.
 
Revisito essa fábula por três motivos: 1) sempre gostei de mitologia; 2) muita gente usa essa metáfora sem saber sua origem; 3) insistir no erro esperando produzir um acerto é a melhor definição de imbecilidade que eu conheço. 
 
Em momentos distintos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Ambos foram muito criticados, mas o tempo provou que eles estavam certos. O eleitores fazem nas urnas, a cada dois anos, o que Pandora fez uma única vez. Só que não por curiosidade, e sim por ignorância. E como ensinou o Conselheiro Acácio (personagem do romance O Primo Basílio), as consequências vêm sempre depois. 
 
A ditadura militar resultante do golpe de 1964 durou 21 longos anos. A reabertura, lenta e turbulenta, não se deveu ao "espírito democrático" dos presidentes-generais Geisel e Figueiredo, mas ao ronco das ruas e à pressão da imprensa, que se intensificaram em 1984, depois que uma manobra de bastidor sepultou a emenda Dante de Oliveira

Em janeiro do ano seguinte, Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf por 480x180 votos de um colégio eleitoral formado por 686 deputados, senadores e delegados estaduais. A exemplo da Viúva Porcina (aquela que foi sem nunca ter sido), Tancredo entrou para a história como nosso primeiro presidente civil desde João "Jango" Goulart, mas baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois.

A raposa mineira levou para a sepultura a esperança de milhões de brasileiros e deixou de herança um neto que envergonharia o país e um mix de puxa-saco dos militares, oligarca da politica de cabresto nordestina, escritor, poeta e acadêmico que se chamava José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mas era conhecido como José Sarney

Sem o carisma e o traquejo administrativo do finado, Sarney tentou descascar o formidável abacaxi econômico (inflação, dívida externa e desemprego nas alturas) através de uma série de pacotes de medidas econômicas baseadas no congelamento de preços e salários. Ao final de sua aziaga gestão, a inflação estava em 4.853% ao ano, mas os prefeitos haviam voltado a ser eleitos diretamente, a Constituição Cidadã fora promulgada (aumentando de 4 para 5 a duração de seu mandato) e a primeira eleição presidencial direta desde 1960, realizada.   
 
Em 15 de novembro de 1989, o cardápio de postulantes ao Planalto oferecia 22 opões, incluindo Ulysses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. E o que fez esclarecido eleitorado ao quebrar o jejum de urna de 29 de urna? Escalou Lula e Fernando Collor para disputar o 2º turno. O caçador de marajás de mentirinha venceu o desempregado que deu certo, mas o envolvimento no esquema PC lhe rendeu um impeachment.
 
Observação: Em maio do ano passado, o STF condenou Collor a 8 anos e 10 meses de reclusão, mas ele continua livre, leve e solto graças a um pedido de vista apresentado pelo ministro Dias Toffoli na véspera do último carnaval. Em contrapartida, qualquer "reles mortal" que acessar o Xwitter durante a suspensão ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes corre o risco de ser multado em R$ 50 mil. Dá para acreditar numa coisa dessas?
 
Com a deposição do Rei-Sol, o baianeiro e namorador Itamar Franco foi promovido a titular, nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda e editou o Plano Real, cujo sucesso pavimentou o caminho que levou o grão-duque tucano a vencer o pleito presidencial de 1994 no 1º turno. Em 1997, picado pela mosca azul, sua alteza comprou a PEC da reeleição

Como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, o tucano de plumas vistosas disputou a reeleição em 1998 e foi eleito no 1º turno, mas em 2002, sem novos truques para tirar da velha cartola, não conseguiu eleger seu sucessor.
 
Após três derrotas consecutivas, Lula venceu José Serra e deu início aos 13 anos, 4 meses de 12 dias de lulopetismo corrupto que só foi interrompidos em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, a inolvidável gerentona de araque

Num primeiro momento, a troca de comando pareceu uma lufada de ar fresco numa catacumba: depois de mais de uma década ouvindo garranchos verbais de um ex-retirante semianalfabeto e frases desconexas de uma mandatária incapaz de juntar lé com cré numa frase que fizesse sentido, ter um presidente que sabia falar – e que até usava mesóclises – era um refrigério.
 
Temer conseguiu reduzir a inflação (que havia retornado firme e forte sob Dilma) e aprovar o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista, mas seu prometido "ministério de notáveis" se revelou uma notável agremiação de corruptos e sua "ponte para o futuro", uma patética pinguela. 

A conversa de alcova gravada à sorrelfa por Joesley Batista só não derrubou o vampiro do Jaburu porque sua tropa de choque – capitaneada pelo deputado Carlos Marun – comprou votos das marafonas da Câmara para escudá-lo das "flechadas de Janot". Apesar do desgaste, o nosferatu claudicou como "pato manco" até o final do mandato-tampão e transferiu a faixa para Jair Bolsonaro. 
 
Sem a proteção do manto presidencial, o vampiro que tinha medo de fantasma chegou a ser preso, mas foi socorrido pelo desembargador Ivan Athié, então presidente da 1ª Turma do TRF-2, que havia sido afastado do cargo durante 7 anos por suspeitas de corrupção e venda de sentenças, mas fora reintegrado em 2011, quando o STF trancou o processo contra ele. E viva a Justiça brasileira!
 
Ao acompanhar o golpe de Estado que levou Napoleão III ao poder, Karl Marx concluiu que a história acontece como tragédia e se repete como farsa. O Barão de Itararé dizia que político brazuca é um sujeito que vive às claras, aproveita as gemas não despreza as cascas, e o saudoso maestro Tom Jobim (que era brasileiro até no nome), ensinou que o Brasil não é para principiantes. E com efeito. 
 
Em 2018, havia 13 postulantes ao Planalto. Nenhum deles empolgava, é verdade, mas por que se arriscar a acertar com Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles ou João Amoedo quando se podia pode errar com certeza escalando para o embate final um mau militar e parlamentar medíocre travestido de "outsider antissistema" e um patético bonifrate do então ex-presidiário mais famoso do Brasil?

Em 2022, as opções era ainda menos atraentes, sobretudo depois que o "establishment" eliminou Sergio MoroJoão Dória e Eduardo Leite da quimérica "terceira via". Mas, de novo, por que correr o risco de acertar votando em Simone Tebet, em Felipe D'ávilaou mesmo em Ciro Gomes (situações desesperadoras justificam medidas desesperadas) quando se podia errar com certeza despachando Lula e Bolsonaro para o 2º turno?
 
Tanto num caso como no outro a maldita polarização fez com que tanto a merda quanto as moscas fossem as mesmas. A diferença foi que em 2018 a parcela minimamente pensante do eleitorado se viu obrigada a apoiar o ex-capitão para evitar que o país fosse presidido pelo fantoche do presidiário, e em 2022, embarcar na falaciosa "Frente Democrática", capitaneada pelo então ex-presidiário "descondenado" para evitar mais 4 anos (ou sabe Deus quantos) sob a batuta do refugo da escoria da humanidade.
 
Há males que tempo cura e males que vêm para pior e com o passar do tempo. Lula 3.0 é uma reedição piorada das versões 1 e 2, e como como nada é tão ruim que não possa piorar, o macróbio petista cogita disputar a reeleição em 2026 (que os deuses nos livrem tanto dessa desgraça quanto da volta do capetão-golpista).
 
As consequências da inconsequência do eleitorado tupiniquim são lamentados todos os dias, inclusive por quem abriu a Caixa de Pandora achando que estava escolhendo o menor de dois males, mas isso só se justifica quando e se não há outra opção. E tanto em 2018 quanto em 2022 havia alternativas; só não viu quem não quis ou não conseguiu porque sofre do pior tipo de cegueira que existe. 
 
Observação: Um levantamento feito pelo portal g1 apurou que 61 pessoas com mandados de prisão em aberto (leia-se fugitivos da polícia) se candidataram a prefeito ou a vereador nas eleições deste ano. A maioria dos casos envolve dívida de pensão alimentícia, mas há suspeitos de estelionato, roubo, homicídio e estupro. 
 
Reza uma velha (e filosófica anedota) que Deus estava distribuindo benesses e catástrofes naturais pelo mundo que acabara de criar, quando um anjo apontou para o que seria futuramente o Brasil e perguntou: "Senhor, por que destinastes a essa porção de terra clima ameno, praias e florestas deslumbrantes, grandes rios e belos lagos, mas não desertos, geleiras, vulcões, furações ou terremotos?" E Deus respondeu: "Espera para ver o povinho filho da puta que vou colocar aí."
 
Políticos incompetente e/ou corruptos que ocupam cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; se eles estão lá, é porque foram eleitos por ignorantes polarizados, que brigam entre si enquanto a alcateia de chacais se banqueteia e ri da cara deles. 
 
Einstein achava que o Universo e a estupidez humana eram infinitos, mas salientou que, quanto ao Universo, ele ainda não tinha 100% de certeza. Alguns aspectos de suas famosas teorias não sobreviveram à passagem do tempo, mas sua percepção da infinitude da estupidez humana merece ser bordada com fios de ouro nas asas de uma borboleta. 
 
Não há provas de que boas ações produzam bons resultados – a "lei do retorno" é mera cantilena para dormitar bovinos – mas sabe-se que más escolhas costumam gerar péssimas consequências, como prova e comprova a história desta republiqueta de bananas: nossa independência  foi comprada, a Proclamação da República foi um golpe militar (o primeiro de muitos), o voto é um "direito obrigatório", nossa democracia é uma piada e o sistema político está falido. 
 
Desde 1889, 35 brasileiros alcançaram a Presidência pelo voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado (o número depende de como alguns casos específicos, como presidências muito breves ou interinas, mas isso não vem ao caso neste momento). Oito integrantes dessa seleta confraria – começando pelo primeiro, Deodoro do Fonseca – deixaram o cargo prematuramente, e dos cinco que foram eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois acabaram impichados. 

Dos mais de 30 partidos políticos que mamam nas tetas dos fundos eleitoral e partidário (ou seja, são bancados pelo suado dinheiro dos "contribuintes"), nenhum representa os interesses da população, e alguns são verdadeiras organizações criminosas. 

O Brasil de hoje lembra aquelas fotos antigas de reis africanos, que imitavam os trajes e trejeitos dos governantes de nações mais evoluídas e recebiam aulas de civilização dos oficiais do Império Britânico, mas achavam que para se transformar em soberanos civilizados bastava copiar as vestes e adereços daqueles que lhes falavam das maravilhas da Rainha Vitória ou de Napoleão III. 

O resultado se vê nas fotografias. As mais clássicas mostram negros magros, ou gordíssimos, com uma cartola de segunda-mão na cabeça, calças rasgadas ou remendadas, pés descalços ou calçados com uma bota só, velha e sem graxa. Imaginavam-se nobres, esses coitados, iguais a seus pares europeus, mas, junto com as novas roupas e os acessórios, continuavam usando colares feitos de ossos, pulseiras de metal e argolas na orelha ou no nariz, enquanto eram roubados até o último papagaio pelos que supostamente vieram ensiná-los a ter valores cristãos, avançados e democráticos.
 
O Brasil aparece na foto como uma democracia de Primeiro Mundo, mas a realidade do dia a dia mostra pouco mais que uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. Nossas eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, do voto obrigatório ao anacrônico horário eleitoral "gratuito", passando por deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm meia dúzia de eleitores. 

O resultado é um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. Acordos políticos são urdidos na surdina por parlamentares que votam com base em seus interesses pessoais. Milícias e fações criminosas têm representantes no Congresso, nas Assembleias Legislativas estaduais e nas Câmaras Municipais. Candidatos só entram em algumas regiões se tiverem proteção dos criminosos, e os moradores são "convidados" a votar na "turma da casa".
 
Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças com reis africanos. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. O Congresso não representa o povo que o elegeu para tal, e há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. Com quase 50 mil assassinatos por ano, o Brasil é um dos países onde a vida humana tem menos valor. 
 
Se nossas instituições funcionassem – e suas excelências não se cansam de dizer que elas funcionam –, a Câmara teria aberto pelo menos um dos quase 150 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, e o Centrão não teria transformado a ocupação do Orçamento num processo de bolsonarização das instituições. Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país como esse? 
 
Quando nossos nobres parlamentares perderam a credibilidade e o mais alto cargo do funcionalismo público federal passou a ser ocupado por uma sequência de mandatários que, noves fora Fernando Henrique — já foram presos ou respondem a processos criminais, o Judiciário se tornou nosso último bastião. Mas faz tempo que as opiniões e os vieses político-partidários dos eminentes togados (que deveriam ser isentos, imparciais e apartidários) se tornaram públicos e notórios.
 
O Supremo poderia nos ter livrado do aspirante a golpista em diversas oportunidades (motivos para tal não faltaram), mas as excelências que tudo decidem – do destino dos presidentes ao furto de codornas — acharam melhor dar tempo ao tempo, apostando na sapiência inigualável dos eleitores. 

É fato que Alexandre de Moraes impediu a consumação do golpe, mas também é fato que ele já deveria ter tirado de circulação o "mito" dos extremistas de direita, que mesmo inelegível até 2030 faz pose de cabo eleitoral de luxo e articula com seus comparsas no Congresso uma improvável (mas não impossível) anistia a si e aos golpistas do 8 de janeiro. 
 
Como o chanceler Charles De Gaulle não disse, mas a frase lhe é atribuída, "le Brésil n’est pas un pays serieux". 
 
Continua...

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

DE VOLTA AOS OVNIs

HÁ MAIS COISAS ENTRE O CÉU E A TERRA DO QUE SUPÕE NOSSA VÃ FILOSOFIA.

Semanas atrás, um piloto da Gol avistou um objeto voador não identificado em velocidade supersônica e precisou fazer uma manobra evasiva para evitar a colisão. O incidente ocorreu no voo 9109, entre Brasília e Fortaleza, em 24 de janeiro, às 12h10, quando a aeronave estava a 10,6 mil metros de altitude. Outro piloto, da Avianca, e um terceiro, que voava entre Alagoas e Piauí, também relataram avistamentos semelhantes, descrevendo o OVNI como grande, branco e capaz de realizar movimentos em zigue-zague a altíssima velocidade.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Um dos motivos entre os vários que puseram o PSDB na rota do infortúnio foi a ausência de posicionamento nítido desde que deixou o Planalto. Em outras palavras, os tucanos são tão indecisos que mijam no corredor quando a casa tem mais de um banheiro, e vinham se equilibrando na corda bamba bem antes da eleição de 2002, quando Serra perdeu a Presidência para Lula

A partir de então, o tucanato fez "corpo mole", acreditando que seria beneficiário em 2018 do recall da quase vitória de Aécio Neves em 2014, mas de novo perdeu e jamais se recuperou. O erro dialoga com a falta se senso de oportunidade, mas há equilibristas que se equivocam por excesso de oportunismo — como é o caso de Bolsonaro: fosse mais atento à dinâmica da política como ela é, o ex-presidente levaria em conta os ditames da história para perceber que a deposição dos pés em duas canoas dificilmente dá camisa a alguém. 

Quem faz política precisa ter nitidez de posição. O muro é um lugar confortável, mas eleitoralmente ineficaz. Saber como e quando pular do barco é uma arte na qual o centrão é catedrático. 

Na disputa à Prefeitura de São Paulo, o apoio errático do capetão ao prefeito Ricardo Nunes com sinais de apreço dirigidos a Pablo Marçal para disfarçar a evidência de que o voto dessa direita não tem dono denota insegurança nas escolhas. Sobe naquela corda cujos movimentos tortuosos podem levar a derrubadas estrepitosas. 

Os "nítidos" nem sempre ganham, mas acumulam forças na derrota. Lula, PT e todas as suas idas e vindas são o exemplo mais notável. Conseguiram ganhar cinco eleições presidenciais em oposição a avanços sociais e econômicos como o Plano Real, a privatização das telecomunicações e outros tantos. Como? Tendo a chamada firmeza ideológica.

Goste-se ou não do resultado, sendo o conteúdo muitas vezes para lá de questionável, fato é que o eleitorado não é dado a meios-termos. Notadamente em tempos de torcidas radicalizadas, o líder que vacila candidata-se a perder seu lugar na fila.

O Brasil possui uma longa história de avistamentos de OVNIs. Casos icônicos incluem o de Varginha, a Operação Prato, o Caso Trindade e a Noite Oficial dos Discos Voadores, quando caças da FAB perseguiram objetos misteriosos que surgiram nos radares. Esses relatos, vindos de pilotos civis e militares, controladores de voo e outros profissionais, chamam atenção devido à trajetória e velocidade dos objetos, incompatíveis com aeronaves convencionais.

Em 2004, o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro divulgou um documento sobre a Noite dos Discos Voadores de 1986, quando 21 objetos foram avistados em São Paulo, Rio, Minas e Goiás. Na ocasião, um bimotor com o coronel Ozires Silva, cofundador da Embraer, detectou três OVNIs sobre São José dos Campos (SP). Um caça da FAB chegou a registrar um objeto a 22 quilômetros de distância, mas o OVNI acelerou para incríveis Mach 15 (18.375 km/h), velocidade inimaginável para aeronaves conhecidas.

Um piloto que voava sobre o litoral catarinense na madrugada de 7 de fevereiro de 2023 disse ter visto no céu de Navegantes "uma bola pequena a grande a uma velocidade dez vezes maior que a de um avião comercial", e relatou que já havia reportado outras ocorrências semelhantes no mesmo lugar. Outro piloto reportou o avistamento de um objeto estático, que aumentava e diminuía nas cores branca e alaranjada, quando se preparava para pousar no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e que avistara o objeto em três oportunidades naquela mesma semana. 


Outros cinco objetos com luzes brancas intermitentes foram avistados sobre o município de Ilha Comprida, em São Paulo. Segundo os relatos, os OVNIs faziam movimentos circulares a uma velocidade oito vezes superior à do som (o que descarta a possibilidade de ser um balão meteorológico, satélite, lixo espacial ou qualquer outro fenômeno conhecido).


A ex-comissária da VASP Ana Prudente relatou um incidente em que seu avião foi seguido por um OVNI durante um voo de São Paulo para Belém. A cabine foi inundada por uma luz branca intensa e o rádio da aeronave ficou inoperante até o fim do avistamento. No dia seguinte, ela e os outros tripulantes apresentaram queimaduras misteriosas, mas os exames não detectaram radioatividade.

A Aeronáutica informou que todo o material disponível sobre OVNIs (que cobre 64 anos, de 1952 a 2016, com relatos de pilotos e controladores de voo que avistaram objetos voadores não identificados) foi encaminhado ao Arquivo Nacional, e que esses documentos são o segundo acervo mais acessado, atrás apenas dos da ditadura militar.

O governo dos EUA reconhece a existência dos OVNIs como uma questão de segurança nacional. Apesar disso, muitos relatos continuam sem explicação, enquanto outros foram atribuídos a balões, drones ou fenômenos climáticos. Um relatório de 2021 reacendeu o debate após a divulgação de vídeos mostrando OVNIs desaparecendo no mar. Pilotos militares que antes evitavam relatar incidentes devido ao estigma, agora o fazem com mais liberdade.

O ex-piloto da Marinha Ryan Graves fundou a organização Americans for Safe Aerospace para encorajar pilotos a relatar incidentes com OVNIs. Em depoimento ao Congresso, ele e o major aposentado David Fravor relataram avistamentos durante suas carreiras militares. O ex-oficial de inteligência da Força Aérea David Grusch acusou o governo de encobrir suas investigações sobre OVNIs e afirmou que a tecnologia envolvida ultrapassa qualquer criação humana.

Cada um pode acreditar ou deixar de acreditar no que bem entender, mas nunca é demais lembrar o que o Nobel de Literatura José Saramago em seu Ensaio sobre a cegueira: "a cegueira é um assunto particular entre as pessoas e os olhos com que nasceram; não há nada que se possa fazer a respeito." Trata-se de uma alusão a um tipo de cegueira mental, na qual o autor joga com a diferença entre as palavras ver e olhar. O olhar aparece como o ato de enxergar e o ver, como a capacidade de observar, de analisar uma situação. 

Ao fim e ao cabo, a incapacidade de enxergar além do superficial pode ser encarada como uma alienação do homem em relação a si mesmo.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

LULA E O COELHINHO DA PÁSCOA


Não se sabe ao certo o que é o tempo ou se ele realmente existe. Mas o poeta disse que não há nada como o tempo para passar. Com o passar do tempo,
 a abjeta polarização dividiu a população brasileira ao meio  noves fora uma pequena parcela que não tem bandido de estimação, se envergonha da política fisiologista e tem nojo de políticos corruptos. Mas o que seria de esperar dessa escória que o Criador escalou para povoar o país do futuro que nunca chega, cuja descoberta foi uma fraude, a Independência, comprada, e a Proclamação da República, o primeiro de uma sequência de golpes de Estado que pensamos ter terminado com o tão sonhado fim da ditadura?
 
Em abril de 1984, uma maracutaia urdida pela alta cúpula militar sepultou a emenda Dante de Oliveira, mas a semente estava plantada e a campanha pelas Diretas Já culminou na eleição indireta de Tancredo Neves. Mas quis o destino
 (e depois dizem que Deus é brasileiro!) que o presidente eleito, tido e havido como "salvador da pátria", baixasse ao hospital horas antes da cerimônia de posse e à cova 5 semanas depois, levando consigo a esperança de milhões de brasileiros e deixando de herança um neto que envergonharia o país e um combo de oligarca maranhense, escritor, poeta e acadêmico a quem o último presidente-general se recusou a transferir a faixa presidencial (faixa a gente transfere para presidente, não para vice, e esse é um impostor).
 
Após 5 longos anos de desgoverno Sarney, nosso esclarecidíssimo eleitorado — que não votava para presidente desde a eleição de Jânio Quadros, em 1960 — reafirmou sua estranha predileção pelo "quanto pior, melhor". Embora a lista de postulantes ao Planalto incluísse Ulysses Guimarães, Mário Covas e outros próceres da nossa política (quando nosso política ainda tinha próceres), a récua de muares preferiu Collor e Lula no segundo turno e liquidou a fatura elegendo o pseudocaçador de marajás.
 
Concluído o impeachment do Rei-Sol, o baianeiro namorador Itamar Franco foi promovido a titular e o sucesso do Plano Real garantiu a vitória do 
grão-duque tucano Fernando Henrique, que se reelegeu em 1998, mas não conseguir fazer seu sucessor e deu presidência de bandeja para o desempregado que deu certo e seu espúrio partido.
 
Lula renovou seu mandato em 2006 e, para provar que era "capaz de eleger até poste", emplacou a mulher sapiens em 2010. A dita-cuja fez o diabo para se reeleger em 2014, mas foi penabundada em 2016, sendo sucedida pelo vampiro que tem medo de fantasmas, que claudicou até o final do mandato-tampão e passou a faixa para um combo de mau militar e parlamentar medíocre com vocação para tiranete. E deu no que deu.
 
Com as velas enfunadas por ventos supremos, o ex-presidiário mais famoso 
da história desta banânia zarpou da carceragem da PF e aportou no Planalto pela terceira vez .Vale destacar que a coalizão que se formou em torno do dito-cujo tinha por objetivo impedir a reeleição do "mito" dos anencéfalos e consertar os estragos feitos durante sua execrável gestão. Mas pau que nasce torto nunca se endireita, e o Sun Tzu de Atibaia logo enveredou pelo perigoso terreno das afinidades ideológicas aliadas ao excesso de pretensão sobre seu real tamanho na cena externa.
 
Entre os episódios burlescos protagonizados por D. Lula III  destaca-se a postura de admirador confesso do tiranete venezuelano Nicolás Maduro. Sua majestade disse inicialmente que ouviu do amigo a promessa de um pleito "limpo e democrático" e respeito à vontade do povo, consubstanciada pelo resultado das urnas. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (que é controlado pelo Partido Socialista da Venezuela), o autocrata abjeto foi reeleito com 51,21% dos votos, mas a líder da oposição Maria Corina Machado diz ter provas de que Edmundo González Urrutia venceu por uma ampla vantagem. 
 
Para os observadores internacionais e a maioria dos governos — com exceção de Cuba Rússia, China, Nicarágua, Irã e outros regimes igualmente autoritários —, os dados oficiais são fraudulentos; segundo a Associated PressMaduro perdeu por uma diferença de quase meio milhão de votos. Para surpresa de ninguém, o paradeiro das atas eleitorais que o autoproclamado vencedor prometeu exibir continua incerto e não sabido, até porque seu conteúdo comprovaria o autogolpe. 
 
Num primeiro momento, Lula compactuou com a postura abjeta de seu partido, que reconheceu prontamente a vitória do caudilho venezuelano, mas mudou de ideia depois que Centro Carter afirmou que as atas eleitorais coletadas pela oposição eram "consistentes", e que González venceu de maneira clara e "por uma margem intransponível". Todavia, ao
 insistir que democracia é um conceito relativo, que a Venezuela não é uma ditadura, mas vive um 'regime desagradável", o petista escancara sua incapacidade de encaixar as palavras "Maduro" e "podre" numa mesma frase e deixa claro que sua abjeta ideológica o impede de se render à realidade, o que é inadmissível para um líder regional. 

Ecoando o ex-chanceler Celso Amorim, seu aspone especial para assuntos internacionais, Lula propôs a realização de um inexequível segundo turno das eleições no país vizinho (proposta essa que foi prontamente rechaçada por Corina, Urrutia e seus apoiadores). Aplicando-se os mesmos conceitos à conjuntura tupiniquim, Bolsonaro seria ligeiramente antidemocrático, o golpe falhado seria aceitável e o petismo aceitaria graciosamente o VAR de uma segunda eleição. 

Lula recebeu Maduro numa cúpula de países sul-americanos e tratou-o com deferência especial. Como anfitrião, foi criticado por seus pares, mas deu de ombros e seguiu na toada de condescendências em série, culminando na situação atual em que o Brasil, de líder, passou a voz praticamente isolada ao se recusar a reconhecer com clareza a fraude eleitoral deflagrada no final do mês passado. Além de desrespeitar o eleitor que votou nele acorrentado ao fator democrático, o pseudo grande estadista desrespeita a si mesmo.
 
Maduro já exibiu sua boca de jacaré, seus dentes de jacaré, seu couro de jacaré e seu rabo de jacaré, mas Lula continua achando que ele é o coelhinho da Páscoa. Num instante em que metade dos brasileiros ainda respira aliviada por ter conseguido se livrar de um candidato a déspota, Lula deveria parar de disputar a liderança da oposição com o "o coisa", sob pena de consolidar a crise venezuelana num processo de erosão da sua própria popularidade.