Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta mau militar e parlamentar medíocre. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta mau militar e parlamentar medíocre. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

RETROSPECTIVA — CONTINUAÇÃO

Michel Temer, Eurico Dutra e Nereu ramos são bons exemplos de políticos que ascenderam à presidência a despeito se sua falta de carisma. Isso sem falar no picolé de chuchu, cuja sensaborice contribuiu para o fiasco do tucano nas duas vezes que disputou a Presidência, a despeito de ter sido o político que governou São Paulo por mais tempo desde a redemocratização.

Observação: Comenta-se à boca pequena que Alckmin será candidato a vice-presidente na chapa de Lula (o que é no mínimo vergonhoso), mas não será com as bênçãos de Gilberto Kassab: na semana passada, o cacique do PSD foi curto e grosso: "Eu não estarei com o Lula no primeiro turno, e isso já foi dito a ele. Não é porque é o Geraldo, fulano ou sicrano, é porque teremos candidatura própria". Kassab disse ainda que, para ele, o "projeto redondo" em São Paulo "acabou", e outro nome será procurado.

João Batista Figueiredo era insuperável em falta de carisma e papas na língua. Sempre se soube que o último general a governar o Brasil durante a ditadura não nascera para ser figura pública. "Estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se vou me sair bem: no fundo, gosto mesmo é de clarim e de quartel", afirmou certa vez. Os marqueteiros chapa-branca até tentaram transformar o casca-grossa numa figura popular, com a alcunha de João do Povo, mas deram com os burros n’água.

Entre outras pérolas de sutileza, o militar carioca disse preferir “o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo". Quando uma criança perguntou o que ele faria se fosse criança e seu pai ganhasse salário-mínimo, respondeu sem pestanejar que daria “um tiro na cuca”. Sobre a abertura política, esbravejou: "É para abrir mesmo. Quem quiser que não abra, eu prendo e arrebento". Mas nada se compara a sua lapidar constatação de que "um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar".

Observação: Nas palavras do próprio Figueiredo: "Vejam se em muitos lugares no Nordeste o brasileiro pode votar bem, se ele não conhece noções de higiene? Aqui mesmo em Brasília, eu encontrei outro dia, num quartel, um soldado de Goiás, que nunca escovara os dentes e outro que nunca usara um banheiro. E por aí vocês me digam se o povo já está preparado para eleger o presidente da República."

Figueiredo era racista. Chegou a dizer que “a solução para as favelas é jogar uma bomba atômica”. Outra declaração típica do fardado: "Eu cheguei e as baianas já vieram me abraçando. Ficou um cheiro insuportável, cheguei no hotel tomei 3, 5, 7 banhos e aquele cheiro de preto não saía".

"Pérolas" como essas suscitam uma inevitável comparação entre Figueiredo e Bolsonaro. Há semelhanças, mas o general era autêntico, inclusive na grosseria, e o que o "mito" dos despirocados fala não passa de mise en scène para acirrar a escumalha que lhe dá respaldo nas urnas e nas redes sociais. Como quando disse que cagou para a CPI e que o Omar Aziz tem cara de capivara (o senador rebateu o insulto referindo-se ao ofensor como "aquele carioca que tira proveito de funcionários do próprio gabinete" e que "abre a boca para jogar fezes").

Numa entrevista concedida à Folha em 1978 (que recebeu o Prêmio Esso de Jornalismo), Figueiredo, então chefe do SNI, falou diversas vezes em "Revolução" e justificou muitas de suas opiniões, como ser contra a independência entre os Poderes, a anistia e as eleições diretas para Presidente. Perguntado sobre o eleitorado tupiniquim, respondeu aos entrevistadores: "Getúlio não fez uma ditadura sanguinária e acabou sendo eleito? Vocês sabem que no Rio Grande do Sul houve uma seca, e os eleitores decidiram votar contra o governo, por que não choveu? Um eleitorado não elegeu o Cacareco [rinoceronte do Zoológico de São Paulo]? Então uma coisa dessas tem cabimento?".

A pergunta do finado fazia sentido, mas é absurdo ter saudades dos anos de chumbo, como fazem jovens abilolados de 20~30 anos, que cantam "those were the days" para a ditadura apoiam atos antidemocráticos estimulados pelo “mito” — que teve o desplante de participar pessoalmente de manifestações em que a récua pugnava pelo fechamento do STF e do Congresso, volta do AI-5 e ditadura com Bolsonaro na Presidência — quando sequer haviam nascido naquela época.

Saudosistas de fancaria (como são os apoiadores do nosso mandatário de fancaria) idolatram um passado que nunca existiu. Bolsonaro é uma aberração que foi eleita para impedir a volta do lulopetismo corrupto, quando poucos podiam imaginar que se estava removendo o pino de uma granada de efeito retardado, desarrolhando a garrafa de um ifrit megalômano, abrindo a caixa de Pandora, enfim, deixo a escolha da analogia a critério do freguês.

Desde sua posse, em janeiro de 2019, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre nada fez senão articular sua reeleição e cagar solenemente para quem não pensa como ele. De cagada em cagada, o Messias que não miracula vai esmerdeando o lema chauvinista e enjoadinho associado a sua campanha: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

SOBRE LULA, JUSCELINO E BOLSONARO

Dentre outras asnices, Lula já se autodeclarou “a alma viva mais honesta do Brasil” e se autopromoveu de ser humano a “uma ideia”. A primeira gabolice saiu da boca do sapo quando ele já era réu em pelo menos seis processos; a segunda, depois que o TRF-4 ratificou sua condenação e a 13ª Vara Federal do Paraná expediu o competente mandado de prisão.

Em meio a um circo midiático que teve início na sexta-feira, 6 de abril de 2018, e só terminou na noite do sábado, o molusco falastrão declamou um trecho do célebre “I Have a Dream”, de Martin Luther King, e, com a expressão bestificada de um beato em epifania — ou de quem exagerou na manguaça —, sentenciou: "Não sou mais um ser humano, sou uma ideia." No mês passado, em mais um desvario, a má ideia teve o desplante de se comparar (de novo) a Juscelino Kubitschek.

Surtos psicótico-megalômanos são café-pequeno para quem tem o ego inflado como um Zeppelin. Grande mesmo é a cara de pau do falastrão, gabola e provinciano, que odeia leituras e culpa os adversários pelas adversidades, mas é misericordioso com bandidos de estimação, a quem tudo perdoa.

Sem jamais ter sequer folheado uma biografia que não a própria, o egun mal despachado não faz a menor ideia de quem foi Juscelino. Mas apresentava-o como exemplo a seguir e, mais adiante, passou a se achar superior a ele. Esse traço comum se destaca na diminuta lista de semelhanças. Bem mais extensa é a relação das diferenças, todas profundas, algumas abissais. 

Da feita que se tornou político, o pernambucano desempregado que deu certo passou a mirar as próximas eleições; o mineiro de Diamantina pensava nas futuras gerações.  

O petralha ama ser presidente, mas seria irretocavelmente feliz se pudesse presidir o país sem administrá-lo. Bom de conversa e ruim de serviço, detesta reuniões de trabalho ou audiências com ministros das áreas técnicas e escapa sempre que pode do tedioso expediente no Palácio do Planalto.  

JK amava exercer a Presidência, administrava o país com volúpia e paixão — e a chama dos visionários lhe incendiava o olhar ao contemplar canteiros de obras que o populista petista visita para falatórios eleitoreiros, demonstrando tratar com prazer de política, enquanto seu paradigma tratava também de política com prazer.

O país primitivo dos anos 50 pareceu moderno já no dia da posse de JK. Cinco anos depois, ficara mesmo. O otimista incontrolável inventou Brasília, rasgou estradas onde nem trilhas havia, implantou a indústria automobilística, antecipou o futuro. Cometeu erros, claro. Compôs parcerias condenáveis, fechou os olhos à cupidez das empreiteiras, não enxergou o dragão inflacionário. Mas o conjunto da obra é amplamente favorável.

Com JK, o Brasil viveu a Era da Esperança, mas tornou-se primitivo quando Lula ganhou a eleição. Oito anos depois, ficou mesmo. Mas Lula estava bem no retrato, reiteraram os institutos de pesquisa. Fazia sentido. Primeiro, porque milhões de brasileiros inscritos no Bolsa-Família estavam gratos à esperteza que os reduziu a dependentes da esmola federal. Depois, e sobretudo, porque o advento da Era da Mediocridade tornou o país mais jeca, mais brega, menos exigente, menos altivo.

Nos anos 50, o governo e a oposição eram conduzidos pelos melhores e mais brilhantes. O povo mereceu um presidente como JK. No Brasil de Lula, mandaram os medíocres. O grande rebanho de devotos teve o pastor que mereceu. E continua merecendo, a julgar pelos desqualificados designados, no primeiro escrutínio, para disputar Planalto no segundo turno das eleições passadas. E pela alternativa que restou aos eleitores mais esclarecidos para impedir que o PT e seus satélites e apaniguados retornassem e, com seu apetite pantagruélico, devorassem até a última migalha do Erário.

O capitão cloroquina disse com todas as letras que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar. O último presidente general da ditadura militar disse algo parecido: "Estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se vou me sair bem: no fundo o que gosto mesmo é de clarim e de quartel". Aliás, Figueiredo disse ainda que preferia o cheiro dos cavalos ao do povo e, perguntado por uma criança o que ele faria se fosse criança e seu pai ganhasse salário-mínimo, respondeu de bate-pronto que “daria um tiro no coco.

Mas o mau militar e parlamentar medíocre que despacha atualmente no Palácio do Planalto tomou gosto por morar às margens do Paranoá e jamais desceu do palanque. A despeito dos mais de 100 mil cadáveres empilhados bem debaixo de seu nariz por essa maldita pandemia, suas prioridades são sobreviver a um improvável — mas não impossível — processo impeachment e se reeleger em 2022. Com coronavoucher, chapéu de cangaceiro e tudo.

Em ritmo de campanha antecipada, o mito dos bolsomínions passou a tratar o Nordeste como uma extensão dos jardins do Alvorada. Entre 31 de julho e 17 de agosto ele visitou os estados da Bahia, Piauí e Sergipe. Na região Norte, esteve no Pará, e deve voar amanhã para o Rio Grande do Norte. 

Tudo somado e subtraído, em menos de um mês nosso indômito capitão terá desfilado suas “pretensões reeleitorais” cinco vezes aos eleitores das duas regiões mais petistas do país. As incursões coincidem com a alta de sua popularidade, que se deve — conforme eu mencionei nesta postagem — ao vale corona de R$ 600 que o governo tem pago desde abril aos brasileiros que enfrentam a pandemia em situação de vulnerabilidade.

Bolsonaro associa o socorro emergencial a uma agenda de inaugurações de obras e proselitismo político. Entregou uma usina termoelétrica na cidade de Barra dos Coqueiros (SE); inaugurou um sistema de abastecimento de água em Campo Alegre de Lourdes (BA); visitou o Parque Nacional da Serra da Capivara (PI) e entregou a primeira parte da obra de modernização do porto de Belém (PA). Entregará títulos de legalização de terras no Vale do Açu (RN) e visitará obras hídricas.

Durante a campanha, o candidato Bolsonaro jurou que não disputaria um segundo mandato; segundo ele, a reeleição tem sido "péssima" para o país, pois os governantes "se endividam, fazem barbaridade, dão cambalhota" para se reeleger. Eleito e empossado, o presidente Bolsonaro esquivou-se a pegar em lanças pelo fim da reeleição, alegando que cabe ao Congresso promover uma reforma que lime esse instituto do ordenamento jurídico. Oxalá seu entusiasmo com as pesquisas não o impeça de lembrar do que aconteceu com a economia do Brasil quando Dilma deu suas cambalhotas.

Político que não ambiciona o Poder vira alvo, mas político que só ambiciona o Poder arrisca-se a errar o alvo. Sobretudo quando não percebe que a única ambição verdadeiramente útil na antessala de uma crise econômica é a ambição de trabalhar.

Com Augusto Nunes e Josias de Souza

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

LULA E O COELHINHO DA PÁSCOA


Não se sabe ao certo o que é o tempo ou se ele realmente existe. Mas o poeta disse que não há nada como o tempo para passar. Com o passar do tempo,
 a abjeta polarização dividiu a população brasileira ao meio  noves fora uma pequena parcela que não tem bandido de estimação, se envergonha da política fisiologista e tem nojo de políticos corruptos. Mas o que seria de esperar dessa escória que o Criador escalou para povoar o país do futuro que nunca chega, cuja descoberta foi uma fraude, a Independência, comprada, e a Proclamação da República, o primeiro de uma sequência de golpes de Estado que pensamos ter terminado com o tão sonhado fim da ditadura?
 
Em abril de 1984, uma maracutaia urdida pela alta cúpula militar sepultou a emenda Dante de Oliveira, mas a semente estava plantada e a campanha pelas Diretas Já culminou na eleição indireta de Tancredo Neves. Mas quis o destino
 (e depois dizem que Deus é brasileiro!) que o presidente eleito, tido e havido como "salvador da pátria", baixasse ao hospital horas antes da cerimônia de posse e à cova 5 semanas depois, levando consigo a esperança de milhões de brasileiros e deixando de herança um neto que envergonharia o país e um combo de oligarca maranhense, escritor, poeta e acadêmico a quem o último presidente-general se recusou a transferir a faixa presidencial (faixa a gente transfere para presidente, não para vice, e esse é um impostor).
 
Após 5 longos anos de desgoverno Sarney, nosso esclarecidíssimo eleitorado — que não votava para presidente desde a eleição de Jânio Quadros, em 1960 — reafirmou sua estranha predileção pelo "quanto pior, melhor". Embora a lista de postulantes ao Planalto incluísse Ulysses Guimarães, Mário Covas e outros próceres da nossa política (quando nosso política ainda tinha próceres), a récua de muares preferiu Collor e Lula no segundo turno e liquidou a fatura elegendo o pseudocaçador de marajás.
 
Concluído o impeachment do Rei-Sol, o baianeiro namorador Itamar Franco foi promovido a titular e o sucesso do Plano Real garantiu a vitória do 
grão-duque tucano Fernando Henrique, que se reelegeu em 1998, mas não conseguir fazer seu sucessor e deu presidência de bandeja para o desempregado que deu certo e seu espúrio partido.
 
Lula renovou seu mandato em 2006 e, para provar que era "capaz de eleger até poste", emplacou a mulher sapiens em 2010. A dita-cuja fez o diabo para se reeleger em 2014, mas foi penabundada em 2016, sendo sucedida pelo vampiro que tem medo de fantasmas, que claudicou até o final do mandato-tampão e passou a faixa para um combo de mau militar e parlamentar medíocre com vocação para tiranete. E deu no que deu.
 
Com as velas enfunadas por ventos supremos, o ex-presidiário mais famoso 
da história desta banânia zarpou da carceragem da PF e aportou no Planalto pela terceira vez .Vale destacar que a coalizão que se formou em torno do dito-cujo tinha por objetivo impedir a reeleição do "mito" dos anencéfalos e consertar os estragos feitos durante sua execrável gestão. Mas pau que nasce torto nunca se endireita, e o Sun Tzu de Atibaia logo enveredou pelo perigoso terreno das afinidades ideológicas aliadas ao excesso de pretensão sobre seu real tamanho na cena externa.
 
Entre os episódios burlescos protagonizados por D. Lula III  destaca-se a postura de admirador confesso do tiranete venezuelano Nicolás Maduro. Sua majestade disse inicialmente que ouviu do amigo a promessa de um pleito "limpo e democrático" e respeito à vontade do povo, consubstanciada pelo resultado das urnas. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (que é controlado pelo Partido Socialista da Venezuela), o autocrata abjeto foi reeleito com 51,21% dos votos, mas a líder da oposição Maria Corina Machado diz ter provas de que Edmundo González Urrutia venceu por uma ampla vantagem. 
 
Para os observadores internacionais e a maioria dos governos — com exceção de Cuba Rússia, China, Nicarágua, Irã e outros regimes igualmente autoritários —, os dados oficiais são fraudulentos; segundo a Associated PressMaduro perdeu por uma diferença de quase meio milhão de votos. Para surpresa de ninguém, o paradeiro das atas eleitorais que o autoproclamado vencedor prometeu exibir continua incerto e não sabido, até porque seu conteúdo comprovaria o autogolpe. 
 
Num primeiro momento, Lula compactuou com a postura abjeta de seu partido, que reconheceu prontamente a vitória do caudilho venezuelano, mas mudou de ideia depois que Centro Carter afirmou que as atas eleitorais coletadas pela oposição eram "consistentes", e que González venceu de maneira clara e "por uma margem intransponível". Todavia, ao
 insistir que democracia é um conceito relativo, que a Venezuela não é uma ditadura, mas vive um 'regime desagradável", o petista escancara sua incapacidade de encaixar as palavras "Maduro" e "podre" numa mesma frase e deixa claro que sua abjeta ideológica o impede de se render à realidade, o que é inadmissível para um líder regional. 

Ecoando o ex-chanceler Celso Amorim, seu aspone especial para assuntos internacionais, Lula propôs a realização de um inexequível segundo turno das eleições no país vizinho (proposta essa que foi prontamente rechaçada por Corina, Urrutia e seus apoiadores). Aplicando-se os mesmos conceitos à conjuntura tupiniquim, Bolsonaro seria ligeiramente antidemocrático, o golpe falhado seria aceitável e o petismo aceitaria graciosamente o VAR de uma segunda eleição. 

Lula recebeu Maduro numa cúpula de países sul-americanos e tratou-o com deferência especial. Como anfitrião, foi criticado por seus pares, mas deu de ombros e seguiu na toada de condescendências em série, culminando na situação atual em que o Brasil, de líder, passou a voz praticamente isolada ao se recusar a reconhecer com clareza a fraude eleitoral deflagrada no final do mês passado. Além de desrespeitar o eleitor que votou nele acorrentado ao fator democrático, o pseudo grande estadista desrespeita a si mesmo.
 
Maduro já exibiu sua boca de jacaré, seus dentes de jacaré, seu couro de jacaré e seu rabo de jacaré, mas Lula continua achando que ele é o coelhinho da Páscoa. Num instante em que metade dos brasileiros ainda respira aliviada por ter conseguido se livrar de um candidato a déspota, Lula deveria parar de disputar a liderança da oposição com o "o coisa", sob pena de consolidar a crise venezuelana num processo de erosão da sua própria popularidade.

sábado, 13 de janeiro de 2024

O 8 DE JANEIRO E A POLARIZAÇÃO (CONTINUAÇÃO)


Sir Winston Churchill ensinou que "a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos", e que "o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano." Anthony Downs ensinou que ganha a eleição quem conquista o eleitor mediano, pois os candidatos de esquerda e direita têm garantidos os votos dos eleitores que comungam de suas convicções político-ideológicas.
 
Conhecido como Teorema do Eleitor Mediano, esse axioma vicejou no Brasil de 1994 até 2014, quando então a reeleição de mulher sapiens gerou uma polarização que vazou da política para as ruas. Em 2016, a insatisfação popular deu azo ao impeachment da gerentona de araque e à ascensão de Michel Temer, que prometeu um ministério de notáveis e empossou uma notável confraria de corruptos. Sua "ponte para o futuro" era de vidro e se quebrou quando O Globo publicou uma conversa de alcova gravada à sorrelfa por certo moedor de carne bilionário travestido de x-9. 
 
Alvo de três "Flechadas de Janot" — o PGR que mais adiante reconheceu ter ido armado ao STF para matar o semideus togado e se suicidar —, 
vampiro que tem medo de fantasma empenhou nossas cuecas em troca de apoio das marafonas do Centrão, mas terminou sua gestão como um patético "lame duck" — termo usado pelos americanos para definir políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons demonstram seu desprezo servindo-lhes o café frio.
 
Como desgraça pouca é bobagem, desse caldeirão infernal emergiu o amálgama mal ajambrado de mau militar e parlamentar medíocre que, em 2018, fantasiado de outsider antiestablishment e surfando na onda do antipetismo, impôs ao títere
 do então presidiário mais famoso do Brasil uma derrota acachapante. 
 
Observação: Como eu antecipei numa postagem de novembro de 2021, a maldita polarização transformou o pleito de 2022 em mais plebiscito, obrigando-nos (mais uma vez) a escolher o menor de dois males (lembrando que toda má escolha feita por falta de alternativa continua sendo uma má escolha). E não há nada como o tempo para passar. 
 
Sétimo filho (noves fora quatro que "não vingaram") de um casal de lavradores pernambucanos pobres e analfabetos, Luiz Inácio da Silva nasceu em 1945, conheceu o pai aos 5 anos e retirou para São Paulo aos 7, em 1952, onde morou com o pai, a mãe e os irmãos até que uma surra de mangueira levou dona Lindú a deixar o marido alcoólatra, rude e ignorante e se mudar para um cubículo nos fundos de um boteco do bairro paulistano do Ipiranga, onde Lula trabalhou como auxiliar de tinturaria, engraxate e office-boy até se formar torneiro mecânico e perder o dedo mínimo da mão esquerda num acidente pra lá de suspeito. 
 
Observação: Vale destacar que Aristides Inácio da Silva — que foi alcunhado de "homem das sete mulheres" pelos colegas estivadores, morreu de cirrose em 1978 e foi enterrado numa vala comum: nem dona Lindú, nem as amantes, nem os vinte e tantos filhos que ele espalhou Brasil afora lhe deram um túmulo e um epitáfio. 
 
Estimulado pelo irmão Frei Chico (que não era frade, mas ateu, não se chamava Francisco, mas José, e era membro do Partido Comunista Brasileiro), Luiz Inácio iniciou sua trajetória de sindicalista e ganhou o apelido pelo qual é conhecido até hoje, mas que só incorporou depois de fundar o PT e de ficar em 4º lugar na primeira eleição direta (pós-ditadura) para governador de São Paulo. 

Falando em apelidos, Brizola — que chamava Lula de "cachaceiro" — disse em 1989 que "política é a arte de engolir sapos" — daí o epíteto "sapo barbudo". Em 2002, quando se elegeu presidente pela primeira vez (após três tentativas fracassadas), o xamã do PT ficou conhecido como "Lulinha paz e amor"; em 2006, durante a campanha pela reeleição, ganhou da adversária Heloísa Helena a alcunha de "sua majestade barbuda"; nos bastidores do Planalto, era chamado de "chefe", "grande chefe" e "nine" (numa alusão ao dedo mindinho decepado em 1964, num acidente pra lá de duvidoso); nas planilhas de propina da Odebrecht, identificado como "Amigo" e "Brahma". 
 
Observação: Em meados dos anos 1980, Golbery do Couto e Silva — ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares, idealizador do SNI da ditadura e arquiteto da "abertura lenta, gradual e segura" — confidenciou a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda, que não passava de 
um bon vivant

Em 1986, Lula foi o deputado federal mais votado do país; em 1989, no segundo turno da primeira eleição direta para presidente pós-ditadura, perdeu para Fernando Collor; em 1994, foi derrotado por Fernando Henrique, que tornou a vencê-lo em 1998, sempre no primeiro turno. Em 2002, sua vitória sobre José Serra deu início ao jugo lulopetista que só terminaria 13 anos 4 meses e 12 dias depois, com o afastamento da nefelibata da mandioca. Dois meses antes, ao ser conduzido coercitivamente à PF para depor, Lula esbravejou: "Quiseram matar a jararaca, mas bateram na cabeça, bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve". 
 
Continua... 

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O GOLPE E O GOLPE DE MISERICÓRDIA



No momento em que eu escrevia estas linhas, atos em defesa e contra o governo federal estavam em andamento em pelo menos 15 Estados do País, e o presidente que acirrou as tensões institucionais ao convocar manifestações de apoio ao governo e ataques a ministros do STF já havia feito um "discurso fechado" na Esplanada dos Ministérios, levando ao delírio centenas de milhares de apoiadores — um número considerável, mas bem aquém do que ele e seus asseclas esperavam.

Em São Paulo, grupos de esquerda realizaram protestos no vale do Anhangabaú. Para evitar confrontos que descambassem para a violência explícita, as manifestações contra o governo, na avenida Paulista, acontecerão no próximo domingo, quando então o número de participantes deverá ser mais significativo. Bolsonaro discursou na mais paulista das avenidas por volta das 16h, mas desde manhã os apoiadores se apinhavam defronte MASP

O tucano Bruno Araújo, presidente do PSDB, convocou para esta quarta-feira uma reunião de emergência que deverá tratar da posição do partido em relação a um possível processo de impeachment de Bolsonaro. A notícia foi veiculada poucas horas após o chefe do Executivo vituperar o Judiciário e o Congresso em seu discurso na Esplanada dos Ministérios.

O jornalista Merval Pereira, do G1, avalia que o vice Hamilton Mourão já tem apoio militar para substituir o titular. "Seria, por caminhos transversos, uma terceira via com apoio militar, depois de idealmente ter colocado ordem na bagunça institucional em que vivemos", disse Merval. "Quando escolheu o Mourão para seu vice, um dos zeros de Bolsonaro comemorou, dizendo que a oposição pensaria duas vezes antes de tentar impedi-lo. O feitiço virou contra o feiticeiro. Mourão passou a ser visto por setores militares e políticos como possível solução para o problema em que Bolsonaro se tornou", relembrou Merval.

Ainda estamos na fase de ver no que vai dar o discurso antidemocrático de Bolsonaro, de achar que ele ainda não atravessou nosso Rubicão. Às vésperas dos 200 anos de Independência — este foi o 199º aniversário —, já deveríamos ter superado essa instabilidade política. Embora a popularidade do presidente tenha subido no telhado, ele ainda tem o apoio de 20% a 25% do eleitorado, o que pode levá-lo ao segundo turno (se não cair até outubro do ano que vem), mas não basta para derrotar Lula ou quem quer que venha a ser seu adversário nessa oportunidade. 

De momento e ao longo dos próximos meses a grande preocupação é (e será) a possibilidade de a polarização descambar para violência e arruaças, devido, sobretudo, à retórica agressiva de Bolsonaro e ao apoio de seus acólitos. Isso foi claramente demonstrado pelo viés nitidamente antidemocrático das manifestações de ontem, nas quais a malta bolsonarista exibia cartazes pedindo intervenção militar, fechamento do congresso, deposição dos ministro do STF e todas aquelas asneiras que estamos cansados de ver e ouvir — o que não as torna ameaças menos perigosas. 

Bolsonaro avança sobre marcos democráticos a pretexto de defender essas mesmas bandeiras, desconstruindo as palavras numa novilíngua que pretende transformar o indefensável em palatável, a anormalidade em novo normal. Ao apostar todas as fichas na capacidade mobilizar suas tropas, arrisca-se a produzir o efeito contrário: para quem falou em 2 milhões de pessoas nas ruas, centenas de milhares é um número considerável, mas não o bastante. E de nada adianta enfeitar o pavão: a possibilidade de mesurar manifestações pelo número de pessoas por metro quadrado já desmoralizou diversos eventos "monumentais". 

A situação, já insustentável, tende a ficar ainda pior — uma conjuntura inadmissível numa verdadeira democracia, que não aceita decidir o rumo que o país a partir de enfrentamentos nas ruas, até porque isso pode evoluir facilmente para uma batalha campal (e daí para uma guerra civil é um pulo). 

A intenção declarada pelo capitão era ter uma foto da multidão para mostrar ao mundo sua força popular, como se essa suposta força fosse suficiente para autorizá-lo a transgredir a lei. Mas o tom e o conteúdo do discurso que ele proferiu deram a entender que a ideia é ir bem além disso. O que é no mínimo preocupante. 

Estima-se a população tupiniquim em 213 milhões de almas. Se mais de 212 milhões desses viventes não participaram dos protestos, dizer que o Brasil apoia em peso o desgoverno Bolsonaro é uma sandice. A escumalha barulhenta e arruaceira que idolatra esse lunático é o oposto da população menos ruidosa, mas nem por isso silenciosa, que se opõe a seu desgoverno genocida. Mas os bolsonaristas radicais agem como se fossem maioria, tentando, pela força, transformar a democracia representativa em letra morta. 

Esse é o paradoxo que se coloca: uma minoria antidemocrática que não aceita os poderes que impõem a ela os limites democráticos.

Ser antipetista não significa ser bolsonarista. Esse engano remonta a outubro de 2018, quando os muitos que não queriam a volta do lulopetismo corrupto se uniram aos defensores do bolsonarismo boçal, produzindo os 57,7 milhões de votos que alçaram um dublê de mau militar e parlamentar medíocre à Presidência desta mixórdia. 

Mas é bom lembrar que a conjuntura, então, era outra, a exemplo da que deu azo ao golpe de 1964 — para desgáudio da claque de muares descerebrados, que incentiva esse presidente troglodita a tentar alguma sandice, e para alívio daqueles comprometidos com a democracia.

Vamos esperar para ver no que vai dar e torcer pelo melhor.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

O PESADELO CONTINUA...

Por algum tempo, pareceu que Lava-Jato mudaria o mantra de que no Brasil só pretos e pobres vão para a cadeia. Infelizmente, não demorou para que a moral dos brasileiros parasse de funcionar. Processos, julgamentos e decisões de dezenas de magistrados foram anulados para que alguns réus pudessem disputar cargos públicos e o crime voltasse a compensar. 
 
Anos antes de Cabral aportar em Pindorama, Nicolau Maquiavel já dizia que um povo que aceita passivamente leis que beneficiam corruptos é escravo por natureza e não merece a liberdade. Em outras palavras, quem dá a chave do galinheiro às raposas não pode reclamar do sumiço das galinhas.
 
Quando confrontados com o mensalão e o petrolão, os sectários do lulopetismo respondem com as "rachadinhas", a mansão em Brasília e os 107 imóveis do clã Bolsonaro. É fato que o dublê de mau militar e parlamentar medíocre, ora homiziado na cueca do Pateta, é alvo de uma porção de investigações — que podem ou não levá-lo às barras da Justiça —, mas Lula foi preso, julgado, condenado e encarcerado (ainda que por míseros 580 dias).
 
A leniência da justiça tupiniquim com corruptos e corruptores de alto coturno deixaria Maquiavel boquiaberto. Mas isso não muda o fato de que a péssima qualidade do eleitorado tupiniquim corrobora, a cada eleição, o que disseram Pelé, nos anos 1970, e Figueiredo, na década seguinte, sobre eleições diretas para presidente. 
E não só para presidente.

No último dia primeiro, entre outras aberrações notáveis que conquistaram uma cadeira no Congresso, destacou-se o o general Eduardo Pazuello. Mesmo tendo assombrado o Brasil durante a maior crise sanitária dos últimos cem anos, o dito-cujo foi segundo nome mais votado (205.324 votos) pelo inigualável eleitorado fluminense.
 
Durante uma conversa com o também bolsonarista Nikolas Ferreira (PL-MG), que se dizia preocupado com uma possível vitória do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na eleição para a presidência do Senado, o ora deputado Pazuello disse que "os bolsonaristas eleitos para a Câmara eram um grupo bom de porrada”. 
 
A despeito do ataque terrorista de 8 de janeiro e de todo a coletânea de atos de violência que o bolsonarismo borrifou país afora nos últimos anos, sobretudo em 2022, o ritmo ditado pela bancada de apoiadores do capitão sociopata continuará o mesmo.

Mudando de mosca, numa época em que há tantas tolices novas à disposição, Lula insiste em cometer velhos erros. Erros novos, resultantes de uma sincera tentativa de mudança, podem ser admitidos e corrigidos. Mas o governo petista se agarra a uma política econômica testada e fracassada. Alega que certas despesas públicas não configuram gasto, mas, sim, investimento. Que produzir superávits para pagar os juros da dívida pública é engordar financistas graúdos em detrimento dos brasileiros mais pobres. Fala em elevar a meta de inflação para combater a inflação, embora o Brasil tenha larga experiência negativa nesse quesito; se inflação alta e crônica fosse meio de crescimento, seríamos uma dos países mais ricos do mundo.
 
Observação: O que sufoca a economia brasileira não é o combate à inflação, mas o gasto público muito elevado e pouco eficiente, financiado por déficits que geram inflação e cujo combate requer o aumento da Selic. Em vez de admitir o erro, Lula quer acabar com a independência do BC e, pasmem!, usar o BNDES para compensar perdas de receita dos estados (provocadas pela redução de impostos sobre a gasolina e energia) e financiar obras na Argentina e em outros países "companheiros". Nem seria preciso dizer que já vimos esse filme e sabemos como ele termina.
 
Lula ataca o teto de gastos e a exigência de responsabilidade fiscal. Diz que os fiscalistas são contra os gastos sociais e, ato contínuo, assegura que seu primeiro governo praticou a responsabilidade fiscal. Mas esquece de lembrar (ou se lembra de esquecer) que, em seu primeiro mandato, ele recebeu a casa arrumada e um presente da globalização, com o mundo todo em crescimento e a onda das commodities trazendo dólares ao Brasil. Agora, o mundo desacelera, os juros são altos para combater a inflação — tanto aqui quanto lá fora. 

Lula invoca seu passado responsável — de respeito à autonomia do BC e produção de superávits fiscais — para rechaçar qualquer regra nesses itens e obter uma licença para gastar e produzir déficits elevados. O Lula de 2003 não era o verdadeiro. Se ele praticou políticas responsáveis, ortodoxas, foi por medo da reação dos meios econômicos. Tanto que começou a mudar a postura no segundo mandato, quando se sentiu mais seguro. 

Tudo considerado, Dilma foi o verdadeiro Lula, com a gastança do governo, suas estatais e seus bancos. É o que ele quer reviver, mas as circunstâncias mudaram. Triste Brasil.

sábado, 14 de janeiro de 2023

COMO É MAIS FÁCIL MENTIR QUE FINGIR, AS AÇÕES SÃO MAIS EXPRESSIVAS QUE AS PALAVRAS


Já dizia o padre Antônio Vieira que ladrões de galinha roubavam e eram enforcados, enquanto governantes roubavam e enforcavam. Passados mais de três séculos da morte do religioso e um dia do julgamento em que o STF reverteu (por 6 votos a 5) a jurisprudência que autorizava o início do cumprimento da pena após condenação em segunda instância, Lula deixou a carceragem da PF em Curitiba e Dirceu, VaccariDelúbio e outros 4,9 mil presos foram igualmente beneficiados pela decisão.
 
Há diversas maneiras legítimas de protestar contra a volta de Lula ao poder, mas defender um golpe militar não é uma delas. A Constituição não atribui às Forças Armadas o papel de "poder moderador" nem tampouco as autoriza a alterar decisões do TSE. Gostemos ou não, o ex-presidiário descondenado foi eleito democraticamente e, a menos que seja impichado ou passe desta para melhor, governará este arremedo de banânia até 31 de dezembro de 2026.
 
O ataque terrorista do último dia 8 escancarou as intenções golpistas dos bolsonaristas inconformados, mas o resultado não foi o esperado: ainda que tardiamente, a polícia adotou medidas duras contra os vândalos e seus mentores e patrocinadores, que poderão vir a ser condenados a ressarcir prejuízos de mais de R$ 20 milhões. 
 
Quando assumiu a presidência, Bolsonaro era um reles duble de mau militar e parlamentar medíocre que fora eleito graças a uma formidável conjunção de fatores. Não faltaram motivos para afastá-lo do cargo, mas Augusto Aras, Rodrigo Maia e Arthur Lira fizeram vista grossa aos crimes comuns e de responsabilidade cometidos pelo pior mandatário desde a redemocratização. Derrotado nas urnas, o "mito" se encastelou no Alvorada e, a dois dias da troca de comando, viajou para os EUA, de onde acompanhou em segurança a tentativa de golpe do último dia 8. 

Segundo o blog de Bela Megale, o ex-presidente e Valdemar Costa Neto trocaram mensagens ao longo das últimas semanas, mas os ataques terroristas ficaram de fora das conversas. Outros aliados que tentaram entrar contato com o "mito" não lograram êxito, pois ele trocou de celular antes de deixar o país e repassou o novo número apenas para um círculo restrito de pessoas. 
 
Depois de aventar a possibilidade de antecipar sua volta ao Brasil, Bolsonaro publicou mais uma fake news sobre as eleições, insuflando a ira de seus apoiadores e, de quebra, agravando ainda mais sua situação jurídica. Das 15 ações de investigação judicial eleitoral (conhecidas como "aijes"), pelo menos três dialogam com os fatos políticos desta semana. 
 
Observação: Para além dos ataques no último domingo, as digitais de Bolsonaro aparecem de maneira indelével nos protestos no dia da diplomação de Lula, na tentativa de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília e na sabotagem de torres de transmissão de energia. Um ato golpista marcado para a última quarta-feira na Av. Paulista só foi cancelado depois que o ministro Alexandre de Moraes proibiu a ocupação ou o bloqueio de vias públicas e rodovias em todo o país para manifestações antidemocráticas. 
 
A ala radical do PT quer a cabeça de José Mucio, que foi pusilânime (para não dizer conivente) na condução da segurança do DF durante os atos golpistas do dia 8. Lula mostrou-se especialmente irritado com o ministro, para quem os acampamentos montados defronte aos quartéis — que o exército demorou a remover porque havia neles militares reformados e familiares de fardados da ativa — eram "uma manifestação da democracia". Ainda assim, Mucio deve continuar no cargo, pois encontrar gente de confiança demanda tempo e adotar medidas mais radicais pode mandar mais água para o moinho de Bolsonaro et caterva.
 
Falando em caterva, a PF encontrou na casa do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres — que teve a prisão decretada sob suspeita de sabotar o planejamento de segurança em Brasília, propiciando as invasões golpistas na Praça dos Três poderes —, o esboço de um decreto que permitiria a Bolsonaro interferir no resultado das eleições. O texto da proposta, cuja íntegra foi divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, diz, por exemplo, que a medida tem por objetivo preservar "a lisura e correção do processo eleitoral presidencial do ano de 2022".
 
Ao longo de todo o mandato, Bolsonaro fez reiterados ataques às urnas eletrônicas, alardeou supostas fraudes e deixou claro que não aceitaria o resultado da eleição caso fosse derrotado. Ao intervir no TSE sem nenhuma justificativa ou indício de ilegalidade no pleito, ele colocaria em prática sua retórica golpista dos anos anteriores. A minuta encontrada com Torres previa o controle do "acesso a todas as dependências do TSE onde houve tramitação de documentos, petições e decisões acerca do processo eleitoral presidencial de 2022, bem como o tratamento de dados telemáticos específicos de registro, contabilização e apuração dos votos coletados por urnas eletrônicas em todas as zonas e seções disponibilizadas em território nacional e no exterior". 

O documento abria a possibilidade de estender as determinações das medidas "às sedes dos Tribunais Regionais Eleitorais" e criava uma "Comissão de Regularidade Eleitoral" chefiada pelo Ministério da Defesa, comandada à época pelo general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que nomearia 7 dos 17 membro da tal comissão, colocando o controle do sistema eleitoral nas mãos de militares. 
 
Torres foi exonerado por Ibaneis Rocha no último domingo, mas viajou para os EUA uma semana antes, assim que assumiu a Secretaria de Segurança Pública do DF, embora suas férias começassem somente no dia 9 de janeiro. Ele ficou de retornar ao Brasil e se colocar à disposição da Justiça nesta sexta (13). Sobre a minuta golpista, ele tuitou que o documento estava "pronto para descarte". Sua defesa ficará a cargo do advogado Rodrigo Roca, que representou Zero Um no caso das "rachadinhas" e foi subordinado a Torres durante o governo Bolsonaro, quando ocupou o cargo de secretário nacional de Defesa do Consumidor.

Ainda segundo Bela Megale, tanto o PL quanto membros do TSE avaliam que o documento será usado para tornar Bolsonaro inelegível. Tanto o inquérito administrativo quanto as 15 ações que pedem a declaração de inelegibilidade do capetão podem impedi-lo de disputar eleições pelos próximos oito anos. Vale destacar que  esses processos estão sob a batuta do ministro Benedito Gonçalves, corregedor-geral da Justiça Eleitoral, que já avalizou diversas decisões de Alexandre de Moraes, como a da multa de R$ 22,9 milhões aplicada ao PL por pedir a anulação de parte dos votos das eleições sem comprovar fraudes. 

A ver.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

A MALDIÇÃO DA VICE-PRESIDÊNCIA — CONTINUAÇÃO


Desde o golpe de Estado de 1889 (que entrou para nossos livros de História com o pomposo nome de "Proclamação da República"), oito vice-presidentes terminaram os mandatos de seus titulares. Só no período pós-ditatura houve três casos. O primeiro se deu quando ainda se ouviam os vagidos da "Nova República". Mas a pergunta que se coloca é: será que a instituição da vice-presidência ainda se justifica — se é que algum dia se justificou?

Em dezembro de 2015, Michel Temer encaminhou a Dilma uma "carta pessoal" queixando-se de ser um vice-presidente meramente decorativo. A missiva vazou (dizem que por obra e graça do próprio Temer) e foi amplamente repercutida pela imprensa. Ato contínuo, o Vampiro do Jaburu se tornou o principal articulador (e maior beneficiário) do impeachment da gerentona de araque. 

Pergunta-se: que falta fez um vice durante seu mandato-tampão? Será que os presidentes da Câmara, do Congresso e do STF (segundo a linha sucessória presidencial) não deram conta de cobrir as eventuais ausências do vampiro que tem medo de assombração? Para que serve um vice-presidente senão para sugar das tetas do Erário uma polpuda remuneração, morar num palácio à beira do lago, ter a sua disposição um batalhão de serviçais e assessores e não fazer nada de útil além de, nas horas vagas, conspirar contra o titular?

O cenário atual é ainda mais escabroso. O mandatário de turno é investigado em 5 inquéritos, denunciado pela CPI por 9 crimes (denúncias que seu vassalo na PGR se esforça para matar no peito) e alvo de 141 pedidos de impeachment (que o réu que preside a Câmara mantém sob seu respeitável buzanfã). Antes mesmo de tomar posse, o vice do capetão, general Hamilton Mourão, disse à Folha que o salário era "uma palhaçada".  

Observação: A partir de maio deste ano, Mourão passou a receber R$ 63.511 de remuneração bruta. Ele ganhou R$ 30.934 em fevereiro, último dado disponível, para exercer o cargo de vice-presidente, e mais R$ 32.577 da reserva remunerada (o abate-teto de R$ 24.311,71 deixou de existir com a publicação da portaria de 30 de abril).

Ainda durante a campanha, o duble mau militar e parlamentar medíocre — que, por alguma razão inexplicável, continua presidente — pegou em lanças contra a corrupção, excomungou a velha política do toma-lá-dá-cá e prometeu acabar com a reeleição. Eleito, enfiou o discurso de palanque em local incerto e não sabido. Em meio à pandemia, transformou a Saúde num grande quartel. Em meio à institucionalização da corrupção pela banda podre do Judiciário, fritou o ministro da Justiça, reconduziu o tal vassalo à PGR, comprou votos para eleger o tal réu que preside a Câmara, nomeou ministro do STF alguém comum currículo questionável, mas com quem ele "bebeu muita tubaína" e, mais recentemente, entregou a suprema toga a um pastor "terrivelmente evangélico".

Ao longo de três anos de gestão, Bolsonaro não só incentivou como participou pessoalmente de inúmeras manifestações golpistas. Transformou as comemorações do último 7 de setembro em balão de ensaio para um autogolpe. Converteu o país que deveria presidir (coisa que jamais fez, pois prefere fazer campanha e promover motociatas durante o expediente) o populista cachaceiro que renunciaria antes de completar sete meses no cargo. Sem falar que é useiro e vezeiro em interferir nas instituições para proteger sua prole — dos cinco filhos que teve em três casamentos, somente a caçula, de 11 anos não é alvo de investigações.

Observação: A tragédia que elegemos para evitar a volta do lulopetismo corrupto é mais inútil do que qualquer vice poderia ser. Talvez estivéssemos numa situação melhor se o estrupício já tivesse sido deposto, metido numa camisa-de-força e trancafiado num manicômio judiciário. Mas isso é outra conversa.

Para entender por que as coisas são como são, faremos uma rápida viagem pelo passado recente desta republiqueta de bananas. Comecemos pela décima sétima eleição presidencial — a décima quinta pelo voto direto e a última antes do Golpe Militar de 1964 (a próxima ocorreria somente 29 anos depois) —, da qual saiu vitorioso o populista cachaceiro que renunciaria antes de completar sete meses no cargo.

Jânio só fez o que fez, dizem, porque estava bêbado. Verdade ou não, isso não muda o fato de que seu ato pavimentou o para os 21 anos de ditadura militar — que alguns lunáticos afirmam que nunca existiu, mas isso é outra conversa.

Falando em cachaceiro, a patuleia ignara, empolgada com os resultados das pesquisas, está convicta de que seu amado líder será novamente eleito presidente, e com mais de 200% dos votos válidos. Segundo a Genial/Quaest, o ex-presidiário dá duas voltas completas na pista enquanto o verdugo do Planalto liga o motor e o ex-juiz da Lava-Jato procura a chave do carro. 

Dito de outra maneira, Lula tem 47% das intenções de voto — contra 24% de Bolsonaro e 11% de Moro —, e rejeição bem menor que a dos adversários. (Para não dizer que não falei das flores, Ciro Gomes, que concorrerá ao Planalto pela quarta vez, tem 7% das intenções de voto). 

Retomando nossa breve viagem pelo tempo, voltemos (ou avancemos) para 15 de janeiro de 1985, data histórica em que Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf  por 480 a 180 votos de um colegiado formado por 686 "eleitores" (361 do PDS, 273 do PMDB, 30 do PDT, 14 do PTB e 8 do PT). 

Não foi a eleição direta que todos desejavam, mas a perspectiva de voltar a ter um civil na Presidência encheu de esperança o coração dos brasileiros. Mas quis a sorte madrasta que o presidente eleito baixasse ao hospital 12 horas antes da cerimônia de posse e fosse sepultado 41 dias (e sete cirurgias) depois.

E assim Tancredo se foi, levando com ele nossas esperanças e nos deixando de herança ninguém menos que José Ribamar Ferreira de Araújo Costa (mais conhecido como José Sarney).

Continua na próxima postagem.