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sábado, 7 de setembro de 2024

ELEIÇÕES 2024 — POLARIZAÇÃO, BAIXARIA E CEGUEIRA MENTAL DÃO O TOM


 
Faltando menos de um mês para as eleições municipais, Ricardo Nunes, Guilherme Boulos e Pablo Marçal estão tecnicamente empatados, Tábata Amaral aparece em 4º lugar e José Luiz Datena carrega a lanterninha. 
Pelo que se pôde inferir dos debates e do anacrônico "horário eleitoral gratuito" — gratuito para os partidos e candidatos, já que quem paga a conta somos nós — nenhum deles tem condições de administrar nem carrinho de pipoca, quanto mais a maior metrópole da América Latina. A proposta de Tábata é a "menos pior", mas, a julgar pelas pesquisas, a moça precisa de um milagre para chegar ao segundo turno. 
 
No Brasil, presidente, governadores, prefeitos e senadores são eleitos com base no sistema majoritário, e deputados (federais e estaduais) e vereadores, pelas regras do sistema proporcional. Como eu comentei esses dois sistemas em outra postagem, vou resumir a ópera relembrando somente que, em municípios com mais de 200 mil eleitores inscritos, se nenhum candidato a prefeito obtiver 50% + 1 dos votos válidos no primeiro turno, os dois mais votados disputarão uma segunda eleição 
— conhecida como "segundo turno" — que é decidida por maioria simples, ou seja, vence o candidato mais votado.

ObservaçãoNos últimos 24 anos, o segundo turno das eleições paulistanas foi disputado por um candidato da esquerda contra um da direita. Mesmo em 2016, quando Dória venceu no primeiro turno, Haddad ficou em segundo lugar. Seguido esse padrão, um embate final entre dois candidatos da direita — no caso, Marçal e Nunes — é no mínimo improvável. Nesse cenário, Boulos deve representar a esquerda. Resta saber quem será seu oponente. Datena parece não ter a menor chance, e Tábata tem menos de um mês para se consolidar na disputa.
 
Situações desesperadoras exigem medidas desesperadas, mas abster-se de votar, votar em branco, anular o voto ou recorrer ao "voto útil" no primeiro turno é estupidez, mas a nefasta polarização vem produzindo pleitos plebiscitários, e um eleitorado despreparado, mal-informado e eivado de apedeutas e idiotas de carteirinha tende a votar não no candidato com quem mais se identifica, mas naquele que supostamente tem mais chances de derrotar o candidato "deles", o que acaba falseando o resultado final do pleito.
 
Magalhães Pinto ensinou que "política é como as nuvens; a gente olha e elas estão de um jeito, olha de novo e elas já mudaram" e Ciro Gomes, que "eleição é filme, pesquisa é frame". Se admitirmos
 que a opinião de alguns milhares de entrevistados representa fielmente o que pensam 9,32 milhões paulistanos aptos a votar, o resultado das pesquisas constitui um "instantâneo" do humor do eleitorado no momento da abordagem. O bom senso recomenda analisar os números com a devida cautela, mas explicar isso a quem sofre de cegueira mental é como dar remédio a um defunto.
 
Uma das características da democracia brasileira é produzir "salvadores da Pátria". Vimos isso em 1989 com Collor, em 2002 e 2006 com Lula e em 2018 com Bolsonaro. Talvez a história se repita em 2026, tendo como protagonista o "coach motivacional" que teve a candidatura ao Planalto barrada pelo TSE, conseguiu se eleger deputado federal, foi impedido de assumir e agora mira a prefeitura paulistana com um olho e a Presidência com o outro. 

A exemplo de Bolsonaro em 2018, Marçal se vende como candidato "antissistema", mas já acena uma aproximação com o sistêmico União Brasil, que um dos principais partidos do Centrão. Se for eleito, cairá no colo do UB, exatamente como o "mito" caiu no colo do Centrão — e lhe deu o orçamento secreto em troca do engavetamento de 150 pedidos de impeachment. 
 
Campanha eleitoral movida a ódio não é novidade por estas bandas, mas terminou mal todas as vezes que a raiva foi industrializada com propósitos políticos: Jânio renunciou, Collor foi impichado, Bolsonaro perdeu a reeleição, está inelegível, vive sob a sombra de uma sentença criminal esperando para acontecer enquanto posa de cabo-eleitoral de luxo. 
A diferença entre ele e Marçal é que as redes sociais dão a este um alcance maior que o daquele

Com a repetição do fenômeno de forma mais turbinada na seara municipal paulistana, resta torcer para que o eleitor despache a aberração antes que ela se consolide como um fenômeno eleitoral. A despeito de estar claro que se trata de um produto estragado, quem tem que comprá-lo ou não é o eleitor.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

VOTEM NELAS. NOS FILHOS DELAS NÃO RESOLVE


O maior problema do Brasil remonta à criação do mundo segundo o Gênesis. Reza a lenda que, a alturas tantas, um anjo questionou o Criador por proteger de catástrofes naturais a região que mais adiante acomodaria o Brasil: "
Senhor, por que destinastes a essa porção de terra clima ameno, praias e florestas deslumbranes, grandes rios e belos lagos, mas não desertos, geleiras, vulcões, furações ou terremotos?" E Deus respondeu: "Espera e verás o povinho filho da puta que vou colocar lá." 

Dito e feito. Vivemos num país surreal. Nossa independência foi comprada, a Proclamação da República foi um golpe militar (o primeiro de uma série) e o voto é um "direito obrigatório" do cidadão. Em 133 anos de história republicana, três dúzias de brasileiros chegaram à Presidência pelo voto popular ou por eleição indireta, linha sucessória e golpe de Estado. Desses, oito, começando pelo primeiro (Deodoro da Fonseca), deixaram o cargo prematuramente. Entre os cinco que foram eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois acabaram impichados. Se o "mito" dos cabeças-ocas não ingressou nessa seleta confraria, foi graças à conivência de Rodrigo Maia, à cumplicidade de Arthur Lira e à subserviência chapada de Augusto Aras.
 
Nossa democracia lembra aquelas fotos antigas de reis africanos que imitavam os trajes, trejeitos e enfeites dos governantes de nações mais evoluídas, mas não aprendiam suas virtudes. Na fotografia, banânia aparece como uma democracia de Primeiro Mundo, mas a realidade do dia a dia mostra pouco mais que uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. 

Temos uma Constituição e até uma corte constitucional — onde os juízes, chamados de ministros, usam togas negras como os reis africanos usavam cartolas, e escrevem (às vezes até uma frase inteira) em latim. Temos procuradores gerais, parciais, federais, estaduais, municipais, especializados em acidentes do trabalho, patrimônio histórico, meio ambiente, infância, urbanismo e praticamente todas as demais áreas da atividade humana. Temas uma Câmara Federal e um Congresso Nacional. Temos eleições a cada dois anos e mais de 30 (!?) partidos políticos. Não nos falta nada, exceto a democracia, que ficou só na foto. 

Nossas eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, do voto obrigatório e horário eleitoral "gratuito"  às deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm menor número de eleitores. O resultado é um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. 

Os eleitores são, em sua esmagadora maioria, ignorantes, desinformados e desinteressados, e a Justiça Eleitoral, criada para dar ao país eleições exemplares, permite a produção dos políticos mais ladrões do mundo. Temos mais de 30 legendas que se alimentam dos fundos partidário ( R$ 1,1 bilhão) e eleitoral (R$ 4,9 bilhões) bancados pelo dinheiro dos impostos pagos pelo "contribuintes". Algumas legendas não têm um miseros deputado ou senador no Congresso, mas seus donos enchem os bolsos leiloando suas cotas de tempo no horário eleitoral obrigatório. 

Mulheres e minorias são manipuladas pelas direções partidárias, que controlam quem tem acesso a financiamento público. Acordos políticos são urdidos surdina e os parlamentares (ou a maioria deles) votam com base em interesses pessoais. Milicias e fações criminosos têm representantes no Congresso, nas Assembleias Legislativas estaduais e nas Câmaras Municipais. Candidatos só entram em algumas regiões se tiverem proteção dos criminosos, e os moradores são "convidados a votar na "turma da casa". 

ObservaçãoComo se essa putaria franciscana com nosso dinheiro não bastasse, uma parcela substantiva dos trilhões achacados anualmente dos "contribuintes" escoa pelo ralo da corrupção e quase tudo que resata é usado para custear a máquina pública, de modo que nunca há recursos para investir em Saúde, Segurança Pública, Saneamento Básico, Educação etc.

Em abril, o déficit nominal atingiu o recorde de R$ 1,043 trilhão (no acumulado de 12 meses) e a mudança da meta do arcabouço fiscal para 2025 pirou o que já era ruim. Lula tem um xilique sempre que se fala em déficit fiscal em corte de gastos, forçando Haddad a inventar novas maneiras de arrancar dos "contribuintes" os bilhões que faltam para equilibrar as contas. 

Ex-poste de Lula na prefeitura de Sampa e ex-preposto do então presidiário mais famoso do Brasil no pleito presidencial de 2018, o ministro colecionou muitas vitórias como capataz da Fazenda de Lula 3, mas seu déficit zero virou ficção, o superávit tornou-se uma lenda, a estratégia da resolução da encrenca pelo aumento de arrecadação se exauriu, o dólar disparou, a inflação superou a meta de 3% prevista para o ano e o governo foi como que intimado a cortar gastos

Haddad e sua colega do Planejamento expuseram ao chefe o buraco produzido no Tesouro pelas benesses concedidas ao empresariado (somando-se as renúncias tributárias e os subsídios financeiros, a conta foi a R$ 646 bi no ano passado). Lula ficou "extremamente mal impressionado", mas não deu mostras de que pretende usar o fação. Chegou-se a cogitar que em breve a Fazenda teria outro capataz, como se trocar as rodas da carroça quando o problema está no burro adiantasse alguma coisa.

Lula "dirige" esta republiqueta de bananas com os olhos no retrovisor, mas é incapaz de ver o reflexo do responsável pelas próprias mazelas — que ele atribui ao presidende do BC que herdou de Bolsonaro. Na véspera da reunião em que o Copom decidiu pausar a sequência de cortes na Selic, o petista acusou Campos Neto de "trabalhar para prejudicar o país": "A única coisa desajustada no Brasil neste momento é a política do Banco Central

A decisão de interromper os cortes foi unânime, ou seja, os quatro diretores escalados por Lula — incluindo Gabriel Galípolo, cotado para ser o próximo presidente da instituição — também votaram a favor. Diante das críticas de petista, o Copom sinalizou que os juros estão altos por causa do desequilíbrio das contas do governo

Observação: A unanimidade deixou Lula na incômoda posição de derrotado e Campo Neto, na de bode expiatório gasto, que forneceu munição contra si ao participar do jantar oferecido (em sua homenagem) pelo governador bolsonarista de São Paulo. Em 31 de dezembro, o economista estará livre para colocar seu bolsonarismo a serviço da candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas, mas nem por isso o vermelho das contas nacionais será tingido de azul.
 
Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças entre nossa democracia bananeira e os reis africanos que aparecem nas fotos-símbolo do colonialismo. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. O Congresso não representa a vontade soberna do povo, e há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. 
Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país como esse? 

Talvez esteja na hora de votar nas putas. Está visto que elegendo os filhos delas a trajetória ziguezagueante desta banânia dificilmente reencontrará seu norte.

Continua... 

segunda-feira, 24 de junho de 2024

SAMSUNG ONE UI E KNOX

NÃO SE IMPORTE COM COMENTÁRIOS QUE NÃO VÃO MUDAR SUA VIDA.

 
Google atualiza o Android anualmente, mas o suporte às novas versões do robozinho verde depende da marca, modelo e data de lançamento de cada aparelho. Todavia, mesmo depois que o período de atualizações termina, o dispositivo pode continuar recebendo por mais algum tempo os patches de segurança para a versão em que ele "estacionou".
 
Apple não informa durante quanto tempo os iPhones recebem atualizações do iOS, mas a média é de 6 anos. Aparelhos da Samsung chegam a receber 5 atualizações do Android e patches de segurança por até 6 anos. Modelos "premium" da Motorola têm direito a 2 atualizações do sistema e 2 anos de pacotes de segurança bimestrais. Já a Xiaomi garante 3 anos de atualizações do Android e da interface MIUI em sua linha principal (Mi).

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Em seu discurso de posse como presidente do TSE, a ministra Cármen Lúcia deixou claro que o foco do Tribunal nas eleições deste ano será o combate às chamadas fake news

As palavras da magistrada ornam com as necessidades atuais, mas é preciso levar em conta: 1) a inexistência de uma lei que diferencie falsidades deletérias capazes de alterar o rumo de uma eleição de mentiras que são desmentidas com a verdade; 2) a existência de uma tecnologia cuja potência se intui, mas sobre a qual não se tem ainda completo conhecimento nem instrumentos eficazes de enfrentamento.

O embate se avizinha duríssimo, sem garantias de sucesso e com riscos de distorções, mesmo que involuntárias, à salvaguarda de direitos.

O refletor aceso pelo TSE sobre as plataformas digitais, em contexto de omissão do Congresso, não pode deixar na obscuridade outros aspectos sob a jurisdição da Justiça Eleitoral — bem mais antigos e ainda não resolvidos — como a morosa e defeituosa fiscalização das contas dos partidos, hoje inteiramente financiados com dinheiro público, e o olhar complacente sobre os abusos cometidos por candidatos à reeleição.

Para além das redes sociais, frequentam desde sempre o anacrônico horário político obrigatório no rádio e na televisão — uma usina de manipulações e falsidades que o contribuinte paga para ser feito de palhaço e ter os ouvidos feitos de penico.

Os artefatos de exaltação enganosa de candidatos e desqualificações danosas de seus adversários nunca foram alvo de posições tão enfáticas como as que ora oriundas do tribunal. Não por carência de exemplos, e sim por excesso de benevolência para com seus autores. Mas os defeitos do que está aqui requerem a mesma atenção dedicada aos malefícios do que vem por aí.

 
Lançado originalmente em 2018, o One UI é uma interface personalizável voltada à família Galaxy. A versão 5.0 com Android 13 começou a ser distribuída em outubro de 2022, e a 5.1, em fevereiro do ano passado.  A One UI 6.0 com Android 14, que começou a ser liberada poucos meses atrás, oferece um pacote de melhorias para apps, novos recursos de design e visual mais moderno, com novos emojis e uma fonte que melhora a legibilidade da tela. O painel rápido do sistema apresenta configurações agrupadas para facilitar o uso, permitindo, por exemplo, ajustar a luminosidade do display de uma forma mais rápida e intuitiva. 

Para fotos, o software analisa as imagens que o usuário está vendo e sugere ferramentas de edição mais relevantes. Para vídeos, o Samsung Studio realiza edições em várias camadas, permitindo, dentre outras coisa, a adição de textos, adesivos e músicas. No quesito segurança, ela traz o Knox Matrix, que, entre outras novidades, como o login sem senhas. 
 
O Samsung Knox, lançada em 2013, implementa uma camada adicional de proteção por meio de hardware e software integrados, criando um ambiente seguro e isolado que protege os dados e as informações sensíveis das ameaças cibernéticas. Por vir ativado por padrão e atuar em segundo plano, ele dispensa configuração e intervenções constantes do usuário. 
 
Para fazer frente a novas ameaças, a Samsung atualiza o Knox regularmente. A instalação costuma ser automática, mas pode ser feita manualmente — basta acessar as Configurações do aparelho e tocar em Atualizações de software (ou algo semelhante). Caso haja uma atualização disponível, siga as instruções na tela para baixar e instalar, lembrando que o espaço necessário varia conforme a versão, e que você deve manter o dispositivo carregando se o nível da bateria estiver abaixo de 50%.  
 
Por último, mas não menos importante, tenha em mente que nenhum sistema é completamente invulnerável. Em rio que tem piranha, jacaré dada de costas.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

DANDO NOME AOS BOIS (PARTE 5)


Há tempos que o Brasil vem sendo governado como uma usina de processamento de esgoto, onde a merda entra por um lado (pela porta das urnas), muda de aparência, troca de nome, recebe nova embalagem e sai como merda pelo outro (com a posse do novo governante). E o que mais poderia sair num país onde eleitores endeusam políticos em vez de cobrá-los e defenestrar os que mijam fora do penico? Onde políticos se elegem para roubar, roubam para se reeleger e criam leis que beneficiam os criminosos em detrimento dos cidadãos de bem?
 
Observação: Cito como exemplo o fim da prisão em segunda instância, decretado pelo plenário do STF com o voto de minerva de seu então presidente — o advogado petista que ganhou a toga de Lula em 2009, depois de ter sido reprovado em dois concursos para Juiz de Direito —, que, aliás, continua prestando bons serviços ao país, empurrando com um pedido de vista a prisão de Fernando Collor — que foi finalmente condenado 8 anos e 10 meses de reclusão —, anulando todas as provas obtidas com o acordo de leniência firmado pela Odebrecht e suspendendo o pagamento da multa de R$ 8,5 bilhões (como ele já havia com a multa de R$ 10 bi imposta à J&F).
 
Um pedido de vista do partido Novo interrompeu a votação do parecer do relator Darci de Matos sobre a prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão. Com o adiamento, a "fervura" deve baixar, aumentado as chances de soltura do encrencado (para que o parlamentar continue preso, são necessários os votos de pelos menos 257 dos 513 deputados). Por conta de mais esse imbróglio, o STF começou a julgar na última sexta-feira (29) o endurecimento das do foro privilegiado dos parlamentares. No momento em que escrevo este texto, falta 1 voto para formar maioria pela manutenção da prerrogativa mesmo após o fim dos mandatos ou nos casos de renúncia, não reeleição ou cassação 

Pelo critério atualmente em vigor, os inquéritos contra Bolsonaro não deveriam (em tese) estar sob a pena de Alexandre de Moraes. Mas basta mais um voto para virar pó a alegação da defesa de que as encrencas estreladas por seu cliente — da falsificação dos cartões de vacina à tentativa de golpe — devem descer da cobertura para o térreo do Judiciário, com todo o horizonte de recursos protelatórios que os réus costumam manejar para evoluir da primeira instância até o Éden da prescrição. 
 
Em momentos distintos da ditadura militar, Pelé — o eterno rei do futebol — e o general Figueiredo — o ex-presidente-ditador que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo — alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. O tempo provou que eles estavam certos: dos cinco presidentes eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois foram impichados — e só não foram três graças a conivência de Rodrigo Maia e a cumplicidade de Arthur Lira.
 
Nossa democracia lembra aquelas fotos antigas de reis africanos que imitavam os trajes, trejeitos e enfeites dos governantes de nações mais evoluídas, mas não aprendiam suas virtudes. Na fotografia, o Brasil aparece como uma democracia de Primeiro Mundo, não passa de uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. As eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, começando pelo voto obrigatório, passando pelo horário eleitoral obrigatório no rádio e na tv e pelas deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm menor número de eleitores. 
 
Políticos demagogos e corruptos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea, se estão lá, é porque foram votados (ao menos em tese). Mas o que esperar de um eleitorado formado majoritariamente por gente ignorante, desinformada e lobotomizado pela polarização disseminada pelo ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e atual mandatário com seu deplorável "nós contra eles"? De uma horda de cegos mentais (o pior tipo de cegueira, como ensinou o Nobel de Literatura português José Saramago) repete os mesmos erros, eleição após eleição, na esperançada de obter um resultado diferente? 
 
Observação: Com a popularização da Internet e das redes sociais a mídia deixou de dominar as massas e passou a ser controlada por elas. Isso trouxe dois problemas: 1) as massas são despreparadas, ignorantes, rudes e perniciosas; 2) quando se dá voz a burros não se pode reclamar dos zurros. 
 
Os ministros do STF não são eleitos diretamente, mas o presidente responsável que os escolhe e os senadores que a chancelam sua indicação emergem das unas como a merda que brota de um cagadouro entupido. Aliás, há muito que esta banânia é governada como uma usina de processamento de esgoto, onde entra merda por um lado e sai merda pelo outro. E o que mais poderia sair? Entre a porta de entrada, aberta nas eleições, e a de saída, com a troca de comando, a merda muda de aparência e de nome e ganha nova embalagem, mas continua sendo merda.
 
Além de um eleitorado majoritariamente ignorante, desinformado e desinteressado — e contaminado pela polarização semeada por Lula com seu abjeto "nós contra eles" —, o Brasil tem uma Justiça Eleitoral que, em tese, deveria garantir eleições exemplares, mas, na prática, enseja a produção dos políticos mais ladrões do mundo, distribuídos por três dúzias de partidos cujo objetivo é encher as burras de seus caciques com a verba dos fundos partidário e eleitoral (que sai dos cofres públicos, ou seja, do dinheiro dos contribuintes) e, nos anos em que há eleições, bancar a "festa da democracia". 

Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças entre a pseudodemocracia tupiniquim e os tais reis africanos que aparecem nas fotos-símbolo do colonialismo. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem tão incompetente foi o poder público em mantê-los. Há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. Sob Bolsonaro, o "centrão" transformou a ocupação do Orçamento federal num processo de bolsonarização das instituições, e Lula, que escapou do mensalão e tropeçou no Petrolão, segue igualmente refém do Imperador da Câmara. 
 
Pode passar pela cabeça de alguém que existe democracia num país como esse?

terça-feira, 14 de novembro de 2023

QUEM NÃO APRENDE COM OS ERROS DO PASSADO...


Rejeitado nas urnas e inelegível, Bolsonaro continua vazando inverdades como um cano furando esbanja água em esguichos perdulários. Seu penúltimo jorro despejou a versão segundo a qual foi graças à sua interferência que Israel finalmente autorizou os brasileiros a deixarem a Faixa de Gaza. Nem bem a notícia foi divulgada, a milícia digital bolsonarista inundou as redes com mensagens parabenizando o "mito" pelo feito alheio. A autorização tardia também soltou a língua de Lula, que, depois de perder o nexo e o bonde ao igualar o agressor ao agredido, procura frequentar o debate com um discurso mais calibrado e cogita injetar a guerra na agenda de sua próxima incursão internacional. Parlamentares petistas, aliados do governo, ministros e até a primeira-dama (como não poderia deixar de fazer) correram às redes para enaltecer os esforços do estadista de fancaria e do chanceler Mauro Vieira. Instado a comentar a hipotética interferência do capetão junto ao embaixador, Vieira foi seco: "Não falo com o embaixador, falo com o chefe dele, que é o ministro das Relações Exteriores de Israel". A conversão do drama humanitário em matéria-prima para a polarização é o cúmulo da indignidade. A exploração política da lista de Gaza é a falência da decência.

***

Em matéria de democracia, o Brasil ficou só na foto. As eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, começando pelo voto obrigatório, seguindo pelo horário eleitoral "gratuito" e por inúmeras deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões com menor número de eleitores. Os resultados são um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. Até o desmantelamento da Lava-Jato, quase metade dos deputados federais e um terço dos senadores respondiam a algum tipo de procedimento penal. Fora das penitenciárias, era a maior concentração de criminosos em potencial por metro quadrado.
 
Maus políticos não brotam nos gabinetes por geração expontânea, mas pelo voto de eleitores ignorantes, desinformados e desinteressados. Graças a essa récua de muares, o PT desgovernou esta banânia por 13 anos, 4 meses e 12 dias. Em 2018, visando evitar a volta do presidiário mais famoso do Brasil, então encarnado num patético bonifrate, a maioria dos eleitores apoiou um ex-capitão bronco, despreparado e de pendor golpista, que protagonizou o governo civil mais militar desde o fim da ditadura. Em 2022, era fundamental defenestrar o imbrochável incomível e insuportável, mas conceder um terceiro mandato ao ex-presidiário descondenado era opcional. E deu no que está dando.

A Justiça Eleitoral existe (e custa uma fábula) para garantir eleições exemplares, mas permite a produção dos políticos mais ladrões do mundo. Temos três dúzias de partidos políticos, alguns dos quais não têm um único deputado ou senador no Congresso — servem apenas para meter a mão nas verbas dos vergonhosos fundos partidário e eleitoral bancados pelos contribuintes e para rifar sua cota de tempo no horário político obrigatório durante as campanhas eleitorais. Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças entre nossa democracia e os reis africanos que aparecem nas fotos-símbolo do colonialismo. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. Como se não bastasse, há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. 

Como instituições, a Presidência da República, o Congresso e o STF merecem nosso mais profundo respeito. Mas daí a achar que os políticos eleitos desde a redemocratização para chefiar o Executivo, os 513 deputados federais, os 81 senadores e as 11 supremas togas merecem o mesmo tratamento é confundir alhos com bugalhos

Para encerrar, segue um texto do jornalista Paulo Polzonoff Jr.:

Será que consigo "defender" Reinaldo Azevedo em apenas quatro parágrafos? Outra dúvida: por que me dou ao trabalho, se não o conheço? Para a primeira pergunta a resposta está na própria existência deste texto. Se você estiver lendo é porque consegui. Para a segunda, a resposta é um pouco mais complicada, e tem a ver até com o “escândalo das joias".

 

Sou melhor defendendo do que atacando. Passando pano do que acusando. Zombando do que reverenciando. Porque em tudo e todos que vejo me espantam a fragilidade e o desespero. Daí o instinto de compreender (essa é a palavra!) Reinaldo Azevedo


Reveja a entrevista dele com Lula. Não há ali admiração; o que há é a angústia de um homem que caiu na areia movediça e não tem ninguém para salvá-lo. Está sozinho, ainda que pareça cercado pelos aliados de ocasião. Dele gostaria de ouvir uma explicação clara sobre a mudança de postura. Como e por que virou discípulo do babalorixá de banânia? Que caminhos o levaram à conclusão de que estava errado em seus outrora divertidos ataques ao PT


Histórias de conversão me interessam. E a lealdade de Reinaldo a Lula equivale a uma queda do cavalo, ainda que para vislumbrar e adorar as trevas do petismo. Não? A mim me custa acreditar que a motivação tenha sido pecuniária. Vai ver é porque sou um privilegiado. Não vivo ao redor de pessoas venais. Pessoas só mudam assim porque emocionalmente lhes convém. 


De qualquer modo, e para além da decepção dos que celebrávamos o furor antipetista de Reinaldo, não vejo problema no fato de ele petistar despudoradamente. Que se embriague na admiração pouco sincera dos novos amigos. E seja "feliz".

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

MAS (AINDA) É CARNAVAL...

 

Ao promulgar a Constituição Cidadã, o então presidente da Câmara Ulysses Guimarães reconheceu que a Carta não era perfeita. E nem poderia ser. Afinal, é preciso manter a tradição de país cuja independência foi comprada e a Proclamação da República foi na verdade um golpe militar (o primeiro de uma série).
 
Nesta bizarra republiqueta, 38 cidadãos chegaram à Presidência pela via do voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado, e oito — começando por Deodoro da Fonseca — deixaram o cargo prematuramente. Dos cinco que foram eleitos diretamente desde a redemocratização, dois acabaram impichados — e teriam sido três se Rodrigo Maia e Arthur Lira tivessem cumprido seu papel constitucional.
 
Na fotografia, o Brasil aparece como uma democracia de Primeiro Mundo, mas a realidade do dia a dia mostra pouco mais que uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. Políticos demagogos e corruptos que ocupam cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; estão lá porque foram votados. Mas esperar o que de um eleitorado que insiste no erro, eleição após eleição, esperando que ele se transforme milagrosamente num acerto? 
Pode-se atribuir ao Criador a culpa por esse descalabro e dizer que um povo que eterniza imprestáveis no poder tem o governo que merece. Mas a questão é: foi para isso que lutamos pelas “Diretas Já”?
 
Temos uma Constituição, eleições a cada dois anos e uma Câmara de Deputados. Temos um Senado e até um presidente do Senado. Temos uma corte suprema, onde os juízes se chamam ministros, usam togas pretas como os reis africanos usavam cartolas, e escrevem (às vezes até uma frase inteira) em latim. Temos partidos políticos. Temos procuradores gerais, parciais, federais, estaduais, municipais, especializados em acidentes do trabalho, patrimônio histórico, meio ambiente, infância, urbanismo e praticamente todas as demais áreas da atividade humana. Temos uma Justiça Eleitoral. Temos centenas de direitos legais, inclusive ao lazer, à moradia e ao amparo, se formos desamparados. Não falta nada — a não ser a democracia.
 
Em matéria de democracia, o Brasil ficou só na foto. As eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, a começar pelo voto obrigatório, pelo horário eleitoral "gratuito" e por deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões com menor número de eleitores. Os resultados são um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. 
 
Dos 513 deputados e 81 senadores, cerca de 40% respondem a algum tipo de procedimento penal (ou respondiam, porque a situação mudou depois que a Lava-Jato foi desmantelada). Fora das penitenciárias, é a maior concentração de criminosos em potencial por metro quadrado que existe no território nacional.
 
O eleitorado, em sua maioria, é ignorante, desinformado e desinteressado. A Justiça Eleitoral, que existe para dar ao país eleições exemplares, permite a produção dos políticos mais ladrões do mundo. Temos três dúzias de partidos políticos, mas alguns não têm um único deputado ou senador no Congresso. Boa parte deles foi criada apenas para meter a mão nas verbas dos fundos partidário e eleitoral — bancados pelos contribuintes e distribuídos aos políticos — e leilora, em ano de eleição, sua cota de tempo no horário eleitoral obrigatório. 
 
Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças entre a democracia brasileira e os reis africanos que aparecem nas fotos-símbolo do colonialismo. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. Há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. 
 
Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país como esse?

sábado, 29 de outubro de 2022

O FIM DE UM AGONIA E O COMEÇO DE OUTRA

 

AtualizaçãoO antidebate da noite de ontem pode ser resumindo numa única palavra: decepcionante. Saiu ganhando quem desligou a tv e foi dormir. Se havia 7% de indecisos, como estimava o Datafolha, eles encontraram mais razões para anular o voto do que para votar em um dos dois desqualificados  que mais pareciam aspirantes ao cargo de vereador trocando insultos em cima do caixote. Lula acabou prevalecendo, menos pelo desempenho (nada exuberante) e mais pelo nível (ainda pior) do adversário. Segundo Josias de Souza (um dos poucos analistas políticos isentos que restaram), Bolsonaro, questionado sobre a disposição de aceitar o resultado das urnas, respondeu: "Não há a menor dúvida: quem tiver mais votos leva" (eu devo ter cochilado, pois não me lembro de ter ouvido essa "pérola" de sabedoria). Como o debate não virou a conjuntura do avesso, o capetão poderá demonstrar que fala sério daqui a 36 horas.


Falta um dia para o "grande dia". Se você ajudou a despachar nhô-ruim e nhô-pior para o segundo turno, parabéns. Continue endeusando políticos que deveriam ser trocados regularmente (como as fraldas e pelos mesmíssimos motivos) e sendo atirado por eles à sarjeta — onde você parece gostar de estar. Entre uma eleição e outra, reclame do que quiser, menos de estar mal representado.

 

Sem ver luz no fim do túnel que não a do farol da locomotiva, não me resta alternativa senão jogar a toalha e assistir de camarote à colisão da Nau dos Insensatos com o iceberg que inevitavelmente a porá a pique. Não tenho mais saco para escrutinar resultados de pesquisas nem (muito menos) para ouvir os verborragia diarreica dos candidatos.

 

Até poucos dias atrás, 94% dos entrevistados diziam ter certeza do voto — ou seja, apenas 6% declaravam que poderiam modificar sua escolha. Tudo indica que o pleito será decidido pelos indecisos e pela taxa de abstenção — um imponderável que dificulta ainda mais qualquer previsão sobre a disputa mais apertada da história.

 

Na avaliação de Josias de Souza, teremos um clima de "3º turno" pelos próximos quatro anos, independentemente de quem sair vencedor. O que os eleitores escolherão amanhã é um presidente, não um estadista capaz de unificar a nação. A despeito de quem for eleito, o resultado das urnas será contestado. 


Encerro com um texto de Felipe Moura Brasil:


Para pessoas que aderem à guerra tribal de um lado contra o outro, os fatos não importam. Só importa de que "lado" elas imaginam que cada um está, mesmo que seja o da verdade - o que elas jamais imaginam, claro, a menos que a verdade circunstancialmente seja favorável ao lado delas. Quem ousa refutar narrativas usadas contra o "inimigo" vira inimigo também.

Para essas pessoas, conscientemente ou não, os fins justificam os meios e todos os casos são um só: a guerra contra o lado oposto. Elas não partem dos fatos para chegar a uma conclusão. Elas tentam adaptar cada episódio do mundo real a conclusões pré-concebidas. Se uma delas é a conspiração de tribunais superiores contra a campanha à reeleição de Bolsonaro, qualquer alegação do presidente contra o TSE é verdadeira e qualquer decisão em sentido contrário apenas confirma o discurso.

Que importa se a campanha não fez seu dever de casa de monitorar transmissões radiofônicas para verificar a veiculação de seus spots, não acionou cada rádio quando suspeitou que eles não foram ao ar, não solicitou a gravação dos respetivos dias do mês, não rastreou o material gravado para fins de checagem, nem indicou ao TSE, no prazo legal de 48 horas, qual emissora, em qual dia e horário, deixou de veicular as inserções?

Diante do desgaste triplo na reta final da eleição — com as insinuações feitas por Bolsonaro de prostituição de meninas venezuelanas, a exploração petista do plano de Paulo Guedes de mudar a política de reajuste do salário mínimo, e a reação a tiros e granadas do velho aliado Roberto Jefferson, agora em prisão preventiva, contra a Polícia Federal —, que importa se a campanha tentou sair das cordas lançando em coletiva a alegação das 154 mil inserções não veiculadas, número inflado depois omitido no próprio documento entregue diretamente ao TSE?

Que importa se ela apresentou uma amostra de apenas 8 das 5.000 rádios aludidas, com dados baseados em relatório inconclusivo de monitoramento por streaming, ou seja, de transmissões online, onde rádio nenhuma é obrigada a veicular inserções (tanto que não costumam exibir a Voz do Brasil), como até a emissora do regime sabe, já que seus programas são transmitidos no Youtube sem os comerciais da frequência original?

Que importa se os diretores das rádios citadas vieram a público contestar inconsistências do relatório e alegações da campanha, confirmando a veiculação dos spots, disponibilizando gravações e, em três casos, relatando que, durante alguns dias, foi o próprio PL, partido do presidente, que deixou de entregar o referido material?

Que importa se o QG de Bolsonaro deixou de contratar a checagem de rádios na maior parte da campanha e "não é, nunca foi e continuará não sendo responsabilidade do TSE distribuir mídias" e "fiscalizar rádio por rádio no país todo", se "estão ou não transmitindo as inserções", como reiterou Alexandre de Moraes, acrescentando que "isso todos os partidos de boa fé sabem, todos os candidatos de boa fé sabem"?

Nada. A resposta é cinco vezes nada. Os fatos não referendam a conclusão pré-concebida, mas não impedem a exploração política do episódio como mais uma prova cabal dela, em função da qual o presidente convoca reunião com chefes das Forças Armadas e, preparando o terreno para eventual derrota nas urnas, promete ir até as "últimas consequências" - narrativa conveniente, já que há candidatos bolsonaristas com chances de vitória no segundo turno da disputa por governos estaduais e contestar as próprias urnas sem prejudicá-los exigiria, talvez, um contorcionismo ainda maior.

Ao longo da corrida eleitoral, Bolsonaro oscilou entre a busca de votos e de pretextos para melar a eleição, porque teme ficar mais exposto a processos longe da cadeira, sem foro privilegiado no mesmo STF que jura combater. Ele vem plantando, assim, as raízes do terceiro turno, quando a mobilização de sua base reacionária poderá ser útil como instrumento de chantagem para garantir ao presidente alguma blindagem ou anistia.

Nada disso quer dizer, obviamente, que Moraes e Lula sejam exemplos de respeito às leis e às instituições. Mas, sim, que justificar para si próprio o voto em um candidato, em detrimento de outro, não obriga ninguém a aderir cegamente a suas narrativas.

A adesão cega é sintoma da profunda necessidade de acreditar que a escolha feita foi a do "bem" contra o "mal", uma vez que o maniqueísmo dá muito menos trabalho que o exercício diário da inteligência na análise de cada situação particular. Uma vez na tribo dos "bons", basta sinalizar virtude por oposição aos "maus".