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sábado, 5 de outubro de 2024

A CAIXA DE PANDORA — O MITO E A REALIDADE (CONCLUSÃO)

LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CHE ENTRATE

 

No Brasil, os chefes do Executivo federal, estadual e municipal são eleitos em dois turnos. Caso nenhum candidato obtenha mais de 50% dos votos válidos no primeiro turno, os eleitores voltam às urnas para escolher entre os dois mais votados. 

No primeiro turno, um eleitor que não vota no candidato com quem tem mais afinidade porque o dito-cujo está mal colocado pesquisas eleitorais é um idiota. Mas o que esperar de um eleitorado com Q.I. de ameba e lobotomizado pela polarização?

Pesquisas de intenções de voto devem ser vistas com reservasEm 2018, todas apontavam a vitória de Haddad e a eleição de Dilma para o Senado, mas Bolsonaro foi eleito e a mulher sapiens ficou em quarto lugar. Dias após o primeiro turno, eu cantei essa bola. Não por ser clarividente, mas porque o capetão obteve quase o dobro dos votos do bonifrate de Lula, e todos os candidatos à Presidência que chegaram ao segundo turno na dianteira até então acabaram sendo eleitos. 
 
Pandora abriu sua caixa uma vez, mas os brasileiros borrifam desgraças em si mesmos a cada dois anos. Em 2018, preferindo errar com convicção a tentar acertar, despacharam Bolsonaro e Haddad para o segundo turno, embora pudessem testar Geraldo Alckmin (ainda tucano), Henrique Meirelles, João Amoedo, ou mesmo Ciro Gomes (afinal, situações desesperadoras justificam medidas desesperadas). E deu no que deu. 

Em 2022, podendo dar uma chance a Simone Tebet, Felipe D'Ávila ou Ciro, a récua de muares votou a escolher a execrável "dupla de dois". Lula, já "descondenado", não precisou de preposto e se beneficiou da gestão desastrosa de seu antecessor. E deu no que está dando: enviado pela terceira vez ao Planalto, o petista levou na bagagem a corja mensaleira e petroleira que havia submergido no auge da Lava-Jato. A (indi)gestão em curso só não é pior que a anterior porque nada pode ser pior que o refugo da escória da humanidade. Mas o páreo é duro. 

Diz a sabedoria popular que cada povo tem o governo que merece. Sob Bolsonaro, o "centrão" transformou a ocupação do Orçamento num processo de bolsonarização das instituições. Lula escapou do mensalão, tropeçou no Petrolão e foi libertado da prisão, mas segue refém do Imperador da Câmara. Tanto nhô-ruim como nhô-pior são meros agentes transmissores de um mal maior. 
 
Comparado aos vexames que Bolsonaro fez o Brasil passar no exterior, um espirro que Lula desse no microfone da ONU soaria como um esguicho de bom senso. Foi assim na cerimônia de abertura no ano passado, mas as diferenças ficaram menos evidentes neste ano. 

De volta ao mesmo púlpito, com o dedo e riste e a voz roufenha, o Sun Tzu de fancaria discursou como discursa para os ignorantes que o endeusam. Falou sobre meio ambiente enquanto as queimadas estragavam o ambiente inteiro de seu discurso. Não repetiu o ridículo de seu antecessor, que culpava os indígenas, a imprensa e as ONGs pelo fogo, mas foi compelido a reconhecer que os incêndios na Amazônia dizimaram cinco milhões de hectares só no mês de agosto. 
 
Lula lamentou a falta de perspectiva de paz na Ucrânia e a crise humanitária em Gaza e na Cisjordânia, lastimou a expansão do conflito para o Líbano, avaliou que resposta de Israel ao Hamas tornou-se "punição coletiva para o povo palestino" e voltou a criticar o embargo econômico dos EUA a Cuba. Mas não deu um único pio sobre as violações aos direitos humanos na Venezuela do tirante-companheiro Nicolás Maduro.
 
Lamúrias não ornam com a pretensão de liderar o debate sobre a emergência climática, e um chefe de Estado que silencia sobre as atrocidades cometidas em um país vizinho não pode ser levado a sério quando palpita sobre perversões que enxerga na Europa, no Oriente Médio e na América do Norte. Antes de atuar como professor do mundo, Lula deveria extrair lições de suas próprias contradições.
 
A raiz da degeneração da nossa democracia é profunda. Apesar dos avanços obtidos com a redemocratização, o Brasil não progrediu graças aos governantes, mas apesar delesA conivência, mesmo dos menos desonestos, permitiu que a corrupção se disseminasse por todas as esferas do poder

A vida ensina que a primeira regra dos buracos é "quem cair dentro de um deve parar de cavar", mas o povo brasileiro, habituado ao precipício, prefere jogar mais terra por cima. Brecht ensinou que o pior analfabeto é o analfabeto político, que se orgulha de ignorar a política sem se dar conta de que da sua ignorância nasce o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo, e Churchill, que a democracia é "a pior forma de governo afora todas as outras".

A lição do dramaturgo alemão fazia sentido na época em que ele caminhava entre os vivos; hoje, qualquer pessoa que tenha dois neurônios funcionais percebe que não precisa dos políticos para viver e que viveria melhor sem eles. Quanto ao ensinamento do estadista britânico, quem apoiou as Diretas Já, festejou a vitória Tancredo, lamentou sua morte e se decepcionou com a redemocratização  como é o caso deste que vos fala  endossa o que disseram Pelé e Figueiredo sobre misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais.

Numa democracia de respeito, eleger o chefe do Executivo pelo voto direto é a expressão suprema da soberania popular; num país como o nosso, onde o voto é obrigatório dos 18 aos 70 anos, falar em "festa da democracia" é gozação. Nossas eleições deveriam ser uma ação de cidadãos racionais e interessados, mas nosso eleitorado jamais se notabilizou pela capacidade cognitiva e incorporou a desinformação e a ignorância que norteiam desde sempre seu comportamento nas urnas. E vale tudo para se aproveitar dos mais despreparados e menos qualificados, até mesmo levar urnas aos confins da selva amazônica para que silvícolas que sequer falam português exerçam o "sagrado direito do voto". 
 
Às vésperas de completar 18 anos, minha prioridade era a carteira de habilitação; alistamento militar e título de eleitor, meros inconvenientes que vinham no pacote da maioridade. Votei pela primeira em 1978, quando os generais ainda ditavam as regras e os governadores e parte dos parlamentares eram "biônicos" (indicados pela alta cúpula militar). 
Em 1989, votei em Mario Covas no primeiro turno e em Collor no segundo, mas só porque a alternativa era Lula, e Lula não era uma alternativa. 

Muita coisa mudou desde então, incluindo a mentalidade dos adolescentes. Mas esse empenho dos políticos pela participação dos "eleitores facultativos" é eminentemente oportunista, sobretudo em tempos de polarização, quando se mais com o fígado do que com a razão.
 
Às vésperas das eleições municipais, os paulistanos estão novamente numa sinuca de bico. Votar em Tábata Amaral é escolher o mal menor – a despeito do que eu disse sobre "voto útil", Datena tem menos chances de se eleger do que eu de ser ungido papa. A deputada
 está longe de ser a candidata dos sonhos dos paulistanos minimamente esclarecidos, mas votar nos afilhados de Bolsonaro e de Lulaou no franco-provocador despirocado Pablo Marçal, é insanidade em estado bruto. 

Sempre se pode votar em branco ou anular o voto, mas eu acho melhor aproveitar o fim de semana para tomar um chopp à beira-mar e acompanhar a apuração pela TV. 

Observação: O voto em branco indica que o eleitor não se identifica com nenhum candidatos, mas não é considerado na contagem. Já o voto nulo é um protesto mais explícito  mas é mito que 50% + 1 votos nulos anulam a eleição. Não comparecer às urnas, por sua vez, é uma forma de protestar contra o sistema como um todo, embora muitos a vejam como desinteresse ou alienação política.
 
Pandora abriu sua caixa movida pela curiosidade, mas os brasileiros o fazem por cegueira mental. Não há outra explicação para um ex-presidente semianalfabeto, que foi réu em duas dúzias processos criminais, condenado a mais de 20 anos de reclusão, solto e reabilitado politicamente graças a uma tecnicidade claramente fabricada por togas camaradas, voltar a presidir o país que ele e seus comparsas foram acusados de assaltar.
 
Nossa caixa de Pandora será reaberta amanhã (alea jacta est!). As pesquisas indicam que Nunes, Boulos e Marçal estão tecnicamente empatados. O
 tanto de votos que o franco-provocador obtiver espelhará o número de eleitores que, como ele, têm a cabeça cheia de merda. 

A exemplo do escorpião da fábula, Marçal é incapaz de agir contra sua própria natureza. A despeito da cadeirada, voltou a trocar insultos com Nunes, responder com embromação a indagações objetivas de especialistas e eleitores, cutucar Boulos e Datena com provocações subliminares e, numa tabelinha com Marina Helena, defender a atuação anticientífica de Bolsonaro na pandemia de Covid. Enquanto os prefeitáveis brigam entre si, dois milhões de cidadãos brasileiros residentes de São Paulo não têm o que comer. 

Nosso maior problema é o eleitorado (vide postagem anterior). Uma ampla reforma política ajudaria um bocado, mas como esperar que os fisiologistas corruptos que dominaram a "res publica" contrariem os próprios interesses? Qual força popular poderia, em nome da decência, reverter o fiasco da nossa democracia? Como diria Bob Dylan, the answer, my friend, is blowing in the wind.
 
Considerando que a esperança ficou presa no fundo da caixa, talvez seja a hora de votar nas putas. Está visto que continuar elegendo os filhos delas jamais fará com que o Brasil reencontre seu norte.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A CAIXA DE PANDORA — O MITO E A REALIDADE

NÃO ESPEREIS O JUÍZO FINAL; ELE SE REALIZA TODOS OS DIAS.

 

"Abrir a Caixa de Pandora" é uma metáfora para ações que desencadeiam consequências maléficas e irreversíveis. 

Segundo a mitologia grega, Pandora ("aquela que tem todos os dons") foi criada por Hefesto e Palas Atena a mando de Zeus, que queria castigar Prometeu ("aquele que pensa antes") por roubar o fogo dos deuses e dá-lo aos homens. 

Depois de ganhar um dom de cada divindade de Olimpo, Pandora recebeu de Zeus uma caixa que jamais deveria ser aberta e a missão de seduzir Epimeteu ("aquele que pensa depois"). Encantado com a beleza da moça e ignorando as advertências do irmão, Prometeu, sobre aceitar presentes do deus dos deuses, Epimeteu tomou a moça como esposa (e eu que achava que "presente de grego" tinha a ver com a lenda do Cavalo de Troia). 
 
Quando criou a mulher, Deus também criou a curiosidade. A curiosidade levou Pandora a abrir a caixa e libertar todos os males que recaíram sobre a humanidade. Mas a esperança, que é "a última que morre", ficou presa no fundo da caixa, talvez para nos dar forças para lutar contra as adversidades, mesmo que o mal muitas vezes vença o bem.
 
Revisito essa fábula por três motivos: 1) sempre gostei de mitologia; 2) muita gente usa essa metáfora sem saber sua origem; 3) insistir no erro esperando produzir um acerto é a melhor definição de imbecilidade que eu conheço. 
 
Em momentos distintos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Ambos foram muito criticados, mas o tempo provou que eles estavam certos. O eleitores fazem nas urnas, a cada dois anos, o que Pandora fez uma única vez. Só que não por curiosidade, e sim por ignorância. E como ensinou o Conselheiro Acácio (personagem do romance O Primo Basílio), as consequências vêm sempre depois. 
 
A ditadura militar resultante do golpe de 1964 durou 21 longos anos. A reabertura, lenta e turbulenta, não se deveu ao "espírito democrático" dos presidentes-generais Geisel e Figueiredo, mas ao ronco das ruas e à pressão da imprensa, que se intensificaram em 1984, depois que uma manobra de bastidor sepultou a emenda Dante de Oliveira

Em janeiro do ano seguinte, Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf por 480x180 votos de um colégio eleitoral formado por 686 deputados, senadores e delegados estaduais. A exemplo da Viúva Porcina (aquela que foi sem nunca ter sido), Tancredo entrou para a história como nosso primeiro presidente civil desde João "Jango" Goulart, mas baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois.

A raposa mineira levou para a sepultura a esperança de milhões de brasileiros e deixou de herança um neto que envergonharia o país e um mix de puxa-saco dos militares, oligarca da politica de cabresto nordestina, escritor, poeta e acadêmico que se chamava José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mas era conhecido como José Sarney

Sem o carisma e o traquejo administrativo do finado, Sarney tentou descascar o formidável abacaxi econômico (inflação, dívida externa e desemprego nas alturas) através de uma série de pacotes de medidas econômicas baseadas no congelamento de preços e salários. Ao final de sua aziaga gestão, a inflação estava em 4.853% ao ano, mas os prefeitos haviam voltado a ser eleitos diretamente, a Constituição Cidadã fora promulgada (aumentando de 4 para 5 a duração de seu mandato) e a primeira eleição presidencial direta desde 1960, realizada.   
 
Em 15 de novembro de 1989, o cardápio de postulantes ao Planalto oferecia 22 opões, incluindo Ulysses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. E o que fez esclarecido eleitorado ao quebrar o jejum de urna de 29 de urna? Escalou Lula e Fernando Collor para disputar o 2º turno. O caçador de marajás de mentirinha venceu o desempregado que deu certo, mas o envolvimento no esquema PC lhe rendeu um impeachment.
 
Observação: Em maio do ano passado, o STF condenou Collor a 8 anos e 10 meses de reclusão, mas ele continua livre, leve e solto graças a um pedido de vista apresentado pelo ministro Dias Toffoli na véspera do último carnaval. Em contrapartida, qualquer "reles mortal" que acessar o Xwitter durante a suspensão ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes corre o risco de ser multado em R$ 50 mil. Dá para acreditar numa coisa dessas?
 
Com a deposição do Rei-Sol, o baianeiro e namorador Itamar Franco foi promovido a titular, nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda e editou o Plano Real, cujo sucesso pavimentou o caminho que levou o grão-duque tucano a vencer o pleito presidencial de 1994 no 1º turno. Em 1997, picado pela mosca azul, sua alteza comprou a PEC da reeleição

Como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, o tucano de plumas vistosas disputou a reeleição em 1998 e foi eleito no 1º turno, mas em 2002, sem novos truques para tirar da velha cartola, não conseguiu eleger seu sucessor.
 
Após três derrotas consecutivas, Lula venceu José Serra e deu início aos 13 anos, 4 meses de 12 dias de lulopetismo corrupto que só foi interrompidos em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, a inolvidável gerentona de araque

Num primeiro momento, a troca de comando pareceu uma lufada de ar fresco numa catacumba: depois de mais de uma década ouvindo garranchos verbais de um ex-retirante semianalfabeto e frases desconexas de uma mandatária incapaz de juntar lé com cré numa frase que fizesse sentido, ter um presidente que sabia falar – e que até usava mesóclises – era um refrigério.
 
Temer conseguiu reduzir a inflação (que havia retornado firme e forte sob Dilma) e aprovar o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista, mas seu prometido "ministério de notáveis" se revelou uma notável agremiação de corruptos e sua "ponte para o futuro", uma patética pinguela. 

A conversa de alcova gravada à sorrelfa por Joesley Batista só não derrubou o vampiro do Jaburu porque sua tropa de choque – capitaneada pelo deputado Carlos Marun – comprou votos das marafonas da Câmara para escudá-lo das "flechadas de Janot". Apesar do desgaste, o nosferatu claudicou como "pato manco" até o final do mandato-tampão e transferiu a faixa para Jair Bolsonaro. 
 
Sem a proteção do manto presidencial, o vampiro que tinha medo de fantasma chegou a ser preso, mas foi socorrido pelo desembargador Ivan Athié, então presidente da 1ª Turma do TRF-2, que havia sido afastado do cargo durante 7 anos por suspeitas de corrupção e venda de sentenças, mas fora reintegrado em 2011, quando o STF trancou o processo contra ele. E viva a Justiça brasileira!
 
Ao acompanhar o golpe de Estado que levou Napoleão III ao poder, Karl Marx concluiu que a história acontece como tragédia e se repete como farsa. O Barão de Itararé dizia que político brazuca é um sujeito que vive às claras, aproveita as gemas não despreza as cascas, e o saudoso maestro Tom Jobim (que era brasileiro até no nome), ensinou que o Brasil não é para principiantes. E com efeito. 
 
Em 2018, havia 13 postulantes ao Planalto. Nenhum deles empolgava, é verdade, mas por que se arriscar a acertar com Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles ou João Amoedo quando se podia pode errar com certeza escalando para o embate final um mau militar e parlamentar medíocre travestido de "outsider antissistema" e um patético bonifrate do então ex-presidiário mais famoso do Brasil?

Em 2022, as opções era ainda menos atraentes, sobretudo depois que o "establishment" eliminou Sergio MoroJoão Dória e Eduardo Leite da quimérica "terceira via". Mas, de novo, por que correr o risco de acertar votando em Simone Tebet, em Felipe D'ávilaou mesmo em Ciro Gomes (situações desesperadoras justificam medidas desesperadas) quando se podia errar com certeza despachando Lula e Bolsonaro para o 2º turno?
 
Tanto num caso como no outro a maldita polarização fez com que tanto a merda quanto as moscas fossem as mesmas. A diferença foi que em 2018 a parcela minimamente pensante do eleitorado se viu obrigada a apoiar o ex-capitão para evitar que o país fosse presidido pelo fantoche do presidiário, e em 2022, embarcar na falaciosa "Frente Democrática", capitaneada pelo então ex-presidiário "descondenado" para evitar mais 4 anos (ou sabe Deus quantos) sob a batuta do refugo da escoria da humanidade.
 
Há males que tempo cura e males que vêm para pior e com o passar do tempo. Lula 3.0 é uma reedição piorada das versões 1 e 2, e como como nada é tão ruim que não possa piorar, o macróbio petista cogita disputar a reeleição em 2026 (que os deuses nos livrem tanto dessa desgraça quanto da volta do capetão-golpista).
 
As consequências da inconsequência do eleitorado tupiniquim são lamentados todos os dias, inclusive por quem abriu a Caixa de Pandora achando que estava escolhendo o menor de dois males, mas isso só se justifica quando e se não há outra opção. E tanto em 2018 quanto em 2022 havia alternativas; só não viu quem não quis ou não conseguiu porque sofre do pior tipo de cegueira que existe. 
 
Observação: Um levantamento feito pelo portal g1 apurou que 61 pessoas com mandados de prisão em aberto (leia-se fugitivos da polícia) se candidataram a prefeito ou a vereador nas eleições deste ano. A maioria dos casos envolve dívida de pensão alimentícia, mas há suspeitos de estelionato, roubo, homicídio e estupro. 
 
Reza uma velha (e filosófica anedota) que Deus estava distribuindo benesses e catástrofes naturais pelo mundo que acabara de criar, quando um anjo apontou para o que seria futuramente o Brasil e perguntou: "Senhor, por que destinastes a essa porção de terra clima ameno, praias e florestas deslumbrantes, grandes rios e belos lagos, mas não desertos, geleiras, vulcões, furações ou terremotos?" E Deus respondeu: "Espera para ver o povinho filho da puta que vou colocar aí."
 
Políticos incompetente e/ou corruptos que ocupam cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; se eles estão lá, é porque foram eleitos por ignorantes polarizados, que brigam entre si enquanto a alcateia de chacais se banqueteia e ri da cara deles. 
 
Einstein achava que o Universo e a estupidez humana eram infinitos, mas salientou que, quanto ao Universo, ele ainda não tinha 100% de certeza. Alguns aspectos de suas famosas teorias não sobreviveram à passagem do tempo, mas sua percepção da infinitude da estupidez humana merece ser bordada com fios de ouro nas asas de uma borboleta. 
 
Não há provas de que boas ações produzam bons resultados – a "lei do retorno" é mera cantilena para dormitar bovinos – mas sabe-se que más escolhas costumam gerar péssimas consequências, como prova e comprova a história desta republiqueta de bananas: nossa independência  foi comprada, a Proclamação da República foi um golpe militar (o primeiro de muitos), o voto é um "direito obrigatório", nossa democracia é uma piada e o sistema político está falido. 
 
Desde 1889, 35 brasileiros alcançaram a Presidência pelo voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado (o número depende de como alguns casos específicos, como presidências muito breves ou interinas, mas isso não vem ao caso neste momento). Oito integrantes dessa seleta confraria – começando pelo primeiro, Deodoro do Fonseca – deixaram o cargo prematuramente, e dos cinco que foram eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois acabaram impichados. 

Dos mais de 30 partidos políticos que mamam nas tetas dos fundos eleitoral e partidário (ou seja, são bancados pelo suado dinheiro dos "contribuintes"), nenhum representa os interesses da população, e alguns são verdadeiras organizações criminosas. 

O Brasil de hoje lembra aquelas fotos antigas de reis africanos, que imitavam os trajes e trejeitos dos governantes de nações mais evoluídas e recebiam aulas de civilização dos oficiais do Império Britânico, mas achavam que para se transformar em soberanos civilizados bastava copiar as vestes e adereços daqueles que lhes falavam das maravilhas da Rainha Vitória ou de Napoleão III. 

O resultado se vê nas fotografias. As mais clássicas mostram negros magros, ou gordíssimos, com uma cartola de segunda-mão na cabeça, calças rasgadas ou remendadas, pés descalços ou calçados com uma bota só, velha e sem graxa. Imaginavam-se nobres, esses coitados, iguais a seus pares europeus, mas, junto com as novas roupas e os acessórios, continuavam usando colares feitos de ossos, pulseiras de metal e argolas na orelha ou no nariz, enquanto eram roubados até o último papagaio pelos que supostamente vieram ensiná-los a ter valores cristãos, avançados e democráticos.
 
O Brasil aparece na foto como uma democracia de Primeiro Mundo, mas a realidade do dia a dia mostra pouco mais que uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. Nossas eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, do voto obrigatório ao anacrônico horário eleitoral "gratuito", passando por deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm meia dúzia de eleitores. 

O resultado é um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. Acordos políticos são urdidos na surdina por parlamentares que votam com base em seus interesses pessoais. Milícias e fações criminosas têm representantes no Congresso, nas Assembleias Legislativas estaduais e nas Câmaras Municipais. Candidatos só entram em algumas regiões se tiverem proteção dos criminosos, e os moradores são "convidados" a votar na "turma da casa".
 
Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças com reis africanos. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. O Congresso não representa o povo que o elegeu para tal, e há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. Com quase 50 mil assassinatos por ano, o Brasil é um dos países onde a vida humana tem menos valor. 
 
Se nossas instituições funcionassem – e suas excelências não se cansam de dizer que elas funcionam –, a Câmara teria aberto pelo menos um dos quase 150 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, e o Centrão não teria transformado a ocupação do Orçamento num processo de bolsonarização das instituições. Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país como esse? 
 
Quando nossos nobres parlamentares perderam a credibilidade e o mais alto cargo do funcionalismo público federal passou a ser ocupado por uma sequência de mandatários que, noves fora Fernando Henrique — já foram presos ou respondem a processos criminais, o Judiciário se tornou nosso último bastião. Mas faz tempo que as opiniões e os vieses político-partidários dos eminentes togados (que deveriam ser isentos, imparciais e apartidários) se tornaram públicos e notórios.
 
O Supremo poderia nos ter livrado do aspirante a golpista em diversas oportunidades (motivos para tal não faltaram), mas as excelências que tudo decidem – do destino dos presidentes ao furto de codornas — acharam melhor dar tempo ao tempo, apostando na sapiência inigualável dos eleitores. 

É fato que Alexandre de Moraes impediu a consumação do golpe, mas também é fato que ele já deveria ter tirado de circulação o "mito" dos extremistas de direita, que mesmo inelegível até 2030 faz pose de cabo eleitoral de luxo e articula com seus comparsas no Congresso uma improvável (mas não impossível) anistia a si e aos golpistas do 8 de janeiro. 
 
Como o chanceler Charles De Gaulle não disse, mas a frase lhe é atribuída, "le Brésil n’est pas un pays serieux". 
 
Continua...

domingo, 9 de junho de 2024

AINDA SOBRE AZEITE E ÓLEOS VEGETAIS

O ASSUNTO SÓ ACABA QUANTO TERMINA.

Vimos que o azeite é a escolha natural para regar saladas verdes e massas, preparar refogados e fazer frituras em fogo baixo, que seu preço anda pela hora da morte, e que substitui-lo por "óleos compostos" pode não ser uma boa ideia — apesar de a denominação sugerir que a tal composição seja 50% óleo de oliva e 50% óleos vegetais, da azeitona eles não tem nem o cheiro. 
 
Com a garrafinha de 500ml do azeite extravirgem custando entre R$ 40 e R$ 80 (conforme a marca e o estabelecimento), talvez seja o caso de considerar algumas alternativas que não têm o mesmo sabor, mas, em alguns casos, oferecem benefícios adicionais. 

O óleo de amendoim, por exemplo, se mantém estável quando aquecido a altas temperaturas e é rico em vitaminas E, B1 e B2. Já o óleo de gergelim se destaca pelo baixo custo de produção, por ser rico em ácidos graxos essenciais e bioativos (que ajudam a reduzir problemas cardiovasculares) e pela versatilidade, já que pode ser utilizado tanto para refogar quanto para agregar sabor a molhos e marinadas.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

Em março de 2023, oito anos após se tornar réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Fernando Collor de Mello — primeiro presidente eleito pelo voto direto desde a redemocratização e o primeiro a ser apeado do cargo por um processo de impeachment — foi condenado pelo STF8 anos e 10 meses de reclusão. Em fevereiro deste ano, os embargos procrastinatórios opostos por sua defesa começaram a ser apreciados no escurinho do plenário virtual, onde o escárnio às vezes adquire uma doce e hedionda naturalidade. 
Longe dos refletores da TV Justiça, desenvolve-se uma coreografia que retarda o check-in do autodeclarado caçador de marajás numa hospedaria do sistema prisional. O antepenúltimo movimento foi executado na véspera do Carnaval: tão logo o ministro Alexandre de Moraes votou pelo indeferimento do recurso, Dias Toffoli vestiu a fantasia de paladino, emperrou o julgamento com um pedido de vista e, ao cabo de 90 dias, presenteou o condenado com um voto generoso, no qual defende a redução da pena para menos da metade (que assim poderá cumprir a pena em regime aberto desde o início). O penúltimo movimento foi executado pelo nobre decano da Corte, que sacou de um pedido de vista obstrutiva para suspender, mais uma vez, o julgamento do recurso protelatório.
Gilmar dispõe de 90 dias para expor seu judicioso ponto de vista sobre uma encrenca que começou em 2010, sob Lula 1, virou escândalo em 2014, sob Dilma, e resultou no desvio de R$ 20 milhões dos cofres da BR Distribuidora — antiga subsidiária da Petrobras onde Collor acomodou seus prepostos. Enquanto suas excelências retardam a execução de sua pena, o condenado perambula pelos salões de Brasília com a maior naturalidade. Em fevereiro, ele não só esteve no Palácio do Planalto — na cerimônia de posse de Ricardo Lewandowski no cargo de ministro da Justiça — como no próprio STF — abrilhantando a posse de Flávio Dino. 
Quem observa de longe fica com a sensação de que a Justiça tarda, mas não chega para conduzir Collor à cadeia.

óleo de coco  favorito entre os veganos e conhecido por suas propriedades funcionais e ação antiviral e antibacteriana  é uma excelente fonte de ácidos graxos e antioxidantes e pode ser usado tanto em altas temperaturas quanto em temperos para saladas ou como substituto da manteiga em receitas de doces. Já o azeite de dendê — pilar da culinária afro-brasileira — suporta altas temperaturas, o que o torna excelente para refogar e fritar alimentos, e, por ser rico em ômega 6 e 9, e vitaminas A e E, ajuda a fortalecer o sistema imunológico e a prevenir o envelhecimento precoce.
 
Escolha óleos "prensados a frio" (ou "extraídos a frio"), pois esse método tende a preservar melhor os nutrientes e os sabores do produto, atente para a data de validade e compre somente a quantidade que você vai usar durante o mês, de modo a evitar rancidez. A exemplo do que ocorre com a azeite, a vida útil desses óleos se abrevia se eles não forem mantidos em locais frescos e abrigados da luz, preferencialmente em embalagens escuras (que preservam o sabor e as qualidades nutritivas do alimento). 
 
Como vimos nos capítulos anteriores, cada óleo tem um ponto de fumaça específico — o óleo de coco suporta temperaturas mais altas sem queimar, o que o torna ideal para frituras, enquanto o de gergelim é mais indicado para agregar sabor aos pratos já preparados. Todos vão bem em marinadas e molhos para saladas, onde suas propriedades são apreciadas sem aquecimento, mas, como nada é perfeito nesta vida, nenhum deles tem sabor tão marcante quanto o azeite extravirgem.

Bom apetite.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

DANDO NOME AOS BOIS (PARTE 5)


Há tempos que o Brasil vem sendo governado como uma usina de processamento de esgoto, onde a merda entra por um lado (pela porta das urnas), muda de aparência, troca de nome, recebe nova embalagem e sai como merda pelo outro (com a posse do novo governante). E o que mais poderia sair num país onde eleitores endeusam políticos em vez de cobrá-los e defenestrar os que mijam fora do penico? Onde políticos se elegem para roubar, roubam para se reeleger e criam leis que beneficiam os criminosos em detrimento dos cidadãos de bem?
 
Observação: Cito como exemplo o fim da prisão em segunda instância, decretado pelo plenário do STF com o voto de minerva de seu então presidente — o advogado petista que ganhou a toga de Lula em 2009, depois de ter sido reprovado em dois concursos para Juiz de Direito —, que, aliás, continua prestando bons serviços ao país, empurrando com um pedido de vista a prisão de Fernando Collor — que foi finalmente condenado 8 anos e 10 meses de reclusão —, anulando todas as provas obtidas com o acordo de leniência firmado pela Odebrecht e suspendendo o pagamento da multa de R$ 8,5 bilhões (como ele já havia com a multa de R$ 10 bi imposta à J&F).
 
Um pedido de vista do partido Novo interrompeu a votação do parecer do relator Darci de Matos sobre a prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão. Com o adiamento, a "fervura" deve baixar, aumentado as chances de soltura do encrencado (para que o parlamentar continue preso, são necessários os votos de pelos menos 257 dos 513 deputados). Por conta de mais esse imbróglio, o STF começou a julgar na última sexta-feira (29) o endurecimento das do foro privilegiado dos parlamentares. No momento em que escrevo este texto, falta 1 voto para formar maioria pela manutenção da prerrogativa mesmo após o fim dos mandatos ou nos casos de renúncia, não reeleição ou cassação 

Pelo critério atualmente em vigor, os inquéritos contra Bolsonaro não deveriam (em tese) estar sob a pena de Alexandre de Moraes. Mas basta mais um voto para virar pó a alegação da defesa de que as encrencas estreladas por seu cliente — da falsificação dos cartões de vacina à tentativa de golpe — devem descer da cobertura para o térreo do Judiciário, com todo o horizonte de recursos protelatórios que os réus costumam manejar para evoluir da primeira instância até o Éden da prescrição. 
 
Em momentos distintos da ditadura militar, Pelé — o eterno rei do futebol — e o general Figueiredo — o ex-presidente-ditador que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo — alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. O tempo provou que eles estavam certos: dos cinco presidentes eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois foram impichados — e só não foram três graças a conivência de Rodrigo Maia e a cumplicidade de Arthur Lira.
 
Nossa democracia lembra aquelas fotos antigas de reis africanos que imitavam os trajes, trejeitos e enfeites dos governantes de nações mais evoluídas, mas não aprendiam suas virtudes. Na fotografia, o Brasil aparece como uma democracia de Primeiro Mundo, não passa de uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. As eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, começando pelo voto obrigatório, passando pelo horário eleitoral obrigatório no rádio e na tv e pelas deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm menor número de eleitores. 
 
Políticos demagogos e corruptos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea, se estão lá, é porque foram votados (ao menos em tese). Mas o que esperar de um eleitorado formado majoritariamente por gente ignorante, desinformada e lobotomizado pela polarização disseminada pelo ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e atual mandatário com seu deplorável "nós contra eles"? De uma horda de cegos mentais (o pior tipo de cegueira, como ensinou o Nobel de Literatura português José Saramago) repete os mesmos erros, eleição após eleição, na esperançada de obter um resultado diferente? 
 
Observação: Com a popularização da Internet e das redes sociais a mídia deixou de dominar as massas e passou a ser controlada por elas. Isso trouxe dois problemas: 1) as massas são despreparadas, ignorantes, rudes e perniciosas; 2) quando se dá voz a burros não se pode reclamar dos zurros. 
 
Os ministros do STF não são eleitos diretamente, mas o presidente responsável que os escolhe e os senadores que a chancelam sua indicação emergem das unas como a merda que brota de um cagadouro entupido. Aliás, há muito que esta banânia é governada como uma usina de processamento de esgoto, onde entra merda por um lado e sai merda pelo outro. E o que mais poderia sair? Entre a porta de entrada, aberta nas eleições, e a de saída, com a troca de comando, a merda muda de aparência e de nome e ganha nova embalagem, mas continua sendo merda.
 
Além de um eleitorado majoritariamente ignorante, desinformado e desinteressado — e contaminado pela polarização semeada por Lula com seu abjeto "nós contra eles" —, o Brasil tem uma Justiça Eleitoral que, em tese, deveria garantir eleições exemplares, mas, na prática, enseja a produção dos políticos mais ladrões do mundo, distribuídos por três dúzias de partidos cujo objetivo é encher as burras de seus caciques com a verba dos fundos partidário e eleitoral (que sai dos cofres públicos, ou seja, do dinheiro dos contribuintes) e, nos anos em que há eleições, bancar a "festa da democracia". 

Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças entre a pseudodemocracia tupiniquim e os tais reis africanos que aparecem nas fotos-símbolo do colonialismo. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem tão incompetente foi o poder público em mantê-los. Há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. Sob Bolsonaro, o "centrão" transformou a ocupação do Orçamento federal num processo de bolsonarização das instituições, e Lula, que escapou do mensalão e tropeçou no Petrolão, segue igualmente refém do Imperador da Câmara. 
 
Pode passar pela cabeça de alguém que existe democracia num país como esse?