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terça-feira, 9 de janeiro de 2024

LULA, GONET, BOLSONARO E A VELHINHA DE TAUBATÉ

A PF aguardava pela troca de comando na PGR para fechar a conta dos inquéritos sobre Bolsonaro. O procurador Paulo Gonet, escolhido por Lula sob influência do decano Gilmar Mendes e do relator-geral das encrencas bolsonaristas Alexandre de Moraes, esteve um par de vezes no Planalto antes de seu nome ser aprovado no Senado. Sobre o que ele e o presidente falaram, não se sabe, mas nem a Velhinha de Taubaté acreditaria que o futuro criminal do pior mandatário desde Tomé de Souza não foi assunto da conversa.
 
Para refrescar a memória dos mais velhos e informar os mais jovens que não conheceram a ilustre personagem criada durante o governo do último general da ditadura de 64 — aquele que gostava mais do cheiro dos cavalos que do cheiro do povo — a Velhinha de Taubaté acreditava piamente em tudo que lhe diziam, sobretudo se a fonte fosse Brasília. 
Mas nem sua inabalável fé resistiu ao choque de realidade provocado pelo escândalo do Mensalão. Em 2005, ao descobrir que seu ídolo — o então ministro da Fazenda Antonio Palocci — estava mergulhado até os beiços num mar de corrupção, a senhorinha sofreu um piripaque na frente da televisão e partiu desta para melhor. Ainda assim, vira e mexe alguém insiste em descobrir o paradeiro da finada para perguntar a quantas anda sua convicção sobre a credibilidade do governo e a situação política do país. 

Parece que tem uma nova Velhinha na praça. Ao ler as primeiras notícias sobre o golpe que Bolsonaro não pôde dar porque não conseguiu a adesão dos militares, ela se apressou a escrever nas redes sociais: "Se não forem meras conjecturas, os diálogos que vieram à tona nos últimos dias mostram, na verdade, que Bolsonaro salvou a Democracia, ao resistir à pressão sofrida por grande parte de seu entorno. Ele, inclusive, deixou o cargo antes de seu mandato terminar. Não digo isso como forma de defesa, mas como conclusão lógica do material recentemente exposto. Muitos foram os diálogos em que interlocutores imploravam para Bolsonaro dar um golpe e ele não deu, nem tentou.

Observação: A personagem de Veríssimo nunca foi militante, mas sua sucessora é. Bolsonaro chegou mesmo a convidá-la para vice em 2018, mas desistiu e escolheu um general. A Velhinha sem graça se elegeu deputada estadual por São Paulo e disputou uma vaga no Senado em 2022, mas ficou em quarto lugar.
 
No finalzinho de 2023, uma reportagem de Aguirre Talento revelou que a PF programou para o início de 2024 o indiciamento de Bolsonaro nos inquéritos sobre fake news e milícias digitais. Os processos, que incluem da tentativa de golpe à falsificação de certificados de vacinação, da propagação de mentiras ao comércio ilegal de joias, deixarão Gonet entre a cruz e a caldeirinha: ou ele denuncia ex-aspirante a tiranete, ou desmoraliza o ex-tudo (ex-retirante, ex-metalúrgico, ex-sindicalista, ex-presidiário e ex-corrupto). Como o mandato do PGR dura apenas dois anos, o desejo de recondução afasta a hipótese de fazer Lula de bobo. 
 
Confirmando-se a denúncia, restarão ao STF duas possibilidades: condenar Bolsonaro ou condenar Bolsonaro. A absolvição ou uma sentença suave, sem cadeia, desmoralizariam a Corte, que já impôs às piabas do 8 de janeiro sentenças de até 17 anos de cana. Já um Bolsonaro encarcerado sob os ritos democráticos ficaria em situação parecida com a que viveu seu adversário, que foi afastado das urnas graças a uma ação coordenada do Supremo — que lhe sonegou um habeas corpus— e do TSE — que o enquadrou na inelegibilidade da Lei da Ficha-Limpa. Já banido das urnas até 2030, o capetão marcharia rumo à cela batendo o mesmo bumbo de perseguido.
 
Com Lula fora da pista, Bolsonaro aproveitou o antipetismo para retirar a direita do armário em 2018. Mas 4 anos de irracionalidade e golpismo produziram a vergonha que colocou a direita civilizada no arco democrático que deu a vitória ao ex-presidiário em 2022. No entanto, a provável asfixia criminal do mito dos descerebrados não torna mais fácil a vida de seu rival. 

Ainda que o imbrochável e o bolsonarismo virassem pó, o conservadorismo troglodita continuaria retirando seu oxigênio do antipetismo. Ou seja: se quiser um quarto mandato (que Deus nos livre e guarde dessa desgraça), o autoproclamado Parteiro do Brasil Maravilha precisa governar direito e aprender a conversar com a direita racional, que lhe deu a vitória em 2022 não por preferência, mas por rejeição à alternativa.
 
Triste Brasil.

sábado, 3 de agosto de 2019

O DESTEMPERO BOLSONARIANO E OUTRAS CONSIDERAÇÕES


A Justiça Federal do DF decidiu converter em preventivas as prisões temporárias dos quatro suspeitos de envolvimento na invasão de celulares de autoridades, que estão presos desde a semana passada, quando a PF deflagrou a Operação Spoofing. A propósito, o chefe do bando, Walter Delgatti Neto, é réu por ter aplicado um golpe de R$ 623 mil no Itaú, em 2017, quando desbloqueou 44 cartões de crédito para fazer compras. Mas ele garante que hackeou autoridades e jornalistas de graça, por patriotismo e senso de justiça. Como disse Millôr Fernandes, “desconfio de todo idealista que lucra com seu ideal”.

Nem a Velhinha de Taubaté para acreditar nessa falácia, no patriotismo de Verdevaldo, na honestidade de Lula e na ponte que partiu toda essa cambada de fidumas. Dito isso, segue o baile:

Dizia Ricardo Boechat que se pode morrer de várias maneiras no jornalismo, menos de tédio. Com efeito. É impossível fugir a essa dura realidade. Sobretudo quando se escreve sobre o cenário político nacional: você nem bem termina de redigir um artigo e novos acontecimentos já o transformam em matéria vencida.

Depois da posse do presidente em meio à novela do caso Queiroz, o rompimento da barragem do Córrego de Feijão desviou o foco da mídia. Na sequência, para ficar somente nos casos mais notórios, vieram o incêndio do Ninho do Urubua exoneração de Gustavo Bebiannoo escândalo escatológico do Golden Showera denúncia de estupro apresentada por Najila Trindade contra Neymar Cai-Cai — que deu em nada; o jogador não será indiciado e a suposta vítima pode responder por crime de denunciação caluniosa — a Vaza-Jato de Verdevaldo e a escolha de zero três para ocupar a Embaixada do Brasil nos EUA, sem mencionar toda sorte de crises geradas pela guerra de egos entre Bolsonaro e Rodrigo Maia durante a claudicante tramitação da PEC Previdenciária e de um sem-número de pronunciamentos infelizes do capitão, que ainda age como se estivesse em plena campanha eleitoral.

Ter um presidente sem tramela, mordaça ou “freio de arrumação” é um teste para nossa incipiente democracia (a mordaça é sugestão do ministro Marco Aurélio, que bem poderia tomar ele próprio uma colherada desse remédio). Mas esperar que Bolsonaro mude sua natureza é o mesmo que acreditar na Fada do Dente ou na inocência de Lula. Nem a finada Velhinha de Taubaté!

A maneira “desrespeitosa” com que o capitão tratou o “desaparecimento” do ativista político Fernando Santa Cruz, pai do atual presidente lulista da OAB — que não é flor que se cheire, quando mais não seja por ter dito em entrevista à Folha de S. Verdevaldo que “Sergio Moro usa o cargo, aniquila a independência da PF e ainda banca o chefe de quadrilha ao dizer que sabe das conversas de autoridades que não são investigadas”, além de injuriar uma colega advogada insinuando que ela é uma “prostituta”, assim como a mãe de tantos outros colegas de profissão — continua dando pano pra manga. E o mesmo se aplica à resposta dada a jornalistas por Bolsonaro ao ser perguntado sobre a chacina no Centro de Recuperação Prisional de Altamira, no Pará “Perguntem às vítimas dos que morreram lá o que elas acham e depois eu respondo”.

Feitos por cidadãos comuns num balcão do boteco, comentários como esses seriam toleráveis, mas são indesculpáveis quando vêm de um presidente da República (qualquer que seja ele). Pode-se dizer que o capitão se espelha em Trump, e que suas frases destemperadas o aproximam dos bolsominions. Porém, ao fazer como Lula e o PT, cujas narrativas são direcionadas à patuleia que segue cegamente a seita do inferno (e, portanto, não precisa ser convencida de nada), Bolsonaro frustra milhões de eleitores que votaram nele justamente para evitar o retorno dessa caterva ao poder. As reformas estruturais, fundamentais para um recomeço de crescimento econômico, não podem ficar ameaçadas por arroubos personalistas de quem continua no palanque, obcecado por destruir adversários reais ou imaginários.

Ainda que a linguagem do capitão não seja exatamente “presidencial”, não se pode perder de vista que o sistema prisional tupiniquim está falido. Em sua fala, Bolsonaro foi na contramão da “criminolatria”, hoje tão em moda no Brasil, onde o foco do sistema penitenciário é o relaxamento de prisões, o abrandamento das penas e a “ressocialização” dos criminosos. Os presídios se transformaram e universidades do crime, onde entram batedores de carteira e saem assaltantes, latrocidas, estupradores ou coisa pior.

O ex-ministro Raul Jungmann já havia feito esse diagnóstico, e Moro vem se empenhando em reverter o quadro com seu pacote de medidas anticrime, mas a banda podre do Congresso e do Judiciário se aliam a criminalistas “garantistas” visando criminalizar o ex-juiz da Lava-Jato e os integrantes da força-tarefa, bem como buscar artimanhas legais para devolver à liberdade o ex-presidente criminoso que, nunca é demais lembrar, está preso há quase 16 meses e deve ser condenado novamente numa das sete ações penais em que é réu e ainda não foi julgado. Mas isso é conversa para outra hora.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

SMARTPHONES (e outros produtos) FALSOS e MENSAGEM DE NATAL

O NATAL NÃO É UMA DATA, MAS UM ESTADO DE ESPÍRITO.


Acho que nem mesmo a Velhinha de Taubaté (*) compraria uma caneta Montblanc, uma camiseta Lacoste ou um par de tênis Asics, por exemplo, sem desconfiar do mascate asiático que lhe bateu à porta. E pior do que a caneta não escrever, a roupa encolher ou o tênis machucar seu pé, seria ela morrer intoxicada por uma beberagem suspeita vendida como scotch 20 anos, ou eletrocutada ao plugar seu smartphone a um “carregador alternativo”.

(*) Velhinha de TaubatéPersonagem criada por Luiz Fernando Veríssimo durante o governo do General Figueiredo, famosa por sua incrível ingenuidade e capacidade de acreditar piamente em tudo que lhe era dito pelos presidentes militares, durante os assim chamados “anos de chumbo”.  

Maracutaias nos ameaçam o ano inteiro, mas em determinadas datas - como é o caso do Natal - elas se intensificam. E como os falsificadores vêm fazendo a lição de casa, réplicas de uma vasta gama de produtos estão tão parecidas com os originais que é quase impossível separar o joio do trigo a olho nu.
Smartphones (e o mesmo vale para tablets) oferecidos em camelódromos e sites de leilão por uma fração do preço praticado no mercado formal são, em sua maioria, imitações grosseiras, onde a má qualidade e a falta de esmero no acabamento saltam aos olhos. Basta ligá-los para estranhar o sistema operacional e constatar a inoperância da maioria dos APPs (outros sinais clássicos de trapaça são traduções mal feitas, sem sentido ou com abundância de erros ortográfico-gramaticais).
Claro que há opções legítimas no mercado informal, mas o preço costuma ser salgado, de maneira que vale a pena ver se o seu círculo de amigos inclui algum piloto ou comissário que voe regularmente para os EUA, onde um iPhone 5 custa menos da metade do que nas lojas da Apple estabelecidas no Brasil. Também pode valer a pena encomendar o produto a um muambeiro de confiança e dividir com ele a diferença entre o preço de lá e de cá (melhor ainda se você não se importar em ter um modelo de penúltima geração).
Pendrives, módulos e cartões de memória falsos – ou mesmo originais adulterados ou com capacidade modificada – continuam sendo oferecidos no mercado (não faz muito tempo, a Kingston chegou a criar uma página em seu website para identificar as maracutaias mais comuns). Também não faltam CPUs e GPUs falsificadas, acessórios de áudio chinfrins e softwares pirateados gravados em mídias quase idênticas às originais (para mais informações, clique aqui).
Barbas de molho, pessoal!





A melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.

OUÇAM http://youtu.be/uxtV3J2-KRE E TENHAM TODOS UM

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

NEM A VELHINHA DE TAUBATÉ...

 

Bolsonaro solicitou um visto de visitante (B1/B2), que, se concedido, lhe permitirá ficar mais seis meses homiziado na cueca do Pateta. A resposta pode demorar de dois a quatro meses — período durante o qual o ex-presidente deve permanecer nos EUA, sob pena de ter o pedido cancelado. No entanto, devido ao grande número de pessoas que passavam todos os dias pelo local, ele resolveu deixar a mansão do ex-lutador José Aldo. 

ObservaçãoBela Megale anotou em sua coluna no Globo que o capetão surpreendeu até os filhos ao declarar que pretende voltar ao Brasil nas próximas semanas. "Com pouquíssima burocracia, eu teria plena cidadania" disse ele ao jornal italiano Corriere Della Serra. 
 
Dias atrás, em um evento com ares de culto religioso — organizado pelo grupo ultradireitista Yes Brasil USA, associado ao ataque ao Capitólio —, o "mito" afirmou candidamente que a depredação das sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro não foi "terrorismo"
voltou a bater na tecla de fraude eleitoral e negou sua derrota no pleito (a prova provada de que o lobo perde o pelo mas não larga o vício). 
Na segunda fileira da seletíssima plateia estavam o blogueiro foragido Allan dos Santos e o jornalista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente-general João Batista Figueiredo

O ex-presidente é alvo de cinco inquéritos no STF e réu em duas ações penais. A maioria dos processos deve ser enviada para a primeira instância. No mês passado, o ministro Alexandre de Moraes o incluiu numa das investigações dos atos terroristas em Brasília. Mas tanto o inquérito sobre as milícias quanto o dos autores intelectuais tendem a continuar no Supremo, porque outras pessoas investigadas têm foro privilegiado.

Segundo o portal Terra, o capitão destinou apenas um terço do orçamento anual necessário para a manutenção dos animais (embora tenha atribuído gastos elevados no cartão corporativo à alimentação das emas e dos peixes do lago do Alvorada). O laudo final sobre as mortes dos bicho ainda não está disponível, mas técnicos que acompanharam a avaliação e a autópsia afirmam que a morte súbita “fecha com o quadro de doenças cardíacas e hepáticas desencadeadas pelo mau manejo alimentar durante os últimos anos”.
 
Observação: As “emas do palácio” ganharam destaque depois que Bolsonaro, em meio a sua campanha pelo medicamento ineficaz no trato da Covid, foi filmado exibindo uma caixa de cloroquina aos animais.
 
Mesmo que não vá para a cadeia (afinal, Lula foi condenado a mais de 26 anos por mais de uma dezena de juízes de três instâncias e deixou sua cela VIP depois de míseros 580 dias), Bolsonaro pode ter os direitos políticos suspensos pelos próximos oito anos.  

E. T.Para quem não sabe, a Velhinha de Taubaté é uma personagem criada pelo escritor gaúcho Luís Fernando Veríssimo durante o último governo militar (1979-1985), que acreditava em tudo que lhe diziam, principalmente se a fonte fosse Brasília. Em 2005, porém, diante do choque de realidade provocado pelo escândalo do Mensalão, a senhorinha sofreu um piripaque na frente da televisão e partiu desta para melhor — dizem que morreu de desgosto ao descobrir que seu ídolo, Antonio Palocci, estava mergulhado em um mar de lama.

Bom carnaval a todos.

terça-feira, 13 de julho de 2021

O PASTEL, OS TRÊS PATETAS E O MACACO GUARIBA


Em abril do ano passado, questionado sobre o aumento no número de mortes por Covid, Bolsonaro disse que não era coveiro. Sete meses depois, reclamou que sua vida estava uma desgraça, chamou a imprensa de "urubus" e queixou-se de não ter paz sequer para comer um pastel ou tomar um guaraná na rua. Ele mal sabia o que estava por vir. 

A situação do presidente se complica à medida que a CPI revolve as entranhas pútridas do governo federal. Saltam aos olhos evidências robustas de que o negacionismo, o descaso e a incompetência do governo federal foram em grande medida responsáveis pela morte de mais 530 mil pessoas no Brasil. Soterrado pelas evidências de corrupção, o capitão tenta negar o inegável e defender o indefensável com narrativas que não convenceriam nem a Velhinha de Taubaté.

Observação: Velhinha de Taubaté, criada por Luis Fernando Veríssimo durante a ditadura militar, ficou famosa por ser a última pessoa no Brasil que acreditava no governo. Ela “faleceu” em novembro de 2005, aos 90 anos, decepcionada com o cenário político tupiniquim, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci.

O senador Omar Aziz disse ontem que o silêncio do presidente no caso Covaxin deixa claro o cometimento de crime de responsabilidade. Ou coisa ainda pior. 

A senadora Simone Tebet, que extraiu do deputado Luis Miranda o nome do líder do governo na Câmara e expôs alterações grosseiras em no documento que o coronel Élcio Franco e o ministro Onyx Lorenzoni apresentaram para rebater as acusações de irregularidades, entende que existem elementos mais que suficientes para embasar um pedido de impeachment. Ela reconhece que ainda não há os 342 votos necessários na Câmara, mas acredita que o quadro venha a mudar nas próximas semanas.

Bolsonaro escreveu ao primeiro-ministro da Índia manifestando interesse na Covaxin, embora tenha insinuado que a vacina da Pfizer transformaria as pessoas em jacarésdesqualificado a CoronaVac — que apresenta eficácia de 78% na prevenção de casos leves e 100% para casos moderados e graves de Covid

Observação: As taxas de eficácia da "vachina do Dória" são semelhantes às verificadas em vacinas que já fazem parte do Plano Nacional de Imunização, como a da gripe. Demais disso, a vacinação contra a Covid no Brasil começou logo após a Anvisa aprovar o uso emergencial desse imunizante, que é responsável por 52,7% das doses distribuídas pelo país — a AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, responde por 43,4% e a Pfizer, por 3,9%.

Bolsonaro disse ontem que a acusação de propina na compra de vacinas não se sustenta, e tornou a recorrer a uma justificativa inconsistente para se defender das denúncias. No sábado, ele apagou um vídeo que havia postado como sendo da motociata em Porto Alegre — que na verdade era do evento realizado em São Paulo no dia12 de junho — e voltou a atacar a CPI, referindo-se à cúpula da Comissão como "os três patetas".

Em resposta, o senador Omar Aziz comparou o presidente ao macaco guariba, que defeca pela boca, e minimizou a abertura de inquérito para apurar possível prevaricação no caso Covaxin: "Não foi a Polícia Federal que abriu absolutamente nada. Ela foi determinada a abrir pela PGR, que, por sua vez, foi determinada pelo Supremo. Não tem muito o que investigar, o próprio presidente admitiu que recebe muitas denúncias, mas não tem como encaminhá-las. Tem tempo pra andar de moto, mas não tem tempo para fazer o que deveria fazer. Ele é um bom motoqueiro e um péssimo presidente".

ObservaçãoA Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar a suspeita de prevaricação do presidente. A investigação foi aberta a pedido da PGR, e autorizada pelo STF. De acordo com a decisão da ministra Rosa Weber, o prazo para conclusão das investigações é de 90 dias, mas pode ser prorrogado. O reverendo Amilton Gomes de Paula enviou nesta um atestado informando à CPI da impossibilidade de comparecer ao depoimento agendado para amanhã. O presidente da comissão disse ao Estadão que o dito-cujo afirmou ter problemas renais e que a solicitação está sendo analisada por uma junta médica do Senado.

Aziz afirmou à CNN que o presidente do senado lerá hoje o requerimento que sacramenta a prorrogação da CPI por até mais 90 dias, e que a comissão pretende seguir mais uma semana focada na apuração de possíveis irregularidades na compra de vacinas pelo governo federal.

Com Bolsonaro acuado, surge a discussão: pedir o impeachment ou deixá-lo sangrar? O impedimento é um instrumento que agrega forças e produz um desgaste constante, ensina Fernando Gabeira. Há quem afirme que ele fortalece o governante que o supera no Parlamento, mas não foi isso que aconteceu com Trump. Quando se está num movimento descendente, quase tudo empurra para baixo.

Os áudios divulgados pelo UOL mostram que Bolsonaro também contratava parentes para receber parte de seu salário. Tudo indica que o chefe do clã foi pioneiro no uso da técnica que ensinou posteriormente aos filhos parlamentares. Se ele não participou de grandes esquemas de corrupção ao longo de sua longa carreira, foi porque criou sua própria fonte de financiamento, destinada a manter campanhas e aumentar o patrimônio pessoal.

O povo nas ruas e o aumento da rejeição o "mito" apontam para um novo cenário cujos contornos exatos ainda não estão desenhados. Chega-se a um momento em que a habilidade da oposição se torna o fator decisivo, pois só uma sucessão de erros gigantescos pode tornar Bolsonaro viável nas eleições de 22. Ao menos essa é a leitura que o momento permite.

Com alguma sorte (mais nossa do que dele), Bolsonaro poderá voltar em breve a comer pastel e tomar guaraná na rua. Mas sua vida política será uma desgraça. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Maracutaias e humor...

O tema desta postagem foge ao nosso convencional, mas é possível que, variando um pouco, a gente consiga arrancar alguns comentários dos gatos pingados que ainda nos honram com suas visitas J
Maracutaia na política não é nenhuma novidade: dizem que o nepotismo desembarcou em “Terra Brasilis” quando a esquadra de Cabral aportou na Bahia, e o escriba Pero Vaz de Caminha, na sua famosa carta, pediu ao Rei D. Manoel que interviesse em favor de um sobrinho (ou afilhado, não me lembro bem) que estava desempregado.
Não sei como estaríamos hoje se o Brasil tivesse sido colonizado pelos ingleses. Pelos espanhóis, a julgar pela situação dos nossos vizinhos, não é difícil imaginar. Demais disso, política e lisura são, tradicionalmente, conceitos mutuamente excludentes, e embora não sirva de consolo, não é só por aqui que “suas excelências” se locupletam com propinas milionárias e patrocinam orgias memoráveis com o suado dinheiro dos impostos. Isso acontece também no chamado Primeiro Mundo, como se viu recentemente na Europa – e resultou na queda do todo poderoso primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi.
Com cabelos implantados e rosto liso à custa de cirurgias plásticas, “IL CAVALIERI” não aparenta os 75 anos que tem. E o mesmo se aplica a seu apetite sexual: embora não se saiba exatamente o que se passa em seus “bunga-bungas”, fotos de uma dessas bacanais mostram septuagenários se divertindo com “jovens desinibidas” que parecem não ter idade suficiente para tirar carteira de motorista. Em setembro do ano passado, um casal preso sob acusação de chantagem admitiu que fornecia “elemento humano” para essas orgias, mas o ex-premiê afirmou que deu dinheiro a eles simplesmente para ajudar uma família em situação de extremas dificuldades. Quanta generosidade!
Tudo bem que ser mulherengo e devasso é uma coisa, ser corrupto é outra, mas só a Velhinha de Taubaté acreditaria que alguém começa a vida profissional como crooner em bares e navios e, trabalhando honestamente, constrói um império que vai da mídia aos seguros e amealha uma fortuna calculada pela revista FORBES em US$ 9 bilhões.

Observação: Para quem não sabe ou não se lembra, a Velhinha de Taubaté é um personagem caricato criado por Luis Fernando Veríssimo durante a gestão do ex-presidente Figueiredo (1979-1985). Famosa por ser a última pessoa no Brasil que acreditava no governo, ela “faleceu” em novembro de 2005, aos 90 anos, decepcionada o quadro político brasileiro, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci.

Conclusão dos fatos: a gestão Berlusconi colocou a Itália à beira da bancarrota e quase arrastou com ela boa parte da Europa. Guindado ao poder desde 1994 e tendo ocupado por três vezes o cargo de primeiro-ministro, mesmo acusado de corrupção e de ligações com a Máfia, ele só foi apeado do poder em novembro de 2011. O resto é história recente.
E viva o povo brasileiro!

Passemos agora ao nosso humor de sexta-feira:


Bom f.d.s. a todos.

domingo, 4 de junho de 2017

INGENUIDADE UMA OVA! DESFAÇATEZ DA GROSSA, ISSO SIM!

Referindo-se à Operação Lava-Jato, Lula disse que “está na hora de parar de palhaçada” (mais detalhes nesta postagem). Que alguém lembre o flibusteiro parlapatão de ter cuidado com o que deseja: o juiz Sérgio Moro deve julgar ainda este mês ― e junho é mês de festa junina, de “quadrilha” ― a ação sobre a posse do famoso tríplex no Guarujá. E até a cúpula petista acredita na condenação do imprestável.

Mas não é só: Lula e seu pimpolho Luiz Cláudio deverão depor (como réus) ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, no próximo dia 22 (na ação que trata de crimes praticados entre 2013 e 2015). E, se não me falha a memória, os autos do processo em que o molusco indigesto é acusado de obstrução da Justiça (por tentar comprar o silêncio de Nestor Cerveró) já estão conclusos para sentença.

A demora na prisão de Lula tem sido motivo de chacota internacional. Num país civilizado, bem antes de se tornar réu em cinco ações penais e investigado em mais uma cachoeira de inquéritos ― que deverão ser convertidos em denúncias nos próximos meses ― o ex-presidente já estaria mofando na cadeia. Mas isto aqui é uma republiqueta de bananas, onde o povo vê com naturalidade um penta-réu alardear aos quatro ventos sua candidatura à presidência e aceita bovinamente o fato de uma ex-presidente recém-penabundada ― por afundar o país na maior crise de sua história e investigada por uma série de atos bem pouco republicanos ― pleitear a anulação de seu impeachment e sua recondução ao cargo, “agora que o golpista traidor não tem mais condições de governar a Banânia”. É o roto falando do esfarrapado!

Jamais acreditei na “santidade” de Temer, mas nunca o imaginei capaz de tamanha sem-vergonhice. Daí a dificuldade de seus assessores em defende-lo. Na contramão das evidências e à ausência de argumentos críveis para apresentar em favor do presidente, Eliseu Padilha, seu amigo dileto, ministro-chefe da Casa Civil e investigado na Lava-Jato, chegou a afirmar ― pasmem! ― que Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala de Temer, “caiu em um engodo ao ser filmado transportando uma mala com R$ 500 mil”. É ou não fazer pouco caso da inteligência alheia?

Parece que estamos assistindo a uma competição infantil, onde vence quem cria a fábula mais inverossímil. Temer diz que foi “ingênuo” ao receber Joesley Batista no Palácio do Jaburu e tenta desqualificar o áudio gravado à sorrelfa pelo moedor de carne. Mas não nega (e nem poderia) que ouviu a fieira de crimes com a tranquilidade de quem ouve um amigo confidenciar suas escapadelas extraconjugais. A justificativa? Ora, o dono da JBS seria um notório falastrão, e como está sendo alvo de inquérito, estaria apenas contando vantagens ― afinal, como Temer poderia crer que membros do Ministério Público e do Judiciário estivessem sendo cooptados? 

Pelo visto, nosso presidente não lê jornais e nem assiste ao noticiário. Ingênuo? Nem por sombra. O cara é matreiro e têm décadas de janela e outras tantas de vão de porta. Alegar ingenuidade para tentar se justificar por ter sido pego com as calças na mão e batom na cueca é puro desespero, e achar que sua retórica capenga e infundada será capaz de desautorizar fatos que saltam aos olhos até do observador menos atento beira o desvario.

Ninguém além da seleta confraria de apoiadores que vela seu governo agonizante engoliria sua versão estapafúrdia do ocorrido e, de sobremesa, os devaneios do ministro Padilha, que, em entrevista à Rádio Gaúcha, disse: “A versão que nos chegou é que ele [Loures] caiu em um engodo, que havia a necessidade de gravar ele com essa mala, com esse dinheiro. Foi preparado todo um processo em que ele [Temer] e o Rodrigo caíram. Não se deu conta de que estava sendo utilizado. Ali, o objetivo era só ter a filmagem”.

Padilha argumentou também que o dinheiro foi devolvido, e que não poderia opinar sobre o motivo pelo qual Rocha Loures pegou a quantia: “Ele [Loures] é um aliado do Palácio do Planalto. Mas agora o Palácio não pode sair atrás e dar busca dos atos de cada uma das pessoas que trabalham para o governo, e atos que não dizem respeito à sua atuação como representante do governo”. Quanta cara-de-pau, ministro! Nem a finada Velhinha de Taubaté acreditaria em tamanha impostura!

Observação: A Velhinha de Taubaté é uma personagem criada por Luis Fernando Veríssimo durante a gestão do ex-presidente Figueiredo (1979-1985), que se tronou famosa por ser a última pessoa no Brasil que acreditava no governo. A crédula senhora “faleceu” em novembro de 2005, aos 90 anos, decepcionada com o quadro político brasileiro, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci.

Temer e Loures são investigados no STF por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça. Na última quinta-feira, a PGR pediu novamente a prisão do ex-deputado. Na noite desta sexta, o ministro Fachin a concedeu, e o homem da mala foi preso pela PF na manhã do sábado.

Loures perdeu o direito ao foro privilegiado quando Serraglio deixou o ministério da Justiça e reassumiu sua cadeira na Câmara dos Deputados do Paraná. E se ele já se mostrava inclinado a negociar uma delação, agora, mesmo que seu inquérito esteja atrelado ao Temer e, portanto, não baixe imediatamente para a primeira instância, a perspectiva de se tornar hóspede do sistema penal tupiniquim servirá como um estímulo adicional.

Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

AINDA SOBRE SEMIDEUSES DESVAIRADOS

Por nove votos a um, Supremo decidiu nesta quinta-feira manter a ordem de prisão do traficante André do Rap. O resultado, esperado, avalizou a decisão do presidente da Corte, que derrubou no último sábado a liminar estapafúrdia e teratológica do ministro Marco Aurélio, dono, aliás, do voto vencido na sessão de ontem.

Escusado repetir que faltou bom senso ou — com todo o respeito aos Três Poderes da República como instituições, mas não necessariamente estendendo esse respeito a seus membros — que sobrou estupidez nessa patética tragicomédia, começando por quem colocou o jabuti na árvore, seguindo por quem não tirou de lá e prosseguindo... também já deu para entender. Interessa dizer que o colegiado formou maioria no sentido de que o parágrafo único do famigerado artigo 316 do CPP não implica soltura automática do preso e, ainda que não seja vinculante, o entendimento deve servir de parâmetro para as demais instâncias aplicarem o dispositivo.

Sobre a irresignação do grande responsável por esse furdunço, de admirar sua coerência no erro e sua acachapante teimosia. Ao final da sessão, disse esse obelisco do saber jurídico que a soltura do traficante não foi sua primeira decisão nesse sentido, e citou ironicamente o levantamento do G1

Não poderíamos deixar de implementar essa medida. E não foi a primeira, foi segundo o grande veículo de comunicação G1, a octogésima, ou a septuagésima nona decisão por mim proferida. Mas, nesse caso, tivemos essa celeuma toda para desgaste de toda a instituição que é o Supremo. Não me sinto, em que pese as inúmeras críticas, no banco dos réus. Atuei como julgador nessa missão sublime de julgar personificando o que faço há 41 anos. E o habeas corpus ele reclama, para haver a concessão da ordem, a prática de um ato ilegal, a cercear a liberdade de ir e vir do cidadão.

Disse também o conspícuo julgador que, a seu ver, sua decisão deveria ser revista pela turma, que é quem decide recurso sobre habeas corpus, e criticou a inadmissível possibilidade de o presidente do STF cassar liminares de outros ministros: 

Amanhã, a presidência poderá cassar uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, da ministra Cármen Lúcia, do ministro Edson Fachin, do ministro Ricardo Lewandowski. E no passado Vossa Excelência cassou uma decisão dele, ministro Ricardo Lewandowski, mas a situação não chegou ao plenário. Agora chegou.”

Fux disse que derrubou de forma excepcionalíssima a decisão do colega, pois ela desrespeitava diversos precedentes do STF, beneficiava um líder de facção que "permaneceu por cinco anos foragido e foi condenado por tráfico de quatro toneladas de cocaína" e que debochou da Justiça por ter se aproveitado da decisão "para evadir-se imediatamente após cometer fraude processual ao indicar endereço falso". 

As decisões que Fux vem tomando desde que assumiu a "coordenação de seus iguais" podem ser polêmicas, mas nem por isso são menos irrefutáveis. Quando propôs retornar ao plenário as ações penais que estavam sendo julgadas pelas Turmas, por exemplo, o presidente da Corte feriu suscetibilidades, retirou poderes, mas teve a aprovação unânime do colegiado porque baseou a decisão em fatos — a redução das ações em tramitação —, não em política

O propósito, por óbvio, era tirar da 2ª Turma o poder político de impor a visão não necessariamente majoritária de ministros ditos “garantistas” — ala que ganhará em breve o reforço do desembargador piauiense indicado por Bolsonaro, cujo ingresso depende de sabatina no Senado, mas que, em que pesem seu currículo artificialmente marombado e o plágio descarado, deve entrar liso feito quiabo.

Para Merval Pereira, nada evidencia com mais rigor a estapafúrdia situação jurídica em que nos metemos do que o pedido de outro traficante, Gilcimar de Abreu, o Poocker, para que lhe fosse estendida a decisão de Marco Aurélio. Usar como pé-de-cabra o art. 316 do CPP é o que distancia “garantistas” como o decano da vez de “punitivistas” ou “consequencialistas” como Fux

Há diversas interpretações no STJ, e inclusive no STF, que consideram desnecessária a confirmação das razões para a prisão preventiva quando o réu tiver sido condenado em primeira e em segunda instâncias, como é o caso de André do RapO ministro Barroso foi de uma precisão cirúrgica em seu voto: "O julgamento sobre a prisão do traficante não existiria se o Supremo não tivesse cometido, em novembro de 2019, o erro de derrubar a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância". Não há como discordar. Não tivesse sido restaurado o império da impunidade e o pivô dessa balbúrdia estaria na cadeia, eu não estaria perdendo meu tempo exaltando o óbvio e nem você o seu, lendo essas bobagens.

O que Marco Aurélio chamou de “autofagia” — referindo-se à possibilidade um ministro cassar monocraticamente a decisão de outro — pode ser visto como a defesa do compadrio, prática que tem desgastado a imagem do STF aos olhos da opinião pública. A tese do ex-ministro Sepúlveda Pertence sobre as 11 ilhas (que eu comentei nesta postagem) reflete a dificuldade de impor o pensamento do colegiado: “Mais do que 11 juízes, somos um só tribunal”, disse Fux, que não à toa demonstra preocupação com à colegialidade das decisões. 

Resumo da ópera: O Supremo decidiu que o óbvio continua sendo o óbvio, mas a consagração serôdia do óbvio revelou-se inútil: graças à decisão monocrática que o decano tomou na última sexta-feira, a decisão que o plenário tomou ontem, por 9 votos a 1, não pode ser cumprida porque o réu despareceu no ar, como peido em vendaval, no instante em que foi posto em liberdade, embora nem mesmo a Velhinha de Taubaté seria inocente (ou estúpida) a ponto de acreditar que ele iria pra casa e ficaria quietinho, aguardando o cumprimento do novo mandado de prisão que se seguiria à cassação da liminar que o beneficiou.

Seja como for, o parágrafo único do artigo 316 não pode ser visto como um alvará de soltura automático, como bem observou o ministro Alexandre de Moraes, para quem a prisão de condenados em segunda instância (caso do chefão do PCC) nem deveria ser reavaliada. Tratar como presumivelmente inocente um criminoso cujas sentenças de segundo grau somam 25 anos e oito meses não faz o menor sentido. Mesmo que seja cega, a Justiça não precisa ser burra. Nem surda.

Dando ouvidos ao óbvio, diz Josias de Souza, talvez Têmis regule a sua balança. Os direitos fundamentais do acusado são importantes e é preciso colocá-los num prato da balança, mas desde que se acomode no outro prato os direitos fundamentais da próxima vítima. 

Como bem pontou o ministro Barroso, um dos papéis dos supremos togados é justamente evitar o próximo homicídio, o próximo latrocínio ou o próximo estupro. Isto posto, deve-se levar em conta os dois pratos da balança do sistema penal. Simples assim.

domingo, 5 de junho de 2016

ELEIÇÕS MUNICIPAIS

VEJAM QUE CALAMIDDAD!

Segundo o ministro Gilmar Mendes, presidente do TSE, o governo não tem recursos para bancar as eleições agora em outubro. Um problema sério, sem dúvida, notadamente em vista do volume de dinheiro que é expropriado dos (assim chamados) “contribuintes”. Mas estamos no Brasil e para tudo se dá um jeito. Pior que a falta de verba é absoluta falta de opções, pelo menos aqui em Sampa, onde, dos 11 pré-candidatos a prefeito, a maioria deixa a desejar e nenhum chega a entusiasmar.

O alcaide atual, conhecido como Prefeito Suvinil ou Fernando Malddad ― ou ainda Raddard, devido à profusão de radares fotográficos que, combinados com as estapafúrdias reduções do limite de velocidade, fomentam a indústria da multa de trânsito aqui em Sampa) ― é um monumento à incompetência administrativa. Ele faz pose de “moderninho”, toca guitarra, anda de bike e adora fazer piadas sobre “coxinhas”, mas só é bem-visto pela militância petralha e por alguns palpiteiros que não moram em São Paulo.

Observação: Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Vox Populi, Haddad foi considerado o pior entre os prefeitos das oito maiores capitais brasileiras. Na opinião dos paulistanos, sua administração é tão ruim quanto as de Celso Pitta, Luiza Erundina e Gilberto Kassab (clique aqui, aqui, aqui, e aqui para mais detalhes).

Formado em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco e filiado ao PT desde 1983, Haddad deixou o emprego de analista de investimentos no UNIBANCO para assumir a subsecretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico ― a convite da então prefeita (petista) Martha Suplicy. Dois anos depois, passou a assessor especial do Ministério do Planejamento e Finanças, e, em meio à crise do mensalão, substituiu o petista Tarso Genro à frente do ministério da Educação, onde permaneceu até sair candidato à prefeitura de Sampa ― que ganhou graças ao apoio de Lula, cuja popularidade, na época, ainda estava em alta.

De suas mirabolantes promessas de campanha, pouca coisa que presta saiu do papel, embora obras faraônicas de utilidade discutível tenham ido de vento em popa. Um bom exemplo são os quase 400 km de ciclovias e ciclofaixas, ao custo médio de R$650 mil por quilometro, o que faz delas as mais caras do planeta, embora sejam sub-utilizadas e estejam, em sua maioria, abandonas, cobertas pelo mato e com a pintura descascada. Sua implementação, feita sem licitação, despertou suspeitas de superfaturamento que resultaram em questionamentos por parte do TCM e aberturas de sindicâncias internas. No trecho mais caro, orçado em R$68,3 milhões, o “ágio” chegou a R$34,4 milhões. O vereador Gilberto Natalini, do PV, tentou instaurar uma CPI para investigar esse descalabro, mas, com o apoio da base governista, Haddad conseguiu barrá-lo.

Outro projeto estapafúrdio, lançado no início do ano retrasado, tinha por objetivo (louvável) retirar os viciados das ruas oferecendo-lhes moradia digna, três refeições diárias e um salário semanal de R$130 por serviços de varrição de logradouros públicos. Mas logo se constatou que somente uns poucos gatos-pingados apareciam para trabalhar; a maioria ficava se drogando nos decrépitos quartos de hotéis pagos pela prefeitura (caindo aos pedaços e infestados de ratos) e só dava as caras nos dias de pagamento. O Arco do Futuro ― um dos grandes destaques da campanha do petista ― foi abandonado logo nos primeiros meses de sua gestão. A iniciativa ambiciosa e bilionária previa uma série de obras no perímetro delimitado pelas avenidas Cupecê e Jacu-Pêssego e as marginais Tietê e Pinheiros, mas não saiu do papel. Dos vinte CEUs (Centros Educacionais Unificados) prometidos, apenas um foi inaugurado ― a prefeitura afirma que mais oito devem ser concluídos até o final do ano, mas nem a Velhinha de Taubaté acredita nisso. Das 243 creches prometidas, somente 38 foram feitas, e a fila por uma matrícula soma quase 100 mil crianças (grosso modo, a família que está no final da lista pode demorar mais de 1 ano para conseguir uma vaga).

Hospitais e postos de saúde municipais ― como acontece praticamente em todo o país ― não têm funcionários, equipamentos, leitos nem suprimentos para atender a população. Dos 3 novos hospitais prometidos, a prefeitura jura que 2 serão entregues até o final do ano (acredite quem quiser). Ainda na área da Saúde, a Rede Hora Certa só teve metade das 32 unidades previstas terminadas, e dessas, 7 são unidades móveis. Das 43 UBS (Unidades Básicas de Saúde), 8 foram entregues e 15 estão em construção. Os CAPs (Centros de Atenção Psicossocial) têm marca ainda inferior: dos 30 prometidos, apenas 4 se tornaram realidade. As faixas de ônibus ― que infernizam a vida de quem usa o automóvel para se deslocar pela cidade, não só pelos congestionamentos monstruosos que provocam, mas também pelas multas que geram para quem as “invade” ― cresceram quase quatro vezes em relação aos 150 km previstos. Já os corredores de ônibus ― que realmente têm utilidade ― ficaram bem abaixo do prometido: dos 150 km previstos, apenas 39 km foram entregues, e desses, 22 km se referem a reformas e requalificações de corredores já existentes.

Observação: Isso sem mencionar o total abandono das vias públicas, cuja profusão de crateras de dimensões e profundidades variadas rivaliza com a da superfície lunar. E o problema cresce exponencialmente a cada chuvarada, aumentando os riscos de acidentes e os prejuízos decorrentes de pneus cortados, rodas amassadas (ou quebradas, se de liga leve) e suspensões danificadas.

Ainda sobre a malha viária, vale dizer que a mega parceria público-privada, anunciada com destaque em 2014, que prometia substituir 580 mil lâmpadas de vapor de sódio por LEDs (mais eficientes, econômicas e duráveis) soma diversas contestações do TCM devido a irregularidades na contratação e na escolha das empresas envolvidas. O capítulo mais recente dessa novela ocorreu 2 meses atrás, quando o TCM mandou (mais uma vez) suspender o pregão. A prefeitura recorreu, mas perdeu, e Sampa não só continua às escuras, mas também deixa de economizar energia equivalente ao que consome uma cidade de 150.000 habitantes.

Já a indústria da multa vai muito bem, obrigado. Em 2015, foram 13,3 milhões de autuações (70% mais do que no ano anterior) distribuídas por uma frota de 8 milhões de veículos. Uma média de 40 mil multas diárias, que engordaram em1 bilhão de reais as burras do município. Só que, em vez de usar o dinheiro na sinalização, engenharia, fiscalização e educação no trânsito, Haddad preferiu gastá-lo com ciclovias e salários dos funcionários da CET. Por conta disso, levando o Ministério Público a denunciá-lo por improbidade administrativa. Para a juíza Carmem Oliveira, da 5ª Vara da Fazenda Pública, é patente “o incentivo às multas a fim de elevar a arrecadação municipal e, ato contínuo, desvirtuar a destinação legalmente estabelecida para os recursos”.

Por essas e outras, não fossem as “virtudes” dos demais candidatos ― Dória, Kassab, Martha Suplicy, Erundina, Russomano, Paulo Maluf e Levy Fidelix, apenas para citar os nomes mais conhecidos ―, o destino do “prefeito maravilha” já estaria selado. Pelo andar da carruagem, todavia, o futuro é quase tão incerto quanto as previsões de videntes, cartomantes, astrólogos, meteorologistas e assemelhados. Infelizmente.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

EM ROMA, FAÇA COMO OS ROMANOS... OU NÃO


Roberto Jefferson, notório delator do maior esquema de corrupção da história do Brasil (antes do Petrolão), era unha e carne com Bolsonaro até iniciar suas férias compulsórias no presídio de Benfica. A inércia do capitão-negação em relação aos asseclas é vista com estranheza por alguns bolsonaristas, talvez por não se terem dado conta de que, a exemplo do demiurgo de Garanhuns, o capetão não tem amigos, mas interesses, e não pensa duas vezes antes de abandonar à beira da estrada aliados e ex-aliados, de Santos Cruz a Zé Trovão, seja por desavenças, seja por mera conveniência.

Curiosamente, o "mito" ainda goza de crédito com seus sectários. Fala-se que qualquer coisa que ele fizesse em favor dos despirocados detidos seria tachada de arbitrariedade.  Por outro lado, ainda que a maioria dos “abandonados” continuem o apoiando, há quem se sinta desconfortável com seu silêncio sobre as prisões decretadas pelo STF. Graciela Nienov, que assumiu o comando o PTB durante as férias compulsórias de Jefferson, diz que "o silêncio é assustador”, mas que o partido continuará apoiando o capetão porque "ele representa nossas crenças". Resta saber até quando.

Se depender daquele que fomos obrigados a eleger para impedir a volta do lulopetismo corrupto, a campanha eleitoral do ano que vem será a mais violenta desde a redemocratização. Se nada for feito para evitar o pior, o Brasil será transformado numa versão latifundiária do chiqueirinho do Alvorada, onde apenas devotos do estadista de fancaria miracula serão admitidos. Para o grande líder dessa escumalha, o puxadinho é móvel e pode ser levado para qualquer lugar — de Nova Iorque, onde o ministro da Saúde mostrou o dedo do meio para manifestantes, à embaixada do Brasil em Roma, onde jornalistas foram agredidos, no último domingo, durante um comício improvisado.

Na capital da Itália, Bolsonaro repetiu a cantilena de sempre: disse que o Brasil estava à beira do comunismo quando ele se elegeu; que não errou no combate ao vírus e que a oposição quer derrubá-lo. Mas a oposição existe justamente para dificultar a vida dos que governam, e foram muitos os erros do pajé da cloroquina no enfrentamento da pandemia. Não à toa, a CPI pediu seu indiciamento por pelo menos 9 crimes. 

O isolamento internacional do pária tupiniquim ficou evidente (mais uma vez) neste final de semana. Vídeos de eventos do G20 mostraram Bolsonaro como uma figura isolada, que não participou da foto tirada na Fontana de Trevi, um dos principais pontos turísticos da cidade, com líderes mundiais. Durante caminhada nas ruas de Roma, ele foi criticado pela maneira que lidou com a pandemia e foi chamado de "genocida". Apenas a chanceler alemã Angela Merkel lhe deu atenção, e mesmo assim para se queixar de que ele havia pisado no seu pé: “Só podia ser você”.

A CPI livrou o Brasil do contrato da Precisa e das negociatas da Davati com o governo. Bolsonaro entrou na pandemia com a tese da “gripezinha” e chegou ao final dos trabalhos da Comissão como quem usou o cargo e os meios públicos para fazer o que não poderia e não fazer o que deveria. Dizer que vacina causa AIDS foi uma de suas aleivosias mais grotescas, mas não foi a única e está longe de ser a última.

Observação: A live em que sua alteza irreal disse essa estultice foi desmentida pela Inglaterra e por todas as entidades científicas e médicas sérias, bem como removida do Facebook, do Instagram e do YouTube — mais um vexame de repercussão mundial protagonizado por quem já retirou máscara do rosto de criança, promoveu aglomerações golpistas defronte ao QG do Exército, atribuiu mentirosamente ao TCU um estudo negando o número de mortos, empurrou generais a se vacinarem escondidos, fingiu que não viu e não sabia da roubalheira na Saúde e produziu pérolas de nonsense como “e daí?”, “não sou coveiro”, “vamos parar de mimimi”, “este não é um país de maricas”, e por aí segue a procissão.

A CPI consolidou a imagem do senador Omar Aziz, jogou luzes sobre a garra de seu colega Randolfe Rodrigues e revelou uma bancada feminina formidável, com as senadoras Simone Tebet, Eliziane Gama, Soraya Thronicke, Leila do Vôlei e Zenaide Maia. Também se destacaram os senadores Otto Alencar, Humberto Costa e Rogério Carvalho, e muito contribuíram para o gran finale a experiência política de Tasso Jereissati e a expertise profissional dos delegados Alessandro Vieira e Fabiano Contarato. A escolha de Renan Calheiros para relator foi surpreendente e, por que não dizer, polêmica, mas sua capacidade política foi decisiva: o cangaceiro das Alagoas soube ouvir, avançar, recuar, buscar o consenso. De mais a mais, o que realmente interessava era a investigação e o que realmente importava era o relatório — e ambos foram impecáveis.

Voltando ao último domingo, Bolsonaro assistiu calado à agressão aos jornalistas. Pouco importa se ele atiçou ou não os brutamontes: de tanto ouvirem o chefe ameaçar a imprensa — "essa Globo é uma merda de imprensa"; "pergunte para a sua mãe"; "minha vontade é encher sua boca de porrada" —, seus cães de guarda sentem-se à vontade para agir com truculência.

A viagem do presidente a Roma foi mais um passeio turístico inútil, caríssimo e pago pelos contribuintes brasileiros. Se serviu para alguma coisa, foi para reforçar no exterior a imagem do principal produto da República Miliciana do Brasil: a violência. Cansado de atacar jornalistas por aqui, o bolsonarismo achou de exportar esse tipo de violência, talvez interessado em vender o método para algum autocrata iniciante.

Apesar de provocarem engulhos no naco civilizado da sociedade, as agressões foram um deleite para o bolsonarismo-raiz: em grupos de apoiadores do "mito" nas redes sociais, as imagens foram festejadas e ironizadas, chamadas de mimimi e de vitimismo (para muitos de seus seguidores, um ataque à imprensa em nome de Bolsonaro é uma missão civilizatória, quase divina). Afora isso, a ida do verdugo do Planalto ao G20 serviu apenas para demonstrar, mais uma vez, como o Brasil se tornou tóxico sob a gestão do "único chefe de Estado no mundo acusado de [ser] genocida" — como ele próprio disse, em tom de deboche, ao diretor-geral da OMS.

Com os combustíveis e o gás de cozinha pela hora da morte, com gente buscando ossos em sacos de lixo para saciar a fome, com mais de 13 milhões de desempregados, 608 mil mortos por Covid e o risco de apagão elétrico, Bolsonaro está fragilizado. E quanto mais acuado ele se sente, mais ataca. Resta saber até quando os cidadãos de bem desta republiqueta aturarão seus desmandos. Se depender do Legislativo e do Judiciário, a degustação do troçolho (não confundir com terçolho) seguirá seu curso até o mais amargo fim, no apagar das luzes do ano vem.  

Bolsonaro se dá ao luxo de só bater em Lula e orientar sua ospália de apoiadores a fazer o mesmo porque vê no petralha o adversário mais fácil de derrotar. De resto, bater em nomes que ainda carecem de apoio em massa só serviria para fortalecê-los. Seu pesadelo é a consolidação da assim chamada terceira via, dado o risco de não chegar ao segundo turno — ou quiçá ao primeiro. E o adversário que ele mais teme é o ex-juiz Sergio Moro.

Em entrevista à emissora italiana Sky TG 24, após o entrevistador lembrá-lo de que Lula o chamou de genocida por sua conduta durante a pandemia, Bolsonaro devolveu a gentileza dizendo que a liderança política do petralha começou com um "contato com as Farc" — antigo grupo guerrilheiro da Colômbia que saiu da clandestinidade —, e que a partir daquele momento o molusco teria estabelecido ligação com o narcotráfico. 

Bolsonaro disse ainda que sua vitória nas eleições em 2018 foi "um milagre que salvou o Brasil", e que um ex-chefe do serviço secreto da Venezuela afirmou à justiça da Espanha, em uma carta, que o regime venezuelano financiou presidentes na América Latina, inclusive Lula. Por meio de nota, a assessoria do ex-presidiário afirmou que "todo mundo sabe, no Brasil e no mundo, que Bolsonaro é um mentiroso", mas não foi muito além disso. 

Em outros trechos da entrevista, Bolsonaro afirmou que o governo petista quase levou a Petrobras à falência (o que é verdade), chamou a autodeclarada alma viva mais honesta do Brasil de "oportunista" (o que também é verdade) e distorceu os fatos para defender a narrativa do governo sobre a Amazônia. A essa altura, a Velhinha de Taubaté se revirou na tumba.

E viva o povo brasileiro!

sexta-feira, 7 de maio de 2021

A IMUNIDADE DE REBANHO E O GRANDE MANICÔMIO TUPINIQUIM


O ministro Marcelo Queiroga ainda estava sendo inquirido às 17h de ontem, quando eu concluí este texto. E se via em palpos de aranha diante da insistência dos senadores em suscitar questões envolvendo tratamento precoce, kit-covid e fármacos como cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina e congêneres. Suas respostas evasivas desagradaram não só o presidente da Comissão, Omar Aziz, e o relator, Renan Calheiros, mas diversos parlamentares de oposição e “independentes”, que o pressionaram a emitir julgamentos de valor sobre as ações e omissões de seu antecessor e do presidente da República.

Observação: Na quarta-feira, ao discursar em um evento, Bolsonaro disse que “ninguém sabe” a origem do vírus da Covid, mencionou o termo “guerra química” e indagou: “Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês”. Na avaliação de Omar Aziz (e de quem quer que tenha dois neurônios funcionais), a declaração de Bolsonaro vai piorar a obtenção, pelo Brasil, de insumos contra a doença. "Nós estamos nas mãos do chineses para trazer o IFA. Nós não temos produção de IFA aqui. E nem vamos ter tão cedo. A gente depende da Índia para alguns insumos. Depende da China para outros insumos. Não é momento de a gente cutucar ninguém”, disse o senador. Em nota, o presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato , afirmou que Bolsonaro é uma pessoa “irresponsável, desequilibrada e sem noção de mundo”, capaz de “confundir realidade com ficção”.

Ministro, o senhor está aqui como testemunha. Essa é a instância. Não tem esse negócio de dizer e jogar para terceiros… O senador Renan fez perguntas simples: faltou o que? Não faltou o dinheiro. Faltou lockdown, faltou o que? Você está aqui como testemunha, estou aqui pra lhe preservar. Não é achismo. É sim ou não, declarou o presidente da CPI depois de Queiroga não responder claramente se compartilhava ou não da posição de Bolsonaro de receitar cloroquina como tratamento precoce para a Covid. Na sequência, em outra pergunta sobre uma ordem do presidente para diminuir entrevistas à imprensa, senadores alinhados com o Palácio do Planalto reclamaram que Renan estaria direcionando as respostas do entrevistado. Os questionamentos do relator continuaram depois que o bate-boca cessou, mas o desconforto tanto do ministro quanto de Renan seguiu sobre um não querer responder perguntar que julga ser “juízo de valor” e o outro dizendo que suas questões não estavam sendo respondidas.

Em propagandas oficiais e em falas públicas, Queiroga tem divulgado o número de 560 milhões de doses de vacinas já contratadas. Ao ser questionado pelo relator sobre qual é o número que de fato já foram compradas, o ministro se contradisse. Primeiro, insistiu que o número de doses contratadas era de 560 milhões. Depois de receber informações do secretário executivo do ministério, Rodrigo Otávio da Cruz, admitiu que o número era menor e citou a quantidade de 430 milhões de doses.

Vale lembrar que, na condição de testemunha, tanto Queiroga quanto seus predecessores (que depuseram nos dias anteriores) são passíveis de prisão caso fique comprovado que mentiram para a Comissão. Em seu depoimento, o ministro de turno afirmou que a pasta errou na resposta oficial ao deputado Gustavo Fruet, que haverá uma apuração interna no ministério para determinar o que ocorreu e que a resposta ao deputado será “retificada” (em documento oficial dirigido à Câmara, as áreas técnicas informaram que apenas metade dos 560 milhões de doses está contratada, o que é insuficiente para vacinar todos os brasileiros até o fim de 2021). .

Em nota à reportagem do Estadão, a Fiocruz informou que o acordo com a AstraZeneca possui duas partes: a produção de vacinas com base no Ingrediente Farmacêutico Ativo, importado, e a transferência tecnológica para a produção do IFA no Brasil. A parte relativa à importação do ingrediente já foi assinada em setembro de 2020 e as vacinas estão sendo fabricadas com os insumos produzidos no exterior. No entanto, o contrato para a produção local ainda não foi assinado — e corresponde a 110 milhões de doses.

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Há muito que o avanço da Covid e o aumento exponencial de vítimas fatais deveriam despachado Jair Bolsonaro numa viagem só de ida para um manicômio qualquer, de preferência a milhares de quilômetros do Palácio do Planalto.

Logo no início da pandemia, de passagem pelos EUA, o presidente disse que a pandemia era uma “pequena crise, e não isso tudo que mídia propaga”. De volta ao Brasil, quando já se sabia que onze membros da sua comitiva haviam testado positivo para o vírus, desceu a rampa do Palácio para juntar-se a um grupo de apoiadores cujas mãos apertou e com que tirou selfies, feliz como um pinto no lixo — o que levou um grupo de advogados de Brasília a encaminhar uma representação ao MPF pedindo que ele fosse submetido a avaliação psiquiátrica, já que seu comportamento configurava “considerável grau de desorientação e confusão psíquica”. Mas já dizia Fernando Pessoa: “sem a loucura, o que é o homem senão uma besta sadia, um cadáver adiado que procria?

A postura beligerante, o negacionismo desbragado e a incompetência chapada levaram o capitão a cometer toda sorte de atrocidades — entre as quais o estúpido boicote à compra de vacinas e o irracional desestímulo à observância de protocolos como o distanciamento social, o uso de máscara e a própria imunização. Talvez por despreparo, o mandatário compreendeu mal o que seria a imunização de rebanho, defendida pelo médico e ex-ministro da Cidadania Osmar Terra.

Segundo o esculápio gaúcho, a epidemia só terminará depois que 70% da população estiver contaminada. A julgar pela maneira como vem procedendo, Bolsonaro deve ter entendido que o país só se livrará da Covid depois que o vírus maldito matar 70% da população. E da feita que os institutos de pesquisa atestam que um terço do eleitorado o apoia, sua reeleição está garantida.

Por essas e outras, a pandemia matou mais de 400 mil brasileiros em14 meses. Os últimos 100 mil óbitos foram registrados em apenas 36 dias; até os primeiros 100 mil, foram 149 (esses números poderiam ser de três a quatro vezes menores se o país fosse governado por alguém menos a anormal e mais qualificado para o cargo).

Não estivesse a pasta da Saúde sob intervenção, transformada em cabide de fardas pelo vassalo subserviente (é simples assim: um manda e o outro obedece) do suserano lunático, os brasileiros teriam começado a ser imunizados no final do ano passado, à razão de 2 milhões de doses aplicadas por dia. Mas para Bolsonaro não basta não jogar no time, é preciso torcer contra. Dirigindo-se à récua de descerebrados que bate ponto defronte ao Alvorada, o “mito” avisou que quem tomasse a vacina não poderia reclamar se virasse jacaré.

De lá para cá, as estultices presidenciais foram ficando ainda piores, mas passaram a surpreender cada vez menos — o extraordinário, de tanto se repetir, acaba virando paisagem. Nos últimos dias, porém, causou espécie um fenômeno inusitado envolvendo o comportamento de auxiliares próximos ao presidente, assinala Taís Oyama em sua coluna no UOL.

No domingo retrasado, o ex-ministro-interventor da Saúde, alvo número um da recém-instalada CPI que vai investigar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia, foi flagrado passeando sem máscara num shopping center em Manaus. Cobrado, o general perguntou ironicamente “onde se comprava uma”.

Dias depois, o também general Luiz Eduardo Ramos deixou escapar que se vacinou escondido (para não irritar o presidente). “Como qualquer ser humano, eu quero viver, pô. Se a ciência e a medicina tá (sic) dizendo que é a vacina, né, Guedes, quem sou eu para me contrapor?” Logo após ter dito que tomou vacina escondido, o fardado postou mensagem negando ter dito que tomou vacina escondido.

Na mesma noite, o ministro Paulo Guedes acusou nosso maior parceiro comercial e fornecedor do IFA utilizado pelo Butantan e pela Fiocruz na produção da Coronavac e da vacina de Oxford/AstraZeneca, respectivamente — de ter “inventado” o coronavírus. Em sua fala (sem saber que estava sendo gravado), o Posto Ipiranga do presidente asseverou ainda que a vacina fabricada pela China não é lá essas coisas, e que a Saúde está quebrada inclusive porque tem gente que quer viver “100, 120, 130 anos”.

A Constituição não estabelece prazo para o presidente da Câmara deliberar sobre pedidos de impeachment do chefe do Executivo, como observou em seu despacho o ministro Kassio Nunes Marques — ex-desembargador piauiense nomeado por indicação de Bolsonaro para a vaga aberta no STF com a aposentadoria do ex-decano Celso de Mello, no final do ano passado.

O deputado-réu Arthur Lira, que foi guindado à presidência da Câmara tendo o chefe do Executivo como principal cabo eleitoral, certamente tinha ciência desse entendimento, visto que só abriu a gaveta onde dormitam 116 pedidos de abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro três meses depois de assumir o cargo. Pior foi seu antecessor, Rodrigo Maia, nem ter se dado a esse trabalho. Quando deixou o cargo — que assumiu interinamente com a cassação de Eduardo Cunha e ao qual foi reconduzido em 2017 e 2019 com o aval do STF — o deputado deixou de herança mais de 60 pedidos de impeachment protocolados na secretaria da Casa desde a posse do capitão.

Na semana passada, Lira surpreendeu ao se tornar recordista em velocidade de análise de pedidos de impeachment, levando apenas 24 horas para analisar mais de uma centena deles. Na segunda-feira (26) anunciou: “90%, 95% dos que eu já vi não têm absolutamente nenhuma razão para apresentação, a não ser um fato político que queira se gerar.” Na terça (27) completou o anúncio da decisão em sessão plenária: “Os pedidos de impeachment, em 100% e não 95%, em 100% dos que já analisei, são inúteis para o que entraram e para o que solicitaram.”

A cerimônia do adeus de Lira ao impeachment de Bolsonaro aconteceu 72 horas depois que o Diário Oficial estampou a sanção presidencial ao Orçamento para 2021. O governo, magnânimo mesmo na ruína fiscal, reservou R$ 34 bi para pagar pequenas obras espalhadas por 5.570 municípios, todas elas a talante dos parlamentares. O montante é equivalente ao gasto federal com assistência a mais de 30 milhões de pessoas inscritas no programa Bolsa Família.

As inaugurações estão previstas para a pré-temporada eleitoral, e algumas devem contar com a presença do presidente-candidato à reeleição. Nem mesmo a Velhinha de Taubaté acreditaria que a publicação da sanção presidencial ao orçamento recheado de valiosas emendas parlamentares e o adeus de Lira aos pedidos de impeachment de Bolsonaro não passaram de mera coincidência.

Diante do exposto, restam-nos duas tristes conclusões: 1) os parâmetros de sanidade reinantes no Palácio do Planalto emanam do chefe; 2) antes de quebrar o Brasil, Bolsonaro transformará o governo num grande manicômio.