A insubordinação lhe rendeu 15 dias de prisão e 150
telegramas de solidariedade das mais variadas regiões do país, além do apoio de
oficiais e de mulheres de oficiais, que realizaram manifestação defronte ao
complexo militar da Praia Vermelha, no Rio.
No ano seguinte, Veja noticiou a invasão da prefeitura de
Apucarana (PR) pelo capitão Luís Fernando Valter de Almeida — que, à frente
de 50 homens, leu manifesto contra os baixos salários das forças armadas — e
divulgou um plano em que Bolsonaro e o também capitão Fábio Passos da
Silva pretendiam “explodir bombas em várias unidades da Vila
Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras (...) e em vários quartéis” (a operação só seria executada se o reajuste concedido aos militares
ficasse abaixo de 60%, e serviria para “assustar” o ministro do Exército).
Os capitães “negaram
peremptoriamente, da maneira mais veemente, por escrito, do próprio punho,
qualquer veracidade daquela informação”, mas, após o surgimento de
provas documentais (na ocasião da reportagem realizada na Vila Militar, Bolsonaro
havia desenhado um croqui, no qual, de forma didática, explicara à repórter o
funcionamento de uma carga de dinamite) e depoimentos testemunhais, o ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves, deu sinal verde para uma sindicância que concluiu que os insurretos deveriam
ser expulsos das forças armadas. Ainda assim, o Superior Tribunal Militar acolheu
a tese da defesa, segundo a qual os acusados "foram vítimas de um processo viciado", e a expulsão dos capitães não aconteceu. Mas a carreira
militar de ambos terminou ali.
Bolsonaro passou para a reserva e chegou
a cogitar de trabalhar como limpador de casco de navio, aproveitando o curso de
mergulho que fizera anos antes, mas sua notória aversão ao batente levou-o a aproveitar a repercussão de sua reforma nos meios
militares para se eleger vereador pelo e, na
sequência, deputado federal, ambas as vezes pelo PDC. Em 1993, ajudou a fundar o PPR — fruto
da fusão do PDC com o PDS — e voltou a provocar polêmica ao defender o retorno
do regime de exceção e o fechamento temporário do Congresso.
Observação: A
despeito da evidente contradição, o deputado que defendia o fechamento do
Congresso — dizendo que preferia “sobreviver no regime militar a morrer
nesta democracia” — tornou a se candidatar em 1994 e foi reeleito com 135 mil votos. O TRE-RJ
anulou a eleição por suspeita de fraude e realizou um novo pleito, mas Bolsonaro
confirmou sua reeleição e foi empossado em fevereiro do ano seguinte.
Em agosto de 1995, com a criação do PPB — resultado da fusão do PPR
com o PP —, Bolsonaro migrou para a nova agremiação e foi
reeleito, em 1988, com 102.893 votos. Em junho de 1999, a Mesa Diretora da Câmara decidiu
propor ao plenário sua suspensão por um mês, por ter defendido o fechamento do
Congresso e afirmado que “a situação do país seria melhor se a ditadura
tivesse matado mais gente”, incluindo o presidente Fernando Henrique
Cardoso. Acabou que a Mesa recebeu uma retratação e decidiu aplicar apenas
uma censura, mas voltou atrás quando Bolsonaro alegou que sua assinatura
havia sido falsificada. Mesmo assim, a proposta nunca chegou a ser votada pelo
plenário da Câmara.
Questionado por empregar em seu gabinete a companheira Ana
Cristina Vale, o pai e a irmã dela, Bolsonaro alegou que estava
se divorciando e argumentou que, por não ser casado com Ana Cristina, a
contratação não caracterizava nepotismo. Em dezembro, durante um almoço de
desagravo ao ex-comandante da Aeronáutica, Walter Braüer,
o ex-capitão defendeu o fuzilamento do presidente Fernando Henrique Cardoso
— chegando mesmo a dizer que o fuzilamento era até “algo honroso para certas
pessoas”. O líder do governo na Câmara pediu a cassação de seu mandato, mas,
mais uma vez, a proposta nunca chegou ao plenário da casa.
No início de 2000, Bolsonaro defendeu a pena de
morte para qualquer crime premeditado e a tortura em casos de tráfico de
drogas. Atacou os homossexuais, dizendo não “admitir abrir a
porta do meu apartamento e topar com um casal gay se despedindo com beijo na
boca, e meu filho assistindo a isso”, e seguiu defendendo os interesses das
FFAA. Inconformado com o aumento da ingerência civil sobre os
militares a partir da criação do Ministério da Defesa pelo governo FHC,
chamou o ministro de “canalha”, “patife” e “imoral”,
acusou-o de postergar o reajuste dos militares e de estar “servindo aos
interesses dos EUA no país”.
Reeleito em 2002 com 88.945 votos, nosso herói declarou-se contrário à reforma da previdência. Trocou o PPB pelo
PTB, que deixou em 2005 para se filiar ao PFL, que deixou meses
depois para ingressar no PP (nova denominação do PPB, sua antiga legenda).
Quando Roberto Jefferson denunciou o esquema do mensalão, Bolsonaro endureceu
seus ataques ao PT e aos políticos do partido envolvidos nos escândalos.
Chamou José Dirceu de “terrorista” e José Genoíno
de “delator”. Chegou mesmo a levar à CPI do Mensalão o coronel reformado
Lício Augusto Ribeiro Maciel, responsável pela prisão e interrogatório do
petista em 1972, para desmentir a versão de que ele teria sido torturado para
entregar os companheiros.
Em outubro de 2005, por ocasião do referendo sobre a
comercialização de armas de fogo, Bolsonaro, crítico contumaz das
campanhas de desarmamento anteriores, mandou confeccionar cartazes com frases
como “O exército do PT é o MST” e “Entregue suas
armas: os vagabundos agradecem”, e posicionou-se entre os defensores e
organizadores da campanha do “não”, dizendo ser favorável “ao
desarmamento, sim, mas dos bandidos”
(ao final, venceram
os partidários do “não”, com 63% dos votos).
Reeleito para o quinto mandato consecutivo com 99.700 votos,
Bolsonaro se envolveu em mais uma polêmica, dessa vez por
conta da situação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol, no estado de
Roraima. Na ocasião, o representante indígena no debate atirou água no ex-capitão.
Em 2009, o PCdoB entrou com representação contra ele, por quebra de
decoro.
Reeleito em 2010 com 120.646 votos, Bolsonaro
foi candidato à presidência da Câmara e obteve 9 votos — contra 375 do
parlamentar eleito, Marco Maia, 106 de Sandro Mabel e 16 de Chico
Alencar. Em abril de 2011, criticou o que batizou de “kit gay” e
atacou o deputado homossexual Jean Willys (“Eu não teria orgulho
de ter um filho como você”). No mês seguinte, meteu-se em nova polêmica
envolvendo o projeto de lei que criminalizava a homofobia.
Em 2014, já de olho
no Palácio do Planalto e diante da recusa de Ciro Nogueira, dono PP,
em lançar sua candidatura à Presidência, filiou-se ao PSC. Como a sigla também não lhe fez a vontade, reelegeu-se mais uma vez deputado
federal (com 464 mil votos). Durante o impeachment de Dilma, dedicou
seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como
torturador durante a ditadura militar, o que lhe rendeu mais uma denúncia ao
Conselho de Ética da Câmara (dessa vez por apologia à tortura).
Em 2017, concorreu
novamente à presidência da Câmara, mas obteve míseros quatro votos (o vencedor
foi Rodrigo Maia). Ainda em 2017, sem garantias sobre o lançamento de
sua candidatura ao Planalto, cogitou de migrar para o PSDC e chegou a
assinar um compromisso de filiação ao PEN.
Em 2018, Gustavo Bebianno articulou a filiação de Bolsonaro
e filhos e ao PSL de Luciano Bivar. Na condição de pré-candidato
à Presidência, o ainda deputado se dedicou a fazer campanha Brasil afora. Sua candidatura foi oficializada em julho de 2018 e recebeu o apoio
formal do PRTB, que indicou como postulante a vice o general Hamilton
Mourão. À época, Bolsonaro ressaltou que, embora não tivesse amplas
estruturas partidárias e dispusesse de pouco tempo
de propaganda na televisão, confiava na espontaneidade dos seus apoiadores, que
se mobilizariam em plataformas digitais e viabilizariam uma campanha massiva,
mas de baixo custo.
No evento de lançamento da candidatura ao Planalto,
defendeu a fusão de ministérios, a privatização de braços da Petrobras e o fim da "indústria de multas", fazendo referência às estradas e também a órgãos
associados à defesa do meio ambiente e à fiscalização de condições de trabalho.
Foram lançadas ainda as candidaturas dos filhos 01 ao Senado e 03
à Câmara Federal (o primeiro pelo Rio de Janeiro e o segundo por São Paulo).
Nas pesquisas divulgadas ao longo de 2018, o candidato do PSL chegou
a ser apontado como o segundo na preferência dos eleitores, atrás apenas do presidiário Lula,
que ainda recorria da condição de inelegível, embora já apontasse o duble de
poste e bonifrate Fernando Haddad como seu preposto. Iniciada
oficialmente a campanha, Bolsonaro seguiu com sua agenda de
viagens pelo Brasil até ser esfaqueado, internado e submetido a uma série de intervenções cirúrgicas. O
caso teve ampla repercussão e não só colocou o candidato em evidência como lhe
serviu de pretexto para escapar dos debates televisivos.
Tendo o antipetismo como principal cabo eleitoral, Bolsonaro
confirmou sua liderança no primeiro turno (e ajudou a eleger diversos parlamentares e que o apoiaram em campanha — entre os quais os filhos Flávio Rachadinha, que conquistou uma cadeira no Senado, e Eduardo Bananinha, que passou a integrar a segunda maior bancada na Câmara Federal) e derrotou Haddad
no segundo, (com 55% dos votos
válidos) eleger.
Na condição de presidente eleito, iniciou
as tratativas para composição de seu quadro ministerial, que prometeu balizar
por critérios técnicos (e não ideológicos). Empossado em 1 de Janeiro
de 2019, defendeu ampla agenda de reformas, assumiu compromissos com o combate
à criminalidade e à ideologia de gênero, alardeou um modelo conservador e
tradicional para a "família", implementou um mote com os dizeres "Mais
Brasil e menos Brasília" e defendeu o porte de armas, o excludente
de ilicitude e o livre mercado como diretriz econômica. E deu no que deu.
Bolsonaro foi casado com Rogéria Nantes Nunes Braga Bolsonaro,
vereadora no Rio de Janeiro entre 1993 e 2001 — com quem teve os filhos Flávio,
Carlos e Eduardo, que também seguiram pelo política —, contraiu
segundas núpcias com Ana Cristina Vale, com quem teve outro filho (Jair
Renan), e, em 2007, com Michele Bolsonaro, com quem teve a menina Laura, hoje com 11 anos de idade.
No âmbito judicial, o "mito" é
investigado em seis inquéritos. O assim chamado
inquérito das fake news, que tramita no
STF, investiga um esquema de disseminação sistemática e organizada de informações falsas com o objetivo de fragilizar as instituições e a democracia. Outro inquérito (esse no
TSE) investiga ataques sem provas às urnas eletrônicas e tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro. Além disso, aliados do presidente foram
alvo de operações contra atos ofensivos à democracia e às instituições do Estado. Por último, mas não menos importante: dos cinco filhos que o capitão teve em três casamentos,
quatro são investigados pela PF (a exceção fica por conta da caçula).
FONTES: Portal da Câmara dos Deputados; Portal do
Estado de São Paulo; Portal da Folha de São Paulo; Portal O Globo; Portal
Jornal do Brasil; Portal IstoÉ; Portal Veja; Portal do Tribunal Superior
Eleitoral; Portal de notícias do Jornal Extra; Portal do El País; Portal
do jornal Estado de Minas.