A patuleia está criando uma nova narrativa vitimista sobre
a possibilidade de Lula vir a ser
preso como forma de inviabilizar sua candidatura à presidência da República em
2018.
Na versão revista e atualizada, em vez de protestar pela inocência do molusco (que a “Lista de Fachin” brindou com mais alguns inquéritos) e alardear a alegada obsessão do juiz Sergio Moro em persegui-lo ― coisa que ficou ainda mais difícil depois que vídeos das delações de Emílio e Marcelo Odebrecht e outros ex-executivos da empreiteira deixaram boquiabertos até quem tinha certeza da imprestabilidade desse pelego populista ― o que se quer agora é avaliar é o grau da democracia tupiniquim pela permissão, ou não, de Lula ser candidato.
Na versão revista e atualizada, em vez de protestar pela inocência do molusco (que a “Lista de Fachin” brindou com mais alguns inquéritos) e alardear a alegada obsessão do juiz Sergio Moro em persegui-lo ― coisa que ficou ainda mais difícil depois que vídeos das delações de Emílio e Marcelo Odebrecht e outros ex-executivos da empreiteira deixaram boquiabertos até quem tinha certeza da imprestabilidade desse pelego populista ― o que se quer agora é avaliar é o grau da democracia tupiniquim pela permissão, ou não, de Lula ser candidato.
Em sua coluna no Globo,
o jornalista Merval Pereira comenta
que o cientista político André Singer,
ex-porta-voz de Lula entre 2003 e
2007, afirmou que “(...) caso Lula possa candidatar-se, a
recomposição do tecido democrático esgarçado pelo golpe parlamentar ganha
densidade. Na hipótese contrária, a instabilidade tende a se prolongar, abrindo
caminho para saídas autoritárias”.
Essa instabilidade não se dará por uma convulsão social a
favor de Lula, mas simplesmente por
que “eleições presidenciais livres e justas” não teriam sido realizadas, e
estaríamos caminhando para um governo autoritário. O que define a legalidade da
próxima eleição, na opinião de Singer,
é a aceitação pelo Tribunal Superior
Eleitoral da candidatura de Lula.
Diz ele: “(...) Não importa, portanto,
que Lula ganhe, e sim que consiga
concorrer em igualdade de condições. Estaria, assim, garantida a chance de
alternância de poder, elemento indispensável do processo democrático”. Daí
se depreende que, na visão de Singer,
somente a presença de Lula na cédula
em 2018 garantiria a alternância de poder.
Se o PT não tem
condições de apresentar um candidato competitivo que não seja Lula, é por que não se estruturou em
torno de lideranças, mas depende do líder carismático que não deixou grama
nascer em seu entorno. Além de o mensalão
e o petrolão terem barrado todos os
potenciais sucessores na hierarquia partidária, inviabilizados pela prisão ou
por sérias denúncias, Lula escolheu
uma inexpressiva ministra para ser sua candidata ― e deu com os burros n’água,
por incompetência de Dilma e pelas
questões morais que estão sendo reveladas pelas investigações da Operação Lava-Jato.
E se não puder concorrer, vai ter que convencer seu eleitorado de que uma nova
indicação sua não será tão desastrosa quanto aquela.
Difícil acreditar no vaticínio do jurista Nelson Jobim, ex-ministro de Lula e Dilma (além de FHC) de
que, preso, Lula elege qualquer um
em seu lugar. Pelo menos Singer não
acredita nisso. Reflexo da decadência do partido diante da opinião
pública, o PT teve uma participação
pífia nas eleições municipais, ficando em décimo lugar entre os que mais
elegeram vereadores.
No mesmo sábado em que André
Singer publicou seu artigo, Dilma
repetiu a mesma asnice numa palestra em seminário organizado por alunos
brasileiros da universidade Harvard,
em Boston: impedir que Lula seja
candidato seria “mudar as regras do jogo democrático” no Brasil. Disse ela: “Me preocupa muito que prendam o Lula. Me preocupa que tirem o Lula da parada”. E ainda acrescentou:
“Não acho que o Lula tem de ganhar
ou perder. Eu acho que ele tem de concorrer. (...) Deixa ele concorrer, para
ver se ele não ganha”.
Além de dizer que as questões jurídicas envolvendo “a pessoa
física” do ex-mandatário não entram nas suas análises, Singer chega ao cúmulo de comparar a situação de Lula à de Juscelino Kubitschek após o golpe de 1964, quando “os militares, por verem JK como a volta do populismo,
cancelaram a eleição presidencial direta por um quarto de século”. Não leva
em conta que estamos em uma democracia, e em 1964 entrávamos em uma ditadura
militar. Mas seu raciocínio político é que só provaremos que estamos em uma
democracia se Lula for absolvido na
Justiça e puder disputar as eleições. Outra variável que ele despreza é que as
“questões jurídicas” não envolvem apenas a pessoa física de Lula, mas todo um esquema de
financiamento através de propina do PT
e seus aliados naquele momento histórico. Se for absolvido, ou se o
julgamento em segunda instância não acontecer dentro dos prazos legais,
permitindo que seja candidato, Lula
sairá em campanha buscando provar que continua sendo o líder mais popular do
país.
Como qualquer cidadão, Lula
terá de enfrentar uma bateria de acusações durante a campanha, e precisará ter
boas respostas. Se for condenado em segunda instância, como qualquer cidadão
brasileiro, estará inelegível, e irá para a cadeia, de onde poderá continuar
recorrendo. É por esses parâmetros legais que deve ser avaliada nossa
democracia.
BOA PÁSCOA A TODOS.
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