Depois que a denúncia de Joesley Batista rebaixou a "ponte para o futuro" de Temer ao status de pinguela (2017), os brasileiros, cansados de tanta safardanice (mas sempre vocacionados a fazer as piores escolhas), elegeram um dublê de mau militar e parlamentar medíocre (2018), cuja passagem pelo Planalto foi ainda pior que a da gerentona de araque.
UM BATE-PAPO INFORMAL SOBRE INFORMÁTICA, POLÍTICA E OUTROS ASSUNTOS.
domingo, 2 de abril de 2023
E AÍ? TUDO JOIA?
Depois que a denúncia de Joesley Batista rebaixou a "ponte para o futuro" de Temer ao status de pinguela (2017), os brasileiros, cansados de tanta safardanice (mas sempre vocacionados a fazer as piores escolhas), elegeram um dublê de mau militar e parlamentar medíocre (2018), cuja passagem pelo Planalto foi ainda pior que a da gerentona de araque.
segunda-feira, 29 de agosto de 2022
O PAÍS DO GOLPE
Despida do glamour fantasioso atribuído pelos livros didáticos, a Proclamação da República foi apenas o primeiro dos muitos golpe de Estado político-militar que aconteceram nos últimos 132 anos (entre os quais vale citar a revolução de 1930, a implantação do Estado Novo por Getúlio Vargas em 1937, a deposição de Getúlio em 1945, o golpe de 1964, e assim por diante).
Ao longo da nossa história republicana, 35 presidentes chegaram ao poder pelo voto popular, por eleição indireta, via linha sucessória ou por golpe de Estado. Oito deles, a começar por Deodoro da Fonseca — o tal que "proclamou" a república — foram de alguma maneira apeados do poder.
Da redemocratização até os dias atuais, amargamos um presidente eleito indiretamente, um literato meia-boca, um caçador de marajás de mentirinha, um baianeiro namorador, um tucano de plumagem vistosa, um retirante pobre e semianalfabeto, uma aberração travestida de "gerentona", um vampiro escalafobético e um dublê de mau militar e parlamentar medíocre.
Da feita que quem não aprende com os erros passados está fadado a repeti-los indefinidamente, duas dessas tragédias são os franco-favoritos para disputar o Planalto agora em outubro. E ainda tem gente que diz que Deus é brasileiro!
A política tupiniquim sempre foi um esgoto a céu aberto. Os candidatos se elegem para roubar e roubam para se reeleger. No Executivo, a fé se perdeu (se é que ainda restava alguma) antes mesmo da renúncia de Jânio, que pavimentou o caminho para o golpe de 1964 e os subsequentes 21 anos de ditadura militar.
A morte do primeiro presidente civil do período "pós-redemocratização" — que foi eleito indiretamente, mas representava a esperança dos brasileiros num futuro melhor — resultou no governo do eterno donatário da capitania do Maranhão — um dos mais notórios ícones da abominável política coronelista nordestina. Ao final do mandato-tampão, a impopularidade do dito-cujo era tamanha que ele se viu obrigado disputar uma cadeira no Senado pelo recém-criado estado do Amapá.
As esperanças se renovaram quando o pseudo caçador de marajás derrotou o desempregado que deu certo (ou que daria certo em 2002, quando seria eleito presidente pela primeira vez). Mas logo se percebeu que o santarrão de pau oco tinha pés de barro e não passava de um populista tão descarado quanto o adversário derrotado.
Do impeachment dessa figura desprezível — o primeiro da Nova República — resultou a gestão do tal baianeiro, que se notabilizou por posar para fotos ao lado da modelo sem calcinha Lilian Ramos e ressuscitar o Fusca, mas que também promulgou o Plano Real, cujo sucesso levou ao Planalto, por duas vezes consecutiva, ambas no primeiro turno, seu ministro da Fazenda.
Observação: Lamentavelmente, o grão-duque tucano resolveu comprar a PEC da reeleição, mas aí já não lhe restavam coelhos para tirar da cartola.
A reboque da vitória de Lula vieram o Mensalão, o Petrolão e a indicação de oito ministros do STF, cujas decisões teratológicas (não só deles nem de todos eles, vale ressaltar) fulminaram a esperança que os brasileiros depositavam no Judiciário quando nada que prestasse se podia se esperar do Executivo e do Legislativo.
Em 2012, assistimos estarrecidos — mas esperançosos — a condenação da alta cúpula do Mensalão. Em 2016, comemoramos impeachment da "gerentona de festim" e os avanços da Lava-Jato — que refrearam em alguma medida e por algum tempo o apetite pantagruélico da seleta confraria de políticos corruptos pelo dinheiro dos contribuintes.
A morte é anterior a si mesma. Ela começa muito antes da abertura da cova. Percorre um lento processo. No caso da Lava-Jato, a operação morreu sem colher os devidos louros. Foi graças a ela que, pela primeira vez desde a chegada das caravelas, o braço do Estado investigou, enjaulou e puniu poderosos da oligarquia política e econômica do Brasil.
O velório reuniu gente importante: seguravam a alça do caixão Jair Bolsonaro, o Centrão e o PT. O STF enviou uma sequência de coroas de flores enquanto preparava a última pá de cal. E ela não demorou a chegar. Ironicamente, o sepultamento da força tarefa se deu sob a batuta do mandatário que, quando candidato, prometeu combater implacavelmente a corrupção e os corruptos.
A morte às vezes funciona como um grande despertar. Mas a sociedade brasileira emite sinais de cansaço. Um cansaço que se parece com saudade de quem não teve a oportunidade de dizer adeus.
segunda-feira, 7 de novembro de 2022
DÉJÀ VU E VOTO DE CONFIANÇA
As perspectivas alvissareiras de 2018 eram pura quimera, mas o eleitorado tupiniquim, sempre pronto a fazer as piores escolhas, reencenou uma versão revista e atualizada daquele pleito plebiscitário, achando que a melhor maneira de produzir um acerto é insistir no erro.
Talvez tenhamos a chance de despejar no esgoto da história um mandatário truculento e golpista, que criou um Estado de Emergência fajuto para meter a mão no dinheiro público e um famigerado orçamento secreto para garantir sua reeleição (que acabou por não acontecer). Lula se apresenta como remédio capaz de curar essas feridas, mas, de novo, já vimos esse filme antes.
Em 2018, quando Bolsonaro derrotou o preposto do petista por uma diferença de 10,8 milhões de votos válidos, houve gritos, fogos, panelaços e buzinaços. Não me recordo de bloqueios em rodovias nem de manifestações golpistas, pedidos de intervenção militar e de fechamento do STF. Mas quem observa desde o resultado das urnas os protestos dos sectários do imbrochável conclui que os manifestantes fizeram papel de bobos. Um aperto de mãos entre Bolsonaro e Alckmin deu ao início da transição um toque de normalidade que não orna com a baderna das ruas. Na descrição do vice-presidente eleito, o ainda presidente vai se empenhar para que a transição seja "pautada pelo interesse público". Será?
O Brasil já viveu muitas transições, cada uma com sua peculiaridade. Mas todas têm algo em comum: as boas intenções políticas do presidente eleito diminuem conforme o dia da posse se aproxima. Em campanha, Lula chamou o orçamento secreto de "maior bandidagem já feita em 200 anos". Acusou o presidente da Câmara, de "comprar os votos dos deputados" com o propósito de fazer "desgraceiras". Eleito, avaliza acertos que podem manter o que chamou de "bandidagem", numa negociação com o rei Arthur.
A perversão orçamentária de Bolsonaro leva o petista a iniciar o seu governo antes da posse. O Orçamento federal de 2023 não tem verbas para o Bolsa Família em R$ 600 nem para merenda escolar, farmácia popular, manutenção de estradas e fiscalização ambiental. Embora destelhado e desmoralizado, o teto de gastos ainda existe formalmente. Para ser furado em cerca de R$ 200 bilhões, o futuro presidente precisa da ajuda do Centrão. Mas Lira pede em troca a manutenção do orçamento secreto e neutralidade de disputa pela presidência da Câmara em fevereiro. Até o aliado Renan Calheiros estranha a rapidez da rendição: "É uma barbeiragem", disse ele. "O Centrão já não cabe no orçamento."
quinta-feira, 15 de abril de 2021
SOBRE A FICHA SUJA DE LULA, A CPI DA COVID E OUTRAS QUESTÕES
O plenário do STF
ficou de discutir na
tarde de ontem a decisão monocrática do ministro-relator da Lava-Jato, que agasalhou
a tese esposada pela defesa do ex-presidiário Lula sobre a incompetência
da 13ª Vara Federal do Paraná para
julgar os processos sobre o tríplex no
Guarujá e o sítio em Atibaia — além
outras duas ações que estavam em fase de instrução quando o ministro Luís Edson Fachin anulou todos os atos
processuais e determinou
a remessa dos autos para a Justiça Federal do DF. Considerando a
relevância do tema, a grandiloquência de alguns togados supremos (casos
clássicos de irremediável paixão pelo
som da própria voz), e o fato de o julgamento sobre o
caso ser precedido pela discussão sobre a abertura da CPI da
Covid no Senado (por decisão monocrática do ministro Luís Roberto Barroso), é possível que o
julgamento não seja concluído numa única sessão — note o leitor que estou
redigindo este texto na manhã de quarta-feira, e a abertura dos trabalhos no
plenário virtual está prevista para as 14h.
Atualização (quarta, 16h45): Por maioria, o plenário manteve a decisão do ministro Barroso, que proferiu brevemente seu voto. Depois disso, o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, perguntou aos pares se eles concordavam com a decisão. Apenas o decano divergiu da forma como foi procedido o julgamento e preferiu não se manifestar sobre o mérito; os demais acompanharam a posição do relator. Neste momento a corte se encontra em recesso. (Quinta, 7h00): Quanto ao agravo contra a decisão de Fachin que anulou as condenações de Lula, o presidente Luiz Fux fatiou o julgamento em três partes e, graças à parlapatice de alguns magistrados (notadamente Gilmar Mendes, o “rei do Judiciário”, Marco Aurélio, o “novo decano”, e Lewandowski, o “militante petista que vestiu a toga por cima da farda”), discutiu-se apenas se o caso deveria ser levado ao plenário e decidiu-se por 9 votos a 2 (vencidos Lewandowski e Marco Aurélio) que o julgamento cabe ao colegiado. A sessão foi longa e cansativa, sobretudo por conta das repetições desnecessárias do professor Lewandowski, que lecionou sobre como deve proceder um militante petista, e Mendes, que ensinou como deve agir quem quer cometer o pecado da "soberba" — que deixou de figurar na lista dos pecados mortais devido a mudanças promovidas pelo papa Bento XVI, mas enfim... Por outro lado, valeu a pena ver Fux se esforçar para manter o controle diante das patacoadas de Lewandowski e Marco Aurélio e ouvir os votos de Barroso e (surpreendentemente) da nem sempre corrente Rosa Weber. As demais fatias da pizza serão degustadas na tarde de hoje, digo, as demais etapas do julgamento serão vencidas na tarde de hoje (caso o imprevisto não tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, naturalmente).
No caso específico do ex-presidente corrupto, os ministros
julgarão um agravo regimental interposto pela PGR
contra a decisão monocrática de Fachin no pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de Lula. Se o apelo
for rejeitado, as duas condenações permanecerão anuladas, e o ex-presidiário,
de olho na disputa presidencial de 2022, continuará vendendo aos eleitores
menos esclarecidos a narrativa estapafúrdia em que posa de vítima da “maior
mentira jurídica já contada na história deste país” e gritando aos
quatro ventos que a Justiça finalmente reconheceu o que seus advogados vinham
dizendo desde sempre: “o presidente
Lula é inocente”. Demais disso, o plenário se deburçará sobre e aquestão da suspeição de
Sergio Moro no caso do tríplex, que foi reconhecida
pela 2ª Turma no final do mês passado (se restar confirmado que Moro não era o juiz competente para
julgar Lula, o habeas corpus que
questiona sua imparcialidade no caso do tríplex perde o objeto, ou seja, deixa de fazer sentido).
Se a maioria vote derrubar a liminar
concedida por Fachin, três dos
quatro processos de Lula voltarão à
situação anterior — entre eles o do sítio, que já teve a condenação confirmada em segunda instância. Caso isso
ocorra, o petralha volta a ser ficha-suja
e estará impedido de disputar pessoalmente a presidência em 2022 (para o gáudio de Bolsonaro, que,
em tese, teria mais chances se reeleger se enfrentasse novamente o patético
bonifrate do sumo pontífice da seita do inferno).
Vale ressaltar que a anulação do processo do tríplex decorreu
da decisão da 2ª Turma, que reconheceu
a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro
(por 4 votos a 1, vencido o ministro Fachin).
Se a decisão de Fachin sobre a
incompetência da JF do Paraná for anulada
pelo plenário, o processo do tríplex volta à fase de instrução, mas em
Curitiba, sob a pena do juiz Luiz
Antônio Bonat. No entanto, ainda que reste confirmada a competência da JF do
DF, a ficha momentaneamente limpa de Lula voltaria a ser suja caso o juiz
que ficar responsável pelo processo sítio
em Atibaia receber a ação já na etapa de proferir a sentença — isso não se
aplica ao caso do tríplex porque o processo terá de ser retomado desde o início,
a menos que a decisão sobre a parcialidade de Moro seja revista. Como se vê, são como os elos de uma corrente, diferentes
entre si, mas interligados uns com os outros.
Observação: Segundo
Fachin, sua decisão se deveu ao fato
de o STF ter decidido que só devem
ser julgados em Curitiba processos oriundos da Lava-Jato que tenham a ver diretamente com o Petrolão. Na decisão de março, Fachin
disse que a conduta criminosa atribuída a Lula
“não era restrita à Petrobras, mas a
extensa gama de órgãos públicos em que era possível o alcance dos objetivos
políticos e financeiros espúrios”, razão pela qual “o caso não se amolda ao que veio sendo construído e já decidido no
âmbito do Plenário e da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal a respeito da
competência da 13ª Vara Federal de Curitiba, delimitada, como visto,
exclusivamente aos ilícitos praticados em detrimento da Petrobras”.
Mudando de um ponto a outro, a criação de narrativas estapafúrdias
com o intuito de acirrar uma militância radical, cega pelo fanatismo político-ideológico,
não é uma exclusividade do deus pai da Petelândia. O candidato que apoiamos
para evitar a volta do lulopetismo corrupto em 2018 nunca foi o presidente com
que sonhávamos, mas jamais imaginamos o pesadelo kafkiano que se tornaria esta banânia
sob a égide do bolsonarismo boçal. Em seu estelionato eleitoral, o dublê
de mau militar e parlamentar medíocre
desmanchou-se em promessas de campanha que jamais pretendeu cumprir ou que não
pode cumprir devido a circunstâncias adversas. Propor uma PEC para elidir da
Constituição o nefando instituto da
reeleição presidencial é um bom exemplo das falácias de palanque que se
encaixam no primeiro grupo. Aliás, Bolsonaro
jamais desceu do palanque; tudo que ele fez ou deixou de fazer desde a posse
teve como objetivo tornar realidade o sonho da reeleição, a despeito de ter
afirmado mais de uma vez que “não nasceu para ser presidente, nasceu para
ser militar”.
Observação: Ao
contrário do que muitos afirmam, Bolsonaro
não foi expulso do Exército, embora tenha sido excluído dos quadros da Escola
de Oficiais por indisciplina e
insubordinação. Segundo o coronel Carlos Alfredo Pellegrino, o hoje presidente tentava liderar
oficiais subalternos, mas não conseguia pela “falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus
argumentos”. No julgamento do STM,
foi acusado de ter “grave desvio de
personalidade”, mas a aversão dos fardados pela imprensa contribuiu de
maneira decisiva para sua absolvição das acusações. qualificado de “caso completamente fora do normal,
inclusive mau militar” pelo general Ernesto Geisel (o penúltimo presidente-ditador dos 21 anos de
ditadura militar).
Bolsonaro travestiu-se
de defensor incondicional da Lava-Jato
e escalou Sergio Moro para avalizar essa
falácia. Só que ninguém sobrevive durante 28 anos no baixo clero da Câmara sem
esconder sabe Deus quantos esqueletos no armário do gabinete parlamentar, e
eguns mal despachados têm o mau hábito de voltar para assombrar... Enfim,
bastou virem a lume os indícios de rachadinha no gabinete do filho Zero Um na Alerj e as movimentações
financeiras suspeitas de seu ex-chefe de gabinete, Fabrício Queiroz. O mesmo Queiroz que era unha e carne com o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, suposto chefe do grupo de assassinos
profissionais Escritório do Crime e de
uma milícia no Rio, denunciado na Operação Intocáveis e fuzilado por policiais militares da Bahia em
fevereiro do ano passado (maldade sua achar que foi queima de arquivo).
O mesmo Queiroz que ficou desaparecido
durante mais de um ano até ser preso num imóvel em Atibaia (o fato de se tratar do mesmo município onde fica o folclórico
sítio de Lula é mera coincidência)
pertencente a Frederick Wassef,
dublê de mafioso de comédia e advogado de Zero
Um no inquérito das rachadinhas. Fred se
jactava de ser consultor jurídico da Famiglia
Bolsonaro e de ser próximo do Presidente. Com a prisão de Queiroz, tornou-se suspeito de ser o “Anjo” que vinha protegendo tanto o ex-assessor
quanto a esposa e outros familiares do dito-cujo, todos partícipes de um
esquema cujas peças iam aos poucos se encaixando,
mas aí a tropa de choque do Planalto entrou em cena e... Amanhã eu conto o
resto — ou não sobra tempo nem espaço para tecer mais alguns comentários sobre
o assunto do dia, da semana e, quiçá, do mês.
A folclórica, prosaica e quase inacreditável tropa de choque
de JB (falo não do famoso scotch,
mas sim do não menos famoso despresidente segundo o qual o Brasil “tem que deixar de ser um país de maricas
e enfrentar o vírus de peito aberto”) ultrapassou todos os limites da
desfaçatez ao argumentar que a CPI da
Covid não pode funcionar senão depois que todos estiverem vacinados. Não é
gozação, não. Essa torrente de cinismo brotou ao vivo e em cores da boca do líder
de Bolsonaro no Congresso, no bojo
de uma questão de ordem que esse senador apresentou durante a sessão virtual da
última terça-feira. “Enquanto não
tiver condição de funcionar com pessoas imunizadas, peço que a CPI não possa
funcionar presencialmente”, declarou o obelisco da desfaçatez. O
senador Randolfe Rodrigues, autor do pedido de CPI, devolveu de bate-pronto: “Na
velocidade que a vacinação está hoje no Brasil, só teremos pessoas adultas
imunizadas, em uma hipótese otimista, até dezembro ou janeiro do ano que vem.”
A esse ponto o governo chegou, pontua Josias de Souza com o humor ácido que se tornou sua marca registrada.
Num instante em que o brasileiro morre nas filas de UTI, diz o jornalista, a
escassez de vacinas, flagelo a ser investigado pela CPI, virou pretexto da tropa do capitão para matar o tempo. Em
minoria na comissão, o governismo adere
à política do isolamento social para tentar se reposicionar em cena.
Futuro integrante da CPI,
o senador amazonense Omar Azis fez
uma intervenção cirúrgica: “Os
senadores que não querem que instale a CPI agora, querem aguardar o momento
adequado. No momento adequado, teremos 500 mil mortes, 600 mil mortes no
Brasil, porque o que estou vendo é que estão querendo protelar.”
Hoje, a pilha de cadáveres, monumento que o vírus ergueu
para imortalizar a inépcia, a incompetência e a mais absoluta falta de
absolutamente do desgoverno Bolsonaro,
roça a marca de 360 mil. Se fosse um presidente lógico, sua alteza irreal chamaria
sua tropa para repetir uma de suas célebres frases: “O vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem,
porra. Não como um moleque.”
Ou Bolsonaro
reage, ou a estratégia do governo no Senado vai acabar transformando sua tragicômica
gestão numa espécie de paródia de si mesma — uma pantomina estrelada pelos “maricas” da turma do 'fique em casa'.”
terça-feira, 30 de novembro de 2021
O AMOR É LINDO
Ensina o "Pai da
Psicanálise" que um mecanismo de projeção resulta na incapacidade que
algumas pessoas têm de reconhecer os próprios erros, falhas e deficiências de
forma mais ampla. Em outras palavras: para essas pessoas, todos têm defeitos,
menos elas. O que nos leva ao psicopata que, graças a um pacto com Belzebu,
continua entrincheirado no Palácio do Planalto, terminando alegremente a destruição
que Dilma começou, mas não teve tempo de concluir.
A criatura em questão, que tenta vender a imagem de homem
forte, viril, imune à corrupção — em suas próprias palavras, "imorrível,
imbrochável e incomível" (faltou dizer "intragável",
"insuportável", "indigerível", mas esses são "os
outros") — traiu o eleitorado fazendo, na Presidência, tudo que condenou,
quando candidato.
Para se eleger Presidente, o dublê de mau militar e
parlamentar medíocre renegou o "Centrão". Agora, para se
manter presidente, retorna às origens, amancebando-se justamente com o
principal expoente da "velha política", a caterva que esteve no
centro (sem trocadilhos) dos principais escândalos de corrupção das últimas
décadas — da compra de votos para aprovar a PEC da Reeleição, no
primeiro mandato de FHC, ao mensalão e o petrolão, nas gestões do
parteiro do Brasil Maravilha e da aberração que lhe sucedeu.
O Centrão nasceu no alvorecer da redemocratização e
teve como pais fundadores uma escumalha egressa dos partidos que apoiavam a
ditadura — como o PP (hoje comandado por Ciro Nogueira e Arthur
Lira) e o PFL (que virou DEM e, mais recentemente, juntou os
trapos com o PSL, dando origem ao União Brasil).
Posto isso, é possível (e até provável) que nosso indômito morubixaba
venha a se sentir totalmente à vontade na casa nova, feliz como um pinto no
lixo. O "mito" dos atoleimados, que subiu no palanque para vituperar
a "velha política" e se elegeu graças ao repúdio ao lulopetismo
corrupto, torna-se agora (ou volta a ser) um obelisco do "é dando que se
recebe".
Em 1979, o escritor austríaco Johannes Mario Simmel publicou
o romance "NINGUÉM
QUER UM CORAÇÃO". Se ainda fosse vivo — e se interessasse pela abjeta
política canarinha —, poderia escrever "NINGUÉM QUER UM PRESIDENTE",
inspirado naquele que transformou em superpartido a agremiação nanica da pela
qual se elegeu e dela se desfiliou um ano depois da eleição, devido a conflito$
de intere$$e, e que tentou fundar seu próprio partido — o natimorto "Aliança
pelo Brasil" —, mas morreu na praia, com menos de 1/3 das assinaturas
necessárias.
Aos 66 anos de idade e com a popularidade abaixo dos 20% (pela
primeira vez em sua desditosa gestão), o "mito" dos atoleimados vê no
espelho o rascunho do mapa do inferno e é atormentado pelos fantasmas que
assombram políticos que perdem a credibilidade. Recentemente, a notícia de uma
suposta traição conjugal (com um bombeiro, mas que não era o Cabo Daciolo)
expôs a fragilidade do "imbrochável pero no mucho".
Ainda de acordo com o pensamento freudiano, tendências projetivas
se desenvolvem de maneira forte nos tipos paranoicos, que veem conspirações em
toda parte e defeitos em todo mundo (menos neles próprios).
Num país normal e em condições normais, o pesadelo de
conviver mais quatro anos com o pior mandatário desde a redemocratização desta
banânia seria uma piada de mau gosto, e o protagonista da anedota já teria sido
expelido do cargo e sepultado sob a lápide do ostracismo. Mas nem nós vivemos em condições normais, nem
o Brasil é um país normal... Acha que exagero? Então veja mais esta:
Senadores do PT, que vinham trabalhando para
que Rodrigo Pacheco disputasse a vice-presidência
tendo o demiurgo de Garanhuns como cabeça de chapa, agora defendem a aliança
com o quase ex-tucano e eterno picolé de chuchu Geraldo Alckmin. Para
essa casta, a chapa Lula/Alckmin não só traria mais votos, como passaria
uma mensagem de "união dos adversários históricos".
É fato que urge unir forças para “resgatar” e “recuperar” o
Brasil, hoje nas mãos de Bolsonaro, mas a solução dificilmente estaria em
apoiar uma chapa surreal, composta por um petralha amancebado com um ex-tucano.
Cada qual escolhe a corda com que quer se enforcar. Quanto a Lula, eu não sei,
mas Alckmin... enfim, o funeral é dele.
Observação: Como informou O GLOBO, o ex-governador de São Paulo ouviu
um apelo de dirigentes de centrais sindicais para que ofereça o dedo à aliança
com o molusco eneadáctilo, como deve fazer Jair Bolsonaro com Valdemar Costa
Neto, agora à tarde, enquanto se comemora em Brasília o "dia do evangélico".
O amor não é lindo?
sexta-feira, 14 de abril de 2023
O PAI E OS FILHOS DO PAI
A um mês das eleições do ano passado, questionado sobre acusações de corrupção após o levantamento patrimonial realizado pelo UOL, o então presidente defendeu sua família. Durante uma entrevista à Jovem Pan, a jornalista Amanda Klein relembrou os casos das rachadinha nos gabinete de Flávio e Carlos, comentou que o próprio mandatário era suspeito de manter funcionários fantasmas em seu gabinete na Câmara Federal, que Zero Um havia negociado 20 imóveis nos últimos 16 anos — entre os quais uma mansão de R$ 6 milhões —, que a mãe de 04 morava com o filho em outra mansão, avaliada em R$ 3 milhões. O entrevistado classificou as acusações de "levianas" e disse não saber da vida econômica de suas ex-mulheres. Sobre o primogênito, disse que o menino de ouro comprou os imóveis na planta "por uma micharia por mês" e os vendeu com lucro logo depois.
No livro O NEGÓCIO DO JAIR, a jornalista Juliana Dal Piva descreve passagens bastantes sugestivas. Segundo ela, às vésperas da sabatina do "desembargador tubaína" para a vaga do decano Celso de Mello no STF, Bolsonaro tomou conhecimento da denúncia criminal protocolada no TJ-RJ contra seu filho Flávio, acusado de desviar R$ 6,1 milhões dos cofres públicos do estado, e que tentou de todas as maneiras evitar que o rebento fosse denunciado. Ainda segundo a jornalista, 811 dias se passaram até que os procuradores concluíssem a investigação e acusassem o pimpolho de reter 90% dos salários de seus funcionários — dinheiro que Fabrício Queiroz (de quem já não se ouve mais falar) usava para pagar despesas pessoais do então deputado, comprar imóveis e "lavar" o que sobrava através de uma franquia da Kopenhagen.
Ao longo de mais de dois anos de investigações, as provas se avolumaram a tal ponto que tinham de ser deslocadas pelos corredores do MP-RJ em um carrinho. A prerrogativa de investigar um presidente em exercício compete exclusivamente à PGR (e Augusto Aras jamais demonstrou tal intenção), mas as investigações evidenciaram sobejamente o papel de Bolsonaro no esquema, e que, para além do mandato do filho, estava em jogo a revelação de uma face pouco conhecida do clã presidencial. Em meio à papelada sobe Flávio Bolsonaro, afloraram indícios que conectavam o esquema aos três casamentos do pai, a outros três filhos, a dezenas de parentes, ao patrimônio da Famiglia e a proximidade de todos eles com o ex-capitão do Bope e miliciano Adriano da Nóbrega.
Ainda segundo Dal Piva, todas as pessoas próximas ao clã estavam associadas, de um jeito ou de outro, a um esquema que os próprios participantes chamavam de "O Negócio do Jair", e que lhes permitiu forjar um estilo de vida e uma imagem pública que levariam o pater famílias — um mau militar e parlamentar medíocre — ao Palácio do Planalto. A jornalista relembra que o escrutínio da imprensa em relação a candidatos — uma tarefa básica da imprensa — desagradava o capitão.
A Folha publicou uma série de reportagens mostrando que Bolsonaro e filhos construíram um patrimônio de R$ 15 milhões; que o então deputado recebia "auxílio-moradia" (embora fosse dono de um apartamento em Brasília); que mantinha entre seus assessores uma tal de "Wal do Açaí́", que cuidava de sua casa de praia e de seus cachorros em Angra dos Reis (RJ). Um exame mais acurado levou Dal Piva à conclusão de que Wal não era a única assessora parlamentar em situação irregular, e que os "filhos do pai" reproduziam seu modus operandi, empregando parentes de Ana Cristina Valle, segunda ex-mulher do capitão, mãe de Zero Quatro e personagem essencial e complexa dessa tragicomédia.
sábado, 3 de outubro de 2020
VAMOS DE BEM A MELHOR...
Longe de mim querer abusar da paciência do leitor relembrando (mais uma vez) a fatídica conjunção de fatores levou esse dublê de mau militar e parlamentar medíocre a obter quase 58 milhões de votos, mas não posso me furtar a comentar o que o dito-cujo disse, mais de uma vez e com todas as letras: “não nasci para ser presidente, mas sim para ser militar.”
Bolsonaro parafraseava o último general-presidente da ditadura militar, naturalmente, que certa vez proferiu a seguinte pérola: “estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se me sairei bem, pois gosto mesmo é de clarim e de quartel". Mas até aí, nada de mais, pois “plagiar é, implicitamente, admirar”, como ensinou o intelectual lusitano Júlio Dantas. A pergunta que não quer calar é: se não nasceu para ser presidente, então por que diabos Bolsonaro fez da reeleição seu único projeto de governo?
“Prometo que, se eleito, vou trabalhar noite e dia, durante os quatro anos do meu mandato… para ser reeleito”, teria sido a promessa mais sincera e verdadeira do então candidato, como bem destacou o ex-delegado federal Jorge Pontes em artigo publicado recentemente no site de Veja.
Lula, relembra o policial, justificava seus tropeços culpando a herança maldita deixada por FHC. Já Bolsonaro, eleito com juras de grandes mudanças e discursos anti-establishment, enfiou em local incerto e não sabido suas bandeiras de campanha, inclusive a de propor o fim do instituto da reeleição, e vem concentrando todos os seus esforços em conseguir um segundo mandato em 2022.
A exumação da CPMF, independentemente do nome com que
venha a ser recriada, integra o acervo do museu de grandes novidades em que se
transformaram as arrojadas promessas para a área do Posto Ipiranga. O
velho provérbio latino “parturiunt montes, nascetur ridiculus mus”
calça como uma luva no superministro que, em 2019, quando ainda não havia coronavírus
para culpar por suas mazelas, prometeu um pibão e entregou um pibinho. A exemplo
do morubixaba, o pajé da economia é muito peido e pouca bosta.
No jargão jornalístico, a expressão balão de ensaio remete
a informações vazadas com o propósito de verificar de antemão possíveis efeitos
de uma determinada medida. Trata-se de prática é recorrente na administração
pública e da qual Bolsonaro é adepto, seja para mandar “heads up”
a subordinados, seja para avaliar a reação de seus apoiadores de raiz a um determinado
projeto.
Paulo Guedes também é fã de balões de ensaio, mas não
foi o caso de sua fala sobre usar precatórios para financiar o projeto
populista-eleitoreiro do chefe. A coisa era pra valer, e só não foi adiante
devido à reação do mercado — reação essa que, convenhamos, alguém com a experiência do ministro
deveria ter previsto. A menos que ele venha emburrecendo por simbiose, devido à
convivência com... bom, deixa pra lá. Fato é que o sucesso tem muitos pais, mas
o fracasso é espúrio. O Posto Ipiranga tentou dar a impressão de que tudo
não passava de "um estudo", mas três coisas nesta vida são
absolutamente irreversíveis: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a
oportunidade perdida.
A iniciativa de criar um novo imposto antes das urgentes e imprescindíveis reformas tributária e administrativa sempre fedeu a populismo eleitoreiro. Ainda nascituro, o tributo já foi carimbado para projetos sociais, destinado a gerar caixa para gastos com auxílios e bolsas disso e daquilo — programas pseudo-assistenciais ao estilo do lulopetismo e à semelhança do Bolsa Família, tudo com o propósito de manter em alta a popularidade conquistada com o corona voucher, notadamente nas regiões nordeste e norte. Para quem até pouco tempo atrás se referia aos nordestinos como “paraíbas”, Bolsonaro sofreu uma metamorfose impressionante. Mas sua "falta de absolutamente" é assustadora.
Mudando de um ponto a outro, tudo indica que o STF terá de esperar a aposentadoria do segundo Mello para para ter entre seus membros um togado “terrivelmente evangélico”, como prometeu diversas vezes o Messias que não miracula.
Em recente incursão pelo Olimpo — morada do semideus togado que Augusto Nunes (ou teria sido José Nêumanne?) alcunhou jocosamente de Maritaca de Diamantino, e que já desfrutava da excelente companhia do Maquiavel de Marília segundo Nêumanne (nesse caso eu tenho 100% de certeza) —, Bolsonaro arrastou consigo o desembargador piauiense Kássio Nunes Marques, seu indicado para uma vaga que sequer existe.
O ministro Celso de Mello se aposenta no dia 13. Mesmo considerando o final de semana e o feriado do próximo dia 12, o decano continuará ocupando a cadeira que é sua por direito até a próxima sexta-feira, 9. Em outras palavras, o defunto nem esfriou e já o estão despindo e disputando suas vestes.
O futuro togado segundo Bolsonaro é católico, mas não necessariamente alinhado com pautas conservadoras nos costumes. Só que tem Q.I. (de "quem indicou"). Ele conta com o apoio do conterrâneo Ciro Nogueira, deputado de grosso calibre e alto quilate, dono do PP e ex-aliado do PSDB, de FHC, do PT de Lula e Dilma e do MDB do vampiro do Jaburu, além de investigado na Lava-Jato.
Ao escolher Marques para o lugar de Celso de Mello, o general da banda consolidará a 2.ª Turma como túmulo da Lava-Jato. Isso porque Toffoli, ao transferir para Luiz Fux o cetro e a coroa dos togados, passou a ocupara a poltrona que o colega ocupava na 1.ª Turma antes de suceder-lhe na presidência. Já se pensava e urdir uma maracutaia para levar o Maquiavel de Marília à 2.ª turma, mas a manobra será desnecessária se o lugar do decano for ocupado pelo futuro recém-togado.
Marques formará com Mendes e Lewandowski
o triunvirato dito "garantista" na Segundona, ressalta Josias de
Souza. E sem a perspectiva de encostar seus votos no balão de oxigênio que
enxergam no decano, Fachin e Cármen Lúcia passariam a viver em
estado crônico de minoria.
O "garantismo" atribuído a Gilmar, Lewandowski e, agora, também ao futuro novato, comporta dois tipos de interpretação: num, como garantia de que os réus serão tratados nos limites do devido processo legal; noutro, como eufemismo para complacência com malfeitores amigos.
Encontra-se
na fila da 2.ª Turma, por exemplo, o julgamento do pedido de suspeição
que a defesa de Lula formulou contra o ex-juiz Sergio Moro, com
o propósito de anular a condenação de seu cliente no caso do tríplex.
Fachin e Cármen já votaram contra a anulação
da sentença do caso do tríplex. Gilmar e Lewandowski devem votar
a favor. Nesse cenário, Kássio representaria o derradeiro prego no
caixão.
quinta-feira, 12 de agosto de 2021
PRIMEIRO FOI A CLOROQUINA. DEPOIS O VOTO IMPRESSO. QUAL SERÁ A PRÓXIMA CORTINA DE FUMAÇA?
Atribui-se a Aristóteles a divisão do
Estado em três poderes independentes, e a Montesquieu a
tripartição e as devidas atribuições do modelo mais aceito atualmente. A ideia,
diga-se, é não deixar em uma única mão as tarefas de legislar,
administrar e julgar. Isso porque a concentração
de poder tende a gerar abusos, e um poder que se serve em vez de servir é um
poder que não serve.
Bolsonaro não "criou" o tensionamento entre
os Poderes, como Lula não "inventou" a corrupção. Por outro
lado, o ex-presidente presidiário, ora promovido a "ex-corrupto", institucionalizou a roubalheira em prol de seu espúrio projeto de poder, e o dublê de mau militar e parlamentar medíocre — que elegemos
justamente para evitar a volta do lulopetismo corrupto — vem "esticando a
corda" para além do admissível.
Na manhã da última terça-feira, a Praça dos Três Poderes foi palco de uma inusitada blindadociata — o neologismo deriva das "motociatas" (sete até agora) que Bolsonaro vem promovendo desde o segundo domingo de maio.
O comboio de blindados partiu do Rio de Janeiro com destino ao Campo de Instrução de Formosa, onde é realizado anualmente, desde 1988, a Operação Formosa — o maior treinamento militar da Marinha do Brasil no Planalto Central. A novidade é que, neste ano, a operação contará pela primeira vez com a participação do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira.
Foi também a primeira vez que os fardados "aproveitaram
que estavam nas cercanias de Brasília" para entregar nas mãos do presidente
da República e do ministro da Defesa os convites para comparecerem à Demonstração
Operativa que ocorrerá no próximo dia 16. Nada mais natural, portanto, que adentrassem a Praça dos Três poderes com veículos blindados, armamentos e
outros meios da Força de Fuzileiros da Esquadra. E o fato de o episódio ter ocorrido
justamente no dia da votação da PEC do voto impresso no plenário
da Câmara foi apenas uma coincidência.
Bolsonaro exsuda suspeitas de fraude eleitoral desde o tempo em que Dondon jogava no Andarahy, e as atribui às urnas eletrônicas. Curiosamente, desde1996, quando o voto eletrônico foi implementado no Brasil, o capitão e sua digníssima prole disputaram (e venceram) 20 eleições. A única derrota de um membro do clã ocorreu em 2016, quando o então deputado e hoje senador Flávio "Rachadinha" Bolsonaro concorreu à prefeito do Rio de Janeiro.
Até as emas do Alvorada sabem que a implicância de Bolsonaro com o sistema eleitoral não passa de
um jogo de cena (que já está ficando enfadonho) visando desviar o foco da sociedade,
da mídia e dos adversários de sua mediocridade como gestor, das
entranhas pútridas do seu governo e da podridão que cerca "o presidente que acabou com a Lava-Jato porque
não havia mais corrupção". Que o diga a CPI do Genocídio.
Observação: Dos cinco filhos do capitão, somente a caçula
(de 11 anos) não é alvo de investigações. Afora o célebre caso
de Zero Um e as rachadinhas, a PF e o Ministério
Público apuram
suspeitas contra Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renan Bolsonaro,
que incluem tráfico de influência, contratação de funcionários fantasmas e
envolvimento na organização de manifestações que pediram o fechamento
de instituições como o Congresso e o Supremo.
Em que pese a evidente tentativa de intimidação, o plenário da Câmara exorcizou o egum mal despachado do "voto impresso auditável". O placar foi de 283 votos contrários e 229 a favor. Houve 64 ausências e 1 abstenção.
Observação: Para a aprovação de Propostas de Emenda Constitucional (PECs), o artigo 60, § 2 º da Constituição Federal diz que (a proposta) "será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros". Assim, seriam necessários 308 votos dos 513 deputados e 49 votos dos 81 senadores (em cada um dos turnos).
Como os próprios parlamentares governistas reconheceram, "quem não votou tinha plena consciência de que sua ausência seria computada para rejeitar a PEC". Como o governo recebeu apenas 229 votos, os outros 283 deputados se manifestaram contra o voto impresso: 218 + 1 + 64. Até porque, com a votação híbrida, todos podiam votar remotamente. “Não precisava a presença física no plenário. Então, não há mais essa desculpa. O deputado ausente só fez isso para se proteger das pressões do Planalto”, observou um integrante da mesa diretora da Câmara.
Além do desfile da Marinha com tanques, o Planalto usou de todas as armas para intimidar deputados:
telefonemas, ameaças com bloqueio de emendas, ataques nas redes sociais e até
em mensagens de WhatsApp e até pressão de pastores evangélicos. Mesmo com toda essa mobilização, o placar explicitou um governo
completamente esvaziado.
Vale lembrar que a PEC havia sido rejeitada na comissão especial da Câmara, no último dia 5, por 23 votos a 11. Mesmo assim, o deputado réu que Bolsonaro fez presidente da Casa do Povo decidiu submetê-la ao plenário "pela tranquilidade das próximas eleições". A oposição classificou a decisão de Lira como "insanidade". A deputada Talíria Petrone, líder da bancada do PSOL na Câmara, chegou a postar que "Lira e Bolsonaro são a mesma coisa". Talvez assista razão à parlamentar psolista.
O presidente da Câmara justificou a decisão de levar a PEC ao plenário para "encerrar de vez o assunto, virar a página", confiando na promessa de Bolsonaro de aceitar o resultado da votação. "Não acredito que haja outro comportamento por parte do presidente Bolsonaro. Como eu disse, ele disse que respeitaria, e eu acredito, o resultado do plenário da Câmara dos Deputados", disse ele. Minutos depois, insistiu em mudanças no sistema de votação e defendeu que os poderes se unam para encontrar uma alternativa.
Para surpresa de ninguém, nem bem a sessão na Câmara havia sido encerrado e Bolsonaro já dizia que o resultado das eleições do ano que vem não será confiável. "Números redondos: 450 deputados votaram ontem [terça-feira]. Foi dividido, 229 [a favor], 218 [contra], dividido. É sinal que metade não acredita 100% na lisura dos trabalhos do TSE. Não acreditam que o resultado ali no final seja confiável".
Bolsonaro está em permanente pé-de-guerra com os adversários (a quem vê como inimigos) e com as instituições. Sua cruzada pelo "voto impresso e auditável" e as incontáveis afirmações de que o sistema é inseguro e, portanto, que as eleições passadas foram fraudadas, são uma mistura de fake news, pós-verdades e teorias da conspiração.
Não há problema em defender uma tese como a do voto impresso numa democracia. O problema consiste em ameaçar essa mesma democracia e as eleições vindouras se sua tese não for vitoriosa.
De cagada em cagada, o cagão se encaminha para uma situação de esvaziamento. Ao terceirizar o governo para o Centrão, o presidente de fancaria assumiu o papel de espantalho do Planalto. Não há absolutamente nada em sua desditosa gestão que lhe sirva de legado. Seu único projeto sempre foi, é e continua sendo a reeleição. Cada vez mais improvável, vale dizer.
Resta saber o que Bolsonaro tirará da cartola para substituir o voto auditável (e a cloroquina antes dele) como forma de desviar a atenção de sua imprestabilidade chapada e da podridão que o carca.
A ver qual será ― e quando ocorrerá ― a próxima crise institucional.
quarta-feira, 30 de novembro de 2022
UM PAÍS DE CABEÇA PARA BAIXO
A dicotomia semeada por Lula, regada pelos tucanos e estrumada por Bolsonaro transformou a eleição presidencial de 2022 numa reedição piorada do pleito de 2018. Derrotado nas urnas, o "mito" dos descerebrados se fechou em copas. Na tarde do dia 1º, ele tartamudeou meia dúzia de palavras e voltou a se encastelar no Alvorada. Se os brasileiros tivessem vergonha na cara, esse senhor já teria sido demitido por abandono de emprego.
Bolsonaro reapareceu no Planalto posteriormente, mas apenas para uma conversa de meia hora com o seu ex-ministro e ora senador eleito Rogério Marinho. É difícil dizer se o "recolhimento" foi um processo de assimilação da derrota ou uma estratégia, mas ficou evidente que o presidente foi derrotado por sua abominável obra, com destaque para o modo como ele tratou a pandemia e as declarações absurdas que fez ao longo de sua gestão — um vergonhoso projeto de reeleição.
O dublê de mau militar e parlamentar medíocre que elegemos para não amargar a volta do PT conseguiu ser o pior presidente que o Brasil amargou desde a redemocratização, e o primeiro da Nova República que terminou o mandato sem conseguir se reeleger. E os piquetes de caminhoneiros não foram a única reação ao resultado das urnas.
Desde a derrota de seu amado líder, bolsonaristas mantêm acampamentos em frente de quartéis em diversas cidades — trazendo à lembrança o acampamento de petistas nos arredores da Superintendência da PF em Curitiba, que davam bom-dia ao então presidiário Lula. O STF instaurou um inquérito para investigar a organização e a estrutura desses acampamentos, e já surgiram indícios de uma “organização piramidal” por trás disso. Inúmeros vídeos que circulam na Web exibem superestrutura e fartura — como peças de carne para churrascos, tendas armadas abrigar os manifestantes do sol e da chuva, gerador de eletricidade e banheiros químicos nos acampamentos bolsonaristas.
Um dos traços do bolsonarismo nazifascista é o uso a violência como ferramenta política. Durante a campanha, Roberto Jefferson descumpriu uma ordem de prisão e atirou em agentes da PF. Seis dias depois, a deputada Carla Zambelli avançou de arma em punho contra um eleitor petista. No último dia 7, manifestantes que bloqueavam uma rodovia no Pará atacaram com paus pedras e até tiros os agentes da PRF. No mesmo dia, bolsonaristas atacaram policiais rodoviários com barras de ferro e cadeiras plásticas em Santa Catarina.
Os jogos da Copa do Mundo devem contribuir para esvaziar as manifestações, mas a posse de vocês sabem quem, em 1º de janeiro de 2023, será um "momento sensível". Como revelou O Antagonista na semana passada, um novo pedido de impugnação da candidatura do petista (devido às acusações na Lava-Jato) deve ser protocolado no TSE. Aliados mais sensatos, no entanto, dizem que está na hora de aceitar o resultado e deixar o país seguir seu rumo.
Será divertido observar a gritaria dos sócios arrastados para dentro da encrenca criada por Valdemar, anotou Josias de Souza em sua coluna. Mas a diversão seria maior (e mais justa) se o CNPJ das legendas fosse trocado pelo CPF dos seus dirigentes, incluindo o de Bolsonaro.