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domingo, 2 de abril de 2023

E AÍ? TUDO JOIA?


O PT foi criado (1980) com a promessa de fazer política sem roubar nem deixar roubar. Depois de três tentativas malogradas, Lula se elegeu presidente (2002) e, a despeito do mensalão, conquistou seu segundo mandato (2006) e vendeu como "gerentona" uma incompetente de quatro costados, que se elegeu (2010), "fez o diabo" para se reeleger (2014) e acabou penabundada (2016). 
 
Depois que a denúncia de Joesley Batista rebaixou a "ponte para o futuro" de Temer ao status de pinguela (2017), os brasileiros, cansados de tanta safardanice (mas sempre vocacionados a fazer as piores escolhas),
 elegeram um dublê de mau militar e parlamentar medíocre (2018), cuja passagem pelo Planalto foi ainda pior que a da gerentona de araque. 

Assim, conchavou-se a soltura do presidiário mais famoso do Brasil, que, descondenado e reabilitado politicamente, derrotou a versão tropical de "Murf the Surf" (2022) e conquistou um terceiro mandato presidencial — fato inédito nesta republiqueta de bananas. Mas a versão 3.0 da gestão do petista começou a fazer água durante a transição, e a situação não melhorou nos últimos três meses. 

Os presentinhos milionários são mais mais uma prova de que Bolsonaro, filhos e agregados fizeram do Estado um parque de diversões. Além das antológicas rachadinhas, houve casos de prevaricação, pagamento a pastores aliados em barras de ouro, conspirações milicianas e toda sorte de maracutaias nada republicanas. Não fosse o Brasil uma republiqueta bananeira, essa seleta confraria estaria na cadeia. 

O penúltimo capítulo da novela "Muamba das Arábias" revelou que o Verdugo do Planalto guardou consigo um terceiro pacote de joias. De acordo com o Estadão, tratava-se de um caixa contendo uma caneta da marca Chopard, um relógio Rolex, um par de abotoaduras, um anel e uma "masbaha" — espécie de rosário árabe —, tudo de ouro branco e cravejado com brilhantes (o valor total da prenda é estimado em R$ 500 mil).

Juntamente com esse "pacote", o então mandatário recebeu dois frascos de essências, dez garrafas de azeite de oliva extra virgem, seis sacos de café árabe e duas embalagens contendo tâmaras. Ao contrário das joias, que deveriam ter sido incorporadas ao patrimônio do Estado brasileiro, mas não foram, o capitão desdenhou dos perecíveis, que foram submetidos ao mais alto rigor do processo de vistoria (costuma ser praxe presidentes da República não consumirem itens como alimentos, devido ao risco de contaminação).

Observação"Ninguém ganha dezenas de milhões de reais em prendas a troco de nada", disse Fernando Haddad. Mas talvez não tenha sido "a troco de nada": um mês após a comitiva de Bolsonaro retornar do Oriente Médio, a Refinaria Landulpho Alves foi vendida para o fundo financeiro de Abu Dhabi por menos da metade do valor de mercado.

Bolsonaro perdeu parte de seu capital político, mas será uma pedra no sapato do atual governo. Até porque a base de apoio de Lula não é suficiente para aprovar medidas que dependem de reforma constitucional, embora o petista venha distribuindo cargos e verbas como se não houvesse amanhã.

Como presidente de honra do partido comandado pelo mensaleiro e ex-presidiário Valdemar Costa Neto, Bolsonaro receberá R$ 39.293 — valor que, somado às pensões como militar e deputado, elevará sua renda mensal a R$ 86,5 mil. Isso sem falar nos R$ 33 mil que a ex-primeira-dama Micheque embolsará para posar de presidente do PL Mulher. 

Resta saber como esse capítulo da história do Brasil terminará. Faço votos de que não acabe em pizza, como acabaram os 26 processos criminais movidos contra a autoproclamada alma viva mais honesta do Brasil, que foram anulados pelo STF.

Triste Brasil.

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

O PAÍS DO GOLPE


Despida do glamour fantasioso atribuído pelos livros didáticos, a Proclamação da República foi apenas o primeiro dos muitos golpe de Estado político-militar que aconteceram nos últimos 132 anos (entre os quais vale citar a revolução de 1930, a implantação do Estado Novo por Getúlio Vargas em 1937, a deposição de Getúlio em 1945, o golpe de 1964, e assim por diante). 


Ao longo da nossa história republicana, 35 presidentes chegaram ao poder pelo voto popular, por eleição indireta, via linha sucessória ou por golpe de Estado. Oito deles, a começar por Deodoro da Fonseca — o tal que "proclamou" a república — foram de alguma maneira apeados do poder. 

 

Da redemocratização até os dias atuais, amargamos um presidente eleito indiretamente, um literato meia-boca, um caçador de marajás de mentirinha, um baianeiro namorador, um tucano de plumagem vistosa, um retirante pobre e semianalfabeto, uma aberração travestida de "gerentona", um vampiro escalafobético e um dublê de mau militar e parlamentar medíocre


Da feita que quem não aprende com os erros passados está fadado a repeti-los indefinidamente, duas dessas tragédias são os franco-favoritos para disputar o Planalto agora em outubro. E ainda tem gente que diz que Deus é brasileiro!

 

A política tupiniquim sempre foi um esgoto a céu aberto. Os candidatos se elegem para roubar e roubam para se reeleger. No Executivo, a fé se perdeu (se é que ainda restava alguma) antes mesmo da renúncia de Jânio, que pavimentou o caminho para o golpe de 1964 e os subsequentes 21 anos de ditadura militar. 


A morte do primeiro presidente civil do período "pós-redemocratização" — que foi eleito indiretamente, mas representava a esperança dos brasileiros num futuro melhor — resultou no governo do eterno donatário da capitania do Maranhão — um dos mais notórios ícones da abominável política coronelista nordestina. Ao final do mandato-tampão, a impopularidade do dito-cujo era tamanha que ele se viu obrigado disputar uma cadeira no Senado pelo recém-criado estado do Amapá. 

 

As esperanças se renovaram quando o pseudo caçador de marajás derrotou o desempregado que deu certo (ou que daria certo em 2002, quando seria eleito presidente pela primeira vez). Mas logo se percebeu que o santarrão de pau oco tinha pés de barro e não passava de um populista tão descarado quanto o adversário derrotado. 


Do impeachment dessa figura desprezível — o primeiro da Nova República — resultou a gestão do tal baianeiro, que se notabilizou por posar para fotos ao lado da modelo sem calcinha Lilian Ramos e ressuscitar o Fusca, mas que também promulgou o Plano Real, cujo sucesso levou ao Planalto, por duas vezes consecutiva, ambas no primeiro turno, seu ministro da Fazenda. 


Observação: Lamentavelmente, o grão-duque tucano resolveu comprar a PEC da reeleição, mas aí já não lhe restavam coelhos para tirar da cartola.

 

A reboque da vitória de Lula vieram o Mensalão, o Petrolão e a indicação de oito ministros do STF, cujas decisões teratológicas (não só deles nem de todos eles, vale ressaltar) fulminaram a esperança que os brasileiros depositavam no Judiciário quando nada que prestasse se podia se esperar do Executivo e do Legislativo. 


Em 2012, assistimos estarrecidos — mas esperançosos — a condenação da alta cúpula do Mensalão. Em 2016, comemoramos impeachment da "gerentona de festim" e os avanços da Lava-Jato — que refrearam em alguma medida e por algum tempo o apetite pantagruélico da seleta confraria de políticos corruptos pelo dinheiro dos contribuintes. 

 

A morte é anterior a si mesma. Ela começa muito antes da abertura da cova. Percorre um lento processo. No caso da Lava-Jato, a operação morreu sem colher os devidos louros. Foi graças a ela que, pela primeira vez desde a chegada das caravelas, o braço do Estado investigou, enjaulou e puniu poderosos da oligarquia política e econômica do Brasil. 


O velório reuniu gente importante: seguravam a alça do caixão Jair Bolsonaro, o Centrão e o PT. O STF enviou uma sequência de coroas de flores enquanto preparava a última pá de cal. E ela não demorou a chegar. Ironicamente, o sepultamento da força tarefa se deu sob a batuta do mandatário que, quando candidato, prometeu combater implacavelmente a corrupção e os corruptos. 

 

A morte às vezes funciona como um grande despertar. Mas a sociedade brasileira emite sinais de cansaço. Um cansaço que se parece com saudade de quem não teve a oportunidade de dizer adeus.

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

DÉJÀ VU E VOTO DE CONFIANÇA

 

A vitória do PT (travestido de Frente Ampla Democrática) sobre Bolsonaro é um bom exemplo de déjà vu — lembrança de um episódio que não vivenciamos. Um terceiro mandato do ex-presidente que escapou do mensalão, tropeçou no petrolão, gozou 580 dias de férias compulsórias em Curitiba e foi eleito com mais de 60 milhões de votos é vista com alívio por milhões de brasileiros,  mas não convém comemorar por antecipação. 

Quatro anos atrás, festejamos a vitória de um dublê de mau militar e parlamentar medíocre sobre o bonifrate do então candidato-presidiário. Este último, tirado da cadeia e reabilitado politicamente por togados amigos, ora se vê como a reencarnação de Nelson Mandela, é tido pela mídia internacional como uma fênix ressurgida das cinzas e considerado pela patuleia como um beato a caminho da canonização. 
 
As perspectivas alvissareiras de 2018 eram pura quimera, mas o eleitorado tupiniquim, sempre pronto a fazer as piores escolhas, reencenou uma versão revista e atualizada daquele pleito plebiscitário, achando que a melhor maneira de produzir um acerto é insistir no erro. 

Talvez o próximo governo nos livre de decisões tomadas na calada da madrugada, dos abjetos sigilos de 100 anos, de um presidente que diz que “pintou um clima” com crianças de 14 anos, de uma ministra dos Direitos Humanos (recém-eleita senadora pelo DF) que vaza dados falsos de bebês estuprados, de um ministro do Meio Ambiente que se deixa fotografar ao lado de madeireiros ilegais, de um general guindado a ministro da Saúde sem qualificação para ocupar o posto (ora eleito deputado federal pelo RJ), que negligenciou oxigênio a enfermos à beira da morte enquanto recomendava remédios ineficazes para o combate à Covid, e por aí segue a procissão.
 
Talvez tenhamos a chance de despejar no esgoto da história um mandatário truculento e golpista, que criou um Estado de Emergência fajuto para meter a mão no dinheiro público e um famigerado orçamento secreto para garantir sua reeleição (que acabou por não acontecer). Lula se apresenta como remédio capaz de curar essas feridas, mas, de novo, já vimos esse filme antes. 
 
Em 2018, quando Bolsonaro derrotou o preposto do petista por uma diferença de 10,8 milhões de votos válidos, houve gritos, fogos, panelaços e buzinaços. Não me recordo de bloqueios em rodovias nem de manifestações golpistas, pedidos de intervenção militar e de fechamento do STF. Mas quem observa desde o resultado das urnas os protestos dos sectários do imbrochável conclui que os manifestantes fizeram papel de bobos. Um aperto de mãos entre Bolsonaro e Alckmin deu ao início da transição um toque de normalidade que não orna com a baderna das ruas. Na descrição do vice-presidente eleito, o ainda presidente vai se empenhar para que a transição seja "pautada pelo interesse público". Será?

Na prática, Bolsonaro vai se tornando uma espécie de ex-presidente no exercício da Presidência. Quem pede nas ruas para que a página da democracia seja virada para trás perde seu tempo, voz e nexo. Devagarinho, o terceiro turno vai migrando das ruas para o Congresso, onde Lula tenta reescrever o orçamento federal feito sob seu futuro antecessor para vigorar no primeiro ano do futuro governo. 
 
O Brasil já viveu muitas transições, cada uma com sua peculiaridade. Mas todas têm algo em comum: as boas intenções políticas do presidente eleito diminuem conforme o dia da posse se aproxima. Em campanha, Lula chamou o orçamento secreto de "maior bandidagem já feita em 200 anos". Acusou o presidente da Câmara, de "comprar os votos dos deputados" com o propósito de fazer "desgraceiras". Eleito, avaliza acertos que podem manter o que chamou de "bandidagem", numa negociação com o rei Arthur.
 
A perversão orçamentária de Bolsonaro leva o petista a iniciar o seu governo antes da posse. O Orçamento federal de 2023 não tem verbas para o Bolsa Família em R$ 600 nem para merenda escolar, farmácia popular, manutenção de estradas e fiscalização ambiental. Embora destelhado e desmoralizado, o teto de gastos ainda existe formalmente. Para ser furado em cerca de R$ 200 bilhões, o futuro presidente precisa da ajuda do Centrão. Mas Lira pede em troca a manutenção do orçamento secreto e neutralidade de disputa pela presidência da Câmara em fevereiro. Até o aliado Renan Calheiros estranha a rapidez da rendição: "É uma barbeiragem", disse ele. "O Centrão já não cabe no orçamento."
 
Lula diz que quer se redimir pelos erros do passado e pede um voto de confiança. A nós, resta lhe dar ao menos uma chance de tentar. Mesmo sendo ele quem é. Mas não será fácil fugir da cooptação venal que Bolsonaro abraçou alegremente ao apoiar Arthur Lira para a presidência da Câmara e nomear Ciro Nogueira ministro-chefe da Casa Civil. Não quando se tem um mensalão e um petrolão no currículo.

Quando um político consegue fazer o eleitorado de idiota é porque encontrou material. Depois que a milícia digital bolsonarista aprendeu a deformar mentes nas redes sociais, verificou-se que a diferença entre a lucidez e a maluquice é que a lucidez tem limites.

Triste Brasil.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

SOBRE A FICHA SUJA DE LULA, A CPI DA COVID E OUTRAS QUESTÕES

 

O plenário do STF ficou de discutir na tarde de ontem a decisão monocrática do ministro-relator da Lava-Jato, que agasalhou a tese esposada pela defesa do ex-presidiário Lula sobre a incompetência da 13ª Vara Federal do Paraná para julgar os processos sobre o tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia — além outras duas ações que estavam em fase de instrução quando o ministro Luís Edson Fachin anulou todos os atos processuais e determinou a remessa dos autos para a Justiça Federal do DF. Considerando a relevância do tema, a grandiloquência de alguns togados supremos (casos clássicos de irremediável paixão pelo som da própria voz), e o fato de o julgamento sobre o caso ser precedido pela discussão sobre a abertura da CPI da Covid no Senado (por decisão monocrática do ministro Luís Roberto Barroso), é possível que o julgamento não seja concluído numa única sessão — note o leitor que estou redigindo este texto na manhã de quarta-feira, e a abertura dos trabalhos no plenário virtual está prevista para as 14h.

Atualização (quarta, 16h45): Por maioria, o plenário manteve a decisão do ministro Barroso, que proferiu brevemente seu voto. Depois disso, o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, perguntou aos pares se eles concordavam com a decisão. Apenas o decano divergiu da forma como foi procedido o julgamento e preferiu não se manifestar sobre o mérito; os demais acompanharam a posição do relator. Neste momento a corte se encontra em recesso. (Quinta, 7h00): Quanto ao agravo contra a decisão de Fachin que anulou as condenações de Lula, o presidente Luiz Fux fatiou o julgamento em três partes e, graças à parlapatice de alguns magistrados (notadamente Gilmar Mendes, o “rei do Judiciário”, Marco Aurélio, o “novo decano”, e Lewandowski, o “militante petista que vestiu a toga por cima da farda”), discutiu-se apenas se o caso deveria ser levado ao plenário e decidiu-se por 9 votos a 2 (vencidos Lewandowski e Marco Aurélio) que o julgamento cabe ao colegiado. A sessão foi longa e cansativa, sobretudo por conta das repetições desnecessárias do professor Lewandowski, que lecionou sobre como deve proceder um militante petista, e Mendes, que ensinou como deve agir quem quer cometer o pecado da "soberba" — que deixou de figurar na lista dos pecados mortais devido a mudanças promovidas pelo papa Bento XVI, mas enfim... Por outro lado, valeu a pena ver Fux se esforçar para manter o controle diante das patacoadas de Lewandowski e Marco Aurélio e ouvir os votos de Barroso e (surpreendentemente) da nem sempre corrente Rosa Weber. As demais fatias da pizza serão degustadas na tarde de hoje, digo, as demais etapas do julgamento serão vencidas na tarde de hoje (caso o imprevisto não tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, naturalmente).

No caso específico do ex-presidente corrupto, os ministros julgarão um agravo regimental interposto pela PGR contra a decisão monocrática de Fachin no pedido de habeas corpus apresentado pela defesa de Lula. Se o apelo for rejeitado, as duas condenações permanecerão anuladas, e o ex-presidiário, de olho na disputa presidencial de 2022, continuará vendendo aos eleitores menos esclarecidos a narrativa estapafúrdia em que posa de vítima da “maior mentira jurídica já contada na história deste país” e gritando aos quatro ventos que a Justiça finalmente reconheceu o que seus advogados vinham dizendo desde sempre: “o presidente Lula é inocente”. Demais disso, o plenário se deburçará sobre e aquestão da suspeição de Sergio Moro no caso do tríplex, que foi reconhecida pela 2ª Turma no final do mês passado (se restar confirmado que Moro não era o juiz competente para julgar Lula, o habeas corpus que questiona sua imparcialidade no caso do tríplex perde o objeto, ou seja, deixa de fazer sentido).

Se a maioria vote derrubar a liminar concedida por Fachin, três dos quatro processos de Lula voltarão à situação anterior — entre eles o do sítio, que já teve a condenação confirmada em segunda instância. Caso isso ocorra, o petralha volta a ser ficha-suja e estará impedido de disputar pessoalmente a presidência em 2022 (para o gáudio de Bolsonaro, que, em tese, teria mais chances se reeleger se enfrentasse novamente o patético bonifrate do sumo pontífice da seita do inferno).   

Vale ressaltar que a anulação do processo do tríplex decorreu da decisão da 2ª Turma, que reconheceu a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro (por 4 votos a 1, vencido o ministro Fachin). Se a decisão de Fachin sobre a incompetência da JF do Paraná for anulada pelo plenário, o processo do tríplex volta à fase de instrução, mas em Curitiba, sob a pena do juiz Luiz Antônio Bonat. No entanto, ainda que reste confirmada a competência da JF do DF, a ficha momentaneamente limpa de Lula voltaria a ser suja caso o juiz que ficar responsável pelo processo sítio em Atibaia receber a ação já na etapa de proferir a sentença — isso não se aplica ao caso do tríplex porque o processo terá de ser retomado desde o início, a menos que a decisão sobre a parcialidade de Moro seja revista. Como se vê, são como os elos de uma corrente, diferentes entre si, mas interligados uns com os outros.

Observação: Segundo Fachin, sua decisão se deveu ao fato de o STF ter decidido que só devem ser julgados em Curitiba processos oriundos da Lava-Jato que tenham a ver diretamente com o Petrolão. Na decisão de março, Fachin disse que a conduta criminosa atribuída a Lulanão era restrita à Petrobras, mas a extensa gama de órgãos públicos em que era possível o alcance dos objetivos políticos e financeiros espúrios”, razão pela qual “o caso não se amolda ao que veio sendo construído e já decidido no âmbito do Plenário e da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal a respeito da competência da 13ª Vara Federal de Curitiba, delimitada, como visto, exclusivamente aos ilícitos praticados em detrimento da Petrobras”.

Mudando de um ponto a outro, a criação de narrativas estapafúrdias com o intuito de acirrar uma militância radical, cega pelo fanatismo político-ideológico, não é uma exclusividade do deus pai da Petelândia. O candidato que apoiamos para evitar a volta do lulopetismo corrupto em 2018 nunca foi o presidente com que sonhávamos, mas jamais imaginamos o pesadelo kafkiano que se tornaria esta banânia sob a égide do bolsonarismo boçal. Em seu estelionato eleitoral, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre desmanchou-se em promessas de campanha que jamais pretendeu cumprir ou que não pode cumprir devido a circunstâncias adversas. Propor uma PEC para elidir da Constituição o nefando instituto da reeleição presidencial é um bom exemplo das falácias de palanque que se encaixam no primeiro grupo. Aliás, Bolsonaro jamais desceu do palanque; tudo que ele fez ou deixou de fazer desde a posse teve como objetivo tornar realidade o sonho da reeleição, a despeito de ter afirmado mais de uma vez que “não nasceu para ser presidente, nasceu para ser militar”.

Observação: Ao contrário do que muitos afirmam, Bolsonaro não foi expulso do Exército, embora tenha sido excluído dos quadros da Escola de Oficiais por indisciplina e insubordinação.  Segundo o coronel Carlos Alfredo Pellegrino, o hoje presidente tentava liderar oficiais subalternos, mas não conseguia pela “falta de lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos”. No julgamento do STM, foi acusado de ter “grave desvio de personalidade”, mas a aversão dos fardados pela imprensa contribuiu de maneira decisiva para sua absolvição das acusações.  qualificado de “caso completamente fora do normal, inclusive mau militar” pelo general Ernesto Geisel (o penúltimo presidente-ditador dos 21 anos de ditadura militar).

Bolsonaro travestiu-se de defensor incondicional da Lava-Jato e escalou Sergio Moro para avalizar essa falácia. Só que ninguém sobrevive durante 28 anos no baixo clero da Câmara sem esconder sabe Deus quantos esqueletos no armário do gabinete parlamentar, e eguns mal despachados têm o mau hábito de voltar para assombrar... Enfim, bastou virem a lume os indícios de rachadinha no gabinete do filho Zero Um na Alerj e as movimentações financeiras suspeitas de seu ex-chefe de gabinete, Fabrício Queiroz. O mesmo Queiroz que era unha e carne com o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, suposto chefe do grupo de assassinos profissionais Escritório do Crime e de uma milícia no Rio, denunciado na Operação Intocáveis e fuzilado por policiais militares da Bahia em fevereiro do ano passado (maldade sua achar que foi queima de arquivo). O mesmo Queiroz que ficou desaparecido durante mais de um ano até ser preso num imóvel em Atibaia (o fato de se tratar do mesmo município onde fica o folclórico sítio de Lula é mera coincidência) pertencente a Frederick Wassef, dublê de mafioso de comédia e advogado de Zero Um no inquérito das rachadinhas. Fred se jactava de ser consultor jurídico da Famiglia Bolsonaro e de ser próximo do Presidente. Com a prisão de Queiroz, tornou-se suspeito de ser o “Anjo” que vinha protegendo tanto o ex-assessor quanto a esposa e outros familiares do dito-cujo, todos partícipes de um esquema cujas peças iam aos poucos se encaixando, mas aí a tropa de choque do Planalto entrou em cena e... Amanhã eu conto o resto — ou não sobra tempo nem espaço para tecer mais alguns comentários sobre o assunto do dia, da semana e, quiçá, do mês.

A folclórica, prosaica e quase inacreditável tropa de choque de JB (falo não do famoso scotch, mas sim do não menos famoso despresidente segundo o qual o Brasil “tem que deixar de ser um país de maricas e enfrentar o vírus de peito aberto”) ultrapassou todos os limites da desfaçatez ao argumentar que a CPI da Covid não pode funcionar senão depois que todos estiverem vacinados. Não é gozação, não. Essa torrente de cinismo brotou ao vivo e em cores da boca do líder de Bolsonaro no Congresso, no bojo de uma questão de ordem que esse senador apresentou durante a sessão virtual da última terça-feira. “Enquanto não tiver condição de funcionar com pessoas imunizadas, peço que a CPI não possa funcionar presencialmente”, declarou o obelisco da desfaçatez. O senador Randolfe Rodrigues, autor do pedido de CPI, devolveu de bate-pronto: “Na velocidade que a vacinação está hoje no Brasil, só teremos pessoas adultas imunizadas, em uma hipótese otimista, até dezembro ou janeiro do ano que vem.”

A esse ponto o governo chegou, pontua Josias de Souza com o humor ácido que se tornou sua marca registrada. Num instante em que o brasileiro morre nas filas de UTI, diz o jornalista, a escassez de vacinas, flagelo a ser investigado pela CPI, virou pretexto da tropa do capitão para matar o tempo. Em minoria na comissão, o governismo adere à política do isolamento social para tentar se reposicionar em cena.

Futuro integrante da CPI, o senador amazonense Omar Azis fez uma intervenção cirúrgica: “Os senadores que não querem que instale a CPI agora, querem aguardar o momento adequado. No momento adequado, teremos 500 mil mortes, 600 mil mortes no Brasil, porque o que estou vendo é que estão querendo protelar.”

Hoje, a pilha de cadáveres, monumento que o vírus ergueu para imortalizar a inépcia, a incompetência e a mais absoluta falta de absolutamente do desgoverno Bolsonaro, roça a marca de 360 mil. Se fosse um presidente lógico, sua alteza irreal chamaria sua tropa para repetir uma de suas célebres frases: “O vírus tá aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, porra. Não como um moleque.”

Ou Bolsonaro reage, ou a estratégia do governo no Senado vai acabar transformando sua tragicômica gestão numa espécie de paródia de si mesma — uma pantomina estrelada pelos “maricas” da turma do 'fique em casa'.”

terça-feira, 30 de novembro de 2021

O AMOR É LINDO

 

Ensina o "Pai da Psicanálise" que um mecanismo de projeção resulta na incapacidade que algumas pessoas têm de reconhecer os próprios erros, falhas e deficiências de forma mais ampla. Em outras palavras: para essas pessoas, todos têm defeitos, menos elas. O que nos leva ao psicopata que, graças a um pacto com Belzebu, continua entrincheirado no Palácio do Planalto, terminando alegremente a destruição que Dilma começou, mas não teve tempo de concluir.

A criatura em questão, que tenta vender a imagem de homem forte, viril, imune à corrupção — em suas próprias palavras, "imorrível, imbrochável e incomível" (faltou dizer "intragável", "insuportável", "indigerível", mas esses são "os outros") — traiu o eleitorado fazendo, na Presidência, tudo que condenou, quando candidato.

Para se eleger Presidente, o dublê de mau militar e parlamentar medíocre renegou o "Centrão". Agora, para se manter presidente, retorna às origens, amancebando-se justamente com o principal expoente da "velha política", a caterva que esteve no centro (sem trocadilhos) dos principais escândalos de corrupção das últimas décadas — da compra de votos para aprovar a PEC da Reeleição, no primeiro mandato de FHC, ao mensalão e o petrolão, nas gestões do parteiro do Brasil Maravilha e da aberração que lhe sucedeu.

O Centrão nasceu no alvorecer da redemocratização e teve como pais fundadores uma escumalha egressa dos partidos que apoiavam a ditadura — como o PP (hoje comandado por Ciro Nogueira e Arthur Lira) e o PFL (que virou DEM e, mais recentemente, juntou os trapos com o PSL, dando origem ao União Brasil).

Posto isso, é possível (e até provável) que nosso indômito morubixaba venha a se sentir totalmente à vontade na casa nova, feliz como um pinto no lixo. O "mito" dos atoleimados, que subiu no palanque para vituperar a "velha política" e se elegeu graças ao repúdio ao lulopetismo corrupto, torna-se agora (ou volta a ser) um obelisco do "é dando que se recebe".

Em 1979, o escritor austríaco Johannes Mario Simmel publicou o romance "NINGUÉM QUER UM CORAÇÃO". Se ainda fosse vivo — e se interessasse pela abjeta política canarinha —, poderia escrever "NINGUÉM QUER UM PRESIDENTE", inspirado naquele que transformou em superpartido a agremiação nanica da pela qual se elegeu e dela se desfiliou um ano depois da eleição, devido a conflito$ de intere$$e, e que tentou fundar seu próprio partido — o natimorto "Aliança pelo Brasil" —, mas morreu na praia, com menos de 1/3 das assinaturas necessárias.

Aos 66 anos de idade e com a popularidade abaixo dos 20% (pela primeira vez em sua desditosa gestão), o "mito" dos atoleimados vê no espelho o rascunho do mapa do inferno e é atormentado pelos fantasmas que assombram políticos que perdem a credibilidade. Recentemente, a notícia de uma suposta traição conjugal (com um bombeiro, mas que não era o Cabo Daciolo) expôs a fragilidade do "imbrochável pero no mucho".

Ainda de acordo com o pensamento freudiano, tendências projetivas se desenvolvem de maneira forte nos tipos paranoicos, que veem conspirações em toda parte e defeitos em todo mundo (menos neles próprios).

Num país normal e em condições normais, o pesadelo de conviver mais quatro anos com o pior mandatário desde a redemocratização desta banânia seria uma piada de mau gosto, e o protagonista da anedota já teria sido expelido do cargo e sepultado sob a lápide do ostracismo.  Mas nem nós vivemos em condições normais, nem o Brasil é um país normal... Acha que exagero? Então veja mais esta:

Senadores do PT, que vinham trabalhando para que Rodrigo Pacheco disputasse a vice-presidência tendo o demiurgo de Garanhuns como cabeça de chapa, agora defendem a aliança com o quase ex-tucano e eterno picolé de chuchu Geraldo Alckmin. Para essa casta, a chapa Lula/Alckmin não só traria mais votos, como passaria uma mensagem de "união dos adversários históricos".

É fato que urge unir forças para “resgatar” e “recuperar” o Brasil, hoje nas mãos de Bolsonaro, mas a solução dificilmente estaria em apoiar uma chapa surreal, composta por um petralha amancebado com um ex-tucano. Cada qual escolhe a corda com que quer se enforcar. Quanto a Lula, eu não sei, mas Alckmin... enfim, o funeral é dele.

Observação: Como informou O GLOBO, o ex-governador de São Paulo ouviu um apelo de dirigentes de centrais sindicais para que ofereça o dedo à aliança com o molusco eneadáctilo, como deve fazer Jair Bolsonaro com Valdemar Costa Neto, agora à tarde, enquanto se comemora em Brasília o "dia do evangélico".

O amor não é lindo?

sexta-feira, 14 de abril de 2023

O PAI E OS FILHOS DO PAI

 

De 1990 até os dias atuais, Jair Bolsonaro, seus familiares e agregados negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram pagos total ou parcialmente em dinheiro vivoAs compras registradas nos cartórios como pagas "em moeda corrente nacional" totalizaram R$ 25,6 milhões. Não foi possível saber como foram pagos 26 imóveis, já que a informação não constava nos documentos de compra e venda. Transações por meio de cheque ou transferência bancária somaram R$ 17,9 milhões (os valores aqui mencionados foram corrigidos pelo IPCA para agosto de 2022).
 
A um mês das eleições do ano passado, questionado sobre acusações de corrupção após o levantamento patrimonial realizado pelo UOL, o então presidente defendeu sua família. Durante uma entrevista à Jovem Pan, a jornalista Amanda Klein relembrou os casos das rachadinha nos gabinete de Flávio e Carlos, comentou que o próprio mandatário era suspeito de manter funcionários fantasmas em seu gabinete na Câmara Federal, que Zero Um havia negociado 20 imóveis nos últimos 16 anos — entre os quais uma mansão de R$ 6 milhões —, que a mãe de 04 morava com o filho em outra mansão, avaliada em R$ 3 milhões
O entrevistado classificou as acusações de "levianas" e disse não saber da vida econômica de suas ex-mulheres. Sobre o primogênito, disse que o menino de ouro comprou os imóveis na planta "por uma micharia por mês" e os vendeu com lucro logo depois.
 
No livro O NEGÓCIO DO JAIR, a jornalista Juliana Dal Piva descreve passagens bastantes sugestivas. Segundo ela, às vésperas da sabatina do "desembargador tubaína" para a vaga do decano Celso de Mello no STF, Bolsonaro tomou conhecimento da denúncia criminal protocolada no TJ-RJ contra seu filho Flávio, acusado de desviar R$ 6,1 milhões dos cofres públicos do estado, e que tentou de todas as maneiras evitar que o rebento fosse denunciado. Ainda segundo a jornalista, 811 dias se passaram até que os procuradores concluíssem a investigação e acusassem o pimpolho de reter 90% dos salários de seus funcionários — dinheiro que Fabrício Queiroz (de quem já não se ouve mais falar) usava para pagar despesas pessoais do então deputado, comprar imóveis e "lavar" o que sobrava através de uma franquia da Kopenhagen. 
 
Ao longo de mais de dois anos de investigações, as provas se avolumaram a tal ponto que tinham de ser deslocadas pelos corredores do MP-RJ em um carrinho. A prerrogativa de investigar um presidente em exercício compete exclusivamente à PGR (e Augusto Aras jamais demonstrou tal intenção), mas as investigações evidenciaram sobejamente o papel de Bolsonaro no esquema, e que, para além do mandato do filho, estava em jogo a revelação de uma face pouco conhecida do clã presidencial. Em meio à papelada sobe Flávio Bolsonaro, afloraram indícios que conectavam o esquema aos três casamentos do pai, a outros três filhos, a dezenas de parentes, ao patrimônio da Famiglia e a proximidade de todos eles com o ex-capitão do Bope e miliciano Adriano da Nóbrega. 
 
Ainda segundo Dal Piva, todas as pessoas próximas ao clã estavam associadas, de um jeito ou de outro, a um esquema que os próprios participantes chamavam de "O Negócio do Jair", e que lhes permitiu forjar um estilo de vida e uma imagem pública que levariam o pater famílias — um mau militar e parlamentar medíocre — ao Palácio do Planalto. A jornalista relembra que o escrutínio da imprensa em relação a candidatos — uma tarefa básica da imprensa — desagradava o capitão. 
 
A Folha publicou uma série de reportagens mostrando que Bolsonaro e filhos construíram um patrimônio de R$ 15 milhões; que o então deputado recebia "auxílio-moradia" (embora fosse dono de um apartamento em Brasília); que mantinha entre seus assessores uma tal de "Wal do Açaí́", que cuidava de sua casa de praia e de seus cachorros em Angra dos Reis (RJ). Um exame mais acurado levou Dal Piva à conclusão de que Wal não era a única assessora parlamentar em situação irregular, e que os "filhos do pai" reproduziam seu modus operandi, empregando parentes de Ana Cristina Valle, segunda ex-mulher do capitão, mãe de Zero Quatro e personagem essencial e complexa dessa tragicomédia. 

sábado, 3 de outubro de 2020

VAMOS DE BEM A MELHOR...


Longe de mim querer abusar da paciência do leitor relembrando (mais uma vez) a fatídica conjunção de fatores levou esse dublê de mau militar e parlamentar medíocre a obter quase 58 milhões de votos, mas não posso me furtar a comentar o que o dito-cujo disse, mais de uma vez e com todas as letras: “não nasci para ser presidente, mas sim para ser militar.” 

Bolsonaro parafraseava o último general-presidente da ditadura militar, naturalmente, que certa vez proferiu a seguinte pérola: “estou fazendo uma força desgraçada para ser político, mas não sei se me sairei bem, pois gosto mesmo é de clarim e de quartel". Mas até aí, nada de mais, pois “plagiar é, implicitamente, admirar”, como ensinou o intelectual lusitano Júlio Dantas. A pergunta que não quer calar é: se não nasceu para ser presidente, então por que diabos Bolsonaro fez da reeleição seu único projeto de governo?

Prometo que, se eleito, vou trabalhar noite e dia, durante os quatro anos do meu mandato… para ser reeleito”, teria sido a promessa mais sincera e verdadeira do então candidato, como bem destacou o ex-delegado federal Jorge Pontes em artigo publicado recentemente no site de Veja

Lula, relembra o policial, justificava seus tropeços culpando a herança maldita deixada por FHC. Já Bolsonaro, eleito com juras de grandes mudanças e discursos anti-establishment, enfiou em local incerto e não sabido suas bandeiras de campanha, inclusive a de propor o fim do instituto da reeleição, e vem concentrando todos os seus esforços em conseguir um segundo mandato em 2022.

A exumação da CPMF, independentemente do nome com que venha a ser recriada, integra o acervo do museu de grandes novidades em que se transformaram as arrojadas promessas para a área do Posto Ipiranga. O velho provérbio latino “parturiunt montes, nascetur ridiculus muscalça como uma luva no superministro que, em 2019, quando ainda não havia coronavírus para culpar por suas mazelas, prometeu um pibão e entregou um pibinho. A exemplo do morubixaba, o pajé da economia é muito peido e pouca bosta.

No jargão jornalístico, a expressão balão de ensaio remete a informações vazadas com o propósito de verificar de antemão possíveis efeitos de uma determinada medida. Trata-se de prática é recorrente na administração pública e da qual Bolsonaro é adepto, seja para mandar “heads up” a subordinados, seja para avaliar a reação de seus apoiadores de raiz a um determinado projeto.

Paulo Guedes também é fã de balões de ensaio, mas não foi o caso de sua fala sobre usar precatórios para financiar o projeto populista-eleitoreiro do chefe. A coisa era pra valer, e só não foi adiante devido à reação do mercado — reação essa que, convenhamos, alguém com a experiência do ministro deveria ter previsto. A menos que ele venha emburrecendo por simbiose, devido à convivência com... bom, deixa pra lá. Fato é que o sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é espúrio. O Posto Ipiranga tentou dar a impressão de que tudo não passava de "um estudo", mas três coisas nesta vida são absolutamente irreversíveis: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida.

A iniciativa de criar um novo imposto antes das urgentes e imprescindíveis reformas tributária e administrativa sempre fedeu a populismo eleitoreiro. Ainda nascituro, o tributo já foi carimbado para projetos sociais, destinado a gerar caixa para gastos com auxílios e bolsas disso e daquilo — programas pseudo-assistenciais ao estilo do lulopetismo e à semelhança do Bolsa Família, tudo com o propósito de manter em alta a popularidade conquistada com o corona voucher, notadamente nas regiões nordeste e norte. Para quem até pouco tempo atrás se referia aos nordestinos como “paraíbas”, Bolsonaro sofreu uma metamorfose impressionante. Mas sua "falta de absolutamente" é assustadora. 

Mudando de um ponto a outro, tudo indica que o STF terá de esperar a aposentadoria do segundo Mello para para ter entre seus membros um togado “terrivelmente evangélico”, como prometeu diversas vezes o Messias que não miracula. 

Em recente incursão pelo Olimpo — morada do semideus togado que Augusto Nunes (ou teria sido José Nêumanne?) alcunhou jocosamente de Maritaca de Diamantino, e que já desfrutava da excelente companhia do Maquiavel de Marília segundo Nêumanne (nesse caso eu tenho 100% de certeza) —, Bolsonaro arrastou consigo o desembargador piauiense Kássio Nunes Marques, seu indicado para uma vaga que sequer existe. 

O ministro Celso de Mello se aposenta no dia 13. Mesmo considerando o final de semana e o feriado do próximo dia 12, o decano continuará ocupando a cadeira que é sua por direito até a próxima sexta-feira, 9. Em outras palavras, o defunto nem esfriou e já o estão despindo e disputando suas vestes.

O futuro togado segundo Bolsonaro é católico, mas não necessariamente alinhado com pautas conservadoras nos costumes. Só que tem Q.I. (de "quem indicou"). Ele conta com o apoio do conterrâneo Ciro Nogueira, deputado de grosso calibre e alto quilate, dono do PP e ex-aliado do PSDB, de FHC, do PT de Lula e Dilma e do MDB do vampiro do Jaburu, além de investigado na Lava-Jato

Ao escolher Marques para o lugar de Celso de Mello, o general da banda consolidará a 2.ª Turma como túmulo da Lava-Jato. Isso porque Toffoli, ao transferir para Luiz Fux o cetro e a coroa dos togados, passou a ocupara a poltrona que o colega ocupava na 1.ª Turma antes de suceder-lhe na presidência. Já se pensava e urdir uma maracutaia para levar o Maquiavel de Marília à 2.ª turma, mas a manobra será desnecessária se o lugar do decano for ocupado pelo futuro recém-togado.

Marques formará com Mendes e Lewandowski o triunvirato dito "garantista" na Segundona, ressalta Josias de Souza. E sem a perspectiva de encostar seus votos no balão de oxigênio que enxergam no decano, Fachin e Cármen Lúcia passariam a viver em estado crônico de minoria.

O "garantismo" atribuído a Gilmar, Lewandowski e, agora, também ao futuro novato, comporta dois tipos de interpretação: num, como garantia de que os réus serão tratados nos limites do devido processo legal; noutro, como eufemismo para complacência com malfeitores amigos. 

Encontra-se na fila da 2.ª Turma, por exemplo, o julgamento do pedido de suspeição que a defesa de Lula formulou contra o ex-juiz Sergio Moro, com o propósito de anular a condenação de seu cliente no caso do tríplex.

Fachin e Cármen já votaram contra a anulação da sentença do caso do tríplex. Gilmar e Lewandowski devem votar a favor. Nesse cenário, Kássio representaria o derradeiro prego no caixão.

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

PRIMEIRO FOI A CLOROQUINA. DEPOIS O VOTO IMPRESSO. QUAL SERÁ A PRÓXIMA CORTINA DE FUMAÇA?

 

Atribui-se a Aristóteles a divisão do Estado em três poderes independentes, e a Montesquieu a tripartição e as devidas atribuições do modelo mais aceito atualmente. A ideia, diga-se, é não deixar em uma única mão as tarefas de legislar, administrar e julgar. Isso porque a concentração de poder tende a gerar abusos, e um poder que se serve em vez de servir é um poder que não serve.

Bolsonaro não "criou" o tensionamento entre os Poderes, como Lula não "inventou" a corrupção. Por outro lado, o ex-presidente presidiário, ora promovido a "ex-corrupto", institucionalizou a roubalheira em prol de seu espúrio projeto de poder, e o dublê de mau militar e parlamentar medíocre — que elegemos justamente para evitar a volta do lulopetismo corrupto — vem "esticando a corda" para além do admissível.

Na manhã da última terça-feira, a Praça dos Três Poderes foi palco de uma inusitada blindadociata — o neologismo deriva das "motociatas" (sete até agora) que Bolsonaro vem promovendo desde o segundo domingo de maio. 

O comboio de blindados partiu do Rio de Janeiro com destino ao Campo de Instrução de Formosa, onde é realizado anualmente, desde 1988, a Operação Formosa — o maior treinamento militar da Marinha do Brasil no Planalto Central. A novidade é que, neste ano, a operação contará pela primeira vez com a participação do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira.

Foi também a primeira vez que os fardados "aproveitaram que estavam nas cercanias de Brasília" para entregar nas mãos do presidente da República e do ministro da Defesa os convites para comparecerem à Demonstração Operativa que ocorrerá no próximo dia 16. Nada mais natural, portanto, que adentrassem a Praça dos Três poderes com veículos blindados, armamentos e outros meios da Força de Fuzileiros da Esquadra. E o fato de o episódio ter ocorrido justamente no dia da votação da PEC do voto impresso no plenário da Câmara foi apenas uma coincidência.

Bolsonaro exsuda suspeitas de fraude eleitoral desde o tempo em que Dondon jogava no Andarahy, e as atribui às urnas eletrônicas. Curiosamente, desde1996, quando o voto eletrônico foi implementado no Brasil, o capitão e sua digníssima prole disputaram (e venceram) 20 eleições. A única derrota de um membro do clã ocorreu em 2016, quando o então deputado e hoje senador Flávio "Rachadinha" Bolsonaro concorreu à prefeito do Rio de Janeiro. 

Até as emas do Alvorada sabem que a implicância de Bolsonaro com o sistema eleitoral não passa de um jogo de cena (que já está ficando enfadonho) visando desviar o foco da sociedade, da mídia e dos adversários de sua mediocridade como gestor, das entranhas pútridas do seu governo e da podridão que cerca "o presidente que acabou com a Lava-Jato porque não havia mais corrupção". Que o diga a CPI do Genocídio.

Observação: Dos cinco filhos do capitão, somente a caçula (de 11 anos) não é alvo de investigações. Afora o célebre caso de Zero Um e as rachadinhas, a PF e o Ministério Público apuram suspeitas contra Eduardo Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Renan Bolsonaro, que incluem tráfico de influência, contratação de funcionários fantasmas e envolvimento na organização de manifestações que pediram o fechamento de instituições como o Congresso e o Supremo.

Em que pese a evidente tentativa de intimidação, o plenário da Câmara exorcizou o egum mal despachado do "voto impresso auditável". O placar foi de 283 votos contrários e 229 a favor. Houve 64 ausências e 1 abstenção. 

Observação: Para a aprovação de Propostas de Emenda Constitucional (PECs), o artigo 60, § 2 º da Constituição Federal diz que (a proposta) "será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros". Assim, seriam necessários 308 votos dos 513 deputados e 49 votos dos 81 senadores (em cada um dos turnos). 

Como os próprios parlamentares governistas reconheceram, "quem não votou tinha plena consciência de que sua ausência seria computada para rejeitar a PEC". Como o governo recebeu apenas 229 votos, os outros 283 deputados se manifestaram contra o voto impresso: 218 + 1 + 64. Até porque, com a votação híbrida, todos podiam votar remotamente. “Não precisava a presença física no plenário. Então, não há mais essa desculpa. O deputado ausente só fez isso para se proteger das pressões do Planalto”, observou um integrante da mesa diretora da Câmara.

Além do desfile da Marinha com tanques, o Planalto usou de todas as armas para intimidar deputados: telefonemas, ameaças com bloqueio de emendas, ataques nas redes sociais e até em mensagens de WhatsApp e até pressão de pastores evangélicos. Mesmo com toda essa mobilização, o placar explicitou um governo completamente esvaziado.

Vale lembrar que a PEC havia sido rejeitada na comissão especial da Câmara, no último dia 5, por 23 votos a 11. Mesmo assim, o deputado réu que Bolsonaro fez presidente da Casa do Povo decidiu submetê-la ao plenário "pela tranquilidade das próximas eleições". A oposição classificou a decisão de Lira como "insanidade". A deputada Talíria Petrone, líder da bancada do PSOL na Câmara, chegou a postar que "Lira e Bolsonaro são a mesma coisa". Talvez assista razão à parlamentar psolista. 

O presidente da Câmara justificou a decisão de levar a PEC ao plenário para "encerrar de vez o assunto, virar a página", confiando na promessa de Bolsonaro de aceitar o resultado da votação. "Não acredito que haja outro comportamento por parte do presidente Bolsonaro. Como eu disse, ele disse que respeitaria, e eu acredito, o resultado do plenário da Câmara dos Deputados", disse ele. Minutos depois, insistiu em mudanças no sistema de votação e defendeu que os poderes se unam para encontrar uma alternativa.

Para surpresa de ninguém, nem bem a sessão na Câmara havia sido encerrado e Bolsonaro já dizia que o resultado das eleições do ano que vem não será confiável. "Números redondos: 450 deputados votaram ontem [terça-feira]. Foi dividido, 229 [a favor], 218 [contra], dividido. É sinal que metade não acredita 100% na lisura dos trabalhos do TSE. Não acreditam que o resultado ali no final seja confiável". 

Bolsonaro está em permanente pé-de-guerra com os adversários (a quem vê como inimigos) e com as instituições. Sua cruzada pelo "voto impresso e auditável" e as incontáveis afirmações de que o sistema é inseguro e, portanto, que as eleições passadas foram fraudadas, são uma mistura de fake news, pós-verdades e teorias da conspiração. 

Não há problema em defender uma tese como a do voto impresso numa democracia. O problema consiste em ameaçar essa mesma democracia e as eleições vindouras se sua tese não for vitoriosa.

De cagada em cagada, o cagão se encaminha para uma situação de esvaziamento. Ao terceirizar o governo para o Centrão, o presidente de fancaria assumiu o papel de espantalho do Planalto. Não há absolutamente nada em sua desditosa gestão que lhe sirva de legado. Seu único projeto sempre foi, é e continua sendo a reeleição. Cada vez mais improvável, vale dizer. 

Resta saber o que Bolsonaro tirará da cartola para substituir o voto auditável (e a cloroquina antes dele) como forma de desviar a atenção de sua imprestabilidade chapada e da podridão que o carca. 

A ver qual será ― e quando ocorrerá ― a próxima crise institucional.

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

UM PAÍS DE CABEÇA PARA BAIXO

 

A dicotomia semeada por Lula, regada pelos tucanos e estrumada por Bolsonaro transformou a eleição presidencial de 2022 numa reedição piorada do pleito de 2018. Derrotado nas urnas, o "mito" dos descerebrados se fechou em copas. Na tarde do dia 1º, ele tartamudeou meia dúzia de palavras e voltou a se encastelar no Alvorada. Se os brasileiros tivessem vergonha na cara, esse senhor já teria sido demitido por abandono de emprego.


Bolsonaro reapareceu no Planalto posteriormente, mas apenas para uma conversa de meia hora com o seu ex-ministro e ora senador eleito Rogério Marinho. É difícil dizer se o "recolhimento" foi um processo de assimilação da derrota ou uma estratégia, mas ficou evidente que o presidente foi derrotado por sua abominável obra, com destaque para o modo como ele tratou a pandemia e as declarações absurdas que fez ao longo de sua gestão — um vergonhoso projeto de reeleição. 


O dublê de mau militar parlamentar medíocre que elegemos para não amargar a volta do PT conseguiu ser o pior presidente que o Brasil amargou desde a redemocratização, e o primeiro da Nova República que terminou o mandato sem conseguir se reeleger. E os piquetes de caminhoneiros não foram a única reação ao resultado das urnas. 


Desde a derrota de seu amado líder, bolsonaristas mantêm acampamentos em frente de quartéis em diversas cidades — trazendo à lembrança o acampamento de petistas nos arredores da Superintendência da PF em Curitiba, que davam bom-dia ao então presidiário Lula. O STF instaurou um inquérito para investigar a organização e a estrutura desses acampamentos, e já surgiram indícios de uma “organização piramidal” por trás disso. Inúmeros vídeos que circulam na Web exibem superestrutura e fartura — como peças de carne para churrascos, tendas armadas abrigar os manifestantes do sol e da chuva, gerador de eletricidade e banheiros químicos nos acampamentos bolsonaristas. 

 

Um dos traços do bolsonarismo nazifascista é o uso a violência como ferramenta política. Durante a campanha, Roberto Jefferson descumpriu uma ordem de prisão e atirou em agentes da PF. Seis dias depois, a deputada Carla Zambelli avançou de arma em punho contra um eleitor petista. No último dia 7, manifestantes que bloqueavam uma rodovia no Pará atacaram com paus pedras e até tiros os agentes da PRF. No mesmo dia, bolsonaristas atacaram policiais rodoviários com barras de ferro e cadeiras plásticas em Santa Catarina. 

 

Os jogos da Copa do Mundo devem contribuir para esvaziar as manifestações, mas a posse de vocês sabem quem, em 1º de janeiro de 2023, será um "momento sensível". Como revelou O Antagonista na semana passada, um novo pedido de impugnação da candidatura do petista (devido às acusações na Lava-Jato) deve ser protocolado no TSE. Aliados mais sensatos, no entanto, dizem que está na hora de aceitar o resultado e deixar o país seguir seu rumo. 

 

Bolsonaro ajudou o partido de Valdemar Costa Neto a eleger a maior bancada na Câmara e deve ter seus gastos bancados pela legenda a partir de 2023, incluindo moradia e advogados. Dezembro dirá se ele será fiel ao seu estilo até o último instante ou se optará por uma saída discreta. Entrementes, o mensaleiro ex-presidiário tende a se render a seus caprichos, como fez ao questionar judicialmente o resultado do segundo turno da eleição presidencial  dos 99 deputados eleitos pela legenda, cerca de 50 chegaram à Câmara na aba do "mito", e muitos ameaçaram bater em retirada se as birras do mau perdedor não forem atendidas

O ministro Alexandre de Moraes rejeitou a ação do pajé do PL e condenou a coligação da campanha do candidato derrotado a pagar uma multa de quase R$ 23 milhões por litigância de má-fé. Se sua decisão ficar em pé após os previsíveis recursos, o pagamento será feito com dinheiro público, já que o fundo partidário é bancado pelos impostos pagos pelos contribuintes. Quer dizer: Bolsonaro e Valdemar cometem o crime e quem paga a multa somos nós.

De tão patéticas, as tentativas de anular a eleição caem no ridículo. O PL restringiu seu insurgimento ao segundo turno, embora as mesmas urnas foram utilizadas no primeiro. É tudo tão malfeito quanto o relatório do Ministério da Defesa, segundo o qual nada foi encontrado nada, mas poderia ter sido. Nunca houve qualquer base legal para essa contestação. Tudo não passou de um jogo de cena para manter acirrada a militância bolsonarista fanática. 

Será divertido observar a gritaria dos sócios arrastados para dentro da encrenca criada por Valdemar, anotou Josias de Souza em sua coluna. Mas a diversão seria maior (e mais justa) se o CNPJ das legendas fosse trocado pelo CPF dos seus dirigentes, incluindo o de Bolsonaro

O capitão tem medo de ser preso (ele e seus filhos, vale destacar) no escopo dos inquéritos das fake news, dos atos antidemocráticos e do relatório da CPI do Genocídio. Isso sem falar na possibilidade de as investigações sobre as rachadinhas nos gabinetes bolsonaristas serem restabelecidas. 

Sem a caneta e o poder de fazer uma pressão federal, resta ao clã Bolsonaro manter a propaganda enganosa em nível das mídias sociais

Triste Brasil.