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terça-feira, 7 de maio de 2019

A PÁTRIA AMADA E O DIABO ATRÁS DA IGREJA




O Brasil é dirigido por um bando de maluco” (sic), afirmou Lula em recente entrevista a dois veículos de comunicação “cumpanhêros”. “Pelo menos não é um bando de cachaceiros, né?”, replicou Bolsonaro, que em seguida emendou: “Olha eu acho que o Lula, primeiro, não deveria falar. Falou besteira. Maluco? Quem era o time dele? Grande parte está preso ou está sendo processado. Tinha um plano de poder onde, nos finalmentes, nos roubaria a nossa liberdade, ok? Eu acho um equívoco, um erro da Justiça ter dado direito a dar uma entrevista. Presidiário tem que cumprir sua pena”. O capitão já disse muita bobagem nestes cento e poucos dias de governo, mas esse comentário o redimiu, como esclarecer uma plateia eivada de esquerdopatas que “Lula está preso, babacas!” fez subir no meu conceito o político sobralense Cid Gomes, irmão candidato derrotado Ciro Gomes, que é “cearense” de Pindamonhangaba (para quem não percebeu minha ironia, Pindamonhangaba é um munício paulista).

Já que o nome do criminoso mais emblemático desta banânia veio à baila, o togado supremo Ricardo Lewandowski, sempre disposto a prestar vassalagem àquele que o nomeou para o ápice da carreira, foi quem autorizou o petralha a dar entrevista aos jornais FOLHA DE S.PAULO e EL PAÍS. Também foi ele, segundo José Nêumanne,  que tornou presencial o julgamento de um habeas corpus impetrado em favor de seu ex-patrão, depois que a 5ª Turma do STJ reduziu sua pena de 12 anos e 1 mês para 8 anos, 10 meses e 20 dias. Outras fontes apontam Gilmar Mendes como mentor intelectual de mais essa maracutaia perversa, mas isso é de somenos: o que importa mesmo é o objetivo, qual seja aumentar as chances de o recurso de Lula ser acolhido, já que no plenário virtual a rejeição era quase certa. Aliás, outro pedido similar, protocolado por 29 advogados piauienses sem qualquer relação com a defesa de Lula, foi negado na última sexta-feira pelo ministro Edson Fachin. Não custa lembrar que o nordeste é tradicionalmente pró-Lula e que o Piauí ocupa o terceiro lugar no ranking dos estados mais miseráveis deste país, atrás somente do Maranhão (feudo do clã Sarney) e de Alagoas (feudo dos Collor de Mello e dos Calheiros). 

Falando nas peculiaridades do cenário político tupiniquim, VEJA desta semana dá conta de que toda quarta-feira às 8 horas o plenário da Câmara dos Deputados se converte em igreja. O culto de 27 de março, por exemplo, começou com aleluias e glórias ao senhor, enquanto a deputada e cantora gospel capixaba Lauriete Rodrigues, ex-mulher do ex-senador Magno Malta, puxava o louvor com seu violão. Na sequência, o deputado e pastor pernambucano Francisco Eurico da Silva, capelão da bancada evangélica, fez a pregação do dia, antes de ter início a votação para a escolha do novo líder da Frente Parlamentar Evangélica, composta hoje de 120 deputados ativos — um recorde desde a sua fundação, em 2002, e maior, muito maior, do que qualquer partido político no Congresso Nacional. Ainda segundo a reportagem, não há nem nunca houve votação para o posto de líder da frente religiosa: após discussões por vezes ásperas, o deputado amazonense Silas Câmara foi sagrado por aclamação. A despeito de diferenças e divisões na frente, a unidade de ação da bancada, nesta legislatura, vem amparada por uma convicção renovada na força política que o eleitorado evangélico demonstrou ao sustentar a eleição de Jair Bolsonaro — que vem dando repetidas mostras de alinhamento com o setor — dias atrás, ele matou no nascedouro a ideia de um novo imposto que incidiria também sobre as igrejas.

Cortejados pelos mais diversos partidos, os evangélicos têm ambições que não raro transcendem as vantagens tributárias, alvarás de templos e concessões de rádio. Silas Câmara surgiu como um nome de compromisso entre candidatos de ramos rivais da Assembleia de Deus, e foi por isso que ganhou, deixando claro que a lealdade desses deputados não está com caciques políticos, mas com pastores e bispos. Não é de hoje que se nota o interesse desses religiosos pela política partidária. Em meados da década de 1980, ávidos por recursos públicos, barganhas e alianças com candidatos e partidos e governantes, eles participaram dos debates da Assembleia Nacional Constituinte e ajudaram Sarney a ampliar o mandato de quatro para cinco anos em troca de concessões de emissoras e rádio e verbas públicas; no segundo turno das eleições de 1989, apoiaram Collor, e de lá para cá a instrumentalização recíproca entre esses grupos tem se intensificado, como compravam a transformação de templos em comitês eleitorais e a fundação de partidos por igrejas. 

Para quem faltou às aulas de história, vale lembrar que a Igreja foi a instituição mais poderosa da idade Média — quando a riqueza era medida pela quantidade de terras, o Papa e o cardinalato controlavam quase dois terços das terras da Europa ocidental. Seu poder da no mundo medieval é exaltado pelas grandes catedrais construídas nos séculos XII e XIII em várias regiões da Europa, todas ricamente decoradas com ouro maciço e pedras preciosas em profusão. Ainda assim, os batinas falam em caridade e em voto de pobreza, como que escarnecendo dos fiéis, que contribuem para multiplicar a riqueza da organização com o pagamento do dízimo e outros óbolos compulsórios, enquanto quase metade da população mundial vive abaixo da linha de pobreza.

Fechando o foco para nossa republiqueta de bananas, até o fim do Império o catolicismo era a religião oficial do Estado e tutelada por ele, o que limitava sua liberdade de ação. Com a constituição republicana, ela passou a ter um poder imenso. Para a Constituinte de 1934, foi criada a Liga Eleitoral Católica, que elegeu diversos representantes da própria igreja — que, por seu turno, legislaram em causa própria para conseguir uma série de privilégios. Em essência, esse descalabro foi preservado pela malfadada Constituição Cidadã, ainda que com outra formulação. Nas últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 1980, o pluralismo religioso passou a vigorar de fato no Brasil, e a Igreja Católica se viu obrigada a competir no mercado religioso. Mas isso é outra conversa.

A lei proíbe as igrejas de dar apoio eleitoral, mas a Universal apoiou Collor para presidente em 1989, Marcelo Crivella e Celso Russomano nas eleições para prefeito do Rio e de Sampa, respectivamente, em 2016, sem falar em um sem-número de candidatos a cargos legislativos. Não é de hoje que ela funciona como comitê, conforme ficou claro nas últimas eleições presidenciais
Pode-se mesmo afirmar que Bolsonaro deve sua vitória mais ao apoio dos evangélicos do que a sua postura antipetista. Declaradamente católico, o capitão é o primeiro presidente eleito com a retórica evangélica pentecostal. Antes dele, houve dois presidentes protestantes — Café Filho (presbiteriano) e Ernesto Geisel (luterano), mas nenhum deles chegou ao poder pelo voto direto e tampouco falava de religião. Bolsonaro há tempos cortejava os evangélicos com gestos de forte simbolismo; em 2016, por exemplo, foi batizado nas águas do Rio Jordão pelo pastor (e presidente nacional do PSC) Everaldo, da Assembleia de Deus. Sendo católico e muito identificado com os evangélicos, o presidente conseguiu unir os dois polos; se fosse só evangélico, talvez não tivesse conseguido tantos votos dos católicos, e vice-versa.

Os evangélicos frequentam mais seus templos do que os fiéis de outras religiões, chegam a doar seis vezes mais do que os católicos em dízimo e costumam buscar orientação de seus líderes para temas cotidianos, aí incluída a política. Esse manancial não passou despercebido pela oposição, mas o o fato é que a esquerda não soube explorá-lo. Gleisi “Crazy” Hoffmann, presidente nacional do PT, no mês passado usou uma linguagem marcadamente religiosa para criticar as propostas de Paulo Guedes ao dizer que a reforma previdenciária era um “pecado” e que Jesus foi crucificado porque “confrontou o templo, um sistema de dominação e exploração dos pobres”, mas suas declarações repercutiram mal entre pentecostais e neopentecostais.

Diz-se que Deus, em sua infinita sabedoria, criou o amor e a fé, e o diabo, invejoso, o casamento e as religiões. Há muito que a exploração da fé se tornou um negócio como outro qualquer. Balzac dizia que “por trás de toda grande fortuna há sempre um crime”, e no Vaticano a coisa parece não ser muito diferente. Basta relembrar a morte súbita de João Paulo I em 1978, 33 dias após ter sido escolhido para ocupar o Trono de Pedro, que vagou com a morte de Paulo VI. Esse episódio foi retratado na parte final da trilogia de “O Poderoso Chefão”, na qual Francis Ford Coppola capturou magistralmente a essência da Máfia Siciliana descrita no imperdível best seller do escritor ítalo americano Mario Gianluigi Puzo

Em tempo: Se você acha que a história do chazinho envenenado não passa de teoria da conspiração, lembre-se: A VERDADE NÃO ESTÁ NEM AÍ PARA O QUE VOCÊ ACREDITA.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

MORO LÁ — SERÁ? (PARTE 3)


Nunca, desde a redemocratização, uma eleição presidencial foi igual a outra no Brasil. As peculiaridades estiveram presentes até mesmo naquelas em que o(a) chefe da nação foi reeleito(a). Em 2022, tudo será bem diferente do que foi em 2018. A começar pela duração da campanha, que, oficialmente, será de apenas 45 dias, mas durará bem mais que as anteriores, pois começou ainda no primeiro ano da atual gestão. A prevista radicalização não chega a ser novidade, mas não faltam ineditismos, como o fato de o embate reunir o mandatário atual e um ex-presidente e envolver o bate-cabeça da oposição aos dois. 

O maior problema desse campo nem é o mar de pretendentes, mas o deserto de ideias. Bem ou mal, nas eleições anteriores havia um conceito por trás das candidaturas. Em 1998, Fernando Henrique já não contava com o impacto positivo do Plano Real que o elegeu em 1994 e, em meio a uma crise econômica, precisou se valer do receio da sociedade de perder os ganhos obtidos com o fim da inflação.

Em 2002, Lula lançou mão da esperança (“venceu o medo”, lembram-se?) de que uma mudança radical liderada por “um brasileiro igualzinho a você” proporcionasse o almejado bem-estar social absoluto. Em 2006, o grande ativo do mandatário mergulhado no escândalo do mensalão foi o céu de brigadeiro da economia e o auxílio precioso da campanha errática da oposição. Em 2010, no auge da popularidade, o corrupto se fez suceder por uma "gerentona de araque" que vendia a expectativa de dias ainda melhores pela frente. Em 2014 instituiu-se o reino das fake news numa campanha de sórdida ousadia, que, aliada ao ilusório “já ganhou” em Minas Gerais, levou Aécio Neves à derrota por muito pouco e permitiu à presidanta a renovação do mandato — que perderia dois anos depois, por incompetência e trapaças outras.

No intervalo entre a ressaca do impeachment e a próxima eleição, assumiu o vice-presidente — que deixaria o cargo com inacreditáveis 4% de avaliação positiva. Lula estava preso, fazendo campanha fictícia com uma candidatura àquela altura impossível, e a oposição meio engatada no barco do Vampiro do Jaburu, meio confiante na atração de votos por gravidade. O clima era de desesperança. 

Nesse ambiente surgiu o babalorixá dos bolsomínions, vendendo seus devaneios extremistas. Colou. A despeito de todos os pesares daí decorrentes, emocionou. De um lado quem estava disponível para aquele tipo de emoção e, de outro, quem acreditou não haver outra forma de impedir a volta do PT. Boa ou ruim, houve motivação. Justamente o que falta para a próxima eleição.

Estamos em campanha há três anos. Tempo suficiente para que os partidos dispostos a correr na pista do centro da avenida eleitoral entre os dois ditos extremos já tivessem encontrado algo de consistente e, sobretudo, inspirador, para dizer àqueles de quem pretendem atrair os votos.

Os líderes nas pesquisas tratam de assegurar suas reservas de mercado. Falam para as respectivas “bolhas”, inflando a rejeição mútua da qual ambos são dependentes. Mesmo que donos de portentosos telhados de vidro, ainda detêm o monopólio dos discursos ditos de direita e de esquerda. Repetem-se e fazem isso porque os supostos concorrentes não os obrigaram a se mexer para além da área de conforto.

Cada qual à sua maneira, Lula e Bolsonaro tocam corações. Apresentam-se em cores fortes, enquanto seus opositores se vestem em tom pastel na pregação genérica da pacificação política, da desigualdade social e do crescimento econômico. Bons temas, mas por ora carentes de abordagem vigorosa, original e, sobretudo, factível. Quanto a terceira via...

A entrada de Moro em campo chacoalhou a já tumultuada campanha de prévias do tucanato, que vê a candidatura do ex-juiz com apreensão. pré-candidatura é vista com atenção. Moro já aparece em terceiro na pesquisa eleitoral divulgada pela Genial Investimentos e Quaest Consultoria no último dia 10, com 8% das intenções de voto, atrás apenas do ex-presidiário ex-corrupto, com 57%, e do capetão-negação, com 27%, e tecnicamente empatado com o cearense de Pindamonhangaba — que disputou a Presidência em 1998, 2002 e 2018 (e foi derrotado todas as vezes). 

Ciro afirma que "o Brasil não pode eleger um juiz ladrão". Eu, particularmente, não discuto com especialistas e respeito a competência do ex-ministro de Lula como candidato — ele compete, compete, compete, mas nunca vence.

Observação: Em entrevista à rádio O POVO CBN, o senador Eduardo Girão (que apresentou voto em separado pela "extinção melancólica da CPI do Genocídio") elogiou a pré-candidatura de Moro à Presidência. Segundo o parlamentar cearense, o ex-ministro "personifica" a Operação Lava-Jato e entra no xadrez político em uma ação "espetacular", além de "partir de outro patamar na terceira via", com potencial de quebrar a polarização entre nhô-ruim e nhô-pior (vade retro!). É a prova provada de que até um burro cego consegue eventualmente encontrar a cenoura.

Os números chamaram atenção de muitos tucanos — em especial em Minas Gerais e no Sul —, que veem uma chance de o partido conseguir compor uma chapa forte, sem ser o nome principal, e reforçando a chamada terceira via. Segundo o UOL, Moro, Doria e Mandetta se reuniram em São Paulo, no fim de setembro, para debater um plano visando viabilizar a terceira via. Na proposta defendida pelos dois ex-ministros de Bolsonaro, os quase presidenciáveis de centro-direita se uniriam em torno de quem estiver melhor posicionado nas pesquisas em abril de 2022 — os demais desistiriam de sua candidatura, declarando apoio. 

Infelizmente, o plano foi rejeitado por Doria, que já foi próximo de Moro e chegou a sondá-lo para ir ao PSDB, mas tem se afastado (na avaliação de pessoas próximas a Doria, o tucano não deve se vincular à imagem de Moro, e participar de sua cerimônia de filiação ao Podemos, que nada tem a ver com o PSDB, poderia colocar azeitona na empada do ex-juiz. Pelo visto, no RS e em SP venceu a batalha de egos. O discurso de desistência da candidatura está descartado. As campanhas de Leite e Doria dizem não ter conhecimento deste movimento e garantem que, caso ganhem as prévias, concorrerão ao pleito principal. Nenhuma surpresa. Burros velhos dificilmente aprendem truques novos.

Bolsonaro sempre se borrou de medo da candidatura de Moro, que pode tomar uma parte de seu eleitorado. Segundo O Globo, até na alta cúpula do governo há apoiadores do ex-juiz. Entre alguns ministros, há entusiasmo com pesquisas que o mostram largando com dois dígitos de intenção de votos e com a dedicação que ele teria para resgatar políticas de combate à corrupção abandonadas por Bolsonaro. Outro ponto visto como positivo é que Moro seria mais resistente ao controle que partidos do Centrão exercem hoje sobre o governo. Há, no entanto, a avaliação de que, para sua candidatura andar, ele terá que aprender a ser mais maleável e político em suas conversas.

Moro não deixou passar sem resposta a tentativa de atribuir à Lava-Jato a alta recente dos combustíveis, feita pelo PT. Segundo O ANTAGONISTA, o ex-juiz precisa ficar de prontidão, porque a investida petista não vai parar por aí.  O documentira lançado pela ORCRIM no começo do mês atribui todos os males econômicos do país à operação. Logo no começo, o filme pergunta: Sabe aquele Brasil que você acreditava que estava indo rumo ao futuro?” A resposta vem num bordão: “Foi a Lava-Jato que tirou de você. O bordão é repetido ao longo de dez minutos: os empregos, a Petrobras que crescia, o pré-sal, os recursos da saúde e da educação, as grandes obras – foi tudo “a Lava-Jato que tirou de você”.

A patuleia abjeta tentará confundir a cabeça dos simplórios, dizendo que pouco mais de seis anos de combate bem-sucedido à corrupção fizeram mal ao país, mais que o conluio de décadas entre empreiteiras e política — no qual o PT se aconchegou — que desviou bilhões de reais não só da Petrobras, além de bloquear a livre concorrência e causar outras distorções na economia nacional. O PT vai tentar deslocar a conversa para o campo das mentiras e teorias da conspiração porque sabe que no campo da realidade não tem como vencer. 

O partido foi corrupto e corrompeu, não importa o que digam seus próceres ou os processos contra Lula que o STF anulou – sem declarar sua inocência. A história do departamento de propinas da Odebrecht continua existindo, não importa o que digam Gleisi Hoffman ou o ministro Ricardo Lewandowski, que também é petista de quatro costados e acha que a Lava-Jato foi malvada, malvada, malvada por expor empreiteiras corruptas.

Essa vai ser a tônica da campanha do PT. Um teatro em que farão de conta que o governo petista de Dilma não causou uma recessão brutal nem deixou desempregados 13 milhões de brasileiros. Reciclarão os mais decrépitos chavões da esquerda, dizendo que a Lava-Jato se locupletou com misteriosos “interesses estrangeiros” para saquear o Brasil. Triste Brasil.

Quando mais não fosse, a presença de Sergio Moro nas eleições já valeria só por isso: rebater as mentiras da ORCRIM e lembrar de tudo que o PT tirou de você. 

domingo, 19 de junho de 2022

SAL DE FRUTAS A GENTE VÊ DEPOIS

 


A decadência da ditadura militar propiciou o ressurgimento da democracia no Brasil, culminado com a promulgação da Constituição de 1988. A volta das eleições diretas para o Planalto com atuação expressa da Justiça Eleitoral ocorreu no ano seguinte, e contou com 82.074.718 eleitores aptos a votar. Fernando Collor, o caçador de marajás de araque, recebeu 35.089.998 votos e foi o primeiro chefe do Executivo Federal eleito diretamente desde 1960. Em 1994, o povo voltou às urnas e elegeu Fernando Henrique, que obteve 34.377.829 votos e foi reconduzido ao cargo em 1988, com 35.936.916 votos. 


A primeira eleição presidencial totalmente informatizada desde a criação da urna eletrônica — que foi implantada progressivamente em todo o país a partir de 1996 — ocorreu há exatos 20 anos e culminou na vitória de Lula, com 52.793.364 votos. Quatro anos depois, o demiurgo de Garanhuns foi reeleito com 58.295.042 votos; em 2010, sua pupila, a inolvidável nefelibata da mandioca, recebeu 55.752.529 votos e se tornou a primeira presidenta desta banânia. 


Mediante o maior estelionato eleitoral da história (até então, porque seria superado em 2018), Dilma, a inolvidável, se reelegeu em 2014, mas foi afastada em maio de 2016 e penabundada dali a três meses, quando então Michel Temer, o vampiro do Jaburu, se aboletou no trono. Dois anos mais tarde, Jair Bolsonaro, o Messias que não miracula, foi eleito com 57.797.847 dos votos válidos. 


Assim que subiu a rampa e vestiu a faixa, o "mito" dos descerebrados enrolou as bandeiras de campanhaenfiou-as onde o sol não bate e deu continuidade à demolição da economia que a bruxa má iniciou e o impeachment a impediu de concluir. Agora, faltando 100 dias para as eleições gerais, uma dezena de aberrações ameaça disputar a Presidência (lembrando que a data limite para a oficialização das candidaturas é o dia 5 de agosto, e que até lá muita coisa pode mudar). 


Para além da parelha que encabeça todas as pesquisas de intenção de voto, integram o indigesto cardápio os arrozes de festa Ciro Gomes (que caminha para a quarta derrota) e José Maria Eymael (que comemorará seu sexto fiasco). Apesar da oratória invejável, o cearense de Pindamonhangaba é visto como mero satélite do PT, e quem escuta seu jingle de campanha tem a impressão de que ele é candidato à prefeitura de Itapipoca. 

 

Entre os itens mais vomitativos (mas menos que o ex-presidente ex-presidiário e o lunático que prometeu acabar com a reeleição e jamais desceu do palanque) destaca-se o maquiavélico Luciano Bivar, mentor intelectual da “descandidatura” de Sergio Moro. André Janones e Felipe D’Ávila são ilustres desconhecidos, e de Vera Lucia, Leonardo Péricles, Pablo Marçal e Sofia Manzano, a maioria de nós mal ouviu falar. O folclórico Cabo Daciolo ameaçou repetir o fiasco de 2018, mas resolveu apoiar Ciro Gomes e voltou para o alto de sua montanha encantada. Glória a Deus! 


As pré-candidaturas de Alessandro Vieira e Rodrigo Pacheco não passaram de balões de ensaio. João Doria era uma iguaria que não faríamos mal em experimentar, mas foi retirado do cardápio por não ornar com o paladar sofrível do eleitorado. Moro chegou a figurar como “prato do dia”, mas foi “desapoiado” pelo Podemos e traído pelo União Brasil. Já as idas e vindas de José Luiz Datena são folclóricas.


Em 2018, o apresentador chegou a se licenciar do Brasil Urgente e lançar-se pré-candidato ao Senado, mas desistiu. Em 2020, chegou a ser cotado para vice na chapa de Bruno Covas, mas desistiu. No ano passado, recém-filiado ao PSL, exsudou determinação: “Dessa vez é pra valer!” Semanas atrás, embora tivesse dito que só lhe interessa a Presidência, o monumento à incoerência — que declarou que não votou em ninguém depois de Lula, que não é responsável “por boa parte do Brasil que está aí”, e  “apoiei o Bolsonaro é o cacete” — anunciou que disputará o Senado. E com o apoio de Bolsonaro. No último sábado (4), no intervalo de duas horas, Datena anunciou sua desistência, voltou atrás e disse que desistiu de desistir. 

 

Ninguém merece um sujeito desses no Planalto — nem mesmo o sapientíssimo eleitorado tupiniquim. Por outro lado, considerando que por lá passaram Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro... Isso me lembra a anedota do pinguço que enchia a cara e ficava torrando a paciência do dono bar. Um belo dia, cansado de ouvir o manguaceiro pedir “a saideira”, o portuga lhe serviu um cálice de urina. O pinguço bebeu, mas nem assim foi embora. “Mais alguma coisa?”, rosnou o botequineiro. E o bêbado respondeu: “Já que você me serviu um copo de mijo, que tal um sanduíche de merda para acompanhar?” 

 

Torçamos pela senadora Simone Tebet. Talvez ela não seja a candidata de nossos sonhos, mas é tudo que nos resta. O sal de frutas, a gente vê depois.

 

Triste Brasil.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

ELEIÇÕES 2018 — O DESCALABRO


Dizer que político nenhum presta é generalizar, e toda generalização é perigosa. Por outro lado, toda regra tem exceção, não é mesmo? Acompanhe meu raciocínio.

Faltando pouco mais de 2 meses para nosso qualificadíssimo eleitorado escolher um novo presidente e novos governadores, além de renovar 2/3 do Senado e 100% das câmaras federal e estaduais, a maioria dos postulantes ao Planalto, sobretudo os que estão mal colocados nas pesquisas, apostam na anacrônica propaganda política obrigatória para vender seu peixe podre. 

No entanto, o período durante o qual essas incomodativas inserções na programação do rádio e da televisão (que por si só já é lamentável) será mais curto do que nas eleições anteriores. Além disso, os candidatos dos partidos nanicos não terão tempo sequer para piscar um olho, daí as coligações serem importantes para os que realmente têm chances de emplacar e lucrativa para os que não tem, que lhes vendem seu apoio a peso de ouro, mandando às favas a ideologia.

Tanto Ciro Gomes quanto Geraldo Alckmin “namoraram” o Centrão, embora suas propostas de governo sejam diametralmente opostas. O bloco decidiu apoiar o tucano, levando o candidato do PDT a correr atrás dos eleitores petistas, vendendo-se como a única esperança de soltura do criminoso de Garanhuns. Disse o cearense fajuto (Ciro nasceu em Pindamonhangaba, no interior paulista): “Lula só tem chance de sair da cadeia se a gente assumir o poder e organizar a carga, botar juiz para voltar para a caixinha dele, botar o Ministério Público para voltar para a caixinha dele e restaurar a autoridade do poder político”.

Com o apoio do Centrão, somados os quinhões a que têm direito os dez partidos que devem participar da coligação, Alckmin terá mais de 50% das duas horas diárias dedicadas às candidaturas, aí considerados os programas eleitorais e as muitas inserções ao longo do dia. A cada bloco do horário eleitoral destinado exclusivamente aos presidenciáveis, com 12 minutos e 30 segundos, cerca de 6 minutos e 50 segundos serão destinadas à propaganda do tucano, sem mencionar que o bloco representa também uma nada modesta fatia de R$ 440,4 milhões no fundo eleitoral. Por outro lado, Josué Gomes, filho de José Alencar, que foi vice de Lula, declinou do convite do PSDB para compor a chapa como vice de Alckmin. A meu ver, não se perdeu grande coisa.

A propósito: Rodrigo Maia desistiu de disputar a Presidência — conforme, aliás, eu já havia antecipado nesta postagem. Afinal, se ele pretendesse realmente concorrer ao Planalto e não à reeleição, não haveria por que se ausentar do país durante as viagens de Temer para o exterior. Na verdade, sua pré-candidatura era apenas um balão de ensaio, uma estratégia para valorizar o passe do DEM nas tratativas de coligação com outros partidos. De mais a mais, suas chances de vencer o pleito eram tantas quanto as de uma bola de neve sobreviver no inferno.

Depois que o Judiciário proibiu as doações eleitorais de pessoas jurídicas, o Legislativo se apressou em buscar outra forma de custear as campanhas milionárias. Como se não bastasse o famigerado fundo partidário de R$ 888,7 milhões, nossos parlamentares criaram um Fundo Eleitoral de R$ 1,7 bilhão — valor elevado posteriormente para R$ 2,5 bilhão com o aval do TSE. E o pior é que se trata de dinheiro público — fruto dos nossos suados impostos — malversado para bancar campanhas de corruptos enquanto o país atravessa seriíssimas dificuldades, com o maior rombo nas contas públicas da história e vários estados falidos, sem um centavo para investir em educação, saúde, segurança pública e atender outras necessidades prementes. 

Em vez de buscar uma solução para a crise, os parlamentares botam mais lenha na fogueira, aprovando, às vésperas do recesso, uma pauta-bomba que inviabilizará o próximo governo. Como se não bastasse, essa corja de fisiologistas corruptos fez diabo para dificultar a renovação dos quadros, visando permanecer eles próprios — e seus filhos e apaniguados — no poder. O próximo presidente, seja ele quem for, terá de administrar uma herança maldita. Veja, por exemplo, a permissão para aumento de salários do funcionalismo, que terá impacto de R$ 6 bilhões — se o benefício for estendido aos militares, o valor subirá para R$ 11 bilhões. Ou a permissão para ratear entre os consumidores as perdas com furto de energia nas distribuidoras de Rondônia e do Acre — o que representa um aumento médio de 5% na conta de luz. Ou, ainda, a permissão para que os municípios deixem de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal quando houver queda maior que 10% na transferência de impostos federais, ou, pior, a autorização para criação de 300 novos municípios com cinco a oito mil habitantes (que dependeriam de recursos da União para manter os cargos e as Câmaras de vereadores). 

Quer mais um exemplo? Então leve dois: Semanas atrás, a Câmara concedeu às transportadoras o direito de abater no imposto de renda tudo que pagarem de pedágio — ou seja, caberá à sociedade pagar o pedágio por elas — detalhe: o projeto foi relatado pelo deputado Nelson Marquezelli, que é um transportador e, portanto, legislou em causa própria. Outro caso parecido aconteceu com as dívidas previdenciárias dos produtores rurais, que provocou perdas de R$ 17 bilhões — a proposta foi relatada por um deputado que também é produtor rural.

Resumo da ópera
: Os parlamentares aprovam gastos e derrubam o que o governo propõe para equilibrar as contas. A atuação dos maus políticos dificulta o cumprimento da meta fiscal para o próximo ano, que já prevê um déficit de R$ 139 bilhões. De acordo com o Valor, tramitam no Congresso 42 projetos com impacto fiscal. Talvez alguns congressistas pensem estar agindo contra um governo enfraquecido, que caminha para seu melancólico fim, mas na verdade estão inviabilizando o país. E a burrice é tanta que os mesmos políticos que agora procuram agradar grupos específicos de eleitores buscam a reeleição — e, portanto, deverão participar do próximo governo.

E viva o povo brasileiro!

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quarta-feira, 25 de agosto de 2021

ERA UMA VEZ...

"TODOS AMAM O PODER, MESMO QUE NÃO SAIBAM O QUE FAZER COM ELE".

Era uma vez um mau militar que foi expelido da Escola de Oficiais do Exército por indisciplina e insubordinação (mas acabou sendo absolvido das acusações pelo STM). Que ingressou na vida pública como vereador, foi deputado federal por sete mandatos e, em 28 anos no baixo clero da Câmara, aprovou dois míseros projetos e colecionou mais de trinta ações criminais. E que foi alçado à Presidência por uma esdrúxula conjunção de fatores — entres os quais a facada que levou no ato de campanha de 7 de setembro de 2018. 

Era uma vez um candidato improvável que, uma vez eleito, reconheceu (num raríssimo rompante de lucidez) que não nasceu para ser presidente, nasceu para ser militar, mas, a despeito da promessa de campanha de propor o fim da reeleição, cria uma nova crise a cada santo dia, visando mobilizando sua base eleitoral e tirar o foco dos principais problemas do país (decorrentes, em grande medida, de seu despreparo), enquanto articula sua cada vez mais improvável reeleição.

Era um vez um presidente incompetente que, inconformado com os índices de reprovação a seu governo e rejeição a sua pessoa (64% dos entrevistados desaprovam sua gestão e 58% querem seu impeachment), passou a promover motociatas, vituperar contra o STF, pedir o impeachment de ministros da Corte e "esticar (ainda mais) a corda", ameaçando discursar nas manifestações marcadas para o próximo dia 7 — na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, pela manhã, e na Avenida Paulista, em São Paulo, na parte da tarde. 

Observação: O STF deve ser o principal alvo desses pronunciamentos — que podem incluir também a defesa da "liberdade de se manifestar a favor da interpretação de que o artigo 142 da Constituição permite uma intervenção militar para garantir a lei, a ordem e os poderes da República". O objetivo dessas manifestações é mostrar força política e eleitoral, e a expectativa é que os atos contem com grande adesão popular (seria isso que o capitão quis dizer quando afirmou a apoiadores que eles teriam uma "fotografia para o mundo"), permitindo pressionar o presidente do Senado a dar andamento aos pedidos de impeachment de ministros do STF e o Congresso a aprovar pautas de interesse do governo.

Era uma vez um presidente que colocou o Brasil numa situação tão constrangedora quanto Jânio Quadros, o populista manguaceiro que se elegeu prometendo "varrer a corrupção", passou 206 dias mandando "bilhetinhos" para auxiliares e se preocupando com rinhas de galo e outras questiúnculas... E que, no dia 25 de agosto de 1961, "movido por forças terríveis", apresentou sua carta-renúncia e voou para a Base Aérea de Cumbica, levando consigo a faixa presidencial (que a essa altura não mais lhe pertencia) e a esperança de ser reconduzido ao cargo por aclamação popular, o que lhe permitiria governar sem ser "incomodado pelo Congresso". Era uma vez um ex-presidente que acabou num cargueiro, rumo ao exílio no Inglaterra. porque a manguaça o fez esquecer de combinar sua tramoia com o povo. 

Bolsonaro não é dado a libações alcoólicas, ressalta André Gustavo Stumpf em artigo transcrito por Ricardo Noblat no portal Metrópoles, mas seu comportamento mercurial deve ter origem em algum problema que só a psiquiatria política poderá explicar. Ele alimenta o conflito para manter sua claque unida e garantir espaço no noticiário, mas seus maus bofes e declarações desastradas causam ruído, derrubam a bolsa de valores, provocam o aumento do dólar e frustram qualquer possibilidade de diálogo. 

Bolsonaro produz fofoca, onda, espuma, mas governar, que é bom, néris de pitibiriba. O empresariado já está com um pé atrás; o investidor estrangeiro foge do mercado brasileiro; o botijão do gás de cozinha custa 10% do salário-mínimo e o do litro da gasolina beira os R$ 7.

O tradicional elenco de feira de horrores que deverá postular o Planalto em 2022 ainda não deu as caras. Há esforços de uma ala do PSDB para lançar o governador gaúcho Eduardo Leite, mas o ex-presidente FHC apoia o paulista João Doria. Fala-se, ainda, em Rodrigo Pacheco e não se descarta Sérgio Moro. O cearense de Pindamonhangaba Ciro Gomes também é uma possibilidade (e outra tragédia anunciada).

Segundo as mais recentes pesquisas de intenções de voto, Lula derrotaria Bolsonaro no segundo turno, mas simulações sem o molusco abjeto dão conta de que o capitão perderia de qualquer outro candidato no segundo turno.

E aí, então, era uma vez um capitão...

quarta-feira, 6 de abril de 2022

MAIS SOBRE O SALSEIRO DA TERCEIRA VIA E O GOVERNO IMPOLUTO DO CAPITÃO


O famigerado bloqueio criativo — que transforma a tela em branco com o cursor piscante no maior pesadelo de quem escreve — vem perdendo espaço para ansiedade produzida pela enxurrada de descalabros que os noticiários estampam um dia sim e no outro também. 


A péssima escolha que fizemos em 2018 (por absoluta falta de opção) para exorcizar o lulopetismo corrupto foi, em grande medida, o estopim dessa tragédia, mas é preciso lembrar que, noves foram os devotos da seita do inferno, ninguém imaginava que o bolsonarismo boçal poderia ser tão nefasto.

 

Torno a relembrar que maus agentes públicos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea; só foram parar lá porque contaram como o aval do eleitorado. Vale conferir o que disseram Pelé —o eterno Rei do Futebol — e Figueiredo — o general-presidente que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo — sobre o risco de misturar brasileiros e urnas em pleitos presidenciais. 


Churchill disse que a democracia é a pior forma de governo à exceção de todas as outras, mas anotou que o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com um eleitor mediano. 

 

A novela a que vimos assistindo desde meados da semana passada está assim: Sergio Moro e João Doria desistiram de disputar a Presidência e, ato contínuo, desistiram de desistir. Moro e Eduardo Leite tentam emplacar seus nomes para representar a terceira via liderando uma chapa presidencial que envolve o MDB, PSDB e União Brasil. Faltou combinar com Doria, mas tudo bem. 

 

Por enquanto, apenas Moro se pronunciou sobre o encontro — por meio de nota, ele disse que conversou com Leite sobre a "necessidade de união do centro”, que está sendo liderada no União Brasil por Luciano Bivar, presidente nacional da sigla. Ciro Gomes se recusa a participar dessas articulações; se não desistir no meio do caminho, o político cearense nascido em Pindamonhangaba (SP) disputará a Presidência pela quarta vez. 


A conferir.

quinta-feira, 5 de maio de 2022

SOBRE CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS


Reza o bom senso que primeiro é preciso resolver o problema e depois apurar as responsabilidades. No entanto, quando a péssima qualidade dos postulantes à Presidência se soma à péssima qualidade do eleitorado, como acontece no Brasil, só resta rezar, já que o responsável por esse descalabro foi o próprio Criador.

Nossa primeira eleição presidencial aconteceu em 1891, mas de forma indireta. Três anos depois, o povo foi às urnas pela primeira vez e elegeu Prudente de Morais, pondo fim à República da Espada (um resumo do que aconteceu a partir de então pode ser lido nesta postagem e nas seguintes). O próximo pleito presidencial deve acontecer daqui a 5 meses. “Deve”, porque com Bolsonaro nada é impossível (noves fora um bom governo). 


Não fossem as peculiaridades mencionadas no primeiro parágrafo, o eleitorado teria chances reais de pôr fim esse infortúnio. E se Deus fosse ainda fosse o mesmo Deus do Velho Testamento, Ele certamente daria uma mãozinha, fulminando as candidaturas dos postulantes mais bem colocados nas pesquisas (ou os próprios candidatos, melhor ainda).

 

Observação: Segundo o Estadão, pesquisas internas da campanha de Lula mostram que Bolsonaro ganhou mais pontos entre os evangélicos, conquistando eleitores até então indecisos nesse segmento. Deve ter sido por isso que o petralha vem mencionando Deus em seus discursos. Um lulista disse para o jornal: “Lula acordou católico. Ou crente”.

 

No mundo real, o imprevisto sempre pode ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos (aliás, há que diga que “as coincidências nada mais são do que Deus agindo nos bastidores). 


Em 1961, a renúncia de Jânio Quadros deu azo ao golpe de 1964, que resultou em 21 anos de ditadura militar. Em 1985, a morte de Tancredo Neves mudou os rumos da Nova República. Em 2014, a morte de Eduardo Campos mudou os rumos da eleição presidencial. Em 2017, a morte de Teori Zavascki pavimentou o caminho o sepultamento em vida da Lava-Jato. 


Em 2018, a aversão ao lulopetismo corrupto resultou na vitória do pior mandatário desta banânia desde Thomé de Souza, e agora (valei-nos Deus!), ao que tudo indica, teremos um repeteco, mas com Lula disputando pessoalmente o butim e a rejeição ao bolsonarismo boçal ombreando com o repúdio ao lulopetismo corrupto.

 

Da quimérica terceira via, restaram João Dória e Simone Tebet — ela descarta a possibilidade de ser vice na chapa dele; ele não descarta nada, nem ser vice numa eventual chapa encabeçada por ela. No UB, o caviloso lançamento do nome de Luciano Bivar foi uma conspirata para sepultar a candidatura de Sergio Moro do páreo (e já tem gente falando em ressurreição). Segundo dados do Paraná Pesquisas, Dória superou Ciro Gomes (o cearense de Pindamonhangaba seria uma alternativa à polarização se ele não fosse quem é). 


Enfim, enquanto esperamos Deus fulminar os sacripantas de turno (dada a quantidade desses imprestáveis, seria melhor Ele cercar Brasília reeditar o Dilúvio), vejamos o que disse Josias de Souza em seu comentário da última terça-feira.

 

O poder não aceita desaforos. Quem tem poder precisa exercê-lo na medida exata. Quem exorbita erra o alvo. Quem claudica vira o alvo. Desacatado por Daniel Silveira, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes apresentou ao deputado bolsonarista, com pelo menos 16 dias de atraso, a conta do escracho: R$ 405 mil.


Moraes mirou o bolso de Silveira num instante em que a protelação já havia se transformado num fator de desmoralização de sua toga. O deputado desligara o equipamento que deveria monitorá-lo desde 17 de abril. Era como se o réu tivesse instalado sua tornozeleira no magistrado. O escárnio começara antes, como anotou Moraes em seu despacho: ‘Desde a decisão que fixou a multa diária, proferida em 30 de março de 2022, o réu desrespeitou flagrantemente várias das medidas’.


Na véspera, Silveira dizia que o perdão que obtive de Bolsonaro o livrou de responder por todas as culpas. Embora o decreto da graça continue sub judice, o deputado continuou fazendo graça: ‘Presidente perdoou, acabou!’ O restabelecimento da ordem está condicionado ao pagamento da conta.


Moraes determinou ao Bacen o bloqueio de R$ 405 mil nas contas de Silveira. Mandou notificar o réu que preside a Câmara para que providencie o desconto da dívida no contracheque, na proporção de 25% do salário até a quitação. Resta agora ressuscitar o axioma segundo o qual ordem judicial se cumpre.” 

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

AINDA SOBRE LULA, A PROPAGANDA ELEITORAL E A SUCESSÃO PRESIDENCIAL



A sucessão presidencial — e a renovação do Congresso, que é tão importante quanto — é a bola da vez, e continuará sendo até que se conheça o nome do próximo presidente. Aliás, enquanto a Justiça Eleitoral não definir a situação do criminoso condenado, levando o PT a assumir que o poste é seu verdadeiro candidato, não saberemos se assistiremos ou não ao engodo da candidatura de Lula no horário eleitoral obrigatório (detalhes na postagem anterior).

Se Lula será ou não impedido de aparecer na TV, isso cabe ao TSE decidir. Nesse entretempo, Haddad faz campanha como vice, com a “trice” Manoela d’Ávila a tiracolo. Dias atrás, quando o poste vermelho subiu a famosa ladeira do Curuzu, em Salvador, na companhia Rui Costa — que é candidato à reeleição ao governo da Bahia pelo PT —, alguns populares se referiram a ele como “o tal de Andrade”, deixando claro que, no nordeste, Haddad não passa de um ilustre desconhecido. Enquanto isso, Benevenuto Daciolo da Fonseca dos Santos, candidato pelo Patriota ao Planalto, também sobe o morro, mas para orar, jejuar e dizer à nação que, se for eleito, vai combater os Illuminati e a Maçonaria (?!). É ou não é caso de internação???

No extremo do espectro político-partidário oposto ao do PT, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, busca aumentar seu escore. Mas é mais fácil falar do que fazer: na entrevista que deu ao Jornal Nacional, na última terça-feira, ele deixou claro mais uma vez que de bom, mesmo, sua candidatura só tem Paulo Guedes — a postura do candidato é ruim, seu humor, explosivo, e suas respostas às perguntas que lhe são feitas deixam patente seu total despreparo para o exercício da Presidência.

No centro-esquerda desse tresloucado picadeiro, o cearense de Pindamonhangaba (conterrâneo do candidato tucano Geraldo Alckmin), também em entrevista ao Jornal Nacional (transmitida na última segunda-feira), voltou a defender o presidente do seu partido — o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, que é réu por improbidade administrativa e responde a inquérito na Justiça por suposta compra de apoio político para o governo Dilma Rousseff em 2014.

Segundo Ciro, que não cansa de dizer que é professor de Direito Constitucional, Lupi conta com sua total confiança e ocupará o cargo que desejar em sua administração. E mais: contestou Willian Bonner dizendo que seu correligionário não é réu: “No máximo, ele é requerido; réu, jamais”. Detalhe: requerido é “a parte da lide contra a qual é proposta a ação”, isto é, o réu contra o qual o processo é ajuizado; portanto, os termos são sinônimos. A que ponto chega a desfaçatez de certas pessoas!

Voltando ao “tal de Andrade”, ops, Haddad, a pouco mais de um mês do primeiro turno das eleições ele foi novamente denunciado pelo Ministério Público. Vale lembrar que o ex-prefeito é réu por improbidade administrativa numa ação envolvendo irregularidades na implantação de uma ciclovia de 12,4 km na região da Faria Lima, em São Paulo. Vale lembrar também que Lula lidera as pesquisas graças aos 60% dos votos dos eleitores do nordeste, onde, apesar de preso por corrupção, ainda é considerado “herói”. Se vai conseguir transferir essa montanha de intenção de votos para seu novo poste, aí já é outra história.

Os primeiros programas de TV do PT devem fazer uma fusão de frases nas quais se passará a ideia de que Lula transmuta-se em Haddad, passando de “Lula e Haddad” para “Lula é Haddad. O efeito que essa estratégia produzirá é tão nebuloso quanto a aposta de Alckmin no horário eleitoral obrigatório, do qual, por conta das coligações partidárias, ele detém metade do tempo total de exposição no rádio e na TV. Tido e havido como “picolé de chuchu” por sua manifesta sensaborice, o tucano precisa se reinventar, ou seus pronunciamentos farão os telespectadores caírem no sono.

Lula, condenado em segunda instância no processo envolvendo o tríplex no Guarujá (vale lembrar que ele réu em mais seis ações penais, duas das quais tramitam em Curitiba, sob a pena do juiz Sérgio Moro), não deverá concorrer, e Haddad é desconhecido justamente onde o demiurgo tem mais votos. O próprio ex-governador da Bahia, Jaques Wagner — que seria a opção natural do PT para substituir Lula na chapa, mas que declinou do convite por receio de a exposição complicá-lo ainda mais na Lava-Jato —, disse que “não adianta querer fantasiar Haddad de Lula; ele [Haddad] precisa apresentar um perfil próprio para os eleitores”.

Observação: Haddad não vê a hora de ser ungido candidato. Ele não aguenta mais falar do líder máximo, repetir que Lula tem que ser solto, que o Brasil atenta contra a democracia. O candidato está ansioso para mostrar o que ele próprio pensa. Mas não fala e ataca quem fale sobre tomar atalhos para se livrar logo de Lula preso... Vai que Lula ouve.

A despeito da memória curta e da sabida falta de esclarecimento do eleitorado tupiniquim, a tragédia do outro poste de Lula (leia-se Dilmanta) permanece vívida. Para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília, Haddad pode até ser o maior beneficiário do capital político do molusco, mas não numa parcela suficiente alçá-lo ao segundo turno. “Pelo tempo curto, a força de Lula não será tão grande como foi em 2010, quando ele elegeu Dilma Rousseff”, analisa. A ver.

Antes de encerrar, transcrevo um excerto da coluna de Ascânio Seleme em O GLOBO:

Se o bombardeio do PT e outros partidos contra a Lava-Jato tivesse produzido resultados mais consistentes, esta eleição seria bastante diferente. Apesar da felicidade geral da nação petista, que teria seu Lula livre, o país seria outro. Ou talvez o mesmo de anos atrás. O comandante da ORCRIM estaria em plena campanha e, como não poderia encenar o papel de vítima, possivelmente não teria 37% das intenções de voto. Passaria toda o tempo explicando a corrupção endêmica de seu partido, o desastre do governo de Dilma e as acusações contra ele que não teriam seguido adiante com o sepultamento da Lava-Jato. Odebrecht e OAS estariam financiando sua campanha pelo caixa 2, e, nas folgas da maratona eleitoral, o petralha relaxaria em seu tríplex no Guarujá ou em seu sítio de Atibaia.

Sem a Lava-Jato, o Congresso não teria tido força política para impichar a Bruxa Má do Oeste, que estaria pilotando uma economia moribunda, com um índice de aprovação baixíssimo, embora não tão baixo quanto o de Temer, porque tem muita gente que se recusa a enxergar. Seu vice decorativo teria se desincompatibilizado do cargo para disputar uma vaga na Câmara, e como as acusações contra ele não seriam investigadas, muito possivelmente seria eleito na margem de erro.

Palocci estava afundado até o pescoço em falcatruas desde antes da Lava-Jato, mas provavelmente seria candidato a uma vaga na Câmara. Não seria chamado para ajudar no plano de governo de Lula, muito liberal para este novo PT. Já o guerrilheiro de festim José Dirceu teria cumprido sua pena pelos crimes do mensalão e voltaria a encarnar o papel de guerreiro do povo brasileiro. E muita gente acabaria caindo nessa. Seria, claro, candidato a deputado federal. Não arriscaria uma eleição majoritária.

Eduardo Cunha, solto, com dezenas de contas milionárias no Brasil e no exterior, continuaria achacando empresas e empresários. Seria o deputado federal mais votado do Rio e financiaria uma bancada gorda com mais de 100 parlamentares em diversos estados. Voltaria a presidir a Câmara. Sérgio Cabral também estaria solto e seria o candidato a vice de Lula. Agregaria ao perfil do governador pop do Rio o tempo de TV e o fundo partidário do MDB à campanha petista. Nas folgas da campanha, descansaria com a serelepe Adriana Anselmo na mansão de Mangaratiba, cercado de quadros de Romero Brito e garrafas de vinho de US$ 2 mil a unidade.

Aécio Neves, a exemplo de Temer, não teria sido presidente, mas a série de eventos provocados pelas gravações de Joesley não ocorreria. O mineirinho safo não teria sido flagrado chafurdando nos cofres dos Batistas e seria, portanto, o candidato do PSDB a presidente. Embalado pelo enorme recall de 2014, ele teria chances consideráveis de ir para o segundo turno. Gleisi Hoffmann seria coadjuvante no cenário nacional, mas certamente se candidataria mais uma vez ao governo do Paraná. De Lindbergh Farias, não se conheceria seu lado aloprado, e o petista não teria a visibilidade que ganhou com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Por isso, suas chances de sucesso na reeleição seriam menores.

Marcelo Odebrecht estaria mais rechonchudo, já que não teria passado dois anos na cadeia sem nada para fazer senão ginástica. Teria mantido o Departamento de Operações Estruturadas da empreiteira e continuaria jorrando dinheiro desviado do público para campanhas privadas. Todos os outros empreiteiros estariam muito bem, obrigado. Léo Pinheiro já teria sido chamado para fazer algumas reformas e ajustes no tríplex dos Lula da Silva no Guarujá; a Petrobras não teria recuperado os R$ 2,5 bilhões — antes pelo contrário, a sangria continuaria em curso. Tampouco seria conhecida a medida monetária em que um [Pedro] Barusco equivale a R$ 100 milhões. Alberto Youssef, com o dólar a R$ 4, estaria nadando de braçada, e todos os tesoureiros e ex-tesoureiros do PT estariam bem e felizes (nenhum teria sido preso).

Os marqueteiros João Santana e Mônica Moura estariam cuidando da campanha de Lula, e Duda Mendonça continuaria no mercado. Alguns dos maiores criminalistas do Brasil teriam dezenas de milhões de reais a menos em suas contas. E Zanin... que Zanin? Ninguém conheceria Cristiano Zanin.

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quinta-feira, 2 de junho de 2022

O BRASIL JOGA CONTRA O BRASIL

 


Bastou Bolsonaro aventar que só participará de debates no segundo round para Lula dizer que também não irá. Segundo o petista, não faz sentido ele “servir de escada” para candidatos que ostentam percentuais abaixo dos dois dígitos nas pesquisas. 

 

Parece aquele meloso “só vou se você for” de começo de namoro, mas é a prova provada da interdependência de nhô-ruim e nhô-pior, como evidenciam as projeções de vitória no segundo turno quando um dos componentes da fórmula Lula x Bolsonaro é substituído por outro candidato.

 

Em 2018, Bolsonaro participou de dois debates antes de ser esfaqueado por um napoleão de hospício (daqueles que não comem merda nem rasgam dinheiro). Na Band, ficou nervoso quando Guilherme Boulos quis saber por que ele embolsava o dinheiro do auxílio moradia em Brasília. Na Rede TV!, foi espinafrado por Marina Silva por ter ensinado uma criança de colo a fazer o sinal de arminha. Convalescente, usou a facada como salvo-conduto para fugir dos debates, embora não se furtasse a dar entrevistas à imprensa, gravar programas eleitorais e participar de eventos com apoiadores. E reconheceu que agiu de caso pensado: “Tudo na política é estratégia”. 

 

Se eu for [aos debates], os dez candidatos vão querer dar pancada em mim. E não vou ter tempo de responder”, ponderou o ex-capitão durante a entrevista que foi ao ar no último dia 31. “Acho que debate teria que ser com perguntas pré-acertadas antes com os encarregados de fazer o debate, até pra não baixar o nível.” 

 

Numa campanha séria, os candidatos são confrontados com assuntos incômodos e precisam se virar sem a cola do teleprompter. O que Bolsonaro propõe é outra coisa: transformar um gênero jornalístico em peça de propaganda. É como se desejasse substituir o debate pelo deboche de um jogo de cartas marcadas.

 

A tática de fugir da raia não é nova. Collor (1989), Fernando Henrique (1998) e Lula (2006) também se recusaram a encarar os adversários no primeiro turno, mas todos lideravam as pesquisas, e Bolsonaro aparece atrás do petista em todas elas. A razão de sua recusa é simples: num debate de verdade, ele precisaria dar explicações sobre a inflação galopante, os rolos dos filhos e a demora a comprar vacinas. Mas ele prefere frequentar ambientes onde não corre o risco de ser questionado. No bate-papo com Ratinho, que já atuou como garoto-propaganda de seu governo, mentiu à vontade sobre a urna eletrônica, as queimadas na Amazônia e as críticas da classe artística.

 

Ciro Gomes não deixou por menos. Em vídeo publicado em seu canal no YouTube, o terceiro colocado nas pesquisas afirmou que a ausência de Lula e Bolsonaro nos debates é uma “covardia inominável”. “Será, Lula, que você vai mostrar ao Brasil que é igualzinho ao Bolsonaro? Por favor, não traia a democracia, não traia os valores que você tanto defendeu quando queria”, afirmou o cearense de Pindamonhangaba. E complementou: “Quando você estava na cadeia em 2018, você entrou na Justiça para a Justiça lhe permitir da cadeia participar do debate, e agora que você está livre […] você não vai?”.

 

As eleições gerais deste ano consumirão R$ 5 bilhões em verbas públicas. Entre todas as disputas, a que mais costuma interessar ao eleitorado é a presidencial. Confirmando-se o esvaziamento dos debates, o pleito ganhará instantaneamente uma aparência de estelionato.

 

Este país só se tornará minimamente sério quando o povo se conscientizar que políticos devem ser cobrados, não endeusados. Quem viver, verá.