quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

VPN — EM RIO QUE TEM PIRANHA JACARÉ NADA DE COSTAS (FINAL)

NADA VAI FUNCIONAR A MENOS QUE VOCÊ FAÇA FUNCIONAR.

O mundo digital está repleto de perigos, da espionagem governamental a hackers e fraudadores. E isso vale especialmente para redes públicas — como a banda GSM ou LTE do seu provedor de serviços móveis —, de modo que usar uma VPN é uma decisão sábia e plenamente justificável.

Se o custo for um problema (o que não seria de estranhar nestes tempos bicudos), os principais navegadores de internet disponibilizam a navegação privada (ou in-private, ou anônima), que não armazena o histórico, os cookies e outros rastros que deixamos para trás em nossas “andanças virtuais” . Mas o Opera vai mais além. Ele não é tão popular quanto o Google Chrome, o Mozilla Firefox ou o Microsoft Edge Chromium, mas nem por isso deixa de ser um excelente navegador — e de embutir uma VPN nativa que é fácil de ser usada.

Depois de acessar baixar o Opera a partir do site do fabricante e proceder à instalação:

1) Abra o navegador, acesse o menu principal (basta clicar no “O” que é exibido no canto superior da janela, à esquerda da barra de endereços);

2) Selecione Configurações, clique em Privacidade e segurança

3) No campo VPN, marque a caixa de verificação ao lado de Habilitar VPN (se quiser saber mais, siga o link “saiba mais”, à direita da opção citada). 

Você verá então um botãozinho com a inscrição VPN no canto superior esquerdo da barra de endereços. Clique nele para navegar com mais privacidade (para desativar a VPN, clique no botão e faça o ajuste; para reverter a configuração, desmarque a caixa de verificação que ativou o recurso).

Par quem não abre mão do Chrome, existem extensões (plugins) que acrescentam VPNs a esse navegador. Entre as opões pagas, considere o NordVPN, o ExpressVPN e o Surfshark; no âmbito das gratuitas, o TunnelBear, o PureVPN e o ZenMate são boas opções.

Observação: O conceito da navegação privada surgiu inicialmente no Chrome e logo foi adotado por seus principais concorrentes. Mas a proteção oferecida por esse recurso não é tão eficaz quanto a de uma VPN, já que, durante uma sessão de navegação, para além do navegador, as informações passam pelo roteador e pelo sistema operacional, podendo inclusive ser gravadas pelos sites que o internauta visita. Além disso, o endereço de IP também permanece visível, o que dá margem a rastreamentos indesejáveis.

As extensões de VPN atuam de maneira semelhante à dos aplicativos de VPN (algumas chegam mesmo a ampliar os recursos dos apps que elas emulam), mas o fato é que funcionam basicamente como proxies e têm efeito apenas no tráfego de dados que passa pelo navegador. Assim, outros aplicativos que fazem uso da rede (a exemplo dos demais browsers que a gente utiliza) não são contemplados — ou seja, se instalarmos uma extensão de VPN para o Chrome e iniciarmos o Edge ou o Firefox, nossos dados não estarão protegidos.

Aplicativos VPN completos criptografam os dados que trafegam pelo sistema de cabo a rabo, protegendo o tráfego tanto no navegador quanto noutros aplicativos — e até no próprio sistema operacional. Devido a sua funcionalidade mais limitada, os proxies consomem menos recursos do sistema, e, ainda que as extensões de VPN do Chrome sejam tecnicamente extensões de proxy, a essência permanece a mesma: privacidade, segurança e velocidade.

Como diz um ditado, em situações assim é sempre melhor pingar do que secar.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! — CONTINUAÇÃO


Em setembro do ano passado, Jair Bolsonaro chamou o ministro Alexandre de Moraes de “canalha” e avisou que não iria cumprir suas decisões. Intimado por Moraes a depor, Bolsonaro não deu as caras. Se a única resposta à desobediência for o processo por crime de responsabilidade, como previu o ministro Luiz Fux há quatro meses, o Supremo flerta com a desmoralização. Há no gavetão de pendências do réu que preside a Câmara mais de 140 pedidos de impeachment. Remunerado por um orçamento secreto que recebeu o aval da própria Corte, o Centrão, em vez de derrubar o mandatário de fancaria, prefere controlar o cofre.

Mas tem mais: Segundo apurou a CPI do Genocídio, o capitão deu de ombros para a denúncia feita pelo deputado Luís Miranda e seu irmão, Luís Ricardo, que flagrou a tentativa de pagamento antecipado de US$ 45 milhões pela vacina indiana Covaxin. Diante do escândalo, o ministro Onyx Lorenzoni e o coronel Elcio Franco, número 2 da gestão do general Eduardo Pazuello na Saúde, acusaram os irmãos Miranda de usar uma nota fiscal falsa. Quando se soube que o documento era autêntico, alegou-se, que Bolsonaro avisara Pazuello sobre os malfeitos às vésperas da saída do general do ministério da Saúde. Não convenceu. Informou-se na sequência que o ministro demissionário encarregara seu segundo de tomar providências. Com a velocidade de um raio, Franco constatou que não havia irregularidades na compra das vacinas que custariam R$ 1,6 bilhão ao governo. Posteriormente, alegando “irregularidades insanáveis”, o ministro Marcelo Queiroga anunciou a anulação do contrato. 

Agora a cereja do bolo: O delegado federal William Marinho chegou à inusitada conclusão de que presidente da República não comete crime de prevaricação quando ignora uma denúncia de corrupção que lhe chega ao conhecimento, podendo ser acusado, no máximo, de descumprir um "dever cívico". No final de um processo com mais de 2 mil páginas, o policial — que dispensou até o depoimento de Bolsonaro — anotou que “não faz parte do "dever funcional do presidente comunicar eventuais irregularidades de que tenha tido conhecimento a órgãos de investigação como a Polícia Federal”. Em prevalecendo essa posição, ficará entendido que todo funcionário público tem o dever de agir quando souber de irregularidades, sob pena de prevaricar. Mas o presidente, servidor número um do país, pode ignorar os malfeitos ao redor. Não será acusado senão de desatenção com o seu "dever cívico". 

Não é que o crime não compensa. A questão é que, quando compensa, é chamado de descuido cívico.

***

Segundo o Gênesis (do grego Γένεσις, que significa "origem", "criação", "princípio"), “no princípio era o Caos, e do Caos Deus criou o Céu e a Terra (...). Em apenas 6 dias, o Senhor das Esferas transformou o Caos em ordem, criou a luz e separou-a em duas (uma, grande, para governar o dia, e outra, menor, para governar a noite); criou as águas e dividiu-as em duas (e juntou as da porção inferior num só lugar, para que ali emergisse parte seca); cobriu a terra de plantas, povoou-a com todo tipo de seres vivos e, no sexto dia, a cereja do bolo: “Agora vamos fazer os seres humanos, que serão como nós, que se parecerão conosco. Eles terão poder sobre os peixes, sobre as aves, sobre os animais domésticos e selvagens e sobre os animais que se arrastam pelo chão”. Após concluir Sua obra e ver que tudo era bom (?!), o Criador abençoou e santificou o sétimo dia, e nele descansou.

Do Gênesis bíblico à teoria do Big Bang, diversos povos construíram versões próprias da origem do universo. Na maioria delas, o Caos é tido como uma matéria sem forma definida, mas nenhuma delas menciona que foram os políticos que criaram tanto o caos quanto a corrupção

Não sei como eram as coisas por aqui antes da chegada de Cabral e sua trupe, mas sei que o primeiro registro de corrupção em solo tupiniquim foi anotado por Pero Vaz de Caminha no último parágrafo de sua “Carta de achamento do Brasil”, quando o escriba rogou ao rei de Portugal que intercedesse pelo marido de sua única filha.

Também não sei qual foi a duração do castigo imposto ao genro de Caminha, ou mesmo se D. Manuel atendeu seu pedido (uma vez transitada em julgado, a sentença só podia ser comutada pelo monarca, que tinha poderes previstos em lei para conceder indulto aos apenados). Mas sei que a epístola foi subscrita em 1º de maio de 1.500, de modo que essa é a data em que a praga da corrupção foi semeada na terra em que “em se plantando tudo dá”. E como deu!

Mem de Sá, governador-geral do Brasil entre 1558 e 1572, foi acusado de enriquecimento ilícito, e o governador da capitania do Rio de Janeiro, de cobrar propina dos mercadores de escravos que saíam da África rumo ao Rio da Prata e lá paravam para abastecer. O contrabando foi, de longe, a prática ilícita que mais lucro deu às “elites”, e El-Rei fazia vistas grossas, já que a corrupção tinha efeito benéfico para Portugal. Talvez os hábitos nacionais fossem outros se o Brasil tivesse sido “descoberto” pelos ingleses ou se a colonização do nordeste pelos holandeses tivesse prosperado.

Embora seja um problema mundial, a corrupção teve maior destaque no Brasil-colônia, onde as “elites” se especializaram em passar a perna nos portugueses — que só apareciam para cobrar impostos e barrar a iniciativa privada. Como o que menos presta costuma ser o que mais dura, os políticos de hoje continuam praticando os mesmos atos espúrios que seus antepassados praticavam no século XVI.

A corrupção continua firme e forte porque está profundamente enraizada na sociedade. Em setembro do ano passado, referindo-se à economia mundial, Bolsonaro nos ensinou que “não há nada tão ruim que não possa piorar”. Seu governo (ou desgoverno, melhor dizendo) é a prova provada de que ele está coberto de razão. Até porque os estratagemas usados pela elite colonial persistem até hoje nas práticas ilícitas daqueles que se dizem representantes do povo — haja vista o mensalão petista e o “orçamento secreto” da atual gestão, como já foi detalhado em outras oportunidades.

Até 2019, apenas duas ações penais da Lava-Jato haviam sido julgadas no Supremo. Numa delas — que investigou a presidente do PTGleisi Hoffmann, e seu ex-marido, Paulo Bernardo —, os réus foram absolvidos. Por 3 votos a 2, prevaleceu o entendimento de que os elementos eram “apenas indiciais”, sem comprovação efetiva.

Quando condenaram o primeiro parlamentar no âmbito da Lava-Jato — o deputado federal Nelson Meurer —, os supremos togados declararam a extinção de punibilidade de Cristiano Augusto Meurer, filho do dito-cujo, por prescrição. Entenderam os eminentes ministros que a única conduta que geraria a sanção penal seria de junho de 2008, e que o Estado já não teria mais o direito de puni-la.

Segundo matéria publicada na revista Exame em março de 2019, quando a Lava-Jato colocou o ex-presidente Temer atrás das grades, o único ex-mandatário da “Nova República” que não corria risco iminente de ir parar na cadeira era Fernando Henrique (em que pese o escândalo da compra de votos pela aprovação da PEC da Reeleição).

Naquela época (bons tempos, aqueles), Lula estava cumprindo pena em Curitiba, Sarney era alvo de duas denúncias no âmbito da Lava-JatoCollor respondia a sete inquéritos no STF (e havia se tornado réu num deles em 2017); Dilma era ré por corrupção e lavagem de dinheiro; e o vampiro do Jaburu, tetra réu (duas vezes no Rio, uma em São Paulo e outra no DF). E deu no que deu.     

Depois que o Legislativo deixou de ser confiável — dado o número significativo de deputados e senadores que, mesmo enrolados na Justiça, continuavam (e continuam) transitando livremente pelos corredores do Congresso —, o Judiciário se tornou o último bastião dos brasileiros de bem. Mas alegria de pobre dura pouco, diz o ditado, e também deu no que deu.

Cooptado pela “maritaca de Diamantino”, o STF formou maioria para exumar e ressuscitar uma jurisprudência que vigeu durante míseros 7 anos ao longo das últimas 8 décadas. Em novembro de 2019, graças ao voto de Minerva do então presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, ficou decidido que condenados em segunda instância que deveriam permanecer em liberdade até o trânsito em julgado de suas sentenças.

Com quatro instâncias e um formidável cardápio de recursos, apelos, embargos e toda sorte de chicanas criadas sob medida para impedir que corruptos poderosos vejam o sol nascer quadrado, o trânsito em julgado da condenação de corruptos de alto coturno só se dá (e quando se dá) no Dia de São Nunca. Para piorar, na improvável hipótese de um caso fugir à regra, sempre haverá um magistrado de bom coração  pronto a conceder de ofício um alvará de soltura “por razões humanitárias” (como Dias Toffoli concedeu a Paulo Maluf)

Nossas leis são criadas pelo Congresso Nacional, que é formado pela Câmara Federal (composta por 513 deputados) e pelo Senado da República (composto por 81 senadores). Em 2017, nada menos que 238 parlamentares eram investigados ou respondiam a processos no STF. E quando são as raposas que tomam conta do galinheiro e investigam eventuais sumiços de galinhas.... Deu pra entender ou quer que eu desenhe?

A corrupção é um problema endêmico, mas o fato de sermos obrigados a conviver com essa dura realidade não significa que devamos aceitá-la passivamente. Lula não aceitava. Tanto que fundou o PT para implementar “uma maneira diferente de fazer política”. Faltou combinar com a quadrilha do Mensalão. Quando a roubalheira veio à público, o guerrilheiro de araque José Dirceu, então braço direito do picareta dos picaretas, disse em entrevista ao Roda-Viva: “Este é um governo que não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção“. 

Pausa para as gargalhadas (ou para as lágrimas, a critério do freguês).

VPN — EM RIO QUE TEM PIRANHA JACARÉ NADA DE COSTAS (PENÚLTIMA PARTE)

ALGUMAS COISAS SÃO DIFÍCEIS DE ENTENDER, MAS NEM POR ISSO DEIXAM DE SER VERDADEIRAS.

Para concluir esta sequência (e agora é sério), cumpre destacar que não há problema algum em utilizar uma VPN com dois ou mais navegadores, desde que ficar alternando entre eles não seja um problema para você. Mas esse desconforto pode ser minimizado com um serviço pago (confira antes se sua suíte de segurança já não oferece uma opção de VPN).

ExpressVPN é uma das opções mais bem contadas. Basta seguir o link e clicar em Assinar Agora para escolher o plano desejado e a forma de pagamento (o fabricante promete devolver seu dinheiro em até 30 dias caso você não fique satisfeito com o programa). Confirmado o pagamento, você recebe um código para ativar o aplicativo. Baixe e instale o programinha, insira o tal código no campo apropriado e escolha se deseja que a VPN seja iniciada automaticamente com o Windows e se quer compartilhar dados de desempenho. Ao final, um botão que liga e desliga a VPN será exibido e, abaixo dele, uma opção para especificar o país onde seu servidor estará localizado. Você pode escolher entre mais de uma centena de possibilidades e, se o excesso de tráfego causar lentidão em alguns momentos, mudar de servidor para acelerar a navegação. 

Os serviços de VPN confiáveis costumam oferecer um período de teste gratuito, ao final do qual o interessado pode escolher um plano ou simplesmente desinstalar o app — que, obviamente, deixará de funcionar. Uma vez ativado o serviço, acesse o IPLeak. Se o serviço estiver funcionando como manda o figurino, você verá as informações do servidor da VPN em vez de suas informações reais. Para testar a velocidade da VPN, use o SpeedTest (faça a medição antes e depois de se conectar ao servidor da VPN para ver a diferença de velocidade e latência).

A maioria das pessoas utiliza VPNs para resguardar sua privacidade, daí alguns provedores interromperem a conexão (kill switch) se a ligação entre o internauta e o servidor VPN for interrompida por algum motivo (para evitar que o IP real seja exposto quando a proteção não estiver disponível). Caso você prefira que a conexão permaneça ativa mesmo em situações que tais, consulte a ajuda para descobrir como desativar o kill switch.

Entre diversas opções gratuitas de VPN estão as fazem parte de suítes de segurança pagas, como a da Kaspersky. O problema é que a maioria delas limita o consumo de dados ou impõe outras restrições — quando mais não seja porque serviços gratuitos precisam se monetizar de alguma maneira. 

Amanhã concluímos.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS!


Por uma ironia do destino, a outrora pujante Lava-Jato teve início em 2008, quando o mandatário de turno era o futuro presidiário mais famoso do Brasil. Mas a operação só ganhou notoriedade em 2014, com a prisão do empresário Hermes Magnus, que cantou como um rouxinol. Suas informações levaram os investigadores até o doleiro Alberto Youssef e ao ex-diretor de abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, que fora presenteado com um Range Rover Evoque zero quilômetro. 

Youssef vinha sendo investigado pela PF por ligações com um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o ex-deputado federal José Janene Carlos Habib Chater, dono do Posto da Torre, que inspirou o nome da operação. O doleiro já havia sido julgado por Sergio Moro no caso Banestado, que investigou um esquema de evasão de divisas envolvendo a instituição que lhe emprestou o nome.

ObservaçãoO longa Polícia Federal — A Lei é para todos retrata bem o início da Lava-Jato, embora a série O Mecanismo seja mais rica em detalhes, a despeito de trocar os nomes dos envolvidos (inclusive a própria Polícia Federal, que, na série, foi batizada de Polícia Federativa) e apresentar os fatos de forma romanceada.

Inspirado pela Operação Mani Pulite, o então juiz da 13ª Vara Federal Penal de Curitiba ajudou a conduzir a força-tarefa e a desbaratar o que viria a ser o maior esquema de corrupção desde a chegada de Cabral, há 522 anos. Mas vamos por partes. 

O Posto da Torre (da bandeira ALE), que tinha 16 bombas e 85 funcionários, vendia 50 mil litros de combustível por dia — e, como se descobriu mais adiante, cobrava por uma quantidade maior do que a efetivamente colocada no tanque dos clientes. O estabelecimento também dispunha de lojas de conveniência e alimentação, borracharia, oficina mecânica, lavanderia e, claro, a famosa casa de câmbio ValorTur, pivô da investigação que exporia as entranhas do Petrolão. Curiosamente, não havia um lava-rápido em suas instalações.

A partir das delações, os feitos da Lava-Jato se tornaram públicos e notórios — a exemplo dos ataques desfechados contra a operação por políticos corruptos. Entre vários episódios dignos de nota, relembro que em 2016, numa conversa com ex-presidente da Transpetro que foi interceptada pela PF, o ex-senador Romero Jucá sugeriu que uma mudança no governo "estancaria a sangria" representada pela Lava-Jato — vale destacar que ambos eram investigados pelo força-tarefa. 

Jucá defendia um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". Segundo ele, togados (que ele não citou nominalmente) lhe haviam assegurado que a saída de Dilma propiciaria o fim das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações. “Tem poucos caras ali [no STF] aos quais não tenho acesso e um deles é Zavascki (referindo-se ao relator da Lava-Jato, que Jucá disse ser "um cara fechado").

Machado presidiu a Transpetro de 2003 a 2014 e foi indicado "pelo PMDB nacional", como admitiu em depoimento à PF. Em um dos trechos da gravação, ele disse a Jucá: "O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. [...] Ele acha que eu sou o caixa de vocês". Segundo Machado, o envio de seu caso para Curitiba seria uma estratégia para levá-lo a delatar líderes do PMDB. "Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu 'desça'? Se eu 'descer'... Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída". Disse ainda que novas delações na Lava-Jato não deixariam "pedra sobre pedra", e Jucá concordou que o caso do comparsa "não podia ficar na mão de Moro".

Em 2016, a Odebrecht firmou acordo de leniência com a PGR. A “Delação do Fim do Mundo”, como ficou conhecido o acordo, atingiu o alto escalão do governo federal. Marcelo Odebrecht reconheceu que havia disponibilizado R$ 300 milhões para Lula e o PT (o ex-presidente e sua sucessora já haviam sido acusados por Delcídio do Amaral de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras). 

Em 16 de março de 2016, Moro retirou o sigilo das interceptações telefônicas do ex-presidente com a gerentona de araque, que o nomeou ministro da Casa Civil para que ele voltasse a ter foro privilegiado. A nomeação foi suspensa no dia seguinte.  

Liderada pelo procurador Deltan Dallagnol, a Lava-Jato apontou Lula como figura central nos esquemas de lavagem de dinheiro investigados pela operação. Em julho de 2017, Moro condenou o petralha a 9 anos e 6 meses de prisão no processo envolvendo o tríplex do Guarujá. A pena foi aumentada para 12 anos e 1 mês pelo TRF-4 e posteriormente reduzida para 8 anos e 10 meses pelo STJ. No caso do sítio de Atibaia, a juíza substituta Gabriela Hardt condenou o ex-presidente corrupto a mais 12 anos e 11 meses, e o TRF-4 aumentou sua pena para 17 anos, 1 mês.

Lula foi preso em 7 de abril de 2018, depois de um espetáculo midiático que seria vexatório em qualquer democracia que se desse ao respeito — vale destacar que esta republiqueta de bananas não é exatamente uma democracia que se dá ao respeito, tanto que o ex-presidente corrupto deixou sua cela VIP pela porta da frente, depois de míseros 580 dias, graças a uma decisão teratológica do STF, que derrubou a prisão em segunda instância.

Como será detalhado mais adiante, passaram-se mais de 5 anos até que o ministro Luís Edson Fachin chegasse à brilhante conclusão de que a 13ª Vara Federal de Curitiba não era competente para julgar Lula, e anulou tanto as condenações quanto as provas. Sete dos 11 togados acompanharam a decisão do relator, e os quatro processos que tramitavam contra o picareta em Curitiba voltaram à estaca zero e foram enviados à JF do DF — onde, ao que tudo indica, descansarão em paz até o final dos tempos. 

Dito de outra maneira, nossa mais alta corte de justiça transformou em “ex-corrupto” e candidato à Presidência um ex-presidiário condenado por uma dezena de magistrados, em três instâncias do Judiciário, e que teve mais de uma centena de recursos negados, inclusive pelo próprio STF.

Dados do MPF (desatualizados, como tudo mais neste país, mas enfim...) apontam que a Lava-Jato foi responsável pela condenação de 278 criminosos a penas que, somadas, totalizam 2.611 anos de prisão, além de ter recuperado mais de R$ 4 bilhões aos cofres públicos. A expectativa era de que, entre multas e acordos de leniência, o total recuperado chegasse a R$ 14 bilhões), mas a força-tarefa foi desbaratada pelo presidente Jair Bolsonaro, que, quando candidato, declarou que seria implacável com a corrupção e os políticos corruptos.

Triste Brasil! 

VPN — EM RIO QUE TEM PIRANHA JACARÉ NADA DE COSTAS (PARTE V)

VISÃO SEM AÇÃO NÃO PASSA DE SONHO; AÇÃO SEM VISÃO É SÓ PASSATEMPO; VISÃO COM AÇÃO PODE MUDAR O MUNDO.

Para concluir esta sequência, resta dizer que usar um VPN em computadores de mesa ou portáteis (Windows ou Mac), smartphones e tablets (Android ou iOS) e roteadores (Linux) é muito simples. Na maioria dos casos, basta instalar o software e seguir as instruções — que podem ser extremamente detalhadas, embora tudo que você precise fazer após instalar o aplicativo seja digitar seu nome de usuário e senha e selecionar um servidor.

Há quem relute em usar VPNs por achar que elas degradam (ainda mais) a velocidade de uma conexão chinfrim. É fato que uma pequena desaceleração pode ocorrer, mas ela costuma ser quase imperceptível para quem dispõe de um aparelho de configuração de hardware aceitável e utiliza um serviço de boa qualidade. A lentidão, quando ocorre, se deve principalmente à criptografia dos dados, que exige muito do processador. Por óbvio, quanto maior for a frequência de operação da CPU, mais rápida será a criptografia e menor o impacto na velocidade de conexão.

A despeito de parecer contraditório, a VPN pode acarretar efeitos benéficos a uma conexão instável se o usuário escolher um serviço de primeira linha, que conte com redes bem estruturadas e provedores de largura de banda de qualidade superior. Ainda assim, é preciso levar em conta que a redução da velocidade será tanto maior quanto mais distante estiver o servidor ao qual você se conectar. Vale destacar também que usar uma VPN no celular não impede que os aplicativos aos quais você concedeu permissões de acesso invasivas coletem e enviem dados aos respectivos desenvolvedores.

Existe uma miríade de VPN disponíveis, tanto pagas quanto gratuitas. Muitas são fornecidas por empresas de segurança digital — como F-Secure, Kaspersky, Avira etc. Se você fizer uma busca no Google por “ofertas de VPN”, não só encontrará dúzias de opções como também passará a ser bombardeado por outras tantas toda vez que abrir seu navegador. No entanto, tenha em mente que serviços gratuitos de VPN estabelecem limites de dados pra lá de miseráveis, já que se destinam a estimular o usuário a migrar para um plano pago. Alguns deles podem inclusive esconder armadilhas: o portal TheBestVPN, que reúne reviews de usuários, testou centenas de serviços de VPNs e constatou que boa parte deles não cumpria o que prometia em suas políticas de privacidade — caso do PureVPNHideMyAssHotSpot ShieldVPN Unlimited e VyprVPN (clique aqui para acessar a lista completa).

Nem tudo que é caro é melhor, mas o que é melhor geralmente custar mais caro. No geral, quando mais caro for o plano que você contratar, melhor será o serviço prestado. Algumas VPNs têm interfaces tão ruins que é quase impossível as utilizar — portanto, não contrate um plano de três anos de olho no desconto sem antes ter certeza de que o serviço é adequado a seu perfil de usuário. Lembre-se de que, quanto mais locais de servidor o provedor tiver, mais opções você terá e maior será a probabilidade de sua conexão ser rápida e estável. E se sua intenção for contornar restrições geográficas — para acessar o conteúdo da Netflix dos EUA, por exemplo —, de nada adianta você economizar alguns trocados contratando um provedor de VPN que não disponha de servidores nos EUA ou não lhe ofereça a possibilidade de escolher a localização dos servidores. Demais disso, se sua preocupação é com segurança, vale a pena investir um pouco mais num serviço que não grave logs de navegação dos usuários. Provedores de VPN que mantêm registros podem se transformar facilmente em bombas de efeito retardado.

Conclui no próximo capítulo.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

VERGONHA NACIONAL


Na política não há inocentes, só culpados. E isso vale também para o eleitorado, uma vez que maus políticos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea. 

Vale relembrar a velha anedota segundo a qual o Senhor das Esferas, acusado de protecionismo durante a criação do Mundo por favorecer a porção de terra que futuramente tocaria ao Brasil, assim se pronunciou: "esperem para ver o povinho de merda que eu vou botar lá." Dito e feito.

Churchill dizia que a "democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as outras". Mas que "o melhor argumento contra a democracia é cinco minutos de conversa com um eleitor mediano. Já o general Figueiredo (que era um sábio e não sabia) disse certa vez que "um povo que não sabe sequer escovar os dentes não está preparado para votar".

A nefasta dicotomia político-ideológica semeada por Lula et caterva, regada pelos tucanos e estrumada pelo bafo do capetão e seus soldadinhos de chumbo alastrou-se país afora, alcançando, inclusive, as cúpulas dos Poderes. Foi por isso que a parcela pensante do eleitorado apoiou o bolsonarismo boçal em 2018, já que a alternativa era a volta do lulopetismo corrupto. E deu no que deu.

Três anos sob os desmandos de um anormal não foram suficientes para a récua de muares munidos de título de eleitor aprender a lição. A julgar pelas pesquisas, teremos novamente eleições plebiscitárias neste ano, e seremos obrigados — mais uma vez — a apoiar quem não queremos para evitar a vitória de quem queremos menos ainda. 

Resta-nos a esperança de o imprevisto ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, fazendo com que um dos dois “salvadores da pátria” saia de cena. Mas isso é apenas um exercício de futurologia baseado não em fatos, mas na esperança que acalentamos de um futuro melhor.

Desgraçadamente, falta ao Congresso probidade e vergonha na cara. Mas o que esperar de uma instituição composta em grande parte por investigados, denunciados e réus — e os insignes parlamentares que não se enquadram numa dessas categorias certamente viriam a se enquadrar se a alta cúpula do Judiciário não estivesse tomada por defensores atávicos da impunidade? Volto a dizer que quando se dá a chave do galinheiro a uma raposa e ela encarrega outras raposas de investigar o sumiço das galinhas... enfim, acho que deu para entender.

Nossas leis são criadas por políticos que se elegem para roubar, roubam para se reeleger e se escudam no abjeto foro especial por prerrogativa de função. Esqueça a história de que “todos são iguais perante a lei”. Sempre houve, há e continuará havendo “os mais iguais que os outros”. 

Presidente e vice, ministros de Estado, senadores e deputados federais só podem ser processados e julgados no STF, e os eminentes togados são rápidos como guepardos quando se trata de conceder habeas corpus a seus bandidos de estimação, aumentar os próprios salários e conceder a si próprios toda sorte de mordomias, mas lerdos como cágados pernetas na hora de julgar ex-presidentes corruptos e sanguessugas aboletados no parlamento.

Fala-se muito da politização do Supremo, mas os ministros só agem quando são provocados. E são os próprios congressistas, descontentes com essa ou aquela situação, que pedem a interferência dos magistrados em assuntos que caberia ao parlamento decidir. Foi assim com a instalação da CPI do Genocídio, que só seguiu adiante depois que uma liminar do ministro Luís Roberto Barroso pôs fim à fleuma (também chamada de “mineirice”) do presidente do Senado. E esse é só um exemplo.

Não quero dizer com isso o STF não erra. Erra, e muito, até porque os ministros são seres humanos (alguns se julga semideuses, mas isso é outra história). Em dezembro de 1914, em aparte à um discurso do senador Pinheiro Machado, Ruy Barbosa disse que o Supremo pode se dar ao luxo de errar por último. Décadas depois, Nelson Hungria, príncipe dos penalistas brasileiros, fez eco ao “Águia de Haia” dizendo que o STF tem “o supremo privilégio de errar por último”.

Todos os poderes da República são guardas da Constituição. A Administração pode se considerar isenta de cumprir lei inconstitucional, mas jamais estará isenta de cumprir decisões do STF. A menos, é claro, que se mude esse entendimento constitucional.

Não há democracia que funcione sem “toma-lá-dá-cá” se mais de 30 partidos disputam fatias de poder e verbas do Erário. E o apetite dessa escumalha é pantagruélico. Haja vista o valor absurdo que foi estabelecido para o “fundão” eleitoral  dinheiro que é roubado de nós para ajudar a eleger quem vai nos roubar na próxima legislaturaE fodam-se os 14 milhões de desempregados, os não sei quando milhões de brasileiros que não têm dinheiro sequer para uma refeição decente por dia. E assim por diante.

Gastar bilhões para eleger essa caterva quando falta dinheiro para investir em segurança, saúde e educação, por exemplo, é um escárnio. E a divisão desse butim é feita levando em conta, entre outros fatores, os votos para Câmara e Senado recebidos pelos partidos na eleição anterior. Em 2018, o “fundão” foi de cerca de R$ 2 bilhões — pouco mais de um terço do valor estabelecido para as eleições de 2022. 

É muita demagogia qualquer um chegar aqui e dizer que nós não vamos ter um fundo eleitoral público para financiamento das campanhas”, disse o tal deputado-réu que preside a Câmara. “Hoje a única maneira que temos para evitar que tráfico, milícias e contraventores financiem e façam a má-gestão da política é com um financiamento público, claro e transparente.”

Continua...

VPN — EM RIO QUE TEM PIRANHA JACARÉ NADA DE COSTAS (PARTE IV)

SE ALGUMA COISA PODE DAR ERRADO, ELA DARÁ. E MAIS, DARÁ ERRADO DA PIOR MANEIRA, NO PIOR MOMENTO E DE MODO QUE CAUSE O MAIOR DANO POSSÍVEL.

Cibervigaristas se valem do phishing para levar suas vítimas a divulgar dados pessoais — como endereço residencial, número de CPF e credenciais de login, entre outros. Portanto, ligue o desconfiômetro se receber uma mensagem supostamente proveniente de instituições bancárias, administradoras de cartão de crédito ou órgãos como Receita Federal, Justiça Eleitoral, que não solicitam esse tipo de informação por email, mensagens de texto, WhatsApp etc.

O WHOIS é um banco de dados público que armazena todos os nomes de domínio registrados na Web e pode ser usado para identificar a pessoa ou organização proprietária de um determinado domínio, seu endereço físico e outras informações de contato. Se você pretende operar um site sem divulgar sua identidade real, convém manter a privacidade e o sigilo de suas informações pessoais no banco de dados WHOIS. Detalhe: como os registradores de domínio têm o controle sobre as configurações de privacidade, você terá de verificar como fazer isso junto à empresa de registro de domínio que o atende.

Você pode solicitar ao Google a remoção das informações pessoais que aparecem nos resultados do mecanismo de busca, bastando para isso preencher um formulário online. Faça o mesmo com informações de sites de data broker (ou contrate alguém para fazê-lo, pois isso dá um bocado de trabalho). E não deixe de verificar regularmente esses bancos de dados, já que suas informações podem ser republicadas mesmo depois de serem removidas.

Questionários online tendem a parecer inofensivos, mas, no geral, pedem diversas informações pessoais que muita gente costuma fornecer sem avaliar as possíveis consequências. Algumas perguntas chegam mesmo a envolver credenciais de login e dicas de segurança para recuperação de senhas. Como muitos questionários pedem permissão para visualizar as informações de sua rede social antes de mostrar a você os resultados... enfim, podendo, evite respondê-los.

Aplicativos no smartphone também são fontes de dados pessoais, sobretudo quando a gente lhes concede permissão para acessar  dados sem necessidade. Por exemplo, faz sentido um aplicativo de edição de imagens ter acesso à câmera do celular ou às fotos, mas não há razão para o app bisbilhotar nossa lista de contatos, localização GPS e perfis de mídia social, p. ex.

Sempre que possível, evite divulgar publicamente o número do CPF, endereço residencial, número da carteira de motorista e quaisquer informações relacionadas a contas bancárias ou cartões de crédito. Lembre-se: a bandidagem pode facilmente interceptar mensagens de email. Avalie o quão vulnerável você está a ataques fazendo uma busca no Google a partir do seu nome ou fazendo uma pesquisa inversa de imagem. Verifique ainda se suas contas de email estiveram envolvidas em algum vazamento de dados, se seus currículos, biografias e sites pessoais não oferecem mais informações do que deveriam, e assim por diante.  

Seja cauteloso em relação ao conteúdo que você compartilha pelo WhatsApp e/ou posta em redes sociais. Configure alertas do Google para o seu nome completo, número de telefone, endereço residencial ou outros dados privados — assim, se eles forem publicados na Internet, é porque houve um golpe de doxing. Em sendo o caso, denuncie o ataque às plataformas em que suas informações pessoais foram publicadas e certifique-se de que a disseminação seja interrompida com a possível urgência. Caso receba ameaças pessoais, capture a tela ou faça o download das páginas (assegure-se de que a data e o URL fiquem legíveis). Essa prova é essencial para sua própria referência e pode ajudar a polícia a identificar o responsável.

Qualquer informação que envolva seu endereço residencial ou dados financeiros deve ser tratada como máxima prioridade, especialmente se vier acompanhada de ameaças críveis. Se criminosos publicarem dados de sua conta bancária ou de cartões de crédito, p. ex., troque a senha e consulte seu gerente acerca da conveniência de encerrar a conta e/ou cancelar o cartão. Manter-se seguro no mundo virtual não é fácil, e o doxing é um problema sério — devido especialmente à facilidade de acesso a informações pessoais na Web.

Voltando às VPNs, quando você está conectado a uma rede virtual privada, o tráfego de dados se dá através de um “túnel seguro”, mas tenha em mente que o nível de segurança varia conforme o protocolo utilizado. O IPSec, p. ex., autentica a sessão de navegação e criptografa os dados durante a conexão, e a segurança é ainda maior quando ele for combinado com outros protocolos — como o L2T2, que cria um túnel entre dois pontos nos quais o IPSec lida com a criptografia dos dados que passam ​​entre eles, e o PPTP, que cria o encapsulamento e criptografa os dados.

Atente para a política da VPN e relação a logs. Nem todas as VPNs têm uma política de não gravação de logs (registros do seu histórico de tráfego na Internet). Se os logs forem mantidos, sempre haverá a possibilidade de o provedor de serviço de VPN vendê-los ou entregá-los a qualquer governo ou órgão judicial que porventura venha a solicitá-los.

Continua...

domingo, 30 de janeiro de 2022

A ÚNICA VACINA

 

Eu considerava a reeleição de Dilma o maior estelionato eleitoral da nossa história recente (e não foi por falta de concorrentes de peso), mas Bolsonaro deixou a mulher anta no chinelo e, entre outras bandeiras de campanha que enfiou em local incerto e não sabido, merece especial destaque a de "acabar com a 'velha política' do toma-lá-dá-cá", que jamais passou de mera demagogia. Ninguém fica na Câmara durante 27 anos sem se dar conta de como a banda toca, ou por outra, de que ex-presidentes que tentaram peitar o Congresso — como Jânio, Collor e Dilma, por razões diferentes e não necessariamente republicanas — perderam seus mandatos.

Ao nomear Ciro Nogueira ministro-chefe da Casa Civil, Bolsonaro entregou ao Centrão as chaves do reino e do cofre. Segundo apurou o EstadãoR$ 25,1 bilhões em emendas parlamentares foram destinadas a deputados e senadores da chamada “base aliada”. O STF considerou irregular o uso político dos recursos Mas e daí? Desde sempre que o capitão cria factoides para manter acirrada sua base ideológica e desviar a atenção da mídia de um tema polêmico para outro. 

Em abril de 2020, durante uma manifestação subversiva defronte ao QG do Exército, Bolsonaro discursou: “Nós não vamos negociar nadaTemos de acabar com essa patifaria. Esses políticos têm de entender que estão submissos à vontade do povo brasileiroÉ o povo no poder”. Para não dizer que nada aconteceu, alguns oficiais tiraram selfies e sorriram para a multidão. O inquérito que está sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes avança a passos de bicho-preguiça, juntamente com outras cinco investigações — inclusive a que apura a “suposta” interferência do capitão na PF.

Em agosto de 2021, Bolsonaro convocou uma blindadociata para pressionar o Congresso a aprovar a PEC do voto impresso — que acabou sepultada. Em seu enésimo comício em Santa Catarina, o "mito" referiu-se ao presidente do TSE como "aquele filho da puta do Barroso" — o vídeo foi prontamente apagado do Facebook, mas a ação não foi rápida o bastante para impedir que a cena viralizasse nas redes sociais. Discursando a apoiadores no feriado de 7 de setembro, chamou Alexandre de Moraes de “canalha”. Mas seu destempero foi alvo de críticas, nada além disso. 

O réu que preside a Câmara e serve de cão-de-guarda a cento e tantos pedidos de impeachment latiu, mas não mordeu; o presidente do Congresso reagiu com a mineirice que lhe é peculiar; o presidente do STF foi mais incisivo, mas tudo voltou a ser como antes no quartel de Abrantes depois que o tiranete despirocado leu a patética missiva redigida a rogo pelo folclórico vampiro que tem medo de assombração.

Os números mostram como o Congresso ampliou seu controle sobre o Orçamento da União ao longo dos anos. O processo começou antes do atual governo, mas cresceu a olhos vistos sob Bolsonaro. Os R$ 25,1 bilhões efetivamente pagos em 2021 representam três quartos dos R$ 33,4 bilhões que foram empenhados (quando o dinheiro é reservado no Orçamento), índice acima de anos anteriores, segundo os dados do Portal do Orçamento do Senado. Para este ano — em que boa parte dos parlamentares disputará eleições — o valor previsto é ainda maior, de R$ 37 bilhões

Para não correr o risco de esse dinheiro ser represado, Bolsonaro assinou um decreto no último dia 13 tirando do Ministério da Economia e dando à Casa Civil a palavra final sobre a gestão orçamentária. Na prática, a liberação dos recursos ficará a cargo do ministro Ciro Nogueira, mandachuva do Progressistas e comandante do Centrão, que passará a decidir sobre Orçamento.

As emendas são indicações feitas por parlamentares de como o Executivo deve gastar parte do dinheiro do Orçamento. Elas incluem desde obras de infraestrutura, como a construção de uma ponte, até valores destinados a programas de saúde e educação. Como mostrou o Estadão, o dinheiro foi utilizado nos últimos anos também para comprar tratores com sobrepreço — o chamado “tratoraço” —, e integrantes do próprio governo admitem que há corrupção envolvendo a liberação desses recursos. 

A despeito de suas promessas de campanha, Bolsonaro usou e abusou da liberação de dinheiro quando precisou de apoio dos adeptos da baixa política. O caso mais emblemático se deu em novembro, quando da votação da PEC dos Precatórios, que abriu caminho para criar o Auxílio Brasil — programa populista que o presidente vai usar como bandeira eleitoral para tentar a reeleição. Na véspera, o governo destinou R$ 1,2 bilhão dos cofres públicos para atender aos interesses dos parlamentares alinhados com o governo. 

Pelo voto de cada parlamentar foram pagos até R$ 15 milhões, como admitiram pelo menos dois deputados ao jornal O Estado de S.Paulo. Além disso, o governo priorizou aliados até na hora de liberar as chamadas emendas individuais — aquelas previstas na Constituição e que garantem a mesma quantia para todos os congressistas. Parlamentares de partidos do Centrão como o PL, o Republicanos e o Progressistas receberam cerca de 70% dos valores destinados a eles; legendas de oposição mais críticas ficaram para trás — PCdoB, Novo e PSOL foram os que receberam menos recursos. 

Políticos da base aliada argumentam que usam as emendas para irrigar programas capitaneados pelos próprios ministérios, o que agiliza o pagamento. Foram eles que mais indicaram recursos pelas transferências conhecidas como “emenda cheque em branco” e “PIX orçamentário”, mediante as quais o dinheiro cai diretamente na conta das prefeituras, ou seja, sem passar pelos ministérios.

A Secretaria de Governo contestou as informações da reportagem do Estadão. Alegou que seus dados são obtidos a partir do Tesouro Gerencial — sistema mantido pelo governo. Mas as informações do Siga Brasil, utilizadas pelo jornal, provieram da mesma base de dados. Questionada, a pasta não forneceu as informações que o Executivo afirma dispor.

Há uma frase lapidar de Abraham Lincoln: “Dê poder a um homem e descobrirá o seu caráter”. Demos o poder a Bolsonaro para evitar que o país fosse governado por uma marionete de presidiário e descobrimos, para além de seu caráter, o péssimo temperamento que o move. O Brasil contabiliza mais de 620 mil óbitos por Covid, boa parte dos quais se deve à desídia e ao viés negacionista do presidente e da caterva que o assessora. Também é conhecida sua falta de empatia e de sensibilidade em relação às vítimas do vírus assassino (falo do biológico) e às pessoas que ficaram sem pais, irmãos, filhos, cônjuges e amigos. 

Em face do exposto, parece-me evidente que nenhum brasileiro que perdeu parentes ou amigos para a pandemia entregará seu voto à reeleição de Bolsonaro — conforme, aliás, dão conta as enquetes eleitoreiras. Com exceção dos apoiadores incorrigíveis do mandatário de fancaria, é preciso ser muito masoquista para desejar a continuidade desse funesto governo.

A pandemia vai acabar um dia. O Sars-CoV-2, a exemplo dos demais vírus, vai se adaptar ao ser humano, e este a ele. Mas a eleição de 2022 engendra 2023, e a Bolsonaro não queremos adaptação. Diante da inércia do Congresso e do STF, o sufrágio é a única vacina contra ele.

sábado, 29 de janeiro de 2022

E VIVA O POVO BRASILEIRO!


Os americanos acalentam desde sempre o sonho de ver seus filhos na Casa Branca, mas apenas 46 felizardos conseguiram realizá-lo desde a proclamação da independência daquele país, há 245 anos. No Brasil a coisa perdeu parte do elã depois que o Palácio do Planalto se tornou um zoológico exótico, com direito a tucano, jegue, anta, morcego-vampiro e cavalo.

Em 132 anos de república, nosso país teve mais golpes de Estado do que estatistas. Depois que Jânio renunciou (imaginando que seria reconduzido ao cargo por aclamação popular) e de um breve affair com o parlamentarismo, amargamos 21 anos de ditadura militar. O primeiro presidente civil da "nova república" foi eleito indiretamente, mas morreu antes de tomar posse, lanvando para o túmulo a esperança de milhões de brasileiros e deixando um “coroné” da política de cabresto nordestina que, cinco anos depois, entregou um país (ainda mais) castigado pela hiperinflação ao primeiro mandatário eleito pelo voto popular.

Suspeito de envolvimento em corrupção, o autoproclamado "Caçador de Marajás" foi impichado. Seu vice — que o professor e historiador Marco Antonio Villa considera o melhor presidente que o país já teve desde a redemocratização — nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda. O tucano gestou o Plano Real — que ia muito bem, obrigado, até o atual governo estragar tudo — e foi eleito presidente em 1994. Em 1997, o tucano de plumas vistosas comprou a PEC da reeleição, foi reeleito (novamente em primeiro turno).

Quatro anos depois, o demiurgo de Garanhuns instituiu o lulopetismo movido a Mensalão. A despeito da corrupção chapada havia em seu governo, ele não só foi reeleito como escalou um "poste" para manter aquecida a cadeira que ele pretendia voltar a ocupar em 2014. Mas faltou combinar com a o poste, que gostou da brincadeira e protagonizou o maior estelionato eleitoral da história (antes da eleição do capitão-cloroquina) para se reeeleger — e foi devidamente expelida do cargo em maio de 2016. 

O governo Temer foi o terceiro tempo do lulopetismo. O vampiro que tem medo de fantasmas só chegou ao final do mandato porque comprou votos das marafonas do Centrão para se blindar das “flechadas de Janot” — o procurador-geral que mais adiante reconheceria ter entrado armado no STF para matar Gilmar Mendes e se suicidar em seguida (e nem para isso prestou). Em janeiro de 2019, Temer passou o cetro e a coroa para o atual mandatário, que ainda não foi penabundado porque é protegido pelo réu que preside a câmara e pelo procurador-geral que ainda acalanta o sonho da suprema toga. 

Em 2016, logo após o julgamento do impeachment da mulher sapiens, eu escrevi que a vida dos ex-presidentes tupiniquins é mais que confortável. Além de não sofrerem a pressão do cargo, aqueles que lá chegaram e de lá saíram com vida têm direito a um polpudo salário vitalício, plano médico ilimitado, 8 servidores de sua livre escolha4 para segurança e apoio pessoal, 2 para assessoria e 2 motoristas — e 2 carros oficiais, com manutenção, combustível e renovação periódica, tudo a expensas dos contribuintes. À época, os cinco ex-presidentes vivos (noves fora Temer, que ainda ocupava o cargo) custarvam aos cofres públicos mais de R$ 5 milhões por ano, embora não oferecessem qualquer contrapartida de ordem prática à nação.

ObservaçãoMenos de 24 horas após ser notificada de sua deposição, Dilma conseguiu se aposentar — o que é espantoso considerando que o tempo médio de espera para uma pessoa ser atendida numa agência do INSS era, então, de 74 dias, e de 115 no Distrito Federal, onde foi feito o pedido.

Em novembro 2021, já na condição de “ex-corrupto”, Lula fez uma turnê pela Alemanha, Bélgica, Espanha e França — onde foi recebido com honras de chefe de Estado pelo presidente Emmanuel Macron. Somente com diárias e passagens aéreas foram gastos R$ 223 mil (pagos com o suado dinheiro dos nossos impostos). 

Considerando as viagens do ex-presidiário pelo país e mundo afora, as despesas chegam a R$ 362 mil. Seguranças, motoristas e assessores receberam R$ 595 mil (sem contar o mês de dezembro). E o petralha ainda torrou R$ 14,5 mil com combustíveis e R$ 1,3 mil com a manutenção dos veículos (como dito, cada ex-presidente tem direito a dois carros oficiais; os que estão em uso atualmente foram comprados em 2019 e custaram R$ 1,3 milhão).

Observação: Em sua turnê pela Europa, Lula falou sobre sua “absolvição” e seus planos para um possível goveno. Também criticou a maneira como Bolsonaro tratou a pandemia. Goste-se ou não do petralha (e eu não gosto), é impossível negar que lhe assiste razão no tocante ao capitão-cloroquina. Mas sua falácia de palanque não acrescentou nada de novo ao que já era público e notório — tanto cá quanto lá.

Dilma, a inolvidável, ocupa o segundo lugar no ranking de gastos, com R$ 963 mil, sendo R$ 99 mil com diárias e passagens. Suas viagens para o exterior custaram R$ 60 mil e as despesas com servidores, R$ 828 mil. Mas ela já torrou bem mais que isso: em 2019, antes da pandemia, foram R$ 544 mil em visitas a 13 países; na viagem de férias de 42 dias a Nova York e Sevilha, só a despesa com 96 diárias para assessores chegou a R$ 136 mil.

O terceiro colocado no ranking é o senador Fernando Collor. Sua equipe de apoio custou R$ 706 mil entre janeiro e novembro do ano passado (sem contar seus 52 assessores no Senado, que, no mesmo exercício, custaram mais R$ 6 milhões aos cofres públicos). Em viagens pelo país, a despesa de Collor com passagens e diárias foi de R$ 208 mil.

Observação: Em 26 de agosto de 2021, Collor esbanjou (e nós pagamos) R$ 22,8 mil num jantar para 97 pessoas na churrascaria Fogo de Chão, em Brasília. A “boca-livre” custou tão caro que exigiu três notas fiscais, no valor médio de R$ 7,6 mil . Os 26 petit gateau custaram R$ 780 — montante correspondente a três auxílios-emergenciais.

Michel Temer gastou R$ 835 mil entre janeiro e novembro do ano passado, sendo R$ 736 mil com servidores. As despesas com viagens somaram R$ 73 mil, com R$ 57 mil em deslocamentos para o exterior. Como viaja muito de carro oficial pelo interior paulista, o vampiro queimou R$ 24 mil com combustíveis.

FHC não viajou em 2021. Suas despesas como ex-presidente — R$ 707 mil — foram com a equipe de apoio. Sarney gastou R$ 747 mil, sendo R$ 683 com servidores. Suas viagens custaram R$ 45 mil.

A despeito do relatório da CPI do Genocídio, o governo Bolsonaro continua a defender o uso de fármacos inócuos contra a Covid e a contradizer o que a Ciência diz sobre as vacinas. Dias atrás, através de nota alegando "assimetria no rigor científico dedicado a diferentes tecnologias", o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde Hélio Angotti Netto rejeitou um protocolo aprovado pela Conitec que contraindica o uso do "kit Covid" em pacientes em regime ambulatorial. Segundo ele, as vacinas não têm efetividade nem segurança comprovadas, ao contrário (pasmem!) da hidroxicloroquina

De acordo com o pneumologista e professor da Universidade de São Paulo Carlos Carvalho, que coordenou os trabalhos do grupo que elaborou o parecer criticado pelo secretário, Angotti tenta mais confundir do que esclarecer. E qualquer semelhança com o psicopata que brinca de reizinho desde janeiro de 2019 não é mera coincidência.  

Volto a dizer que, se esta banânia fosse um país onde vergonha na cara não estivesse em falta nas prateleiras, um agente público que regurgitasse tamanha bobagem seria prontamente exonerado e processado. Mas não aqui, sobretudo quando o dito-cujo cumpre ordens do ministro insalubre, que, a exemplo de seu predecessor, reza pela cartilha do “um manda e o outro obedece”.

Em 1973, Pelé, então no auge da fama, disse: "os brasileiros não estão preparados para votar". Em 1978, o general João Figueiredo fez eco ao eterno rei do futebol: "um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar".

E viva o povo brasileiro!

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

NAS ASAS DA FAB

 
Com a premissa de que todo o poder emana do povo — prevista na Constituição Federal de 1988 —, a nação brasileira se enquadra na categoria de Estado Democrático de Direito. Atribui-se a Aristóteles a divisão do Estado em três poderes independentes e a Montesquieu a tripartição e as devidas atribuições do modelo mais aceito atualmente. A ideia, diga-se, é não deixar em uma única mão as tarefas de legislar, administrar e julgar. Isso porque a concentração de poder tende a gerar abusos, e um poder que se serve em vez de servir é um poder que não serve.

Feita essa breve introdução, passo a reproduzir um texto publicado por Lucio Vaz na Gazeta do Povo. Não vou tecer comentários para não influenciar as conclusões dos leitores.

O ministro Luiz Fux, atual presidente do STF, gastou um total de R$ 1,6 milhão com viagens em jatinhos da FAB em 2021. Só os 96 deslocamentos de ida e volta para o Rio de Janeiro, onde o magistrado reside, custaram R$ 1,4 milhão aos cofres públicos (Fux também viajou nas asas da FAB para receber medalhas e homenagens).

Com 104 voos no ano, Fux superou seu antecessor na presidência do tribunal, que fez 95 voos em 2019, sem contar os deslocamentos em aviões de carreira em classe executiva — um deles para assistir à canonização da Irmã Dulce, em Roma, ao custo de R$ 82 mil, entre passagens e diárias. Os valores de 2021 não incluem despesas com diárias e passagens aéreas para seguranças, agora mantidas em sigilo pelo STF.

A verba torrada por Fux representa quase 10 vezes os gastos do Supremo com viagens de seguranças e assessores que deram assistência direta a ministros, além de deslocamentos para participação em reuniões em que foram tratados assuntos relacionados à segurança dos togados — “apenas” R$ 170 mil

Todas as passagens aéreas compradas em 2021 somaram R$ 325 mil. Houve até uma verba extra de apoio ao “plano de segurança para os eventos do Dia da Independência” — foram compradas seis passagens para o deslocamento seguranças ao custo R$ 6,3 mil —, pois o STF ser alvo de atos de violência de apoiadores de Bolsonaro.

A maior despesa com passagens para prestação de serviço de assessoria e assistência direta a ministro foi feita em prol de Alexandre de MoraesR$ 36 mil —, que acatou uma sugestão da PGR, em julho do ano passado, e mandou arquivar o inquérito dos atos antidemocráticos, mas, ato contínuo, abriu nova investigação para “apurar a existência de uma organização criminosa digital montada com a nítida finalidade de atentar contra o Estado Democrático de Direito”. A segunda maior despesa com passagens para assistência direta a ministro ocorreu com o semideus togado Gilmar MendesR$ 35 mil —; com Toffoli, os gastos chegaram a R$ 25 mil, e com Lewandowski, a R$ 13 mil.

Fux estabeleceu uma rotina de viagens nos jatinhos oficiais. Foram 25 voos de Brasília para o Rio às sextas-feiras e 15 às quintas-feiras. Em outros cinco voos, o ministro seguiu para o Rio no sábado, partindo de São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Manaus. Numa determinada sexta-feira, decolou de João Pessoa para a capital carioca. O retorno ao local de trabalho tampouco foi fetio em avião de carreira. Foram 35 voos do Rio para Brasília às segundas-feiras, três às terças e três aos domingos, com média de cinco passageiros a bordo. Fux não adotou a moda de Toffoli, que foi o único passageiro no jatinho oficial em três viagens de ida ou volta para casa — quase um "Uber aéreo".

Em 11 de junho, uma sexta-feira, Fux ajudou o país a economizar alguns trocados pegando carona no jatinho cedido ao presidente do Senado, que levava outros 9 passageiros. No dia 19 do mesmo mês — uma segunda-feira —, Fux deu carona para o ministro das Relações Exteriores no retorno do Rio para Brasília; no dia 29, levou de carona o mesmo ministro num deslocamento de Brasília para o Rio.

Com a pandemia perdendo força no segundo semestre, Fux passou a viajar mais. Ele foi a Rio no dia 1º de julho (uma sexta-feira) para receber a Medalha Ordem do Mérito no Grau Grã-Cruz do Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro. Em 13 de agosto (outra sexta-feira), fez palestra no Encontro Amazonense de Notários e Registradores (donos de cartórios), em Manaus, onde pernoitou e voltou com seu jatinho para o Rio no sábado de manhã. 

Na quarta-feira 15 de setembro, Fux foi para o Rio; na sexta-feira 17, seguiu para Belo Horizonte, sempre de jatinho, para receber homenagens. Fez palestra na “Semana do MPMG” e recebeu homenagem da Faculdade de Direito da UFMG pela manhã e, à tarde, o Grande Colar na solenidade de entrega da Medalha do Mérito do Ministério Público Promotor de Justiça Francisco José Lins do Rego Santos, na sede do MPMG. No sábado pela manhã, voou para o Rio, também em aeronave oficial.

Observação: Rodrigo Pacheco (mais uma autoridade que usa as aeronaves oficiais para descansar em casa aos domingos) recebeu uma "medalha de honra" no mesmo evento, mas voou de Brasília para Belo Horizonte na manhã da sexta-feira, em outro jato da FAB, depois passou o final de semana em casa e retornou a Brasília no domingo à noite.

Dia 5 de novembro, sexta-feira, Fux proferiu palestra no 120º Encontro de Presidentes dos Tribunais de Justiça, em Pernambuco — e voltou para o Rio no sábado, também nas asas da FAB. No dia 12 de novembro — outra sexta-feira —, palestrou no Congresso Internacional dos Tribunais de Contas, em João Pessoa, e voou para o Rio no final da tarde. Em 13 de dezembro, uma segunda-feira, teve agenda oficial no Rio, com palestra no Seminário “STF em Ação”. Pegou o jatinho “chapa branca” para Brasília à noite.

As regalias dos presidentes do Supremo, do Congresso e da Câmara dos Deputados na utilização dos jatinhos da FAB são um exagero num país onde milhões de pessoas vivem na miséria absoluta. Mas estão amparadas por leis e decretos. Suas excelências podem utilizar jatinhos da FAB nos deslocamentos para casa, mesmo sem agenda oficial a cumprir.

De acordo com o decreto que Bolsonaro baixou em 6 de março do ano passado para regulamentar o uso dessas aeronaves, “presume-se motivo de segurança na utilização de aeronaves da Aeronáutica o deslocamento ao local de residência permanente”, quando se tratar dos presidentes do Legislativo e Judiciário; o vice-presidente da República também pode viajar para casa de jatinho; o presidente da República não conta com jatinhos, mas só porque dispõe de aviões de grande porte, seja nos finais de semana, nas folgas e até nas férias.

Os ministros de Estado e comandantes militares só podem usar os jatinhos a serviço, em caso de emergência médica ou por motivo de segurança comprovado. Mas muitos ministros dão um jeitinho de viajar para casa nas asas da FABcomo ocorreu várias com o ministro das Comunicações Fábio Faria, em 2021.

Com Lucio Vaz

VPN — EM RIO QUE TEM PIRANHA JACARÉ NADA DE COSTAS (PARTE III)

SESSENTA ANOS ATRÁS EU SABIA TUDO. HOJE SEI QUE NADA SEI. A EDUCAÇÃO É A DESCOBERTA PROGRESSIVA DA NOSSA IGNORÂNCIA.

Os data brokers existem para coletar e vender informações sobre pessoas. Os dados são obtidos a partir de registros públicos, cartões de fidelidade (que rastreiam hábitos de compras do usuário, tanto online quanto offline), históricos de pesquisas online (tudo o que o internauta pesquisa, lê ou baixa) e por aí afora. 

A maioria dos cibercriminosos vende essas informações para anunciantes, mas alguns sites de pesquisa oferecem registros pessoais abrangentes por uma pequena quantia em dinheiro, e tudo que o interessado precisa fazer é pagar a taxa. A partir daí, os criminosos podem criar uma imagem que propicia a descoberta de alguém real por trás de um alias, incluindo o nome da pessoa, seus endereços (físico, comercial e eletrônico), números de telefone e muito mais — que podem, inclusive, ser comercializados na Dark Web.

A maior preocupação quanto ao doxing , para além da disponibilidade propriamente dita das informações, é como os dados serão usadas para intimidar ou assediar alguém. A partir de seu endereço ou telefone, por exemplo, uma pessoa malintencionada localizar você e sua família, e com seu nome, data de nascimento e CPF, hackear suas contas ou roubar sua identidade.

As situações mais comuns envolvendo doxing  se dividem basicamente em três categorias: 1) Publicação informações privadas e de identificação pessoal de alguém; 2) Publicação de informações até então desconhecidas de uma pessoa privada; 3) Publicação de informações de uma pessoa privada que possa prejudicar sua reputação e a de seus contatos pessoais e/ou profissionais.

O Ashley Madison, por exemplo, era um site de namoro virtual que intermediava encontros amorosos sem compromisso. Um grupo de cibercriminosos fez exigências para os gestores, não foram atendidos e passaram a publicar dados confidenciais dos usuários do serviço, atingindo milhões de pessoas e causando humilhação, constrangimento e, em muitos casos, danos à reputação profissional do envolvido.

O doxing pode arruinar vidas, pois expõe vítimas e seus familiares a assédio online e no mundo real, mas não é considerado ilegal quando e se as informações expostas se encontrarem em domínio público e forem obtidas por meio de métodos legais. Ademais, revelar o nome real de alguém não é tão grave como revelar o endereço residencial ou número de telefone desse alguém.

Independentemente da questão legal, o doxing viola os termos de serviço de muitos sites e portanto é visto como antiético, podendo resultar em punições caso seja utilizado com más intenções. Como nem sempre é possível confiar nas leis e/ou nas “autoridades” encarregadas de aplicar essas leis (vejam o caso de Lula), convém pôr as barbichas de molho se você publicou algo num fórum na Internet, assinou uma petição online ou tem perfil em redes sociais (e quem não?), pois suas informações pessoais podem estar disponíveis publicamente.

Embora não nos demos conta, uma quantidade de informações absurda está ao alcance do mouse de quem se dá ao trabalho de pesquisar em bancos de dados públicos, registros municipais, registros estaduais, mecanismos de busca e outros repositórios. Daí ser de fundamental importância o internauta se proteger mediante o uso de uma VPN, que, como vimos no início desta sequência, criptografa o tráfego de dados e os envia para a Internet pública através dos servidores do serviço, permitindo que o usuário navegue de forma anônima.

Soluções antimalware combinadas com senhas “fortes” previnem o roubo de informações por apps mal-intencionados, mas é recomendável usar nomes de usuário e senhas diferentes para cada serviço que exija login — utilizar as mesmas credenciais não só facilita o acesso como permite aos criminosos pesquisar seus comentários em diferentes plataformas, por exemplo, e usar as informações para compilar uma imagem detalhada de você. 

Use seu endereço eletrônico pessoal para correspondência privada com amigos próximos, familiares e outros contatos confiáveis (e evite listá-lo publicamente). Para se inscrever em contas, serviços e promoções, utilize outro endereço, e reserve seu email profissional para a finalidade a que ele se destina. Demais disso, evite incluir muitas informações de identificação pessoal no endereço eletrônico, como em "nome.sobrenome.datadenascimento@seuprovedor.com.br".

Revise as configurações de privacidade nas redes sociais. Se você usa uma plataforma por motivos pessoais (para compartilhar fotos com amigos e familiares no Facebook ou Instagram, p. ex.), redobre os cuidados em relação àquilo que pode ser visto publicamente. Com uma foto da fachada do prédio onde você mora e o Google Lens, alguém pode descobrir seu endereço; uma foto do seu carro com a placa visível dá acesso aos dados do veículo e de seu proprietário.

Para dicas sobre como criar senhas fortes, acesse a página da MCAFEE ou recorra ao serviço MAKE ME A PASSWORD; para testar a segurança de suas senhas, acesse a CENTRAL DE PROTEÇÃO E SEGURANÇA DA MICROSOFT ou o site HOW SECURE IS MY PASSWORD. Adicionalmente, habilite a dupla autenticação (também conhecida como autenticação de dois fatores ou 2FA). O site Two Factor Auth ensina a configurar essa função em cada página web — seja ela bancária ou de redes sociais. 

Embora sites como o Myspace tenham “caído de moda”, os perfis que foram hospedados lá ainda podem estar visíveis e acessíveis. Na verdade, isso se aplica a qualquer site em que você se cadastrou. Portanto, livre-se de todos os perfis antigos/não usados e obsoletos que você conseguir deletar.

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