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quarta-feira, 23 de julho de 2025

COMO CRIAR UMA LISTA DE REMETENTES CONFIÁVEIS NO GMAIL

PELA LÓGICA, NÃO DÁ PARA AGRADAR A TODOS; POR MIM, NÃO FAÇO A MENOR QUESTÃO DE AGRADAR A QUEM QUER QUE SEJA.

Aplicativos de mensagens como o WhatsApp e o Telegram substituem o correio eletrônico em diversas situações, mas isso não significa que o email tenha sido aposentado. 
 
A exemplo de outras plataformas de email, o Gmail filtra automaticamente conteúdos irrelevantes e possivelmente infestados de malwares, mantendo 99,9% (segundo a empresa) do junk mail na caixa de spam. Como esse filtro não é perfeito, sempre existe a possibilidade de mensagens importantes serem bloqueadas. Para evitar que isso aconteça, o serviço do Google permite criar uma lista de remetentes confiáveis. 


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


A primeira coisa a fazer quando se cai num buraco é parar de cavar. Incrivelmente, o filho do pai faz exatamente o contrário ao afirmar que não renunciará ao mandato, chamar Moraes de "medíocre" e um delegado da PF de "cachorrinho". Já o pai do filho precisa sincronizar seu relógio com o Centrão. Para ele, definir um Plano B antes da hora é inaceitável para o Centrão, inaceitável é a demora em lançar a candidatura de Tarcísio de Freitas.

Depois de se recusar a expor sua tornozeleira — "não vou mostrar porque é uma humilhação" —, Bolsonaro arrastou o adereço pelos corredores da Câmara sob um coro de "mito, mito, mito". Como era de esperar, a cena se espalhou em perfis de aliados e de meios de comunicação nas redes sociais. Como também era de esperar, Xandão intimou a defesa do capetão a justificar o descumprimento da medida cautelar, sob pena de prisão preventiva.

Aos 70 anos, inelegível, doente quando lhe convém, com uma condenação por tentativa de golpe de Estado esperando para acontecer, proibido de usar as redes sociais e com um dos filhos homiziado na cueca de Trump, o "mito" despencou de sua realidade paralela e caiu na merda do mundo real. Nem Trump conseguiu salvá-lo — ao contrário, só piorou a situação. Só lhe resta sair de cena melancolicamente e arrastar a tornozeleira e a pecha de traidor da pátria até o STF selar seu destino.

Quando deixamos de olhar para a árvore e passamos a olhar a floresta, perguntamo-nos como foi possível o Brasil sobreviver quatro anos sob um governo insano, comandado por uma organização criminosa de militares e civis, cujo modus operandi foi esmiuçado nas mais de 500 páginas do relatório final em que o PGR pediu a condenação do capetão-golpista e seus cúmplices?

Em momentos distintos da ditadura militar, o general Ernesto Geisel qualificou Bolsonaro como "anormal e mau militar", e Pelé e o general Figueiredo alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Mas nenhum dos três fazia ideia da extensão do desastre que estava por vir.

Em 2021, o empresário Paulo Marinho — que transformou a própria casa em estúdio para a campanha bolsonarista de 2018 — revelou que o então presidente sabia que seria preso pelos crimes cometidos — e pelos que ainda cometeria até o fim do mandato — e planejava “virar a mesa”. Meses depois, farejando a derrota nas urnas, o sacripanta rosnou que só haveria eleições se houvesse voto impresso.

Durante sua passagem pelo Planalto, Bolsonaro incitou e participou pessoalmente de manifestações pró-ditadura, promoveu “motociatas”, cavalgou pela Esplanada dos Ministérios e articulou um desfile de tanques em frente ao Congresso —visando constranger parlamentares durante a votação da PEC do voto impresso. Sempre que foi ameaçado, fingiu recuar. Mas pau que nasce torto morre torto, e ele logo reencarnava o "anormal e mau militar" que, numa democracia séria, seria inexoravelmente apeado do cargo. Nesta republiqueta de bananas, porém, o antiprocurador-geral, o imperador da Câmara e o próprio STF fingiram não ver o que o pior mandatário desde Tomé de Souza fazia.

Antes de se tornar réu, o Messias que não miracula admitiu que se refugiaria em alguma embaixada se sua prisão preventiva fosse decretada — como realmente se homiziou na Embaixada da Hungria, em fevereiro do ano passado, quando teve o passaporte apreendido.

Mauro Cid montou um plano de fuga em slides e produziu fake news sobre hackers terem encontrado vulnerabilidades nas urnas. A célebre “minuta do golpe” foi apresentada aos comandantes, e o plano Punhal Verde e Amarelo impresso no Palácio do Planalto pelo general Mário Fernandes, então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência. Agora, correndo o risco de aguardar em prisão preventiva seu julgamento e a provável condenado a mais de 40 anos de prisão, o aspirante a golpista ainda tem a audácia de falar em anistia e indulto!

A lambança bolsotrumpista — urdida pelo filho do pai que quase foi nomeado embaixador nos EUA por ter morado no Maine e fritado hambúrgueres numa rede de fast food que só servia frango frito — deixou a direita e a extrema-direita sem rumo, levando junto os possíveis substitutos do pai do filho em 2026. Como não poderia deixar de ser, essa pantomima tirou das cordas o despresidente de turno, que voltou a liderar todos os cenários nas pesquisas para as próximas eleições.

Triste Brasil.

 
1) Abra o navegador e faça login no Google;
 
2) Acesse https://mail.google.com/mail/ e clique no ícone de engrenagem, no canto superior direito;
 
3) Clique no botão Mostrar todas as configurações  e, na aba Filtros e endereços bloqueados (na parte superior), clique no botão Criar novo filtro;
 
4) No campo "De", digite o endereço de email que você quer adicionar na lista de remetentes seguros e clique em Criar filtro;
 
5) Marque a caixa Nunca enviar para Spam e depois conforme em Criar filtro.
 
Vale lembrar que o Gmail oferece outros recursos que podem melhorar a experiência de uso, como ativar o modo confidencial, marcar todos os e-mails como lidos e até agendar mails, como veremos oportunamente. 

segunda-feira, 21 de julho de 2025

TRISTE BRASIL!

HÁ TRÊS ESPÉCIES DE CÉREBROS: UNS ENTENDEM POR SI PRÓPRIOS; OUTROS DISCERNEM O QUE OS PRIMEIROS ENTENDEM; E OS DEMAIS NÃO ENTENDEM NEM POR SI PRÓPRIOS NEM PELOS OUTROS; OS PRIMEIROS SÃO EXCELENTÍSSIMOS; OS SEGUNDOS, EXCELENTES; E OS TERCEIROS, TOTALMENTE INÚTEIS.

Em 1993, o general Ernesto Geisel qualificou Bolsonaro como “anormal e mau militar”. Em momentos distintos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Geisel era um sábio; Pelé e Figueiredo, profetas que não sabiam.

Em 2021, o empresário Paulo Marinho — que transformou a própria casa em estúdio de programa eleitoral para a campanha bolsonarista de 2018 — disse que o então presidente sabia que seria preso pelos crimes que havia cometido (e ainda cometeria até o fim do mandato) e planejava “virar a mesa”. Meses depois, farejando a derrota nas urnas, Bolsonaro rosnou que só haveria eleições se houvesse voto impresso.

Ao longo de sua passagem pelo Planalto, o refugo da escória da humanidade incitou — ou participou pessoalmente de — manifestações pró-ditadura, promoveu "motociatas", cavalgou pela Esplanada dos Ministérios (mimetizando o ex-chefe do SNI, Newton Cruz) e articulou um desfile de tanques defronte ao Congresso para pressionar os parlamentares a aprovar a PEC do voto impresso.

Sempre que se via ameaçado, o capetão fingia recuar. Mas pau que nasce torto morre torto, e ele logo reencarnava o “anormal e mau militar” que, numa democracia séria, seria inexoravelmente apeado do cargo. Como o Brasil é uma republiqueta de bananas, o antiprocurador-geral, o imperador da Câmara e o próprio STF fingiram não ver o que o pior mandatário desde Tomé de Souza estava fazendo.

Antes de se tornar réu, Bolsonaro admitiu em entrevista ao UOL que, se sua prisão fosse decretada, ele se refugiaria em alguma embaixada (como fez em fevereiro do ano passado, quando passou dois dias na embaixada da Hungria após ter o passaporte apreendido). Mauro Cid montou em slides um plano de fuga para o chefe e produziu fake news sobre hackers terem encontrado vulnerabilidades nas urnas. A célebre “minuta do golpe” foi apresentada aos comandantes, e o plano Punhal Verde e Amarelo foi impresso no Palácio do Planalto pelo então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, general Mário Fernandes.

Os militares golpistas não têm do que se queixar, pois o golpe veio. Não na forma da ditadura que eles desejavam, mas como um conto do vigário no qual acabaram caindo. Tudo o que parecia ser deixou de ser quando Bolsonaro, já indiciado, negou ter discutido o golpe e classificou o plano de assassinar Lula, Alckmin e Moraes como “papo de quem tem minhoca na cabeça”. E como o Brasil é o país da piada pronta, estamos sob ataque do POTUS — também conhecido como “calopsita do penacho alaranjado.”

O abantesma do Planalto assombrou a democracia por quatro anos com o bordão do “meu Exército”. Se ele e seus acólitos fardados não concordavam em tudo, ao menos não discordavam no golpismo. A tentativa de instrumentalizar as FFAA falhou no atacado; no varejo, seu ex-comandante-em-chefe arrastou para o rol de indiciados 25 fardados (67,5% do total de candidatos à tranca).

A caminho do patíbulo supremo, o verdugo do Planalto se apega ao cinismo como um náufrago se agarra a um jacaré, pensando ser um tronco, enquanto seu rebento número três se torna uma prova ambulante de que dinheiro não tem pátria. O medo da prisão o impede de voltar, mas ele não cogita renunciar ao mandato. A partir de amanhã, voltará a receber salário mensal de R$ 46,3 mil. Se nada for feito, será remunerado pela pátria para traí-la em tempo integral.

Pela lógica, o filho do pai deveria ser cassado por atentar contra o artigo do regimento da Câmara que impõe aos deputados o dever de “promover a defesa do interesse público e da soberania nacional”. Mas a Câmara é uma Casa ilógica. Excluída a hipótese da cassação, aliados do conspirador empinam duas propostas para impedir a perda do mandato por excesso de faltas: numa, o deputado Evair Mello sugere que o traidor passe a exercer o mandato à distância, votando remotamente; noutra, Sóstenes Cavalcante propõe esticar a licença por mais 120 dias.

Adaptado aos tempos de tornozeleira, o slogan do bolsonarismo ficou assim: “Anistia acima de tudo, Trump acima de todos.” A velha tríade que o integralismo nacional importou do fascismo europeu — Deus, pátria e família — ganhou novos sentidos. Deus é um imperador laranja chocado com a “caça às bruxas”. A pátria deslocou-se para o Norte. E a família Bolsonaro, a única que importa, virou célula-mártir de uma conspiração antipatriótica desde que Eduardo escolheu os Estados Unidos como terra mortal.

Mantidos o mandato e o salário do deputado, o contribuinte brasileiro entra nesse enredo no papel de idiota involuntário.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

AINDA SOBRE O CÂNCER E A METÁSTASE

A CORRUPÇÃO É A MAIOR DAS INVENÇÕES POLÍTICAS. ELA TÃO GRANDIOSA QUE, SE ACABAR, ACABAM OS POLÍTICOS.

Em 1993, o general Ernesto Geisel qualificou Jair Bolsonaro como anormal e mau militar. Em momentos distintos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Geisel era um sábio; Pelé e Figueiredo eram profetas e não sabiam.
 
Em 2021, o empresário Paulo Marinho — que transformou a própria casa em estúdio de programa eleitoral para a campanha bolsonarista de 2018 — disse que Bolsonaro sabia que seria preso pelos crimes que havia cometido e ainda cometeria até o final de seu mandato, e planejava "virar a mesa". 
Marinho era um vidente: meses depois, farejando a derrota nas urnas, Bolsonaro rosnou que só haveria eleições se houvesse voto impresso. 

Ao longo de sua passagem pelo Planalto, Bolsonaro incitou ou participou pessoalmente de manifestações pró-ditadura, promoveu "motociatas", cavalgou pela Explanada dos Ministérios (mimetizando o ex-chefe do SNI, Newton Cruz) e articulou um desfile de tanques defronte ao Congresso (para pressionar os parlamentares a aprovar a PEC do voto impresso). 
 
Sempre que se via ameaçado, o capetão fingia recuar. Mas pau que nasce torto morre torto, e ele logo reencarnava o "anormal e mau militar" que, numa democracia séria, seria inexoravelmente apeado do cargo. Mas o Brasil é uma republiqueta de bananas, e o antiprocurador-geral, o imperador da Câmara e o próprio STF fingiram não ver o que o pior mandatário desde Tomé de Souza estava fazendo.  
 
Sem a blindagem do cargo, inelegível até 2030 e na bica de ser processado criminalmente, Bolsonaro admitiu em entrevista ao portal UOL que, se sua prisão for decretada, ele pode se refugiar em alguma embaixada (como fez em fevereiro, quando passou dois dias na embaixada da Hungria, após ter o passaporte apreendido). 
Se a fala foi um ato falho ou uma estratégia para se promover de "perseguido" a "preso político" e causar "comoção social", só saberemos com o desenrolar dos acontecimentos. 
 
De acordo com o relatório da PF, o ex-presidente planejou, atuou e teve o domínio de forma direta e efetiva dos atos executórios realizados pela organização criminosa. O golpe de Estado e da abolição do Estado Democrático de Direito só não se consumou devido a circunstâncias alheias à vontade dos golpistas. O próprio Bolsonaro admitiu que discutiu com militares a decretação de estado de sítio, de defesa, e a utilização do famigerado artigo 142. 
 
Mauro Cid montou em slides um plano de fuga para o chefe e produziu fake news sobre hackers terem encontrado vulnerabilidades nas urnas. A célebre "minuta do golpe" foi apresentada aos comandantes, e o plano "Punhal Verde e Amarelo" foi impresso no Palácio do Planalto pelo então secretário-executivo da Secretaria-geral da Presidência, general Mário Fernandes.
 
Os militares golpistas não têm do que se queixar, pois o golpe veio. Não na forma da ditadura que eles desejavam, mas como um conto do vigário em que eles caíram. Tudo que parecia ser deixou de ser quando Bolsonaro, já então indiciado, negou ter discutido o golpe e classificou o plano de assassinar Lula, Alckmin e Moraes de "papo de quem tem minhoca na cabeça". E como o Brasil é o país da piada pronta, sua defesa diz agora que o golpe não beneficiaria seu cliente, mas uma junta comandada pelos generais palacianos Braga Netto e Augusto Heleno.
 
O abantesma do Planalto assombrou a democracia por quatro anos com o bordão do "meu Exército". Se ele e seus acólitos fardados não concordavam em tudo, pelo menos não discordavam no golpismo. Mas a tentativa de instrumentalizar as FFAA falhou no atacado, e, no varejo, seu ex-comandante-em-chefe arrastou para o rol de indiciados 25 fardados (67,5% do total de candidatos à tranca).
 
A caminho do patíbulo supremo, o verdugo do Planalto se apega ao cinismo como um náufrago se agarra a um jacaré pensando ser um tronco. Se perguntasse ao general Mário Fernandes, preso preventivamente, o que ele está fazendo "lá dentro", Bolsonaro talvez ouvisse do redator do plano que previa os assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes: "O que você está fazendo aí fora?"

ObservaçãoComeça a ser julgado nesta sexta-feira, no escurinho do plenário virtual, o recurso de Bolsonaro que postula o afastamento de Moraes do inquérito do golpe, já que, por ser vítima, não poderia relatar e julgar o caso. Segundo a PGR, o que o ex-presidente pretende é usar o julgamento para tentar convencer a população de que vem sendo perseguido por "Xandão". O pedido foi rejeitado monocraticamente pelo presidente das togas em fevereiro; nos bastidores, dá-se de barato que o resultado do recurso será o mesmo.

O "mito" dos sem-noção continua dizendo que disputará a Presidência em 2026, mas a Operação Contragolpe reduziu a subzero suas chances de reverter a inelegibilidade no TSE, de modo que ele já admite delegar ao filho Eduardo o papel de bonifrate (como fez Lula com Haddad em 2018). 

O ex-presidiário do mensalão, dono do PL e integrante da lista de 37 indiciados pela PF sugeriu lançar a candidatura de Flávio Bolsonaro, mas uma parte da legenda avalia que, por estar mais conectado com a militância de direita que baba os ovos de Trump, o ex-fritador de hambúrgueres que quase virou embaixador seria uma opção melhor que o senador das rachadinhas. Como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado também estão de olho no Planalto, a disputa será acirrada. 
 
Cabe ao STF reaproximar o capitão golpista do seu exército de traíras. Uma sentença criminal está de bom tamanho para o reencontro. Em "Canção da América", Milton Nascimento e Fernando Brandt ensinam que "amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves". 

No mínimo, a 28 anos de cana.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

A CAIXA DE PANDORA — O MITO E A REALIDADE

NÃO ESPEREIS O JUÍZO FINAL; ELE SE REALIZA TODOS OS DIAS.

 

"Abrir a Caixa de Pandora" é uma metáfora para ações que desencadeiam consequências maléficas e irreversíveis. 

Segundo a mitologia grega, Pandora ("aquela que tem todos os dons") foi criada por Hefesto e Palas Atena a mando de Zeus, que queria castigar Prometeu ("aquele que pensa antes") por roubar o fogo dos deuses e dá-lo aos homens. 

Depois de ganhar um dom de cada divindade de Olimpo, Pandora recebeu de Zeus uma caixa que jamais deveria ser aberta e a missão de seduzir Epimeteu ("aquele que pensa depois"). Encantado com a beleza da moça e ignorando as advertências do irmão, Prometeu, sobre aceitar presentes do deus dos deuses, Epimeteu tomou a moça como esposa (e eu que achava que "presente de grego" tinha a ver com a lenda do Cavalo de Troia). 
 
Quando criou a mulher, Deus também criou a curiosidade. A curiosidade levou Pandora a abrir a caixa e libertar todos os males que recaíram sobre a humanidade. Mas a esperança, que é "a última que morre", ficou presa no fundo da caixa, talvez para nos dar forças para lutar contra as adversidades, mesmo que o mal muitas vezes vença o bem.
 
Revisito essa fábula por três motivos: 1) sempre gostei de mitologia; 2) muita gente usa essa metáfora sem saber sua origem; 3) insistir no erro esperando produzir um acerto é a melhor definição de imbecilidade que eu conheço. 
 
Em momentos distintos da ditadura, Pelé e o general Figueiredo alertaram para o perigo de misturar brasileiros com urnas em eleições presidenciais. Ambos foram muito criticados, mas o tempo provou que eles estavam certos: a cada dois anos, os eleitores fazem nas urnas, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez, por curiosidade. E como ensinou o Conselheiro Acácio (personagem do romance O Primo Basílio), as consequências vêm sempre depois. 
 
A ditadura militar implantada pelo golpe de 1964 durou 21 longos anos. A reabertura, lenta e turbulenta, não se deveu ao "espírito democrático" dos presidentes-generais Geisel e Figueiredo, mas ao ronco das ruas e à pressão da imprensa, que se intensificaram em 1984, depois que uma manobra de bastidor sepultou a emenda Dante de Oliveira

Em janeiro de 1985 Tancredo Neves derrotou Paulo Maluf por 480x180 votos de um colégio eleitoral formado por 686 deputados, senadores e delegados estaduais. A exemplo da Viúva Porcina (aquela que foi sem nunca ter sido), a raposa mineira entrou para a história como nosso primeiro presidente civil desde João "Jango" Goulart, mas quis o destino que baixasse ao hospital horas antes da cerimônia de posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois.

Tancredo levou para a sepultura a esperança de milhões de brasileiros e deixou de herança um neto que envergonharia o país e um combo de puxa-saco dos militares, oligarca da politica de cabresto nordestina, escritor, poeta e acadêmico que se chamava José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mas era conhecido como José Sarney

Sem o carisma e o traquejo administrativo do finado, Sarney tentou descascar o formidável abacaxi econômico (inflação, dívida externa e desemprego nas alturas) através de uma série de pacotes de medidas econômicas baseadas no congelamento de preços e salários. Ao final de sua aziaga gestão, a inflação estava em 4.853% ao ano, mas os prefeitos haviam voltado a ser eleitos diretamente, a Constituição Cidadã fora promulgada (aumentando de 4 para 5 a duração de seu mandato) e a primeira eleição presidencial direta desde 1960, realizada.   
 
Em 15 de novembro de 1989, o cardápio de postulantes ao Planalto oferecia 22 opões, incluindo Ulysses Guimarães, Mário Covas e Leonel Brizola. E o que fez esclarecido eleitorado ao quebrar o jejum de urna de 29 de urna? Escalou Lula e Fernando Collor para disputar o 2º turno. O caçador de marajás de mentirinha venceu o desempregado que deu certo, mas o envolvimento no esquema PC lhe rendeu um impeachment.
 
Observação: Em maio do ano passado, o STF condenou Collor a 8 anos e 10 meses de reclusão, mas ele continua livre, leve e solto graças a um pedido de vista apresentado pelo ministro Dias Toffoli na véspera do último carnaval. Em contrapartida, qualquer "reles mortal" que acessar o Xwitter durante a suspensão ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes corre o risco de ser multado em R$ 50 mil. Dá para acreditar numa coisa dessas?
 
Com a deposição do Rei-Sol, o baianeiro e namorador Itamar Franco foi promovido a titular, nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda e editou o Plano Real, cujo sucesso pavimentou o caminho que levou o grão-duque tucano a vencer o pleito presidencial de 1994 no 1º turno. Em 1997, picado pela mosca azul, sua alteza comprou a PEC da reeleição

Como quem parte, reparte e não fica com a melhor parte é burro ou não tem arte, o tucano de plumas vistosas disputou a reeleição em 1998 e foi eleito no 1º turno, mas em 2002, sem novos truques para tirar da velha cartola, não conseguiu eleger seu sucessor.
 
Após três derrotas consecutivas, Lula venceu José Serra e deu início aos 13 anos, 4 meses de 12 dias de lulopetismo corrupto que só foi interrompidos em 2016, com o impeachment de Dilma Rousseff, a inolvidável gerentona de araque

Num primeiro momento, a troca de comando pareceu uma lufada de ar fresco numa catacumba: depois de mais de uma década ouvindo garranchos verbais de um ex-retirante semianalfabeto e frases desconexas de uma mandatária incapaz de juntar lé com cré numa frase que fizesse sentido, ter um presidente que sabia falar – e que até usava mesóclises – era um refrigério.
 
Temer conseguiu reduzir a inflação (que havia retornado firme e forte sob Dilma) e aprovar o Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista, mas seu prometido "ministério de notáveis" se revelou uma notável agremiação de corruptos e sua "ponte para o futuro", uma patética pinguela. 

A conversa de alcova gravada à sorrelfa por Joesley Batista só não derrubou o vampiro do Jaburu porque sua tropa de choque – capitaneada pelo deputado Carlos Marun – comprou votos das marafonas da Câmara para escudá-lo das "flechadas de Janot". Apesar do desgaste, o nosferatu claudicou como "pato manco" até o final do mandato-tampão e transferiu a faixa para Jair Bolsonaro. 
 
Sem a proteção do manto presidencial, o vampiro que tinha medo de fantasma chegou a ser preso, mas foi socorrido pelo desembargador Ivan Athié, então presidente da 1ª Turma do TRF-2, que havia sido afastado do cargo durante 7 anos por suspeitas de corrupção e venda de sentenças, mas fora reintegrado em 2011, quando o STF trancou o processo contra ele. E viva a Justiça brasileira!
 
Ao acompanhar o golpe de Estado que levou Napoleão III ao poder, Karl Marx concluiu que a história acontece como tragédia e se repete como farsa. O Barão de Itararé dizia que político brazuca é um sujeito que vive às claras, aproveita as gemas não despreza as cascas, e o saudoso maestro Tom Jobim (que era brasileiro até no nome), ensinou que o Brasil não é para principiantes. E com efeito. 
 
Em 2018, nenhum dos 13 postulantes ao Planalto empolgava, mas por que se arriscar a acertar com Geraldo Alckmin, Álvaro Dias, Henrique Meirelles ou João Amoedo quando se podia pode errar com certeza escalando para o embate final um mau militar e parlamentar medíocre travestido de "outsider antissistema" e um patético bonifrate do então ex-presidiário mais famoso do Brasil?

Em 2022, as opções era ainda menos atraentes — sobretudo depois que o "establishment" fulminou a quimérica "terceira via". Mas, de novo: por que correr o risco de acertar votando em Simone Tebet, em Felipe D'ávilaou mesmo em Ciro Gomes (situações desesperadoras justificam medidas desesperadas) quando se podia errar com certeza despachando Lula e Bolsonaro para o 2º turno?
 
Tanto num caso como no outro a maldita polarização fez com que tanto a merda quanto as moscas permanecessem as mesmas. A diferença é que, em 2018, a parcela minimamente pensante do eleitorado se viu obrigada a apoiar o ex-capitão para evitar que o país fosse presidido pelo fantoche do presidiário, e em 2022, precisou embarcar na falaciosa "Frente Democrática", capitaneada pelo então ex-presidiário "descondenado", para evitar mais 4 anos (ou sabe-se lá quantos) sob a batuta do refugo da escoria da humanidade.
 
Há males que tempo cura, males que vêm para pior e males que pioram com o passar do tempo. Lula 3.0 é uma reedição piorada das versões 1 e 2, e como como nada é tão ruim que não possa piorar, o macróbio petista cogita disputar a reeleição em 2026 (que os deuses nos livrem tanto dessa desgraça quanto da volta do capetão-golpista).
 
As consequências da inconsequência do eleitorado tupiniquim são lamentados todos os dias, inclusive por quem abriu a Caixa de Pandora achando que estava escolhendo o menor de dois males - o que se justifica quando e se não há outra opção. E tanto em 2018 quanto em 2022 havia alternativas; só não viu quem não quis ou não conseguiu porque sofre do pior tipo de cegueira que existe. 
 
Observação: Um levantamento feito pelo portal g1 apurou que 61 pessoas com mandados de prisão em aberto (leia-se fugitivos da polícia) se candidataram a prefeito ou a vereador nas eleições deste ano. A maioria dos casos envolve dívida de pensão alimentícia, mas há suspeitos de estelionato, roubo, homicídio e estupro. 
 
Reza uma velha (e filosófica anedota) que Deus estava distribuindo benesses e catástrofes naturais pelo mundo que acabara de criar, quando um anjo apontou para o que seria futuramente o Brasil e perguntou: "Senhor, por que destinastes a essa porção de terra clima ameno, praias e florestas deslumbrantes, grandes rios e belos lagos, mas não desertos, geleiras, vulcões, furações ou terremotos?" E Deus respondeu: "Espera para ver o povinho filho da puta que vou colocar aí."
 
Políticos incompetente e/ou corruptos que ocupam cargos eletivos não brotam nos gabinetes por geração espontânea; se eles estão lá, é porque foram eleitos por ignorantes polarizados, que brigam entre si enquanto a alcateia de chacais se banqueteia e ri da cara deles. 
 
Einstein achava que o Universo e a estupidez humana eram infinitos, mas salientou que, quanto ao Universo, ele ainda não tinha 100% de certeza. Alguns aspectos de suas famosas teorias não sobreviveram à passagem do tempo, mas sua percepção da infinitude da estupidez humana merece ser bordada com fios de ouro nas asas de uma borboleta. 
 
Não há provas de que boas ações produzam bons resultados – a "lei do retorno" é mera cantilena para dormitar bovinos – mas sabe-se que más escolhas costumam gerar péssimas consequências, como prova e comprova a história desta republiqueta de bananas: nossa independência  foi comprada, a Proclamação da República foi um golpe militar (o primeiro de muitos), o voto é um "direito obrigatório", nossa democracia é uma piada e o sistema político está falido. 
 
Desde 1889, 35 brasileiros alcançaram a Presidência pelo voto popular, eleição indireta, linha sucessória ou golpe de Estado (o número depende de como alguns casos específicos, como presidências muito breves ou interinas, mas isso não vem ao caso neste momento). Oito integrantes dessa seleta confraria – começando pelo primeiro, Deodoro do Fonseca – deixaram o cargo prematuramente, e dos cinco que foram eleitos pelo voto direto desde a redemocratização, dois acabaram impichados. 

Dos mais de 30 partidos políticos que mamam nas tetas dos fundos eleitoral e partidário (ou seja, são bancados pelo suado dinheiro dos "contribuintes"), nenhum representa os interesses da população, e alguns são verdadeiras organizações criminosas. 

O Brasil de hoje lembra aquelas fotos antigas de reis africanos, que imitavam os trajes e trejeitos dos governantes de nações mais evoluídas e recebiam aulas de civilização dos oficiais do Império Britânico, mas achavam que para se transformar em soberanos civilizados bastava copiar as vestes e adereços daqueles que lhes falavam das maravilhas da Rainha Vitória ou de Napoleão III. 

O resultado se vê nas fotografias. As mais clássicas mostram negros magros, ou gordíssimos, com uma cartola de segunda-mão na cabeça, calças rasgadas ou remendadas, pés descalços ou calçados com uma bota só, velha e sem graxa. Imaginavam-se nobres, esses coitados, iguais a seus pares europeus, mas, junto com as novas roupas e os acessórios, continuavam usando colares feitos de ossos, pulseiras de metal e argolas na orelha ou no nariz, enquanto eram roubados até o último papagaio pelos que supostamente vieram ensiná-los a ter valores cristãos, avançados e democráticos.
 
O Brasil aparece na foto como uma democracia de Primeiro Mundo, mas a realidade do dia a dia mostra pouco mais que uma cópia barata e malsucedida do artigo legítimo. Nossas eleições são subordinadas a todo tipo de patifaria, do voto obrigatório ao anacrônico horário eleitoral "gratuito", passando por deformações propositais que entopem a Câmara Federal com políticos das regiões que têm meia dúzia de eleitores. 

O resultado é um monumento à demagogia, à corrupção e à estupidez. Acordos políticos são urdidos na surdina por parlamentares que votam com base em seus interesses pessoais. Milícias e fações criminosas têm representantes no Congresso, nas Assembleias Legislativas estaduais e nas Câmaras Municipais. Candidatos só entram em algumas regiões se tiverem proteção dos criminosos, e os moradores são "convidados" a votar na "turma da casa".
 
Os direitos dos cidadãos representam a área mais notável das semelhanças com reis africanos. Nunca houve tantos direitos escritos nas leis nem o poder público foi tão incompetente para mantê-los. O Congresso não representa o povo que o elegeu para tal, e há uma recusa sistemática em combater o crime por parte de nove entre dez políticos com algum peso. Com quase 50 mil assassinatos por ano, o Brasil é um dos países onde a vida humana tem menos valor. 
 
Se nossas instituições funcionassem – e suas excelências não se cansam de dizer que elas funcionam –, a Câmara teria aberto pelo menos um dos quase 150 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, e o Centrão não teria transformado a ocupação do Orçamento num processo de bolsonarização das instituições. Pode passar pela cabeça de alguém que exista democracia num país como esse? 
 
Quando nossos nobres parlamentares perderam a credibilidade e o mais alto cargo do funcionalismo público federal passou a ser ocupado por uma sequência de mandatários que, noves fora Fernando Henrique — já foram presos ou respondem a processos criminais, o Judiciário se tornou nosso último bastião. Mas faz tempo que as opiniões e os vieses político-partidários dos eminentes togados (que deveriam ser isentos, imparciais e apartidários) se tornaram públicos e notórios.
 
O Supremo poderia nos ter livrado do aspirante a golpista em diversas oportunidades (motivos para tal não faltaram), mas as excelências que tudo decidem – do destino dos presidentes ao furto de codornas — acharam melhor dar tempo ao tempo, apostando na sapiência inigualável dos eleitores. 

É fato que Alexandre de Moraes impediu a consumação do golpe, mas também é fato que ele já deveria ter tirado de circulação o "mito" dos extremistas de direita, que mesmo inelegível até 2030 faz pose de cabo eleitoral de luxo e articula com seus comparsas no Congresso uma improvável (mas não impossível) anistia a si e aos golpistas do 8 de janeiro. 
 
Como o chanceler Charles De Gaulle não disse, mas a frase lhe é atribuída, "le Brésil n’est pas un pays serieux". 
 
Continua...

terça-feira, 2 de abril de 2024

60º ANIVERSÁRIO DO GOLPE DE `64

 

O golpe de Estado que prefaciou a ditadura militar — aquela que Bolsonaro sempre negou, mas tentou ressuscitar em 2022, e que seu vice classificou de "ditamole" — completou 60 anos no último domingo. O senador Auro de Moura Andrade declarou vaga a Presidência da República em 1º de abril de 1964, mas episódio entrou para a História com data anterior para evitar associações jocosas com o "dia da mentira". 

Resumindo a ópera em poucas palavras, a renúncia de Jânio e a aversão dos militares a Jango pavimentaram o caminho do golpe, e os subsequentes 21 anos de ditadura deram azo ao surgimento do lulopetismo corrupto e do bolsonarismo boçal (mais detalhes na sequência O desempregado que deu certo). 

Para quem gazeteou as aulas de História, relembro que a Guerra Fria e a Revolução Cubana levaram o sistema político brasileiro do pluralismo moderado ao pluralismo extremamente polarizado, e a situação se agravou com a vitória chapa Jan-Jan (de Jânio e Jango) em 1960. Jânio se elegeu com a promessa de resolver miraculosamente todos os problemas ligados à corrupção e inflação no país, mas, alegando que "forças terríveis" se levantaram contra ele — e apostando que seria reconduzido ao cargo pelo "clamor popular" — despachou Jango para uma missão na China, apresentou sua carta-renúncia e voou para São Paulo levando a faixa presidencial.

Depois de esperar horas na base aérea de Cumbica pelas multidões não apareceram — talvez porque um arranjo urdido nos bastidores impediu que o povo soubesse onde ele estava, ou talvez porque o povo só poderia ser mobilizado por um partido janista se seu líder tivesse permitido sua existência — o populista cachaceiro embarcou para Europa, e o Brasil mergulhou na crise provocada pelo veto à promoção do "vice comunista" a titular.

Na qualidade de presidente da Câmara, o deputado Ranieri Mazzilli assumiu a chefia do Executivo, mas uma junta provisória formada pelos três ministros militares governou o país até 8 de setembro, quando foi implantado o sistema parlamentarista. Com os poderes limitados e tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro, Jango foi autorizado a assumir a presidência como chefe de Estado. 

Curiosidades1) Dali a 24 anos, o primeiro-ministro de Jango se tornaria o primeiro presidente civil pós-ditadura militar. 2) Em 1962, Jânio concorreu ao governo de São Paulo, mas foi derrotado por seu velho desafeto Adhemar de Barros e só voltou a disputar um cargo público em 1985, quando derrotou o tucano Fernando Henrique e o petista Eduardo Suplicy e se elegeu prefeito da capital paulista.

Jango só assumiu o posto a que tinha direito desde a renúncia de Jânio depois que o referendo de 6 de janeiro de 1963 restabeleceu o presidencialismo, mas as tensões se intensificaram quando ele declarou que a reforma agrária era uma questão de honra em seu mandato. Embora não houvesse a menor possibilidade de uma vitória comunista — nem pela via reformista, nem pela luta armada —, parte da elite brasileira bateu às portas dos quartéis, e os militares atenderam prontamente (até porque a doutrina que aprendiam na caserna era a do Ocidente x Pacto de Varsóvia).

Quando a Marcha da Família com Deus pela Liberdade escancarou o apoio civil ao golpe, o Congresso, ameaçado de fechamento, chancelou a derrubada de Jango e a "eleição" do então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas — o marechal Castello Branco —, que deixou o Planalto em 15 de março de 1967 e morreu quatro meses depois, vítima de um acidente de avião no Ceará. Outros quatro generais-ditadores — Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo , se revezaram no poder até 1985, num jogo um jogo de cartas marcadas em que o partido de oposição (MDB) era meramente figurativo. 

Observação: Muitos democratas e liberais apoiaram o golpe achando que os militares voltariam para os quartéis em 1965, quando haveria novas eleições e Juscelino (pelo lado reformista democrático) e Carlos Lacerda (conservador liberal, democrata) disputariam a Presidência. Mas eles não demoram a perceber que os militares, picados pela mosca azul, tencionavam se perpetuar no poder. 
 
A dança das cadeiras dos fardados terminou com a eleição indireta de Tancredo Neves, em janeiro de 1985, que reascendeu a chama da esperança no coração de 130 milhões de brasileiros. Mas a alegria durou pouco: por uma trapaça do destino, o presidente eleito baixou ao hospital horas antes da cerimônia de posse e bateu as botas 38 dias e 7 cirurgias depois, deixando de herança um neto que envergonhou o país e um vice que se tornou pai e avô do Centrão
O resto é história recente. 
 
Em 1989, já sob a égide da Constituição Cidadã, os brasileiros voltaram às urnas (depois de um jejum de 29 anos) para escolher seu presidente. Entre os 22 postulantes havia políticos do quilate de Ulysses Guimarães, Mario Covas, Leonel Brizola e Ciro Gomes e aberrações como Enéas Carneiro, Livia Maria Pio e Sílvio Santos, mas o eleitor tupiniquim, sempre pronto a fazer as piores escolhas, escalou Collor (com 30,5% dos votos) e Lula (com 17,2%) para disputar o segundo turno, quando então o pseudo caçador de marajás derrotou o desempregado que deu certo por 53% a 47%.
 
Durante a campanha, Collor prometeu alvejar o "tigre da inflação" com uma "bala de prata". Eleito, apertou o gatilho um dia antes da posse ao pedir a Sarney que decretasse feriado bancário para que o mercado se adequasse ao conjunto de medidas econômicas mais radical que o país já amargou. Além de congelar preços e salários — a exemplo dos planos Cruzado, Cruzado II e Verão, editados durante o governo Sarney—, o Plano Collor bloqueou todo o dinheiro depositado nos bancos e aplicado no mercado financeiro até o limite de Cr$ 50 mil. Como resultado, o PIB encolheu 4,5% e o número de falências, infartos e suicídios teve um aumento significativo.
 
Plano Collor II aumentou tarifas públicas, decretou o fim do overnight e criou a FAF (Fundo de Aplicações Financeiras) e a TR (Taxa de Referência de Juros), mas a inflação voltou a subir, o desemprego cresceu, estatais foram vendidas a preço de banana e houve um desmonte das ferrovias e cortes de investimentos federais em infraestrutura. Entre o fim do Plano Marcílio e o início do Plano Real a inflação baixou dos 2.000% a.a. para "apenas" 1119,91% a.a. — índice registrado no final de 1992, quando o
 Rei-Sol, autoritário como poucos e corrupto como muitos, foi chutado do Planalto pela porta dos fundos
 
Observação: Ciente de que sua deposição eram favas contadas, Collor renunciou às vésperas do julgamento de seu impeachment — que teve como estopim uma entrevista concedida por Pedro Collor à revista VEJA —, mas o Senado seguiu adiante e o condenou (por 76 votos a 3) à perda do cargo e suspendeu seus direitos políticos por 8 anos.   
 
Com a deposição do "Roxinho", o vice Itamar Franco passou a titular e nomeou Fernando Henrique ministro da Fazenda. Impulsionado pelo sucesso do Plano Real, o tucano se elegeu presidente em 1994, comprou a PEC da reeleição em 1997 e se reelegeu 1998. Como não lhe restavam novos coelhos para tirar da velha cartola, FHC não conseguiu eleger José Serra seu sucessor.A
 vitória de Lula em 2002 marcou o início à era lulopetista, que só foi interrompida em 2016, com o impeachment de Dilma

Com a deposição da gerentona de araque, seu vice foi promovido a titular e se mudou para a residência oficial da Presidência, mas voltou semanas depois para o Jaburu, porque, segundo ele, o Palácio da Alvorada é assombrado. Assim, Michel Temer se tornou o primeiro e único caso documentado de vampiro que tem medo de fantasma. 
 
A troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba: após 13 anos de garranchos verbais de um semianalfabeto e frases desconexas de uma anormal incapaz de juntar sujeito e predicado numa frase que fizesse sentido, um presidente que não só sabia falar como até usava mesóclises pareceu um refrigério. Demais disso, o vampiro do Jaburu
 conseguiu reduzir a inflação (que rodava pelos 10% quando ele assumiu), baixar a Selic e aprovar a PEC do Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista, mas o ministério de notáveis que prometeu se revelou uma notável agremiação de corruptos, e quando sua conversa de alcova com Joesley Batista veio a público, o sonho de entrar para a história como "o cara que recolocou o Brasil nos eixos" virou o pesadelo de vir a ser "o primeiro presidente no exercício do mandato denunciado por crime comum". 
 
Observação: A tropa de choque capitaneada por Carlos Marun contratou um coral de 251 marafonas para entoar a marcha fúnebre enquanto a segunda "flechada de Janot" era sepultada na Câmara, mas Temer terminou seu mandato-tampão como um "pato manco" — que é como os americanos se referem a políticos que chegam tão desgastados ao final do mandato que até os garçons lhes servem o café frio. 
 
Em 2018, uma extraordinária conjunção de fatores empurrou para o Planalto um combo de mau militar e parlamentar medíocre que atribuiu a vitória a uma "cagada do bem". Quatro anos depois, derrotado nas urnas, ele exortou seus paus-mandatos a "virar a mesa". Investigado em sete inquéritos, inelegível até 2030 e na bica de ver o sol nascer quadrado, esse dejeto da escória da raça humana aguarda a primeira condenação posando de perseguido. 
 
A retomada democrática instituída em 1985 com a eleição do presidente "Viúva Porcina" (que foi sem nunca ter sido) e sacramentada em 1988 pela promulgação da Constituição Cidadã não exorcizou os fantasmas da ditadura. No último dia 29, o STF começou a julgar em plenário virtual os limites da atuação das FFAA estabelecidos no Art. 142 da CF (o ministro Luiz Fux, relator da encrenca, já votou pelo sepultamento da tese de que os fardados são o "poder moderador" da República).

Para evitar atritos com as Forças Armadas, Lula vetou qualquer ação alusiva ao golpe de '64, mas sete dos 38 ministros foram às redes sociais prestar homenagens aos "desaparecidos" dos anos de chumbo
Lobotomizados pela polarização semeada pelo "nós contra eles" do xamã petista e estrumada pela extrema-direita radical que saiu do armário durante a campanha de 2018, os devotos do bolsonarismo, vítimas da pior espécie de cegueira, consideram seu "mito" um ex-presidente de mostruário perseguido injustamente por "Xandão", como deixou claro a manifestação de 25 de fevereiro passado.

Observação: Claro que muita gente reza (ou finge rezar) por essa cartilha devido a interesses escusos, da mesma forma e pelos mesmos motivos que muita gente finge acreditar que Lula é a alma viva mais honesta do Universo e que sua prisão "foi uma armação, um dos maiores erros judiciários da história do país". Mas isso é outra conversa. 
 
Em face de todo o exposto, não há o que celebrar em 31 de março (nem em 1 de abril, a não ser o "dia da mentira"). Comemorar a instalação de uma ditadura que fechou instituições democráticas e censurou a imprensa é permitir que ódios do passado envenenem (ainda mais) o presente e destruam o futuro.