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sábado, 12 de março de 2022

NÃO CONFUNDA PALHAÇO PRESIDENTE COM PRESIDENTE PALHAÇO


Não é justo atribuir aos políticos a culpa pelas mazelas dos brasileiros. Políticos não brotam em seus gabinetes por geração espontânea; se os três Poderes da República foram tomados por criminosos de colarinho-branco (pode-se argumentar que os juízes de cortes superiores não são eleitos pelo voto popular, mas quem os indica e quem chancela a indicação o são), a culpa é de um eleitorado incapaz de tirar água de uma bota, mesmo com as impressas no calcanhar.

O brasileiro já votou em rinoceronte para vereador, em macaco para prefeito, em palhaço de circo para deputado e — a cereja do bolo — num analfabeto, num poste e num dublê de mau militar e parlamentar medíocre para presidir este país. É graças a essa caterva (falo da récua de muares munidos de título eleitoral) que a eleição de outubro próximo tem tudo para ser uma reedição piorada do pleito plebiscitário de 2018.

Situações surreais como essas não são exclusividade nacional. Nos EUA, Donald Trump venceu Hillary Clinton em 2016 (apesar de a candidata democrata ter obtido mais votos) e uma corja de vândalos invadiu o Capitólio, quatro anos depois, para protestar contra a derrota de seu ídolo. Questionado sobre a situação no leste europeu, Trump afirmou que Putin não teria invadido a Ucrânia se ele ainda estivesse na Casa Branca. Como se costuma dizer, presunção e água benta, cada um toma a que quer.

Sobre Vladimir Putin, o buraco é ainda mais embaixo. Três dias após a invasão da Ucrânia, Diogo Mainardi escreveu em sua coluna que o carniceiro russo já havia sido derrotado. Que havia perdido o rublo, a Copa do Mundo, o ouro do Banco Central, as estantes Ikea, o primeiro bailarino do Bolshoi, os cintos da Gucci, a sucursal do New York Times, as villas no lago de Como, o Facebook, os parlamentares de direita e esquerda na Europa e nos Estados Unidos, o centroavante Lukaku. Até as empresas que tentaram resistir ao boicote, como Pepsi e McDonald’s, tiveram de fechar suas lojas na Rússia, constrangidas por seus consumidores e acionistas. E isso tudo em apenas duas semanas. Até o Brasil, que faz parte de outro sistema solar, condenou déspota. 

Uma pesquisa divulgada dias atrás mostrou que, enquanto Bolsonaro e Lula abanavam o rabo para o tirano eslavo, o povo brasileiro queria mais era mijar no seu túmulo. O problema é que esse сукин сын continuará matando pessoas (inclusive civis) até alguém lhe dar uma dose de seu próprio próprio veneno — um chazinho como aquele que "acalmou ad aeternum" o papa João Paulo I estaria de bom tamanho, e talvez fosse até bom essa moda pegar.

Por aqui, um aumento brutal no preço dos combustíveis foi prontamente repassado por donos de postos (não todos), pouco se importando com o fato de o combustível servido nas bombas ter sido comprado antes do reajuste (isso se chama “crime contra a economia popular”). Esse "reajuste" terá efeitos nefastos na inflação e afetará a população em geral, já que praticamente tudo que é produzido no Brasil é transportado através de nossa esburacada, enlameada e detonada malha rodoviária (salvo raras e honrosas exceções).

Os combustíveis e o gás de cozinha vinham subindo de preço descontroladamente, e não só devido à alta do dólar. O problema, como sempre, é a falta de previsão de um mandatário que só tem olhos para a reeleição, e que prefere participar de motociatas e andar de jet-ski a dar expediente no Palácio do Planalto. E como Lula, que institucionalizou a compra de apoio parlamentar com o Mensalão e sangrou a Petrobrás com o PetrolãoBolsonaro se vale do nefando Orçamento Secreto (cerca de R$ 17 bilhões por ano) para comprar votos das marafonas do Parlamento, e isso enquanto a população mais carente sequer têm o que comer.

Voltando aos combustíveis, “em casa onde falta pão todos gritam e ninguém tem razão”. O que se vê é um jogo de empurra. O capetão culpa o ICMS, os governadores culpam o governo federal, todos culpam a Petrobrás — que distribui bilhões aos acionistas e paga ao general Silva e Lula um salário nababesco (mais de R$ 200 mil) — e ninguém faz nada. Ou, quando faz, faz o que Dilma fez durante sua campanha à reeleição.

Lula insiste na falácia da autossuficiência brasileira em petróleo e atribui a alta dos preços à privatização da BR-Distribuidora, mas, para surpresa de ninguém, ele não menciona que faltam refinarias e que ele e seu espúrio partido foram os responsáveis pela cleptocracia que quase quebrou a Petrobras. Esperar o que de um egun mal despachado, um ex-sindicalista malandro, amante da vida fácil e expert na arte de enganar trouxas

Em 2018, o ainda candidato Bolsonaro disse que o preço dos combustíveis já havia ultrapassado todos os limites — mas, uma vez eleito e empossado, não se preocupou em criar o tal fundo de estabilização no início de sua execrável gestão. Mesmo assim, o ministro Paulo Guedes alardeava que o botijão de gás deveria custar cerca de R$ 30 — e já tem gente pagando R$ 150. O que nem um nem o outro disseram é que somente um governo competente e responsável seria capaz de resolver esse e um sem-número de outros problemas. 

Observação: O PL 1.472/2021, em trâmite no Senado, prevê a criação de um fundo de equilíbrio para controlar a volatilidade do preço dos derivados de petróleo. A ideia é utilizar recursos da União (dividendos que a Petrobras paga ao governo federal) como uma espécie de “colchão", visando manter o preços estáveis — ou, no mínimo, reduzir o percentual de aumento  em situações adversas como a atual.

Ao trágico governo em curso restam nove meses, e a nós, decidir entre suportar mais 4 anos de incompetência chapada ou amargar a volta da ladroagem institucionalizada. Não que não exista corrupção nem corruptos no mar de lama que se tornou a Praça dos Três Poderes. Essa falastrice não passa de mera cantilena para dormitar bovinos e já não convence sequer nem mesmo os poucos fãs do “mito” com Q.I. superior ao de um repolho. Na última quarta-feira a Transparência Internacional Brasil apresentou um relatório à OCDE denunciando retrocessos no combate à corrupção, e mencionou, dentre outros descalabros, os R$17 bi (do tal Orçamento Secreto) que o governo federal usou para comprar deputados.

A alta dos combustíveis propiciou mais uma troca de farpas entre os presidenciáveis. Enquanto os bolsonaristas comemoraram a mudança do cálculo do ICMS, o ex-presidiário de Curitiba tuitou: “Agora você tem empresas importando gasolina dos Estados Unidos em dólar enquanto temos auto suficiência (sic) e produzimos petróleo em reais". 

Observação: O ICMS (que é um imposto estadual) terá a alíquota unificada em todo o Brasil e incidirá nos combustíveis apenas uma vez. O pacote aprovado no Senado também incluiu a isenção do PIS e da Cofins (que são tributos federais) sobre o diesel e o gás de cozinha até o final do ano. Na prática, as duas medidas juntas representarão uma redução de R$ 0,60 por litro de diesel. Governadores já anunciaram que vão questionar judicialmente o projeto, alegando queda na arrecadação. Com a mudança, o governo pode evitar, pelo menos por enquanto, a criação de um programa de subsídio direto da a gasolina, algo que o Posto Ipiranga de fancaria quer deixar de lado e disse que só será considerado se a se a guerra no leste europeu continuar por mais "30, 60 dias". Enquanto isso, Bolsonaro voltou a atacar a política de preços da Petrobras (sim, de novo) e chamou o reajuste de ontem de “absurdo”.

Sobre o tuíte do ex-presidiário, o pré-candidato pelo Partido Novo, Felipe D'Ávila, escreveu: "um tweet, quatro mentiras". Sergio Moro também tuitou: "Sabe por que a Petrobras ainda existe, Lula? Porque a Lava-Jato impediu que o governo do PT continuasse saqueando e desviando recursos da maior estatal do Brasil". E Ciro Gomes: "Enquanto isso todos brasileiros sofrem, mesmo vivendo num país que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, e vendo concessionárias da Petrobras vendidas a preço de banana. Até quando vamos suportar este absurdo?".

Do alto de sua inesgotável sabedora, o vereador Carlos Bolsonaro comemorou a decisão do desgoverno do pai, alegando que a mudança (no cálculo do ICMS) fará com que “o povo pague mais barato" e criticou governadores que não querem abrir mão da arrecadação em ano eleitoral.

Para não encompridar ainda mais este texto, falo sobre o palhaço que se tornou presidente no post de amanhã.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

RESTAURE-SE O IMPÉRIO DA MORALIDADE OU LOCUPLETEMO-NOS TODOS! (PARTE XVII)

 

Lula é o protótipo do desempregado que deu certo. Não trabalha desde os 30 anos (deixou de ser operário em 1980, quando fundou o PT, mas, como líder sindical, já não pisava em chão de fábrica desde 1972). Mais da metade de sua vida foi dedicada à “arte da política”, e não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. Nem mesmo sua narrativa sobre o “acidente” em que perdeu um dedo resiste a uma análise mais detalhada.

Sem prejuízo de voltarmos a este assunto numa sequência dedicada integralmente ao menino pobre que migrou para o sudeste fugido das agruras da seca e da miséria, cumpre mencionar que as chances de alguém destro (como é o caso de Lula) perder o dedo mínimo da mão esquerda operando um torno mecânico são próximas de zero. Vale conferir o que disse a propósito o ex-engenheiro sênior da CSN e especialista em metalurgia de produção Lewton Verri, que conheceu o dito-cujo na década de 70 e sempre o teve na conta de “um sindicalista predador e malandro, que traía os ‘cumpanhêros’ começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios”( clique aqui para acessar uma postagem que revolve mais a fundo as vísceras desse caso espúrio).

Golbery do Couto e Silva — ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares e arquiteto da “abertura lenta e gradual” que restabeleceu a democracia no Brasil — teria dito a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda e que não passava de um “bon vivant. E o tempo demonstrou que ele estava coberto de razão. 

Lula jamais foi o que a construção de sua imagem pretendia que fosse, mas, sim, alguém avesso ao trabalho, que vivia de privilégios e mordomias oriundas de contatos proveitosos e a poder da total ausência do conjunto de valores éticos e morais que permitem distinguir o aceitável do inaceitável.

Mesmo quando cumpria pena em Curitiba, o meliante continuava a entoar, como ladainha em procissão, a fábula da superioridade moral, insistindo que ninguém e mais honesto do que ele. Agora, com a ficha imunda lavada pelo STF, introduziu em sua abjeta cantilena um despudorado refrão que o reputa inocentado — quando na verdade o que a ala "garantista" da Corte fez (graças ao ministro Fachin, que anulou suas condenações em Curitiba para evitar que o ex-juiz Sergio Moro fosse declarado suspeito) foi determinar o reinício dos processos na Justiça Federal do Distrito Federal.

Ao longo dos últimos anos, Lula respondeu a 20 ações criminais e foi absolvido em apenas três. Outros 16 processos tiveram sua tramitação interrompida por tecnicidades ou reviravoltas que resultaram no arquivamento das ações. Ele ainda é réu numa ação que apura tráfico de influência na compra de caças suecos, alvo da Operação Zelotes — que ainda não havia sido julgada quando eu redigi esta postagem. Em um caso que marcou as últimas derrotas da Lava-Jatoo ministro Ricardo Lewandowski ordenou a suspensão de duas investigações contra o “ex-corrupto”, afirmando que os processos usaram como prova delações premiadas que haviam sido invalidadas.

Com base neste e em outros casos semelhantes, o PT lançou uma peça publicitária intitulada “Memorial da Verdade”, na qual cita 19 ações em que Lula teria sido inocentado. O texto lista processos em que o ex-presidente foi “inocentado” e três em que foi “absolvido”. A diferença entre os termos utilizados, segundo o professor de Direito Penal da FGV-Direito Rio Felipe Lima Almeida, deve-se ao fato de as decisões da Justiça não tratarem, objetivamente, de inocentar réus e acusados.

A expressão ‘inocente’ não é técnico-jurídica. Inocentes todos nós somos até que se tenha uma sentença condenatória transitada em julgado, e realmente isso não existe em relação ao ex-presidente Lula”, afirmou o professor. “Agora, trancamento de ação penal, arquivamento de inquérito ou rejeição de denúncia, nessas situações nós não temos o enfrentamento do mérito, então não há sentença do Estado dizendo que não houve crime.”

Diferentemente da inocência, a absolvição é um elemento jurídico registrado no Código de Processo Penal. Esse tipo de decisão reconhece que as acusações apresentadas contra uma das partes em determinado processo são improcedentes. A partir daí, o caso é encerrado e o réu deixa a posição de suspeito.

Não se pode confundir um discurso político com um discurso jurídico. Os 19 casos em que a defesa de Lula alega inocência nas redes sociais são dois trancamentos de investigações, quatro denúncias rejeitadas, quatro decisões anuladas — a partir do reconhecimento de suspeição de Moro —, dois arquivamentos, uma prescrição (impossibilidade de punir por causa da idade) e um reconhecimento de legalidade nas palestras realizadas por Lula.

A divulgação das vitórias processuais de Lula coincide com o momento em que o petralha lidera as pesquisas de intenção de voto. Em relação ao que veicula o PT, as alegações mais questionáveis quanto à inocência do flibusteiro envolvem os casos triplex do Guarujá, do sítio de Atibaia e a compra de um terreno para o Instituto Lula, porque todas foram anuladas com base em decisões do STF que reconheceram a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar o réu e a parcialidade de Moro ao proferir as sentenças.

Nessas situações, a validade das decisões foi desfeita, mas dois desses casos ainda podem ser retomados, já que o próprio STF apontou erros processuais, e não ausência de provas, como afirma a publicidade petista. À exceção do processo sobre o sítio de Atibaia, cuja denúncia foi reapresentada e rejeitada pela Justiça do Distrito Federal, nos outros dois casos há a possibilidade (remota, é verdade) de que sejam reiniciadas.

Lula tem 76 anos, e o prazo prescricional é reduzido pela metade quando o réu é septuagenário. Assim, para que ele seja novamente julgado, condenado e preso, em considerando a vasta gama de recursos possíveis nas quatro instâncias do Judiciário e as nuances políticas que beneficiam criminosos de colarinho branco, seria preciso que ele reencarnasse meia dúzia de vezes, e o dito popular que atribui sete vidas aos gatos não contempla os gatunos.

As imagens da deusa Têmis que decoram fóruns e tribunais mundo afora estão em pé. A estátua de pedra erigida diante do STF está sentada. Como as demais, nossa deusa da Justiça tem os olhos vendados e porta a indefectível espada. Mas sua balança foi roubada por algum político que, graças ao foro privilegiado, ainda não foi julgado. Em nossa suprema corte, uma decisão pode demorar duas horas ou vinte anos, a depender de quem forem o réu e o ministro em cujas mãos estiver seu destino. 

Como se pode inferir das representações da deusa mundo afora, a Justiça é cega, mas a impressão que se tem é que no Brasil ela é paga para não enxergar

Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

RETROSPECTIVA — QUARTA PARTE

Há coisas que parecem acontecer somente no Brasil (e ainda dizem que Deus é brasileiro!). Ao contrário do que escreveu Karl Marx, a história nem sempre se repete como tragédia ou farsa. Às vezes — para o bem ou para o mal — ela reproduz fielmente o passado.

A julgar pelo exercício de futurologia que se convencionou chamar de pesquisas de intenções de voto, o ex-presidiário travestido de "ex-corrupto" e o maníaco que (ainda) ocupa o Palácio do Planalto disputarão o segundo turno em 2022. E a menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, o picareta dos picaretas fará picadinho do capitão despirocado.

Relembrando: No âmbito judicial, Bolsonaro é investigado em seis inquéritos. O assim chamado inquérito das fake news, que tramita no STF, investiga um esquema de disseminação sistemática e organizada de informações falsas com o objetivo de fragilizar as instituições e a democracia. 

Outro inquérito (esse no TSE) investiga o mandatário por ataques sem provas às urnas eletrônicas e tentativa de deslegitimar o sistema eleitoral brasileiro. Além disso, aliados do presidente foram alvo de operações contra atos ofensivos à democracia e às instituições do Estado. Para além disso, dos cinco filhos que teve em três casamentos, quatro são investigados pela PF (a exceção fica por conta da caçula, Laura, de 11 anos).

Bolsonaro enfrenta ainda desgaste nos campos político e econômico, com inflação, desemprego e pobreza em alta. Em Goiânia, ao lado de líderes evangélicos, o “mito” declarou: "Deus me colocou aqui, e somente Deus me tira daqui", ecoando uma frase já comum em seus discursos populistas. Já do lado de fora da igreja, tirou fotos com apoiadores e tomou caldo de cana. Depois de falar com os devotos, reuniu-se com políticos e empresários de Goiás em um local onde foram colocadas tendas e montado um palco. 

Entre, entre 1994 e 2014, o resultado das urnas foi uma obviedade decorrente da ordem dos fatos. A exceção ocorreu justamente na disputa de 2018. O meio ambiente institucional já havia sido crestado pela Lava-Jato, e o ventre rasgado por uma faca, na terra devastada, deu à luz o ogro, que faz o que faz.

O excepcional se manifestou num determinado contexto, e o monstro insiste em perpetrar monstruosidades. A mais recente consiste em avançar contra a vacinação das crianças. Na distopia em curso, não basta a montanha de quase 620 mil cadáveres. É preciso também apostar numa forma de infanticídio. Ou a extrema direita não se revela por inteiro.

Infelizmente, essa gente não vai desaparecer. Continuará por aí a infernizar o país e a envenenar as instituições. E isso vai requerer especial atenção do futuro presidente da República, do Parlamento e do Judiciário. 

Parte considerável do "empresariado bolsonarista" já foi "empresariado lulista", ainda que tivesse de se sujeitar a conviver com um ex-sindicalista malandro. Na alma profunda, muitos desses empresários sempre apreciaram as boçalidades que hoje ouvem de Bolsonaro sobre meio ambiente, armas, benefícios sociais, mulheres, negros, índios, crianças...

Se algum dia alguma entidade internacional resolver fazer o ranking das melhores elites econômicas da Terra, a nossa estará protagonizando o seu vexame no fim da lista. Enquanto o Estado brasileiro tiver o tamanho que tem, essas frações dos endinheirados ficarão grudadas ao poder de turno como craca, pois dependem desse Estado agigantado para seus negócios.

Bolsonaro é a própria voz da besta que, de modo surdo mas permanente, sussurra atraso, violência, reacionarismo, estupidez, preconceito. Esse coro do absurdo não constitui a maioria do país, mas a nefasta polarização semeada pelo PT de Lula e estrumada pelos tucanos ao longo das últimas décadas, os delinquentes que ora vemos no poder não estariam aí, a escandalizar o bom senso com seu festival de asneiras, ignorâncias, mistificações e ideias torpes e homicidas.

A voz do dublê de mau militar e parlamentar de propostas delinquentes deveria ter permanecido à margem do establishment político. As instituições jamais poderiam ter caído nas suas garras. Mas caíram. Além do fenômeno nativo da Lava-Jato, há o novo tempo da política, das notícias, da cultura, da moral, da ética, dos costumes. 

Esse novo tempo é hoje plasmado pelas redes sociais. Elas se transformaram na ágora do mal. Em vez da sonhada democratização e da pluralidade de vozes, assistimos à organização de verdadeiras milícias de opinião, que se estruturam para normalizar a mentira, o engodo, o preconceito, a discriminação.

Não é só a voz do idiota que se horizontalizou com a de Schopenhauer. Algo mais aconteceu. Desfez-se a ideia de representação. Nos EUA, a invasão do Capitólio fala por si mesma. E notem que o principal responsável por um grave atentado à democracia resta impune, fazendo política.

Difícil prever as consequências calamitosas de uma eventual reeleição de Bolsonaro. Quando se vê empresários, alguns graúdos, flertando com essa possibilidade, a gente se dá conta do buraco em que se meteu. Por outro lado, a derrota do tiranete, se de fato acontecer, não enterra a distopia que ele vocaliza nem põe fim à vandalização do debate de que ele é, a um só tempo, consequência e causa.

O bolsonarismo nasceu da desordem e a alimenta. O próximo presidente eleito, seja ele quem for, encontrará um novo velho Brasil arcaico. Antes das redes sociais, por mais que os confrontos pudessem ser acerbos, muitas vezes pouco elegantes, inexistia uma máquina organizada para espalhar o ódio, a desinformação, a agressão a valores elementares da ciência, o estímulo à violência, o incentivo ao preconceito.

O país tem de enfrentar — e isso inclui os três Poderes da República — a máquina organizada para espalhar mentira, ódio e preconceito, estimulando a agressão a pilares da sociedade democrática, que se acoita nas redes sociais. 

Existe hoje um país em que milhares, talvez milhões, ainda que constituam a minoria, preferem dançar com o risco de morte a tomar vacina. Pior: criminosos, sob o pretexto de exercitar a liberdade de expressão, espalham mentiras sobre imunizantes, inventando malefícios sem apontar comprovação ou evidência técnica.

As milícias digitais sem rosto têm hoje o poder de desestabilizar governos, de intimidar a Justiça, de ameaçar Parlamentos, de impedir a correta aplicação de políticas públicas que salvam vidas. 

É evidente que Bolsonaro é hoje, entre os políticos, o principal beneficiário dessa máquina criminosa. Ele conseguiu levar milhares às ruas para protestar contra o suposto risco das urnas eletrônicas, numa pregação escancaradamente golpista.

Quem quer que venha a governar o país — e queira Deus que não seja nem Bolsonaro nem Lula — terá de se preparar para esse enfrentamento. E terá de manter um diálogo lúcido com o Congresso e com o Judiciário para que os delinquentes, que se escondem sob o manto da liberdade de expressão, paguem por seus crimes, inclusive o de pandemia. 

Mentir sobre imunizantes e atacar os métodos comprovadamente eficazes de reduzir o contágio é sinônimo de espalhar a doença. E o presidente fez e faz isso. Essa é apenas uma das razões pelas quais ele deveria ser despachado, sem escalas, do Palácio do Planalto para o Presídio da Papuda.

Com Reinaldo Azevedo

quarta-feira, 19 de maio de 2021

GOD SAVE THE QUEEN E LIVRE O BRASIL DO POPULISMO ABJETO


Questionado sobre as relações com a China, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo negou que houve hostilidade em relação ao país asiático (confira mais trechos do depoimento clicando aqui). Perguntado se agradeceu à Venezuela pela doação de oxigênio em janeiro, quando o Amazonas vivia uma grave crise por falta do insumo, ele respondeu que não e que nem havia entrado em contato com o governo venezuelano (acesse outros trechos do depoimento clicando aqui), e foi duramente criticado por não ter intermediado uma viagem com aviões da FAB para agilizar a entrega dos cilindros — feita por terra, a viagem demorou muito mais, e pessoas morreram nesse entretempo.

O depoente desta quarta-feira será o o general Eduardo Pazuello, o mais longevo ministro da Saúde durante a pandemia, cuja gestão foi marcada por uma série de polêmicas. Entre outros pontos, os senadores deverão inquiri-lo sobre o colapso no sistema de saúde de Manausomissões do governo na compra de vacinas e insumos; orientações do ministério para produção,  compra e uso de medicamentos comprovadamente  medicamentos ineficazes contra a Covid, como a cloroquina

Originalmente, o depoimento estava marcado para 5 de maio, mas, um dia antes, Pazuello, que é “expert em logística”, saiu pela esquerda alegando ter tido contato com pessoas que contraíram Covid e que, portanto, deveria permanecer em quarentena. No dia seguinte, o Estadão noticiou que o general esteve reunido com o ministro Onyx Lorenzoni, além de ter sido flagrado transitando sem máscara pelo hotel onde mora. 

Na condição de testemunha, o deponente precisa falar a verdade, sob o risco de incorrer no crime de falso testemunho. O habeas corpus concedido pelo ministro Ricardo Lewandowski lhe dá o direito de ficar em silêncio apenas nos casos em que responder resultaria em autoincriminação (o ex-ministro é alvo de um inquérito criminal que investiga supostas omissões na crise que levou ao colapso de saúde em Manaus). 

Vale ressaltar que o mesmo benefício não foi concedido por Lewandowski à secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde, Mayra Pinheiro — também conhecida como "Capitã Cloroquina" —  cujo depoimento está marcado para amanhã. Ao negar o pedido, o magistrado disse que, ao contrário de Pazuello, ela não é investigada na esfera criminal ou administrativa sobre os fatos apurados pela CPI, sendo chamada na condição de testemunha.  

Durante a gestão de Pazuello, militares escolheram, sem licitação, empresas para reformar prédios antigos no Rio de Janeiro. E, para isso, usaram a pandemia como justificativa para considerar as obras urgentes. A AGU identificou dispensas de licitação a duas empresas contratadas para reformas de galpões na Zona Norte da capital e na sede do Ministério da Saúde no estado do RJ.

Dito isso, passemos à postagem do dia.

As palavras têm poder. Tanto é que são o principal instrumento de populistas e vigaristas. Políticos demagogos utilizam-nas em promessas rocambolescas para obter votos e estelionatários, em suas narrativas para “depenar os patos” — sem a colaboração (ainda que involuntária) das vítimas, esses espertalhões estariam na roça. Não obstante, é preciso deixar claro que a culpa não é das palavras, mas de quem se serve delas de maneira criminosa e, em menor medida, dos inocentes úteis que dão ouvidos ao “canto da sereia”. Como se costuma dizer, armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas.

Observação: A origem do termo “vigarista” advém de um episódio envolvendo a disputa de duas paróquias por uma imagem de Nossa Senhora. Reza a lenda que, para pôr fim à contenda, um dos vigários sugeriu amarrar a santa a um burro e soltá-lo no meio do caminho. O burro foi para uma das igrejas, que ficou com a imagem até que se descobriu que o dono do animal era o vigário daquela paróquia. Já as “sereias” são descritas como seres metade mulher e metade peixe (ou pássaro) que habitavam o Mar Tirreno e desorientavam os marinheiros com seu canto mavioso. Desgovernadas, as embarcações colidiam com os recifes e os marujos que conseguiam nadar até a praia eram devorados pelas sereias. Segundo a Odisseia (obra do poeta grego Homero), Odisseu ordenou à tripulação que tapasse os ouvidos com cera e, amarrado ao mastro do navio, resistiu ao canto das sereias. Uma delas, despeitada, atirou-se do alto do penhasco — a exemplo do que fez a Esfinge quando o Rei Édipo decifrou seu enigma.

Rivalidade na política sempre existiu, mas a polarização exacerbada que dividiu o Brasil remonta ao primeiro pleito presidencial pelo voto direto desde a eleição de Jânio Quadros em 1960. Vale lembrar que Tancredo Neves foi eleito indiretamente em janeiro de 1985, mas baixou ao hospital 12 horas antes da cerimônia de posse e morreu 38 dias e 7 cirurgias depois, sem jamais ter vestido a faixa.

Após uma gestão calamitosa do vice do político mineiro — falo do maranhense José Sarney —, o carioca-alagoano Fernando Collor de Mello — um populista de direita travestido de “caçador de marajás” — derrotou Lula — um semianalfabeto malandro, mas dono de um carisma invejável, na eleição “solteira” de 1989, convocada exclusivamente para a escolha do novo presidente. Nenhum dos 22 postulantes ao cargo obteve mais de 50% dos votos no primeiro turno e os dois mais votados se enfrentaram no segundo, que resultou na vitória de Collor

Ao ser empossado, o caçador de marajás de festim prometeu abater com um único tiro o “tigre da inflação” (que avançava a uma velocidade de 80% ao mês), mas o “Plano Collor”, que incluiu ações de impacto — como a redução da máquina administrativa com a extinção ou fusão de ministérios e órgãos públicos, a demissão de funcionários públicos, o congelamento de preços e salários e o confisco dos ativos financeiros pelo período de 18 meses — não demorou a fazer água. A mentora intelectual desse pacote de maldades foi a folclórica ministra da Fazenda que teria um tórrido affair com o ministro Bernardo Cabral — conhecido como Boto Tucuxi — e mais adiante desposaria Chico Anysio, “o humorista que se casou com a piada”. Em janeiro de 1991, Zélia lançou o Plano Collor II, que também não produziu resultados duradouros e foi substituído pelo Plano Marcílio — assim chamado numa alusão ao nome do economista Marcílio Marques Moreira, que assumiu o comando da pasta. 

A opinião pública já vinha desgostosa com a petulância e o despreparo da equipe collorida — um bando de jagunços comandados por um presidente tão investido da aura de salvador que exalava arrogância por todos os poros. Quando a caça às bruxa ganhou vulto, criou-se o clima de linchamento propício ao afloramento dos sentimentos mais mesquinhos. Os escândalos se sucediam em intervalos cada vez mais curtos, como se a mera exposição de um amplo sistema de propinas não fosse suficiente. Um dia era o Fernandinho “do pó”, no outro era o sujeito que fazia macumbas no porão da Casa da Dinda, que cantou a cunhada, que era maníaco-depressivo e que ficava em estado catatônico e precisava receber remédio na boca.

Observação: Entre o fim do Plano Marcílio e o início do Plano Real — deflagrado em 1994, sob a presidência de Itamar Franco e com Fernando Henrique Cardoso no comando da Economia — a hiperinflação finalmente começou a ser debelada.

O primeiro impeachment da Nova República foi julgado quatro meses depois que o homem macho de colhão roxo foi afastado do cargo. A despeito de ter renunciado horas antes da sessão no Senado, Collor foi condenado e teve os direitos políticos cassados por oito anos (pena prevista na Lei do Impeachment, que não seria aplicada em 2016, quando do impeachment de Dilma Rousseff, mas isso já é outra conversa). Ironicamente, a queda do caçador de marajás foi desencadeada por uma denúncia do próprio irmão, Pedro Collor, e pelo pagamento de um prosaico Fiat Elba com um “cheque fantasma”.

Seria improvável que um beócio se elegesse presidente da República, mesmo numa banânia como a nossa, e dois beócios conseguirem essa proeza seria virtualmente impossível. Só que não. Após ser derrotado mais duas vezes, o retirante nordestino que sempre ambicionou a vida fácil e se jactava de jamais ter lido um livro finalmente foi eleito Presidente. Mas vamos por partes.

Depois de decepar o dedo mínimo da mão esquerda num “acidente de trabalho” pra lá de suspeito, Lula deixou de ser torneiro mecânico e iniciou uma profícua carreira de sindicalista predador, iniciando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios (detalhes no livro O Brasilianista Natural e o Petismo Era Lula - Volume I, escrito pelo ex-engenheiro sênior de metalurgia da CSN Lewton Verri, que conheceu o ex-metalúrgico na década de 70). 

Tão logo encontrou quem pagasse a conta, afirma o autor da obra, o petista trocou a pinga vagabunda e os cigarros baratos por vinhos premiados, uísques caríssimos e charutos de US$ 100. Em 1980, valendo-se de seu extraordinário carisma, o desempregado que deu certo — que já não sabia o que era chão de fábrica desde 1972 — fundou o PT e passou a se dedicar em tempo integral à “arte da política”. 

Observação: O general Golbery do Couto e Silva, ex-chefe da Casa Civil em dois governos da ditadura militar e arquiteto da “abertura lenta e gradual”, disse certa vez a Emílio Odebrecht que o pseudo militante comunista nada tinha de esquerda, que ele não passava de um “bon-vivant”. E o tempo provou quão acurada foi sua avaliação. 

Lula jamais foi o que a construção de sua imagem pretendia, mas sim alguém avesso ao trabalho, que vivia de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos e a poder da total ausência do conjunto de valores éticos e morais que permitem distinguir o aceitável do inaceitável.

Como desgraça pouco é bobagem, um ex-capitão do Exército que o general-ditador Ernesto Geisel definiu como um caso completamente fora do normal de mau militar numa entrevista a historiadores da FGV em 1993, e que aprovou dois míseros projetos em 28 anos como deputado do baixo clero da Câmara Federal, foi eleito Presidente em 2018 graças à formidável conjunção de fatores que já detalhei ad nauseam em outras postagens. 

No primeiro turno do pleito de 2018 o esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim eliminou Álvaro Dias, Henrique Meirelles, João Amoedo e Geraldo Alckmin — que não eram nosso “sonho de consumo”, mas que poderíamos ter experimentado — juntamente Vera Lucia, Eymael, Cabo Daciolo, João Goulart FilhoGuilherme Boulos e outras bizarrices explícitas. Acabou que, para impedir a volta daquele a quem nosso (ainda) presidente se referiu no último dia 12 como “ladrão de nove dedos”, fomos forçados a apoiar quem não queríamos para evitar a volta de quem queríamos menos ainda.    

Gustavo Bebianno, que passou de aliado a desafeto de Bolsonaro depois de ser penabundado do cargo de ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência em fevereiro de 2019 — disse em entrevista à Jovem Pan que foi demitido por Carlos Bolsonaro, a quem classificou de “destruidor de reputações”. Na mesma entrevista, o ex-amigo de fé, irmão, camarada e articulador da campanha chamou de psicopata o presidente que ajudou a eleger e disse se sentir “vulnerável e sob risco constante" por ter entrado em choque direto com o filho 02. No evento que marcou sua filiação ao PSDB, o ex-ministro declarou que “a democracia estava em risco devido à postura de Bolsonaro” e atribuiu o ambiente de “instabilidade política e econômica ao grau de loucura e irresponsabilidade capitaneado pelo próprio presidente”.

Bebianno tencionava disputar a prefeitura do Rio de Janeiro em 2020, mas foi fulminado por um infarte agudo do miocárdio seguido de queda, em março do ano passado, quando estava escrevendo um livro sobre os bastidores da campanha do capitão (cujo título seria “Uma Eleição Improvável”). Por motivos óbvios, ele era um arquivo vivo da campanha, e foi para Bolsonaro o que PC Farias foi para Collor e Antonio Palocci para Lula

Para os teóricos da conspiração, a morte de Bebianno foi tão suspeita quanto a de Ulysses Guimarães (o helicóptero em que o Sr. Diretas viajava de Angra dos Reis para a capital paulista mergulhou no mar próximo à Praia do Sono, poucos minutos após a decolagem), do ex-presidente Juscelino Kubitschek (no auge da ditadura militar, devido a um estranho acidente automobilístico na via Dutra), do então candidato à presidência Eduardo Campos (num acidente aéreo ocorrido em agosto de 2014) e do ministro Teori Zavascki (idem, em janeiro de 2017). Isso sem mencionar os assassinatos (jamais esclarecidos) dos prefeitos petistas Celso Daniel (de Santo André) e Toninho do PT (de Campinas).

Voltando o relógio até o tempo presente, muitos apostam que a eleição de 2022 será um repeteco de 2018 — noves fora o fato de o ex-presidiário petista, agora promovido à inusitada condição de “ex-corrupto”, poder disputá-la de corpo presente em vez de encarnar no preposto-bonifrate Fernando Haddad. Para que Lula fique novamente impedido de competir seria preciso que a Justiça Federal do DF o condenasse no processo do tríplex (ou no do sítio) em tempo recorde e o TRF-1 ratificasse a decisão com a mesma rapidez. Mas a possibilidade de isso acontecer é a mesma de alguém que disponha de dois neurônios funcionais engolir a narrativa de que “Lula é um democrata”.

Democratas não fraudam a democracia da forma como o petismo fez ao organizar os dois maiores esquemas de corrupção da história do país. O partido quis, por duas vezes, anular a separação de poderes por meio da compra de apoio no Legislativo, seja pela distribuição pura e simples de dinheiro, no caso do Mensalão, seja pela pilhagem das estatais com o apoio de partidos aliados e empreiteiras, no esquema desvendado pela (ora moribunda) Operação Lava-Jato

No julgamento do mensalão no STF, o então ministro Ayres Britto descreveu o esquema como “golpe nesse conteúdo da democracia, que é o republicanismo”, pois tratava-se de perpetuar “um projeto de poder (...). Não de governo, porque projeto de governo é lícito, mas um projeto de poder que vai muito além de um quadriênio quadruplicado, muito mais de continuidade administrativa”. E o Petrolão foi apenas a continuação do mensalão por outros meios, como ficou amplamente demonstrado pelas evidências levantadas pela Lava-Jato e nenhuma decisão judicial será capaz de apagar.

No poder, o PT tentou controlar a atividade jornalística ao pressionar pela criação de um Conselho Federal de Jornalismo; depois de alijado do Planalto, o partido lamentou, em resolução oficial que tentava explicar as razões para o impeachment de Dilma, não ter colocado um cabresto na imprensa, no MPF, na PF e nas Forças Armadas. Sem falar, evidentemente, dos vários episódios de hostilização de jornalistas por parte de militantes, incluindo o ataque à sede da Editora Abril às vésperas do segundo turno da eleição de 2014, após a publicação, pela revista Veja, de uma reportagem sobre o Petrolão. 

Em suma, a repetida tentativa de fraudar a democracia brasileira, o desejo de controlar a imprensa e a amizade íntima com as ditaduras mais nefastas do continente latino-americano não credenciam nenhum partido ou líder a se denominar “democrata”.

A narrativa de que 2022 será um embate polarizado não entre petismo e bolsonarismo, mas entre autoritarismo (representado por Bolsonaro) e democracia (representada por Lula), não passa de uma fraude dos defensores do petralha. Os brasileiros realmente comprometidos com a democracia, com as liberdades, com o combate à corrupção e que porventura estejam também descontentes com o atual governo não abraçarão o discurso de quem pode até estar juridicamente “limpo”, mas não tem como apagar a verdade sobre o que é, o que fez e o que defende.

Ricardo Rangel escreveu em sua coluna na revista Veja desta semana que Lula se assemelharia ao barítono da ópera da anedota, que, brutalmente vaiado, alerta: “Não gostaram do barítono? Esperem para ouvir o tenor!” O barítono Lula parece determinado a mostrar que não desafina, e, incansável, perambula por Brasília, conversa com todo mundo, lança pontes ao centro, busca vacinas, produz um discurso com começo, meio e fim. Diante da insuportável cacofonia produzida pelo tenor que ocupa o Planalto, o adversário surge com a maviosa voz de um Fischer-Dieskau redivivo. Mas quão afinado com a democracia está, de fato, o barítono Luiz Inácio? Foi ele quem criou a polarização e o ódio político.

De novo: o “nós x eles” que impede o país de se reconciliar consigo mesmo começou contra Collor em 1989, intensificou-se no Mensalão, chegou ao paroxismo na Lava-Jato e no impeachment de Dilma. O hábito petista de chamar qualquer não petista de fascista, racista, homofóbico etc. perdura até hoje. Fake news foram usadas para assassinar a reputação de Marina Silva em 2014, e foi Lula que iniciou a campanha de desmoralização e descredibilização da “mídia golpista”. 

Ao contrário do que diz a patuleia ignara, o esquema de corrupção centralizada, administrada pelo Planalto, não foi algo que “sempre existiu”. Foi algo novo: um método de governo que comprava em dinheiro vivo o apoio dos parlamentares e, assim, atentava contra um dos alicerces da democracia, a separação dos poderes, (o Tratoraço de Bolsonaro é parecido). E o dinheiro desviado foi também para a campanha eleitoral, reelegendo o PT mais três vezes, atentando contra outro pilar da democracia, a alternância no poder. Afora os ataques à democracia, ainda houve a “nova matriz econômica”, que provocou um descalabro econômico.

Da feita que Lula afirma que o Mensalão e o Petrolão nunca existiram e atribui o desastre econômico a Temer, é lícito supor que, eleito, vá fazer tudo igualzinho outra vez. Ainda que admitamos (por amor à argumentação) que ele seja menos ruim que Bolsonaro, é preciso ter em mente que, quando se escolhe o menor entre dois males, o que se escolhe é um mal. Portanto, é bom examinar bem para ver se essa escolha é mesmo inevitável. E por enquanto não é. 

O Brasil é um país onde terremotos políticos se multiplicam — há pouco mais de um mês, Lula era inelegível, a CPI da Covid não existia e nada se sabia sobre o Tratoraço do capitão, por exemplo —, e ainda faltam dezessete meses para a eleição. Quem vaticina que um segundo turno entre Lula e Bolsonaro é inevitável não está fazendo análise política, está contribuindo para criar uma profecia autorrealizável. E não é hora de crer em vaticínios e inevitabilidades, mas de criar alternativas.

É inaceitável para qualquer país minimamente civilizado o favoritismo do líder do maior esquema de corrupção da história mundial, afirma o jornalista, colunista e autodeclarado “contestador por natureza” Ricardo Kertzman. Você pode dar razão ao STF e considerar que houve excessos jurídicos por parte da Lava-Jato, mas negar o que ocorreu, você não pode. Ou não deveria. Igualmente inaceitável é o apoio com que o psicopata homicida ainda conta. Diante de tudo o que já sabemos e conhecemos, de tudo o que esse amigo de miliciano já fez de mal ao País e de tudo o que ainda pode fazer caso seja reeleito, 23% de apoio é um crime.

Para quem execra os extremos representados pelo lulopetismo e pelo bolsonarismo, o cenário que se descortina é mais que sombrio; é macabro e indiscutivelmente catastrófico — pior, só mesmo se Ciro Gomes estivesse no páreo. O lulopetismo aparelhou o Estado, corrompeu as Instituições, destruiu nossa economia e nos atirou nas mãos do devoto da cloroquina. O bolsonarismo, por seu turno, aparelhou o Estado, corrompeu as Instituições, destruiu a economia e ressuscitou, com os préstimos do STF, o meliante petista. 

O lulopetismo é autocrata e totalitário. O bolsonarismo, idem. O lulopetismo vive do populismo barato e de conchavos políticos espúrios. O bolsonarismo, idem. O lulopetismo é sócio dos piores políticos e empresários do Brasil. O bolsonarismo, idem. Ambos representam nosso desastre como nação.

Parte inferior do formulário

Em 2018, por absoluta falta de alternativa, elegemos um candidato que se revelou tão ou mais nocivo e grotesco que Lula, o PT e a corja que os cerca. Não podemos permitir que esse descalabro se repita em 2022. O pai do senador das rachadinhas e da mansão de R$ 6 milhões de reais reencontrou seu verdadeiro tamanho eleitoral (15% – 25%), ao passo que o ex-tudo (ex-presidiário, ex-corrupto, ex-lavador de dinheiro, ex-chefe de quadrilha) retomou o vigor político que sempre o levou ao menos até o 2º turno.

Esperar que uma “terceira via” alcance tais patamares de intenção de voto é esperar por um milagre que nunca aconteceu neste pobre pedaço de chão esquecido por Deus. Até porque, para que milagres aconteçam, é preciso acender velas e rezar. Mas não para os demônios da nossa política, como fazemos insistentemente a cada dois ou quatro anos. 

Acorda, povo!

quinta-feira, 9 de abril de 2020

SOB O COMANDO DE UM PSICOPATA? — Parte 2


Jair e Luiz Inácio tomam sol no jardim do hospício. O primeiro mantém a mão esquerda sob o roupão, na altura do estômago. O segundo mastiga preguiçosamente um raminho de capim. Um alienista do corpo clínico se aproxima e pergunta a Jair:

— Quem é você?

— Napoleão Bonaparte.

— E de onde você tirou essa ideia?

— Foi Deus que me disse.

Luiz Inácio retruca:

— É mentira dele, doutor. Eu nunca falei isso pra ele!

Piadas à parte, seria improvável que um beócio se elegesse presidente da República, mesmo numa banânia como a nossa. Mas dois beócios conseguirem essa proeza seria virtualmente impossível. Ou não. Ainda que o mascador de capim megalomaníaco da anedota seja um desculturado exótico que, segundo ele próprio, jamais leu um livro na vida, e o napoleão de hospício seja um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar — como o definiu o general ditador Ernesto Geisel numa entrevista a historiadores da FGV em 1993 —, nem um nem o outro é burro ou doido de pedra. Até porque doido de pedra que se preza rasga dinheiro e come merda, e nenhum dos dois faz isso. Muito pelo contrário.

O retirante nordestino, que sempre ambicionou a vida fácil, trocou a pinga vagabunda e os cigarros Hollywood por vinhos premiados, uísques 20 anos e charutos de US$ 100 quando encontrou quem pagasse a conta. Após decepar o dedo mindinho esquerdo num “acidente de trabalho” pra lá de suspeito, deixou de ser torneiro mecânico e iniciou uma profícua carreira de sindicalista predador e malandro, que traía os “cumpanhêros” começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios (como disse o ex-engenheiro sênior da CSN e especialista em metalurgia de produção Lewton Verri, que conheceu os ex-metalúrgico na década de 70).

Em 1980, valendo-se de seu extraordinário carisma e do dom inato de encantador de burros, o desempregado que deu certo — que já não sabia o que era chão de fábrica desde 1972 — fundou o PT e passou a se dedicar em tempo integral à “arte da política”. O general Golbery do Couto e Silva, ex-chefe da Casa Civil em dois governos da ditadura militar e arquiteto da “abertura lenta e gradual”, disse certa vez a Emílio Odebrecht que o pseudo militante comunista nada tinha de esquerda, que ele não passava de um “bon-vivant”. E o tempo provou quão acurada foi sua avaliação. O deus pai da Petelândia jamais foi o que a construção de sua imagem pretendia, mas sim alguém avesso ao trabalho, que vivia de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos e a poder da total ausência do conjunto de valores éticos e morais que permitem distinguir o aceitável do inaceitável.

Voltando agora a Bebianno, faltou dizer que, oficialmente, sua demissão se deveu às folclóricas candidaturas-laranjas no PSL — esquema do qual ele não só negou ter participado como disse ter alertado o presidente. Bolsonaro e seu triunvirato procuraram desmenti-lo, mas áudios divulgados pela revista Veja comprovaram a versão do ex-ministro.

Em entrevista à Jovem Pan, o advogado disse que não sairia do governo atirando, que foi convidado a assumir uma direção em Itaipu, mas que recusou por uma questão de dignidade). Sobre os motivos de seu desligamento, ele assim se pronunciou: "Fui demitido pelo Carlos Bolsonaro, simples assim. Não era nem para ter assumido, nunca pedi nada ao presidente desde o primeiro dia que comecei a ajudá-lo, não queria nada". Na mesma entrevista, comentou a “agressividade acima do normal de zero dois, que é conhecido como ‘destruidor de reputações’ e já atacou criou atritos com vários colegas de partido sem qualquer motivo”.

Mas Bebianno passou de aliado a desafeto e se tornou um dos maiores críticos do governo. Quatro meses após deixar o governo, desligou-se oficialmente do PSL e filiou-se ao PSDB. Em dezembro, também em entrevista à Jovem Pan, ele não só chamou o presidente de psicopata como disse sentir-se “vulnerável e sob risco constante" por ter entrado em choque direto com ele. No evento que marcou sua filiação ao PSDB, declarou que “a democracia estava em risco devido à postura de Bolsonaro” e atribuiu o ambiente de “instabilidade política e econômica ao grau de loucura e irresponsabilidade capitaneado pelo próprio presidente”.

No dia 5 do mês passado, Bebianno anunciou sua pré-candidatura à Prefeitura do Rio, cujo lançamento oficial estava marcado para o último dia 4. Também vinha costurando com o governador tucano João Dória um acerto para coordenar sua campanha em 2022, assim como fez com a de Bolsonaro em 2018. Mas não houve tempo para nada disso. Bebianno morreu dia 14 do mês passado, em Teresópolis, devido a um infarte agudo do miocárdio seguido da queda que provocou uma lesão na cabeça, o que deu margem a diversas teorias da conspiração, já que ele havia aventado mais de uma vez a possibilidade de revelar detalhes sórdidos da campanha presidencial e estava escrevendo um livro ("Uma eleição improvável") sobre o assunto.

No sábado, 7 de março, Bebianno gravou imagens para um documentário sobre as eleições — dirigido por Bruno Barreto — que estava na fase de coleta de depoimentos, e dispunha de muitas imagens de bastidores que havia colecionado durante a campanha, que pretendia agregar ao documentário. Na noite em que morreu, ele acordou por volta das 3 horas, com dores em um dos braços e no peito. Foi socorrido pelo filho, que estava com ele no sítio — a esposa e a filha haviam ficado no Rio. No banheiro, caiu, bateu com o rosto no chão e ficou 30 minutos desacordado até ser levado ao Hospital Central de Teresópolis pelo filho, com a ajuda do caseiro do sítio. Mas as manobras médicas não foram suficientes para evitar sua morte.

De novo: Bebianno era um arquivo vivo da campanha de Bolsonaro. Ele foi para o capitão o que foi PC Farias foi para Collor e Antonio Palocci para Lula, e entrou para o rol de mortes igualmente enigmáticas, como a de Ulysses Guimarães (o helicóptero em que ele viajava de Angra dos Reis para a capital paulista mergulhou no mar próximo à Praia do Sono, poucos minutos após a decolagem, e os corpos do deputado e da mulher, Dona Mora, jamais foram encontrados). Ou do ex-presidente Juscelino Kubitschek em 1976 (no auge da ditadura militar, portanto), uma estranho acidente automobilístico na via Dutra. Ou as igualmente mal explicadas quedas das aeronaves em que viajavam o candidato à presidência Eduardo Campos, em agosto de 2014, e o ministro Teori Zavascki, em janeiro de 2017. Isso sem mencionar os assassinatos (jamais esclarecidos) dos políticos petistas Celso Daniel, prefeito de Santo André, e Toninho do PT, de Campinas. E por aí segue a procissão.


Continua...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

LULA E O DEDO PERDIDO


Complementando o apanhado das "virtudes" que renderam ao ex-presidente presidiário duas penas que somam 25 anos de cadeia (e ainda falta julgar seis ou sete processos), o cinismo, a cara de pau e a desfaçatez eram sua marca registrada desde muito antes da fundação do PT — partido criado a pretexto de fazer diferença na política não roubando nem deixando roubar, mas que se tronou uma organização criminosa que rapinou o Erário por mais de uma década.

Se Lula tirou milhões da miséria, como afirmam seus sectários, foi para azeitar seu projeto de poder e encher as burras — dele, de seus familiares, amigos, apaniguados e afins. O futuro desempregado que deu certo
 já era uma fraude nos anos 1960, quando perdeu o dedinho da mão esquerda no rocambolesco acidente de trabalho que lhe rendeu uma indenização de 350 mil cruzeiros. Segundo ele, um companheiro cochilou e largou o braço da prensa, que fechou e lhe amputou o dedo", e ele teve de esperar o dia amanhecer para ser levado ao Hospital Monumento, o único que atendia ao IAPI (instituto de previdência social da época).

Naquela época, 
a segurança do trabalho era quase inexistente, e pelo menos três irmãos de Lula sofreram algum tipo de lesão. Vavá quase perdeu uma das mãos quando trabalhava em uma algodoeira; Jaime, o mais velho, teve parte dos dedos decepados numa serralheria; Zé Cuia, mecânico de caminhão, amassou a mão em uma máquina. E por aí vai.

O fundador do Partido dos Trabalhadores deixou de ser operário em 1980, mas, como líder sindical, já não dava expediente em chão de fábrica desde 1972. Numa conta de padeiro, mais da metade de seus gloriosos dias foi dedicada à “arte da política”, não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. 

Nem mesmo a narrativa sobre seu “acidente” resiste a uma análise mais detalhada. Mas o mais curioso, nesse caso, é que a Fris-Moldu-Car — empresa que funciona até hoje e continua dando calote nos funcionários — “se apropriou” dessa falácia para reivindicar “relevância histórica” e escapar da falência através da recuperação judicial, a despeito de Lula ter iniciado sua carreira de torneiro mecânico em outra metalúrgica. Na verdade, ele já havia trabalhado em duas empresas antes de ingressar na Fris, e foi numa delas — a Metalúrgica Independência, que ficava no bairro paulistano do Ipiranga — que perdeu o dedo.

As chances de alguém perder o dedinho ao operar um torno mecânico, que já são remotas, caem para quase zero quando o operador é destro — a pessoa é destra. Vale a pena conferir o que disse Lewton Verri, ex-engenheiro sênior da CSN e especialista em metalurgia de produção, que conheceu Lula na década de 70 e o tem na conta "sindicalista predador e malandro, que traía os 'cumpanhêros' começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios (mais detalhes nesta postagem).

Golbery do Couto e Silvaque foi chefe da Casa Civil em dois governos militares e artífice da "abertura lenta e gradual", disse a Emílio Odebrecht que Lula "nada tinha de esquerda, que não passava de um bon vivant". E o tempo provou que ele estava certo.

Ao contrário da imagem que se empenhou em construir, Lula sempre foi avesso ao trabalho e viveu de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos e a poder da total ausência daquele conjunto de valores éticos e morais que permitem distinguir o aceitável do inaceitável. E a figura que
 emergiu das delações da Odebrecht, desnudada da roupagem de mito, de salvador da pátria, era de um político que prestava serviços a corporações corruptas de todos os matizes e origens em troca dos prazeres da boa vida, entre os quais a delícia de desfrutar do poder de maneira indecorosa, passando-se por honesto e provido de um senso de justiça social sem paradigma na história deste país. 

Lula lá!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

A NOVELA COAF/BOLSONARO



Como não houve notícia mais comentada e replicada nos últimos dias do que a novela das movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, duble de assessor de gabinete e motorista do deputado federal e ora senador eleito Eduardo Bolsonaro, podemos ir direto aos finalmentes: quem foi eleito tendo o combate à corrupção como principal mote de campanha não pode agir como os corruptos que prometeu enquadrar.

É claro como água que por trás dos ataques contra o clã do presidente eleito está o dedinho do PT (*), e que a prática de contratar apaniguados para não trabalhar e funcionários de gabinete que devolvem parte do salário aos políticos é mais velha que a serra e tão comum quanto cachorro mijar em poste. Aliás, não é possível aceitar que políticos possam ter tantos funcionários sem controle de atividades, com salários altíssimos, sem nenhuma razão. Mas, de novo: quem baseou sua campanha num discurso antilulopetismo e anticorrupção (o que dá no mesmo) não pode alegar que fez o que todo mundo fazia. Bolsonaro e seus filhos estão em evidência e na desconfortável posição de vidraça; para eles, o buraco é ainda mais embaixo.

(*) Talvez seja o dedo mindinho que Lula perdeu num acidente de trabalho pra lá de suspeito, já que o petralha nunca foi chegado no batente — clique aqui para conferir o que diz o ex-engenheiro sênior da CSN Lewton Verri, que conheceu o molusco eneadáctilo na década de 70 e o considera um sindicalista predador e malandro, que traía os “cumpanhêros” começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios, e aqui para acessar uma postagem que revolve mais a fundo as vísceras desse caso espúrio.

Até onde a vista alcança, ainda não se pode acusar Bolsonaro pai e Bolsonaro filho de qualquer malfeito. Mas o fato do tal assessor não apresentar uma explicação plausível mina a confiança do eleitorado que acreditou nas promessas de campanha do deputado capitão. A mídia está de olho, o que é bom, pois elucidar esse “mistério” é de fundamental importância, mas a imprensa cumpanhêra, que apoia a oposição ferrenha do PT e seus satélites — tipo “se hay gobierno soy contra” — quer mais é ver o circo pegar fogo.    

Não tenho procuração para defender Bolsonaro ou quem quer que seja, mas faço parte dos 75% de brasileiros que acreditam que o país vá melhorar com o próximo governo. Afinal, a última coisa de que precisaríamos é ser governados por um criminoso condenado e preso — curiosamente, mesmo sendo público e notório que Haddad no Planalto seria Lula no poder, 47.038.963 de eleitores votaram boneco do ventríloquo, alegando que a vitória de Bolsonaro ressuscitaria a ditadura ou, no mínimo, seria uma séria ameaça à democracia, como cantam em prosa e verso jornalistas, cientistas políticos, sociólogos, filósofos e outros cérebros que habitam o bioma superior de Nova York ou Paris e dão a si próprios a incumbência de explicar o mundo às mentes menos desenvolvidas.

Segundo Flávio Bolsonaro, "há suspeitas nas movimentações financeiras de assessores de vários partidos, incluindo o PSOL, mas a mídia só ataca a mim" — o que não deixa de ser verdade, mas até aí morreu o Neves. Na quarta, 12, Bolsonaro pai afirmou que, "se algo estiver errado, que paguemos a conta". Ambos afirmaram em algum momento que os esclarecimentos do assessor se dariam ao Ministério Público, mas seria melhor para todos se o imbróglio fosse esclarecido o quanto antes, pois a suspeita que paira sobre o clã arranha a reputação do presidente eleito antes mesmo de sua posse (no famoso episódio envolvendo Francenildo dos Santos Costa, acusado doze anos atrás de ter sido subornado para delatar o Palocci, a origem do dinheiro foi esclarecida em questão de horas e Lula não teve alternativa que não exonerar o superministro).

Quando há justificativa, os fatos falam. Quando não há, as versões sussurram e as suspeitas prosperam. Nos bastidores do Congresso, comenta-se que nem Bolsonaro pai nem Bolsonaro filho conseguiram até o momento dar uma explicação que estanque o prejuízo político gerado pelo caso, enquanto a oposição já sonha com a primeira CPI da nova administração. Para além disso, o episódio tira a força de Flávio Bolsonaro na sua estreia no Senado e traz implicações diretas nas articulações para a eleição do novo presidente da Casa — sua fragilização fortalece Renan Calheiros, que diz não ser candidato e que a definição sobre quem postulará o posto só se dará na véspera do pleito, mas vem atuando nos bastidores para viabilizar seu nome. O governo de transição repudia o retorno do cangaceiro das Alagoas ao comando do Congresso Nacional, e já articula uma candidatura alternativa, na qual o nome mais forte é o do tucano Tasso Jereissati.

Há mais elementos que aumentam as suspeitas do caso Fabrício: sete outros assessores que estão ou foram vinculados ao gabinete do senador eleito, na ALERJ, realizaram depósitos na conta do dito-cujo, e a maior parte desses depósitos ocorreu em datas próximas ao dia de pagamento dos funcionários da Assembleia. O relatório do COAF identificou ainda transações consideradas "atípicas" de assessores de outros 20 deputados da ALERJ de diferentes partidos, entre eles PT, PSC e PSOL.

Nas redes sociais, Flávio Bolsonaro se diz angustiado, e que é o maior interessado em que tudo se esclareça “para ontem”. Com efeito. O estrago que as acusações podem gerar na base de apoio ao futuro governo é reconhecido até mesmo por deputados que apoiam o presidente eleito. "Se não ficar bem esclarecido no recesso, a oposição já inaugura 1º de fevereiro com um pedido de CPI", alerta o deputado Sóstenes Cavalcante. Em entrevista ao ESTADO, a também deputada eleita Janaína Paschoal, coautora do pedido de impeachment da rainha bruxa do Castelo do Inferno, defendeu a investigação do caso. "Vamos apurar e o que tiver de ser será. Não é isso que o presidente [Bolsonaro] sempre fala? Que não temos que ter medo da verdade? Seja ela qual for. Nosso País tem que amadurecer".

Comenta-se à boca pequena que Fabrício reaparecerá nos próximos dias e, ao que tudo indica, sua versão da história deverá eximir Flávio Bolsonaro e o restante do clã de qualquer responsabilidade. Os elementos colhidos até aqui pelos investigadores apontam, porém, para uma prática conhecida nas sombras das casas legislativas, na qual funcionários de gabinetes são instados a devolver uma parte do salário como contrapartida à própria contratação. O dinheiro, na maioria dos casos, é usado para bancar despesas dos titulares dos mandatos. 

Para não estender ainda mais este texto, volto ao assunto na próxima postagem.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

AINDA SOBRE LULA, O FICHA-SUJA



Mesmo condenado em primeira e segunda instâncias por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o criminoso Lula ainda encabeça o ranking dos pré-candidatos à presidência da Banânia, o que mais uma vez demonstra o nível de esclarecimento da população brasileira. Curiosamente, outra pesquisa de opinião ― também realizada depois do julgamento no TRF-4 ― aponta que 53% dos brasileiros acham que Lula deveria ser preso; 44% o apoiam e outros 3% afirmam não saber. 

Observação: Estatísticas nem sempre são confiáveis. Na média, alguém com os pés no forno e a cabeça no freezer estaria “confortável”, quando na vida real esse infeliz estaria morto.

O Datafolha aponta também que 51% dos entrevistados acham que Lula não deveria poder disputar as eleições, contra 47% que pensam o contrário. Aliás, muita gente diz que somente a derrota nas urnas evitaria que o sacripanta fosse vitimizado e transformado em mártir (dentre essas sumidades estão Michel Temer e Geraldo Alckmin), mas isso é uma falácia que visa a não afrontar a patuleia votante, já que, pela letra fria da lei, quem define o destino de criminosos é a Justiça, não os eleitores (mais detalhes nesta postagem).

Lula está inelegível à luz dos ditames da Lei da Ficha-Limpa, que foi aprovada por unanimidade no Congresso em 2010 e, ironicamente, sancionada pelo próprio Lula no apagar das luzes do seu segundo mandato. Para o advogado Márlon Reis, um dos principais articuladores do projeto popular que originou a lei da Ficha-Limpa (e responsável por lhe dar o nome pela qual ela ficou conhecida), não há dúvidas de que o petralha esteja impedido de concorrer. Diz ele que a norma jurídica incluiu propositalmente um sistema de garantias para evitar o afastamento da campanha de alguém que ainda possa ser inocentado ― ou seja, a possibilidade da concessão de uma medida liminar para autorizar a candidatura. Por outro lado, ele demonstra preocupação com o grande número de políticos que respondem a processos judiciais (quase 1/3 dos senadores podem estar às portas de se tornar “fichas-sujas”) e, portanto, representam uma força poderosa na luta pela volta do status quo ante.

Observação: Como se sabe, os políticos se valem do mandato para obter o direito ao foro privilegiado, e do foro privilegiado para se beneficiar da prescrição da pena ou, no mínimo, escapar da prisão pelo máximo de tempo possível ― vide o caso de Maluf, cujo processo se arrastou por mais de 20 anos, ou de Luis Estevão, que ingressou com nada menos que 120 recursos até ser preso

Políticos que eram ferrenhos defensores da Lei da Ficha-Limpa agora mudam o discurso para defender Lula. Em seu pronunciamento no dia da aprovação da lei no Senado, Aloizio Mercadante, na época líder do PT na Casa, defendeu que todos os possíveis candidatos petistas, independentemente do cargo a que estivessem concorrendo, deveriam passar pelas exigências da nova lei. Na Câmara, o PT também foi protagonista na aprovação da lei, que teve como relator o então deputado petista José Eduardo Cardozo, posteriormente ministro da Justiça e advogado da ex-presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment. Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que, na época, também fez discursos em favor da proposta, o PT passa por uma situação complicada, pois não concorda com o fato de apenas Lula ter sido condenado, enquanto outros investigados continuam fora de seu alcance ― como é o caso do presidente Michel Temer.

A patuleia ignara e a militância atávica, que dedicam a Lula uma fidelidade canina, se recusam a ver os fatos como eles são e defendem a aplicação das leis somente quando elas favorecem o sumo pontífice da seita do inferno. Além disso, ignoram solenemente ― quando não refutam ferozmente ― o fato de o molusco abjeto relembrar tantas vezes sua infância pobre nos confins de Pernambuco, onde se alimentava de feijão e farinha, e hoje ser um milionário.

Segundo a lista de bens entregue à Justiça pelo próprio Lula, seu patrimônio é de quase R$ 12 milhões, embora a PF e o MPF apontem evidências de que o valor seja bem maior. Além do tríplex no Guarujá, ficaram fora da lista um terreno em São Paulo, uma cobertura em São Bernardo do Campo, um sítio em Atibaia e dezenas de milhões de reais que foram repassados ao ex-presidente, em espécie ou por meio de reformas em imóveis e palestras no exterior ― só da Odebrecht, Lula teria recebido 33,8 milhões; da OAS, foram mais 7,8 milhões, sem mencionar 16 milhões oriundos de outras empreiteiras. Incluída a propina repassada para o caixa 2 do PT, o valor destinado pelas empresas ao molusco chega a 370 milhões! Os pagamentos estão descritos em vários inquéritos, em depoimento de delatores e na denúncia do chamado “quadrilhão do PT” ― processo que tramita no STF, no qual Lula é acusado de ser o idealizador da organização criminosa.

Lula é o protótipo do desempregado que deu certo. Não trabalha desde os 30 anos deixou de ser operário em 1980, quando fundou o PT, mas, como líder sindical, já não dava expediente no chão de fábrica desde 1972. Numa conta de padeiro, mais da metade da sua vida foi dedicada à “arte da política”, e não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. Nem mesmo sua narrativa sobre o “acidente” que o tornou eneadáctilo resiste a uma análise mais detalhada. 

Observação: Resumidamente, as chances de alguém perder o dedinho operando um torno mecânico são inexpressivas, mas ficam próximas de zero no caso de um operador destro ― e Lula é destro ― perder justamente o dedo mínimo da mão esquerda. Vale conferir o que diz a respeito o ex-engenheiro sênior da CSN e especialista em metalurgia de produção Lewton Verri, que conheceu os ex-metalúrgico na década de 70 e o tem na conta de um sindicalista predador e malandro, que traía os “cumpanhêros” começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios (se quiser mais detalhes, clique aqui para acessar uma postagem que revolve mais a fundo as vísceras desse caso espúrio).

Golbery do Couto e Silva, ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares e arquiteto da “abertura lenta e gradual”, teria dito a Emílio Odebrecht que Lula nada tinha de esquerda e que não passava de um “bon vivant”. E o tempo demonstrou quão acurada foi era essa avaliação: Lula jamais foi o que a construção de sua imagem pretendia que fosse, e sim alguém avesso ao trabalho, que vivia de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos e a poder da total ausência daquele conjunto de valores éticos e morais que permitem distinguir o aceitável do inaceitável.

Agora que a decisão do TRF-4 ratificou sua condenação na primeira instância, Lula, que na ditadura foi um preso político, na democracia será mais um político preso. Amém.  

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